Continuação.... Parte-3
Todos somos complexos e complicados
Na minha trajetória como cientista da psicologia e psiquiatra clínico eu me convenci de que nada é tão lógico quanto o ser humano e nada é tão contraditório quanto ele. Podemos criar no teatro das nossas mentes os extremos: o drama e a sátira, o pânico e
o sorriso, a força e a fragilidade.
Somos tão criativos que, quando não temos problemas, nós os inventamos. Alguns são especialistas em sofrer por coisas que eles mesmos criaram. Outros têm motivos para serem alegres, mas mendigam o prazer. Possuem grandes depósitos nos bancos, mas
estão endividados no âmago do seu ser. São ansiosos e estressados.
Gandhi comentou com sensibilidade: "O que pensais, passais a ser." O que pensamos afeta a emoção, infecta a memória e gera as misérias psíquicas. Nunca houve tantos miseráveis em carros importados, trabalhando em grandes escritórios, viajando de
avião, saindo nas capas de revistas. Quem é escravo dos seus pensamentos não é livre para sonhar.
Ser complicado não é um privilégio de uma pessoa, de um povo, de um grupo social, de uma faixa etária. Adultos e crianças, psiquiatras e pacientes, intelectuais e alunos são complicados, têm momentos em que se irritam por pequenas coisas, sofrem
desnecessariamente. Uns mais, outros menos.
É impossível estar livre de contradições e incoerências. Por quê?
Porque temos uma complexa emoção que influencia a lógica dos pensamentos, as reações e atitudes humanas.
Qualquer pessoa que quer ser perfeita demais estará apta para ser um computador, mas não uma pessoa completa. Não devemos ficar aborrecidos por sermos tão complicados. Se, por um lado, nossas dores de cabeça surgem no campo que extrapola a lógica, as maravilhas da nossa inteligência também surgem nessa esfera.
Nossa capacidade de amar, tolerar, brincar, criar, intuir, sonhar são algumas das maravilhas que surgem numa esfera que ultrapassa os limites da razão. Todas as pessoas muito racionais amam menos e sonham pouco.
Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.
Inspiração e transpiração
Nem sempre os sonhos são definidos e bem organizados no teatro da mente. Às vezes nascem como pequenos traçados, simples esboços, idéias vagas que vão se desenhando e tomando forma ao longo da vida. Todas as grandes mudanças na humanidade no
campo social, político, emocional, científico, tecnológico e espiritual surgiram por causa dos grandes sonhos.
Para ter grandes sonhos e produzir importantes mudanças na sociedade não é preciso ter características genéticas superiores ou privilégios dos gênios.
Thomas Edison acreditava que as conquistas humanas compõem-se de 1 % de inspiração e 99% de transpiração. O inventor da "luz exterior" teve uma luz interior. Acredito que seu princípio tem fundamento, mas precisa de correção.
Creio que as conquistas dependem de 50% de inspiração, criatividade e sonhos, e 50% de disciplina, trabalho árduo e determinação. São duas pernas que devem caminhar juntas. Uma depende da outra, caso contrário nossos projetos tornam-se miragens, nossas metas não se concretizam.
Quem quer atingir a excelência nos seus estudos, nas suas relações afetivas e na sua profissão precisa libertar a criatividade para ser um sonhador e libertar a coragem para ser um empreendedor. Estes dois pilares contribuem para formar o caráter de um líder.
Os segredos dos que mudaram a história
A maior genialidade não é aquela que vem da carga genética nem a que é produzida pela cultura acadêmica, mas a que é construída nos vales dos medos, no deserto das dificuldades, nos invernos da existência, no mercado dos desafios.
Muitos sonhadores desenvolveram áreas nobres da sua inteligência, áreas que todos têm condições de desenvolver. Eles atravessaram turbulências quase que insuperáveis. Suportaram pressões que poucos tolerariam. Viveram dias ansiosos, sentiram-se pequenos diante dos obstáculos.
Alguns foram chamados de loucos, outros, de tolos. Zombaram de alguns, outros foram discriminados. Tinham todos os motivos para desistir dos seus sonhos e, em certos momentos, até da própria vida. Mas não desistiram. Quais foram os seus segredos?
Eles fizeram da vida uma aventura. Não foram aprisionados pela rotina.
Claro, é impossível escapar da rotina. Em muitos momentos ela é um calmante necessário. Mas esses sonhadores passaram pelo menos 10% do seu tempo criando, inventando, descobrindo.
Tiveram uma visão panorâmica da existência em templo nublado.
Foram empreendedores, estrategistas, persuasivos, amigos do otimismo.
Foram sociáveis, observadores, analíticos, críticos.
Fizeram escolhas, traçaram metas e as executaram com paciência. Para o filósofo Kant, "a paciência é amarga, mas seus frutos são doces". A paciência é o diamante da personalidade. Muitos discorrem sobre ela, poucos são seus amantes. Mas os que a conquistam colherão os mais excelentes frutos.
Para Plutarco, "a paciência tem mais poder do que a força". Não meça um ser humano pelo seu poder político e financeiro. Meça-o pela grandeza dos seus sonhos e pela paciência em executá-los. Mas a paciência precisa de outro remo para conduzir o barco dos sonhos. Qual? Precisa da coragem para correr riscos. Os maiores riscos para quem
sonha são as pedras do caminho. Tropeçamos nas pequenas pedras e não nas grandes montanhas. Quem é controlado pelos riscos e pelos perigos das jornadas não tem resistência emocional. Cedo recua. Você tem essa resistência?
Epicuro acreditava que "os grandes navegadores deviam sua reputação aos temporais e às tempestades". Se você tiver medo das tempestades, nunca navegará pelos mares desconhecidos.
Jamais conquistará outros continentes.
Os que transformaram seus sonhos em realidade aprenderam a ser líderes de si mesmos para depois liderar o mundo que os cercava. Tinham uma ambição positiva, queriam transformar a sua sociedade, a sua empresa, seu espaço afetivo. Eram pessoas inconformadas tanto com os problemas sociais quanto com suas mazelas psíquicas.
Seus sonhos se tornaram realidade porque ganharam um combustível emocional que jamais se apagou, mesmo ao atravessarem chuvas torrenciais. Qual é esse combustível? A paixão pela vida, o amor pela humanidade. Foram dominados por um desejo incontrolável de serem úteis para os outros. Quem vive para si mesmo não tem raízes internas.
É possível destruir o sonho de um ser humano quando ele sonha para si, mas é impossível destruir seu sonho quando ele sonha para os outros, a não ser que lhe tirem a vida. Os ditadores jamais destruíram os sonhos dos que sonharam com a liberdade do seu povo. Morreram os ditadores, enferrujaram-se as armas, mas não se destruíram os sonhos de quem ama ser livre.
Garimpando ouro nos escombros das derrotas
Farei neste livro uma análise aberta, livre e crítica sobre o funcionamento da mente de quatro personagens que construíram belíssimos sonhos e que fizeram outros sonharem. Escolhi quatro personagens apaixonados pela humanidade. E que passaram por
momentos em que foram desacreditados, excluídos, feridos, considerados loucos, tolos, audaciosos.
Eles atravessaram o território do medo e escalaram os penhascos das dificuldades. Tombaram pelo caminho, feriram-se, mas continuaram caminhando quando muitos não acreditavam que se levantariam.
Tinham tudo para não dar certo, mas brilharam. Não eram especiais por fora, mas garimparam pedras preciosas nas ruínas dos seus traumas.
Você sabe garimpar ouro em seus conflitos?
A maioria dos adultos da atualidade teria desistido dos seus sonhos e adoecido psiquicamente se tivesse vivido uma pequena parte dos transtornos que esses personagens suportaram.
Muitos jovens recuariam diante de obstáculos semelhantes. A juventude está despreparada para viver nessa estressante sociedade.
Os jovens precisam desenvolver urgentemente resistência intelectual e emocional para suportar perdas, derrotas, humilhações, injustiças.
O que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida.
Estudaremos as reações desses quatro personagens diante das suas derrotas, veremos sua capacidade de superação, sua competência para serem líderes de si mesmos, sua coragem para correrem riscos, seus talentos intelectuais, sua intuição, sua visão
multifocal da realidade.
Muitos outros personagens mereceriam ser descritos aqui, como Buda, Confúcio, Dostoiévski, Kant, Montaigne, John Kennedy, Gandhi, Thomas Edison, Einstein, porque foram grandes sonhadores. Por falta de espaço, não os analisarei, mas usarei as
idéias de vários deles para me ajudarem na árdua tarefa de interpretação.
Creio que ao analisar a mente dos quatro personagens escolhidos estarei dissecando alguns princípios fundamentais que alicerçaram a inteligência dos grandes sonhadores de todas as eras. Teremos uma visão global (Morin, 2000) sobre a formação de pensadores.
As histórias que reconstruirei são baseadas em fatos reais. Não tenho a intenção de escrever uma biografia dos quatro personagens, portanto raramente mencionarei datas. Seguirei apenas uma seqüência dos fatos mais importantes para minha interpretação.
O passado é uma cortina de vidro. Felizes os que observam o passado para.poder caminhar no futuro. Penetraremos juntos como um cientista analisando as reações desses personagens em alguns eventos marcantes de suas vidas.
Ficaremos surpresos com suas histórias. Creio que elas nutrirão nossa inteligência, nos estimularão a desenterrar nossos sonhos e nos darão ferramentas para nos reconstruir.
Vamos penetrar no espetacular mundo que produz pesadelos e constrói sonhos.
Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira
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