III. A Regeneração
1. Natureza da regeneração.
A regeneração é o ato divino que concede ao penitente que crê uma vida nova e mais elevada mediante união pessoal com Cristo. O Novo Testamento assim descreve a regeneração:
(a) Nascimento. Deus o pai é quem "gerou", e o crente é "nascido" de Deus (1 João 5:1), "nascido do Espírito" (João 3:8), "nascido do alto" (tradução literal de João 3:3,7). Esses termos referem-se ao ato da graça criadora que faz do crente um filho de Deus.
(b) Purificação. Deus nos salvou pela "lavagem" (literalmente, lavatório ou banho) da regeneração". (Tito 3:5.) A alma foi lavada completamente das imundícias da vida de outrora, recebendo novidade de vida, experiência simbolicamente expressa no ato de batismo. (Atos
(c) Vivificação. Somos salvos não somente pela "lavagem da regeneração", nas também pela "renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5. Vide também Col. 3:10; Rom. 12:2; Efés. 4:23; Sal. 51:10). A essência da regeneração é uma nova vida concedida por Deus Pai, mediante Jesus Cristo e pela operação do Espírito Santo.
(d) Criação. Aquele que criou o homem no princípio e soprou em suas narinas o fôlego de vida, o recria pela operação do seu Espírito Santo. (2 Cor. 5:17;Efés. 2:10; Gál. 6:15; Efés. 4:24; vide Gên. 2:7.) O resultado prático é uma transformação radical da pessoa em sua natureza, seu caráter, desejos e propósitos.
(e) Ressurreição. (Rom. 6:4,5; Col. 2:13; 3:1; Efés. 2:5, 6.) Como Deus vivificou o barro inanimado e o fez vivo para com o mundo físico, assim ele vivifica a alma em seus pecados e a faz viva para as realidades do mundo espiritual. Esse ato de ressurreição espiritual é simbolizado pelo batismo nas águas. A regeneração é "a grande mudança que Deus opera na alma quando a vivifica; quando ele a levanta da morte do pecado para a vida de justiça" (João Wesley).
Notar-se-á que os termos acima citados são apenas variantes de um grande pensamento básico da regeneração, isto é, uma divina comunicação duma nova vida à alma do homem. Três fatos científicos relativos à vida natural também se aplicam à vida espiritual; isto é, ela surge repentinamente; aparece misteriosamente, e desenvolve-se gradativamente.
Regeneração é o aspecto singular da religião do Novo Testamento. Nas religiões pagãs, reconhece-se universalmente a permanência do caráter. Embora essas religiões recomendem penitências e ritos, pelos quais a pessoa espera expiar os seus pecados, não há promessa de vida e de graça para transformar a sua natureza. A religião de Jesus Cristo é "a única religião no mundo que declara tomar a natureza decaída do homem e regenerá-la, colocando-a em contacto com a vida de Deus". Assim declara fazer, porque o Fundador do Cristianismo é Pessoa Viva e Divina, que vive para salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus. (Heb. 7:25.) Não existe nenhuma analogia entre a religião cristã, e, digamos, o Budismo ou a religião maometana. De maneira nenhuma se pode dizer: "quem tem Buda tem a vida". (Vide 1João 5:12.) Buda pode ter algo em relação à moralidade. Pode estimular, causar impressão, ensinar, e guiar, mas nenhum elemento novo foi acrescido às almas que professam o Budismo. Tais religiões podem ser produtos do homem natural e moral. Mas o Cristianismo declara-se ser muito mais. Além das coisas de ordem natural e moral, o homem desfruta algo mais na Pessoa de Alguém mais, Jesus Cristo.
2. Necessidade da regeneração.
A entrevista de nosso Senhor com Nicodemos (João 3) proporciona um excelente fundo histórico para o estudo deste tópico. As primeiras palavras de Nicodemos revelam uma série de emoções provenientes do seu coração. A declaração abrupta de Jesus no verso 3, que parece ser uma repentina mudança do assunto, explica-se pelo fato de Jesus estar respondendo ao coração de Nicodemos e não às palavras de sua interrogação. As primeiras palavras de Nicodemos revelam. 1) Fome espiritual. Se esse chefe judaico tivesse expressado o desejo de sua alma, talvez teria dito: "Estou cansado do ritualismo morto da sinagoga vou lá mas volto para casa com a mesma fome com que saí. Infelizmente, a glória divina afastou-se de Israel; não há visão e o povo perece. Mestre, a minh'alma suspira pela realidade! Pouco conheço de tua pessoa, mas tuas palavras tocaram-me o coração. Teus milagres convenceram-me de que és Mestre vindo de Deus. Gostaria de te acompanhar. 2) Faltou a Nicodemos profunda convicção. Sentiu a sua necessidade, mas necessidade dum instrutor e não dum Salvador. Tal qual a mulher samaritana, ele queria a água da vida (João 4:15), mas, como aquela, Nicodemos teve de compreender que era pecador, que precisava de purificação e transformação. (João 4:16-18.) 3) Nota-se nas suas palavras um rasto de autocomplacência, coisa muito natural num homem de sua idade e posição. Ele diria a Jesus: "Creio que foste enviado a restaurar o reino de Israel, e vim dar-te alguns conselhos quanto aos planos para conseguir esse objetivo." Provavelmente ele supôs que sendo israelita e filho de Abraão, essas qualificações seriam suficientes para o tornarem membro do reino de Deus.
"Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." Parafraseando essa passagem, Jesus diria: "Nicodemos, tu não podes unir-te à minha companhia como se te unisses a uma organização. O pertencer à minha companhia não depende da qualidade de tua vida; minha causa não é outra senão aquela do reino de Deus, e tu não podes entrar nesse reino sem experimentar uma transformação espiritual. O reino de Deus é muito diferente do que estás pensando, e o modo de estabelecê-lo e de juntar seus súditos é muito diferente do meio de que estás cogitando."
Jesus apontou a necessidade mais profunda e universal de todos os homens — uma mudança radical e completa da natureza e caráter do homem em sua totalidade. Toda a natureza do homem ficou deformada pelo pecado, a herança da queda; essa deformação moral reflete-se em sua conduta e em todas as suas relações. Antes que o homem possa ter uma vida que agrade a Deus, seja no presente ou na eternidade, sua natureza precisa passar por uma transformação tão radical, que seja realmente um segundo nascimento. O homem não pode transformar-se a si mesmo; essa transformação terá que vir de cima.
Jesus não tentou explicar o como do novo nascimento, mas explicou opor quê do assunto. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido de Espírito é espírito." Carne e espírito pertencem a reinos diferentes, e um não pode produzir o outro. A natureza humana pode gerar a natureza humana, mas somente o Espírito Santo pode gerar a natureza espiritual. A natureza humana somente pode produzir a natureza humana; e nenhuma criatura poderá elevar-se acima de sua própria natureza. A vida espiritual não passa do pai ao filho pela geração natural; ela procede de Deus para o homem por meio da geração espiritual.
A natureza humana não pode elevar-se acima de si própria. Escreveu Marcus Dods:
Todas as criaturas possuem certa natureza segundo a sua espécie, determinada pela sua ascendência. Essa natureza que o animal recebe dos seus pais determina, desde o princípio, a sua capacidade e a esfera desse animal. A toupeira não pode subir aos ares como o faz a águia; nem tampouco pode o filhote da águia cavar um buraco como afaz toupeira. Nenhum treino jamais fará a tartaruga correr como o antílope, nem fará o antílope tão forte como o leão... Além de sua natureza, nenhum animal poderá agir.
O mesmo princípio podemos aplicar ao homem. O destino mais elevado do homem é viver com Deus para sempre; mas a natureza humana, em seu estado presente, não possui a capacidade para viver no reino celestial. Portanto, será necessário que a vida celestial desça de cima para transformar a natureza humana, preparando-a para ser membro desse reino.
3. Os meios de regeneração.
(a) Agência divina. O Espírito Santo é o agente especial na obra de regeneração. Ele opera a transformação na pessoa. (João 3:6; Tito 3:5.) Contudo, todas as Pessoas da Trindade operam nessa obra. Realmente as três Pessoas operam em todas as divinas operações, embora cada Pessoa exerça certos ofícios que lhe são peculiares. Dessa forma o Pai é preeminentemente o Criador; contudo, tanto o Filho como o Espírito Santo são mencionados como agentes na criação. O Pai gera (Tia. 1:18) e no Evangelho de João, o Filho é apresentado como o Doador da vida. (Vide caps. 5 e 6.)
Notem especialmente a relação de Cristo com a regeneração do homem. É ele o Doador da vida. De que maneira ele vivifica os homens? Vivifica-os por morrer por eles, de forma que, ao comerem sua carne e beberem seu sangue (que significa crer em sua morte expiatória), eles recebem a vida eterna. Qual é o processo de conceder a vida aos homens? Uma parte da recompensa de Cristo era a prerrogativa de conceder o Espírito Santo (Vide João 3:3,13; Gál.3:13,14), e ele ascendeu para que pudesse tomar-se a Fonte da vida e energia espiritual (João 6:62; Atos 2:33). O Pai tem vida em si (João 5:26); portanto, ele concede ao Filho ter vida em si; o Pai é a Fonte do Espírito Santo, mas ele concede ao Filho o poder de conceder o Espírito; desta forma o Filho é um "Espírito vivificante" (1 Cor. 15:45), tendo poder, não somente para ressuscitar os mortos, fisicamente, (João 5:25,26) mas também vivificar as almas mortas dos homens. (Vide Gên 2:7; João 20:22; 1 Cor. 15:45.)
(b) A preparação humana. Estritamente falando, o homem não pode cooperar no ato de regeneração, que é um ato soberano de Deus; mas o homem pode tomar parte na preparação para o novo nascimento. Qual é essa preparação? Resposta: Arrependimento e fé.
4. Efeitos da regeneração.
Podemos agrupá-los sob três tópicos: posicionais (adoção); espirituais (união com Deus); práticos (a vida de justiça).
(a) Posicionais. Quando a pessoa passa pela transformação espiritual conhecida como regeneração, torna-se filho de Deus e beneficiário de todos os privilégios dessa filiação. Assim escreve o Dr. William Evans: "Pela adoção, o crente, que já é filho de Deus, recebe o lugar de filho adulto; dessa forma o menino torna-se filho, o filho menor torna-se adulto." (Gál. 4:1-7.) A palavra "adoção" significa literalmente: "dar a posição de filhos" e refere-se, no uso comum, ao homem que toma para seu lar crianças que não são as suas pelo nascimento.
Quanto à doutrina, devemos distinguir entre adoção e regeneração: o primeiro é um termo legal que indica conceder o privilégio de filiação a um que não é membro da família; o segundo significa a transformação espiritual que toma a pessoa filho de Deus e participante da natureza divina. Contudo, na própria experiência, é difícil separar os dois, visto que a regeneração e a adoção representam a dupla experiência da filiação.
No Novo Testamento a filiação comum é, às vezes, definida pelo termo "filhos" ("uioi"— no grego), termo que originou a palavra "adoção"; outras vezes é definida pela palavra "tekna", no grego, também traduzida por "filhos", que significa literalmente "os gerados", significando a regeneração. As duas idéias são distintas e ao mesmo tempo combinadas nas seguintes passagens: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (implicando adoção) de serem feitos filhos de Deus... os quais... nasceram... de Deus" (João 1:12,13). "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados (implicando adoção) filhos de Deus (a palavra que significa "gerados" de Deus)" (1 João 3:1). Em Rom. 8: 15,16 as duas idéias se entrelaçam: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos Abba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus."
(b) Espirituais. Devido à sua natureza, a regeneração envolve união espiritual com Deus e com Cristo mediante o Espírito Santo; e essa união espiritual envolve habitação divina (2 Cor. 6:16-18; Gál. 2:20; 4:5,6; 1 João 3:24; 4:13.) Essa união resulta em um novo tipo de vida e de caráter, descrito de várias maneiras; novidade de vida (Rom. 6:4); um novo coração (Ezeq. 36:26); um novo espírito (Ezeq. 11:19); um novo homem (Efés. 4:24); participantes da natureza divina (2 Ped. 1:4). O dever do crente é manter seu contacto com Deus mediante os vários meios de graça e dessa forma preservar e nutrir a sua vida espiritual.
(c) Práticos. A pessoa nascida de Deus demonstrará esse fato pelo ódio que tem ao pecado (1 João 3:9; 5:18), por obras de justiça (1 João 2:29), pelo amor fraternal (1 João 4:7) e pela vitória que alcança sobre o mundo (1 João 5:4).
Devemos evitar estes dois extremos: primeiro, estabelecer um padrão tão baixo que a regeneração se torne questão de reforma natural; segundo, estabelecer um padrão elevado demais que não leve em conta as fraquezas dos crentes. Crentes novos que estão aprendendo a andar com Jesus estão sujeitos a tropeçar, como o bebê que aprende a andar. Mesmo os crentes mais velhos podem ser surpreendidos em alguma falta. João declara que é absolutamente inconsistente que a pessoa nascida de Deus, portadora da natureza divina, continue a viver habitualmente no pecado (1 João 3.9), mas ao mesmo tempo ele tem cuidado em escrever: "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo" (1 João 2:1).
IV. A Santificação
1. Natureza da santificação
Em estudo anterior afirmamos que a chave do significado da doutrina da expiação, encontrada no Novo Testamento, acha-se no rito sacrificial do Antigo Testamento. Da mesma forma chegaremos ao sentido da doutrina do Novo Testamento sobre a santificação, pelo estudo do uso no Antigo Testamento da palavra "santo".
Primeiramente, observa-se que "santificação", "santidade", e "consagração" são sinônimos, como o são: "santificados" e "santos". Santificar é a mesma coisa que fazer santo ou consagrar. A palavra "santo" tem os seguintes sentidos:
(a) Separação. "Santo" é uma palavra descritiva da natureza divina. Seu significado primordial é "separação "; portanto, a santidade representa aquilo que está em Deus que o toma separado de tudo quanto seja terreno e humano — isto é, sua perfeição moral absoluta e sua divina majestade.
Quando o Santo deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele separa essa pessoa ou aquele objeto do seu uso comum, e, em virtude dessa separação, a pessoa ou o objeto toma-se "santo".
(b) Dedicação. Santificação inclui tanto a separação de, como dedicação a alguma coisa; essa é "a condição dos crentes ao serem separados do pecado e do mundo e feitos participantes da natureza divina, e consagrados à comunhão e ao serviço de Deus por meio do Mediador".
A palavra "santo" é mais usada em conexão com o culto. Quando referente aos homens ou objetos, ela expressa o pensamento de que esses são usados no serviço divino e dedicados a Deus, no sentido especial de serem sua propriedade. Israel é uma nação santa, por ser dedicada ao serviço de Jeová; os levitas são santos por serem especialmente dedicados aos serviços do tabernáculo; o sábado e os dias de festa são santos porque representam a dedicação ou consagração do tempo a Deus.
(c) Purificação. Embora o sentimento primordial de "santo" seja separação para serviço, inclui também a idéia de purificação. O caráter de Jeová age sobre tudo que lhe é consagrado. Portanto, os homens consagrados a ele participam de sua natureza. As coisas que lhe são dedicadas devem ser limpas. Limpeza é uma condição de santidade, mas não a própria santidade, que é, primeiramente, separação e dedicação.
Quando Jeová escolhe e separa uma pessoa ou um objeto para o seu serviço, ele opera ou faz com que aquele objeto ou essa pessoa se torne santo. Objetos inanimados foram consagrados pela unção do azeite (Êxo. 40:9-11). A nação israelita foi santificada pelo sangue do sacrifício da aliança. (Êxo. 24:8. Vide Heb. 10:29). Os sacerdotes foram consagrados pelo representante de Jeová, Moisés, que os lavou com água, ungiu-os com azeite e aspergiu-os com o sangue de consagração. (Vide Lev., cap. 8.)
Como os sacrifícios do Velho Testamento eram tipos do sacrifício único de Cristo, assim as várias abluções e unções do sistema mosaico são tipos da verdadeira santificação que alcançamos pela obra de Cristo. Assim como Israel foi santificado pelo sangue da aliança, assim "também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta" (Heb. 13:12).
Jeová santificou os filhos de Arão para o sacerdócio pela mediação de Moisés e o emprego de água, azeite e sangue. Deus o Pai (1 Tess. 5:23) santifica os crentes para um sacerdócio espiritual (1 Ped. 2:5) pela mediação do Filho (I Cor. 1:2,30; Efés 5:26; Heb 2:11), por meio da Palavra (João 17:17; 15:3), do sangue (Heb. 10:29; 13:12) e do Espírito (Rom. 15:16; 1 Cor. 6:11; 1 Ped. 1:2).
(d) Consagração, no sentido de viver uma vida santa e justa. Qual a diferença entre justiça e santidade? A justiça representa a vida regenerada em conformidade com a lei divina; os filhos de Deus andam retamente ( 1 João 3:6-10). Santidade é a vida regenerada em conformidade com a natureza divina e dedicada ao serviço divino; isto pede a remoção de qualquer impureza que estorve esse serviço. "Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver" (1 Ped. 1:15). Assim a santificação inclui a remoção de qualquer mancha ou sujeira que seja contrária à santidade da natureza divina.
Em seguida à consagração de Israel surge, naturalmente, a pergunta: "Como deve viver um povo santo?" A fim de responder a essa pergunta, Deus deu-lhes o código de leis de santidade que se acham no livro de Levítico. Portanto, em conseqüência da sua consagração, seguiu-se a obrigação de viver uma vida santa. O mesmo se dá com o cristão. Aqueles que são declarados santos (Heb. 10:10) são exortados a seguir a santidade (Heb. 12:14); aqueles que foram purificados (1 Cor. 6:11) são exortados a purificar-se a si mesmos (2 Cor. 7:1).
(e) Serviço. A aliança é um estado de relação entre Deus e os homens no qual ele é o Deus deles e eles o seu povo, o que significa um povo adorador. A palavra "santo" expressa essa relação contratual. Servir a Deus, nessa relação, significa ser sacerdote; por conseguinte, Israel é descrito como nação santa e reino de sacerdotes (Êxo. 19:6). Qualquer impureza que venha a desfigurar essa relação precisa ser lavada com água ou com o sangue da purificação.
Da mesma maneira os crentes do Novo Testamento são "santos", isto é, um povo santo consagrado. Pelo sangue da aliança tornaram-se "sacerdócio real, a nação santa... sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo" (1 Ped. 2:9,5); oferecem o sacrifício de louvor (Heb. 13:15) e dedicam-se como sacrifícios vivos sobre o altar de Deus (Rom. 12:1).
Assim vemos que o serviço é elemento essencial da santificação ou santidade, pois é esse o único sentido em que os homens podem pertencer a Deus, isto é, como seus adoradores que lhe prestam serviço. Paulo expressou perfeitamente esse aspecto da santidade quando disse acerca de Deus: "De quem eu sou, e a quem sirvo" (Atos 27:23). Santificação envolve ser possuído por Deus e servir a ele.
2. O tempo da santificação.
A santificação reúne: 1) idéia de posição perante Deus e instantaneidade; 2) prática e progressiva.
(a) Posicional e instantânea. A seguinte declaração representa o ensino dos que aderem à teoria de santificação da "segunda obra definida", feita por alguém que ensinou essa doutrina durante muitos anos:
Supõe-se que a justificação é obra da graça pela qual os pecadores, ao se entregarem a Cristo, são feitos justos e libertados dos hábitos pecaminosos. Mas no homem meramente justificado permanece um princípio de corrupção, uma árvore má, "uma raiz de amargura", que continuamente o provoca a pecar. Se o crente obedece a esse impulso e deliberadamente peca, ele perde sua justificação; segue-se portanto, a vantagem de ser removido esse impulso mau, para que diminua a possibilidade de se desviar. A extirpação dessa raiz pecaminosa é santificação. Portanto, é a purificação da natureza de todo pecado congênito pelo sangue de Cristo (aplicado pela fé ao realizar-se a plena consagração), e o fogo purificador do Espírito Santo, o qual queima toda a escória, quando tudo é depositado sobre o altar do sacrifício. Isso, e somente isso, é verdadeira santificação — a segunda obra definida da graça, subseqüente à justificação, e sem a qual essa justificação provavelmente se perderá.
A definição supra citada ensina que a pessoa pode ser salva ou justificada sem ser santificada. Essa teoria, porém, é contrária ao ensino do Novo Testamento.
O apóstolo Paulo escreve a todos os crentes como a "santos" (literalmente, "os santificados") e como já santificados (1 Cor. 1:2; 6:11). Mas essa carta foi escrita para corrigir esses cristãos por causa de sua carnalidade e pecados grosseiros. (1 Cor. 3:1; 5:1,2,7,8.) Eram "santos" e "santificados em Cristo", mas alguns desses estavam muito longe de ser exemplos de cristãos na conduta. Foram chamados a ser santos, mas não se portavam dignos dessa vocação santa.
Segundo o Novo Testamento existe, pois, um sentido em que a santificação é simultânea com a justificação.
(b) Prática e progressiva. Mas será que essa santificação consiste somente em ser conferida a posição de santos? Não, essa separação inicial é apenas o começo duma vida progressiva de santificação. Todos os cristãos são separados para Deus em Jesus Cristo; e dessa separação surge a nossa responsabilidade de viver para ele. Essa separação deve continuar diariamente: o crente deve esforçar-se sempre para estar conforme à imagem de Cristo. "A santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual o homem todo é renovado segundo a imagem de Deus, capacitando-nos a morrer para o pecado e viver para a justiça." Isso não quer dizer que vamos progredir até alcançar a santificação e, sim, que progredimos na santificação da qual já participamos.
A santificação é posicionai e prática — posicional em que é primeiramente uma mudança de posição pela qual o imundo pecador se transforma em santo adorador; prática porque exige uma maneira santa de viver. A santificação adquirida em virtude de nova posição, indica-se pelo fato de que todos os coríntios foram chamados "santificados em Cristo Jesus, chamados santos" (1 Cor. 1:2). A santificação progressiva está implícita no fato de alguns serem descritos como "carnais" (1 Cor. 3:3), o que significa que sua presente condição não estava à altura de sua posição concedida por Deus. Em razão disso, foram exortados a purificar-se e assim melhorar sua consagração até alcançarem a perfeição. Esses dois aspectos da santificação estão implícitos no fato de que aqueles que foram tratados como santificados e santos (1 Ped. 1:2; 2:5), são exortados a serem santos (1 Ped. 1:15). Aqueles que estavam mortos para o pecado (Col 3:3) são exortados a mortificar (fazer morto) seus membros pecaminosos (Col 3:5). Aqueles que se despiram do homem velho (Col. 3:9) são exortados a vestirem-se ou revestirem-se do homem novo. (Efés 4:22; Col. 3:8.)
3. Meios divinos de santificação.
São meios divinamente estabelecidos de santificação: o sangue de Cristo, o Espírito Santo e a Palavra de Deus. O primeiro proporciona, primeiramente', a santificação absoluta, quanto à posição perante Deus. É uma obra consumada que concede ao pecador penitente uma posição perfeita em relação a Deus. O segundo meio é interno, efetuando a transformação da natureza do crente. O terceiro meio é externo e prático, e diz respeito ao comportamento do crente. Dessa forma, Deus fez provisão tanto para a santificação interna como externa.
(a) O sangue de Cristo, (Eterno, absoluto e posicionai.) (Heb. 13:12; 10:10,14; 1João 1:7.) Em que sentido seria a pessoa santificada pelo sangue de Cristo? Em resultado da obra consumada de Cristo, o pecador penitente é transformado de pecador impuro em adorador santo. A santificação é o resultado dessa "maravilhosa obra redentora do Filho de Deus, ao oferecer-se no Calvário para aniquilar o pecado pelo seu sacrifício. Em virtude desse sacrifício, o crente é eternamente separado para Deus; sua consciência é purificada, e ele próprio é transformado de pecador impuro, em santo adorador, unido em comunhão com o Senhor Jesus Cristo; pois, "assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Heb. 2:11).
Que haja um aspecto contínuo na santificação pelo sangue, infere-se de 1 João 1:7: "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado." Se houver comunhão entre o santo Deus e o homem, necessariamente terá que haver uma provisão para remover a barreira de pecado, que impede essa comunhão, uma vez que os melhores homens ainda assim são imperfeitos. Ao receber Isaías a visão da santidade de Deus, ele ficou abatido ao perceber a sua falta de santidade; e não estava em condições de ouvir a mensagem divina enquanto a brasa do altar não purificasse seus lábios. A consciência do pecado ofusca a comunhão com Deus; confissão e fé no eterno sacrifício de Cristo removem essa barreira. (1 João 1:9.)
(b) O Espírito Santo. (Santificação Interna.) (1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:12; 1 Ped. 1:1,2; Rom. 15:16.) Nessas passagens a santificação pelo Espírito Santo é apresentada como o início da obra de Deus nos corações dos homens, conduzindo-os ao inteiro conhecimento da justificação pela fé no sangue aspergido de Cristo. Tal qual o Espírito pairava por cima do caos original (Gên. 1:2), seguindo-se o estabelecimento da ordem pelo Verbo de Deus, assim o Espírito paira sobre a alma humana, fazendo-a abrir-se para receber a luz e a vida de Deus. (2 Cor. 4:6.)
O capítulo 10 de Atos proporciona uma ilustração concreta da santificação pelo Espírito Santo. Durante os primeiros anos da igreja, a evangelização dos gentios retardou-se visto que muitos cristãos-judeus consideravam os gentios como "imundos", e não-santificados por causa de sua não conformidade com as leis alimentares e outros regulamentos mosaicos. Exigia-se uma visão para convencer a Pedro que aquilo que o Senhor purificara ele não devia tratar de comum ou impuro. Isso importava em dizer que Deus fizera provisão para a santificação dos gentios para serem o seu povo. E quando o Espírito de Deus desceu sobre os gentios, reunidos na casa de Cornélio, já não havia mais dúvida a respeito. Eram santificados pelo Espírito Santo, não importando se obedeciam ou não às ordenanças mosaicas (Rom. 15:16), e Pedro reptou os judeus que estavam com ele a negarem o símbolo exterior (batismo nas águas) de sua purificação espiritual. (Atos 10:47; 15:8.)
(c) A Palavra de Deus. (Santificação externa e prática.) (João 17:17, Efés 5:26; João 15:3; Sal. 119:9; Tia. 1:23-25.) Os cristãos são descritos como sendo "gerados pela Palavra de Deus"(l Ped. 1:23). A Palavra de Deus desperta os homens a compreenderem a insensatez e impiedade de suas vidas. Quando dão importância à Palavra arrependendo-se e crendo em Cristo, são purificados pela Palavra que lhes fora falada. Esse é o início da purificação que deve continuar através da vida do crente. No ato de sua consagração ao ministério, o sacerdote israelita recebia um banho sacerdotal completo, banho que nunca se repetia; era uma obra feita uma vez para sempre. Todos os dias porém, era obrigado a lavar as mãos e os pés. Da mesma maneira, o regenerado foi lavado (Tito 3:5); mas precisa uma separação diária das impurezas e imperfeições conforme lhe forem reveladas pela Palavra de Deus, que serve como espelho para a alma. (Tia. 1:22-25.) Deve lavar as mãos, isto é, seus atos devem ser retos; deve lavar os pés, isto é, "guardar-se da imundície que tão facilmente se apega aos pés do peregrino, que anda pelas estradas deste mundo".
4. Idéias errôneas sobre a santificação.
Muitos cristãos descobrem o fato de que seu maior impedimento em chegar à santidade é a "carne", a qual frustra sua marcha para a perfeição. Como se conseguirá libertação da carne? Três opiniões erradas têm sido expostas:
(a) "Erradicação" do pecado inato é uma dessas idéias. Assim escreve Lewis Sperry Chafer: "se a erradicação da natureza pecaminosa se consumasse, não haveria a morte física, pois esta é o resultado dessa natureza. (Rom. 5:12-21.) Pais que houvessem experimentado essa "extirpação", necessariamente gerariam filhos sem a natureza pecaminosa. Mas, mesmo que fosse realidade essa "extirpação", ainda haveria o conflito com o mundo, a carne (à parte da natureza pecaminosa) e o diabo; pois a "extirpação" desses males é obviamente antibíblica e não está incluída na própria teoria.
A erradicação é também contrária à experiência.
(b) Legalismo, ou a observância de regras e regulamentos. Paulo ensina que a lei não pode santificar (Rom. cap. 6), assim como também não pode justificar (Rom. 3). Essa verdade é exposta e desenvolvida na carta aos Gálatas. Paulo não está de nenhuma maneira depreciando a lei. Ele a está defendendo contra conceitos errôneos quanto a seu propósito. Se um homem for salvo do pecado, terá que ser por um poder à parte de si mesmo. Vamos empregar a ilustração dum termômetro. O tubo e o mercúrio representam o indivíduo. O registro dos graus representará a lei. Imaginem o termômetro dizendo: "Hoje não estou funcionando exatamente; devo chegar no máximo a 30 graus." Será que o termômetro poderia elevar-se à temperatura exigida? Não, deveria depender duma condição/ora dele mesmo. Da mesma maneira o homem que percebe não estar à altura do ideal divino não pode elevar-se em um esforço por alcançá-lo. Sobre ele deve operar uma força à parte dele mesmo; essa força é o poder do Espírito Santo.
(c) Ascetismo. É a tentativa de subjugar a carne e alcançar a santidade por meio de privações e sofrimentos — o método que seguem os católicos romanos e os hindus ascéticos.
Esse método parece estar baseado na antiga crença pagã de que toda matéria, incluindo o corpo, é má. O corpo, por conseguinte, é uma trava ao espírito, e quanto mais for castigado e subjugado, mais depressa se libertará o espírito. Isso é contrário às Escrituras, que ensinam que Deus criou tudo muito bom. É a alma e não o corpo que peca; portanto, são os impulsos pecaminosos que devem ser subjugados, e não a carne material. Ascetismo é uma tentativa de matar o "eu", mas o "eu" não pode vencer o "eu". Essa é a obra do Espírito.
5. O verdadeiro método da santificação.
O método bíblico de tratar com a carne, deve basear-se obviamente, na provisão objetiva para a salvação, o sangue de Cristo; e na provisão subjetiva, o Espírito Santo. A libertação do poder da carne, portanto, deve vir por meio da fé na expiação e por entregar-se à ação do Espírito. O primeiro é tratado no sexto capítulo de Romanos, e o segundo na primeira parte do capítulo oitavo.
(a) Fé na expiação. Imaginemos que houvesse judeus presentes (o que sucedia com freqüência) enquanto Paulo expunha a doutrina da purificação pela fé. Nós os imaginamos dizendo em protesto: "Isso é uma heresia do tipo mais perigoso!" Dizer ao povo que precisam crer unicamente em Jesus, e que nada podem fazer quanto à sua salvação porque ela é pela graça de Deus, tudo isso resultará em que descuidarão de sua maneira de viver. Eles julgarão que pouco importa o que façam, uma vez que creiam. Sua doutrina de fé fomenta o pecado. Se a justificação é pela graça e nada mais, sem obras, por que então romper com o pecado? Por que não continuar no pecado para que abunde ainda mais a graça? Os inimigos de Paulo efetivamente o acusaram de pregar tal doutrina. (Rom. 3:8; 6:1.) Com indignação Paulo repudiou tal perversão. "De modo nenhum . Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rom. 6:2). A continuação no pecado é impossível a um homem verdadeiramente justificado, em razão de sua união com Cristo na morte e na vida. (Vide Mat. 6:24.) Em virtude de sua fé em Cristo, o homem salvo passou por uma experiência que inclui um rompimento tão completo com o pecado, que se descreve como morte para o pecado, e uma transformação tão radical que se descreve como ressurreição. Essa experiência é figurada no batismo nas águas. A imersão do convertido testifica do fato que em razão de sua união com o Cristo crucificado ele morreu para o pecado; ser levantado da água testifica que seu contacto com o Cristo ressuscitado significa que "como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida" (Rom. 6:4). Cristo morreu pelo pecado a fim de que nós morrêssemos para o pecado.
"Aquele que está morto está justificado do pecado" (Rom. 6:7). A morte cancela todas as obrigações e rompe todos os laços. Por meio da união com Cristo, o cristão morreu para a vida antiga, e os grilhões do pecado foram quebrados. Como a morte dava fim à servidão do escravo, assim a morte do crente, que morreu para o mundo, o libertou da servidão ao pecado. Continuando a ilustração: A lei nenhuma jurisdição tem sobre um homem morto. Não importa qual seja o crime que haja cometido, uma vez morto, já está fora do poder da justiça humana. Da mesma maneira, a lei de Moisés, muitas vezes violada pelo convertido, não o pode "prender", pois, em virtude de sua experiência com Cristo, ele está "morto". (Rom. 7:1-4; 2 Cor. 5:14.)
"Sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom. 6:9-11). A morte de Cristo pôs fim a esse estado terrenal no qual ele teve contacto como o pecado; sua vida agora é uma constante comunhão com Deus. Os cristãos, ainda que estejam no mundo, podem participar de sua experiência, porque estão unidos a ele. Como podem participar? "Considerai-vos como mortos para o pecado, nas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor." Que significa isso? Deus já disse que por meio da nossa fé em Cristo, estamos mortos para o pecado e vivos para a justiça. Resta uma coisa a fazer; crer em Deus e considerar ou concluir que estamos mortos para o pecado. Deus declarou que quando Cristo morreu, nós morremos para o pecado; quando ele ressuscitou, nós ressuscitamos para viver uma nova vida. Devemos continuar considerando esses fatos como absolutamente certos; e, ao considerá-los assim, tornar-se-ão poderosos em nossa vida, pois, seremos o que reconhecemos que somos. Uma distinção importante tem sido assinalada, a saber, a distinção entre as promessas e os fatos da Bíblia. Jesus disse: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7). Essa é uma promessa, porque está no futuro; é algo para ser feito. Mas quando Paulo disse que "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras", ele está declarando um fato, algo que foi feito. Vide a expressão de Pedro: "Pelas suas feridas fostes sarados" (1 Ped. 2:24). E quando Paulo declara "que o nosso homem velho foi com ele crucificado", ele está declarando um fato, algo que aconteceu. A questão agora é: estamos dispostos ou não a crer
no que Deus declara que são fatos acerca de nós? Porque a fé é a mão que aceita o que Deus gratuitamente oferece.
Será que o ato de descobrir a relação com Cristo não constitui a experiência que alguns têm descrito como "a segunda obra da graça"?
(b) Cooperação com o Espírito. Os capítulos 7 e 8 de Romanos continuam o assunto da santificação; tratam da libertação do crente do poder do pecado, e do crescimento em santidade. No cap. 6 vimos que a vitória sobre o poder do pecado foi obtida pela/é. O capítulo 8 apresenta outro aliado na batalha contra o pecado — o Espírito Santo.
Como fundo para o capítulo 8 estuda-se a linha de pensamento no cap. 7, o qual descreve um homem voltando-se para a lei a fim de alcançar santificação. Paulo demonstra aqui a impotência da lei para salvar e santificar, não porque a lei não seja boa, mas por causa da inclinação pecaminosa da natureza humana, conhecida como a "carne". Ele indica que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v.8), o poder (v.9), a falsidade (v. 11), o efeito (vs. 10,11), e a vileza do pecado (vs. 12,13).
Paulo, que parece estar descrevendo sua própria experiência passada, diz-nos que a própria lei, que ele tão ardentemente desejava observar, suscitava impulsos pecaminosos dentro dele. O resultado foi "guerra civil" na sua alma. Ele é impedido de fazer o bem que deseja fazer, e impelido a fazer o que odeia. "Acho então esta lei em mim; que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros" (vs. 21-23).
A última parte do capítulo 7, evidentemente, apresenta o quadro do homem debaixo da lei, que descobriu a perscrutadora espiritualidade da lei, mas em cada intento de observá-la se vê impedido pelo pecado que habita nele. Por que descreve Paulo esse conflito? Para demonstrar que a lei é tão impotente para santificar como o é para justificar.
"Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (v. 24 Vide 6:6). E Paulo, que descrevia a experiência debaixo da lei, assim testifica alegremente de sua experiência debaixo da graça: "Dou graças a Deus (que a vitória vem) por Jesus Cristo nosso Senhor" (v. 25). Com essa exclamação de triunfo entramos no maravilhoso capítulo oitavo, que tem por tema dominante a libertação da natureza pecaminosa pelo poder do Espírito Santo.
Há três mortes das quais o crente deve participar: 1) A morte no pecado, isto é, nossa condenação. (Efés. 2:1; Col. 2:13.) O pecado havia conduzido a alma a essa condição, cujo castigo é a morte espiritual ou separação de Deus. 2) A morte pelo pecado, isto é, nossa justificação. Cristo sofreu sobre a cruz a sentença duma lei infligida, e nós, por conseguinte, somos considerados como a havendo sofrido nele. O que ele fez por nós é considerado como se fosse feito por nós mesmos. (2 Cor. 5:14; Gál. 2:20.) Somos considerados legal ou judicialmente livres da pena duma lei violada, uma vez que pela fé pessoal consentimos na transação. 3) A morte para o pecado, isto é, nossa santificação. (Rom. 6:11.) O que é certo para nós deve ser feito real em nós; o que é judicial deve se tornar prático; a morte para a pena do pecado deve ser seguida pela morte para o poder do pecado. E essa é a obra do Espírito Santo. (Rom. 8:13.) Assim como a seiva que ascende na árvore elimina as folhas mortas que ficaram presas aos ramos, apesar da neve e das tempestades, assim o Espírito Santo, que habita em nós, elimina as imperfeições e os hábitos da vida antiga.
copiou o livro todo do myer Pearlman, pelo menos coloque a fonte:
ResponderExcluirExtraido de: "Conhecendo as Doutrinas Bíblicas", De Myer Pearlman
obrigado pela dica Arthur, mas também já foi posto que não sou o autor, sou o pesquisador.
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