sexta-feira, 20 de maio de 2011

TORTURADO POR AMOR A CRISTO - 1ªParte-RICHARD WURMBRAND


O Rev. Richard Wurmbrand é o ministro evan­gélico que passou 14 anos como prisioneiro dos comu­nistas, torturado em sua própria terra, a Romênia. É um dos mais conhecidos líderes evangélicos, autor e educador. Poucos nomes são mais conhecidos em sua terra natal.
Em 1945, quando os comunistas tomaram a Romênia e tentaram submeter às Igrejas aos seus propósitos, Richard Wurmbrand imediatamente iniciou um minis­tério eficiente e vigoroso, pelo processo chamado "sub­terrâneo", destinado à pregação do Evangelho ao seu povo escravizado pelos soldados russos invasores. Foi preso em 1948 com sua esposa Sabina. Durante três anos sua esposa trabalhou escravizada e Richard Wurm­brand passou esse tempo numa prisão solitária — sem ver qualquer pessoa, a não ser os seus torturadores co­munistas. Depois de três anos foi transferido para uma cela coletiva, onde as torturas continuaram durante cinco anos.
Por causa de sua liderança cristã internacional, di­plomatas de embaixadas estrangeiras indagaram ao go­verno comunista sobre sua segurança. A resposta foi que ele havia fugido da Romênia. Elementos da polícia secreta, passando como ex-companheiros de prisão, dis­seram à sua esposa que assistiram ao seu funeral no cemitério da prisão. Sua família na Romênia e seus amigos de outros países foram avisados que deveriam esquecê-lo em vista de já estar morto.
Depois de oito anos foi solto e imediatamente reas­sumiu seu trabalho na Igreja Subterrânea. Dois anos depois, em 1959, foi outra vez preso e condenado a 25 anos de reclusão.
Foi solto em 1964 por uma anistia geral e mais uma vez prosseguiu em seu ministério secreto. Levando em consideração o grande perigo de um terceiro período na prisão, crentes da Noruega negociam com as auto­ridades comunistas sua permissão para deixar a Romênia. O governo comunista havia iniciado a "venda" dos seus presos políticos. O preço da libertação de um prisioneiro era de 800 libras, mas o preço de Wurmbrand foi fixado em 2.500 libras!
Em maio de 1966 testemunhou ele em Washington perante a Subcomissão de Segurança Interna do Se­nado Americano, ocasião em que tirou a camisa para mostrar aos presentes dezoito profundas cicatrizes pro­vocadas pelas torturas físicas recebidas.
Sua história foi levada a todo o mundo pela im­prensa livre dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Em setembro de 1966 foi advertido que o regime comu­nista da Romênia decidira eliminá-lo. Apesar disso não silenciou e continua a dar seu testemunho. Tem sido chamado "a voz da Igreja Subterrânea". Líderes cristãos têm-no considerado o "Mártir Vivo" e o "Paulo da Cortina de Ferro".


PREFÁCIO

Rev.  W.  Stuart Harris, F.R.G.S. Diretor Geral da Missão Cristã Européia

Foi em dezembro de 1964 que entrei pela primeira vez na Romênia. A não ser a Albânia, a Romênia era o único país na Europa onde eu não havia estado. Por alguns meses vinha tendo uma clara indicação de Deus de que deveria ir lá, e assim na companhia do Rev. John Moseley atravessei a fronteira entre a Hungria e a Romênia. Imediatamente descobrimos que estáva­mos em um país comunista onde éramos observados cuidadosamente pelas autoridades. Apesar disso os cren­tes nos fizeram boa recepção e no domingo à noite, primeiro do Advento, fomos à Igreja Batista Alemã de Bucareste. Ambos fomos convidados a fazer saudações e a dar testemunhos. Quando a reunião terminou, mui­tos falaram conosco, incluindo um cidadão alto, de olhar ansioso e rosto pálido, que nos perguntou se poderia falar conosco. Disse-nos que assumiria o risco se fôsse­mos até a sua casa. Então, às 10:00 daquela mesma noite, conseguimos chegar a casa na qual Richard Wurmbrand, sua esposa e o filho do casal, Mihai, viviam em uma pequena sala no sótão.
Entramos quietamente e então o pastor, do qual havíamos ouvido falar tanto no Ocidente, nos relatou os acontecimentos de suas experiências maravilhosas e dos seus livramentos durante os 14 anos de prisão. Primeiro o filho e depois Sabina, sua esposa, olharam a rua e ambos disseram que a casa estava cercada pela polícia, cujo carro estava do outro lado da rua. Quanto tempo iriam eles observar a casa? Qual seria o resul­tado? Richard Wurmbrand terminou a sua história e então oramos. Aquela foi uma inesquecível reunião de oração na qual rogamos a Deus pela proteção de seus servos. '
Havíamos visto as marcas das torturas em seu cor­po e havíamos sentido como nunca os horrores daqueles anos. Apesar disso brilha, através dessa triste história de encarceramento e sofrimento, uma luz de glória e de amor. Deus ouviu as nossas orações e quando final­mente saímos, a polícia havia ido embora.
Tínhamos encontrado pela primeira vez essa famí­lia de Deus com um testemunho tão heróico por Jesus Cristo, que ambos sentimos que jamais poderíamos ser o que fomos antes. Assim, sinto-me honrado por me haverem pedido a apresentação deste livro, e o faço com uma fervorosa oração: que Deus toque em muitos corações no sentido de amarem aos povos da Europa Oriental, a fim de que uma resposta magnânima possa resultar em ajuda substancial àqueles que sofrem por amor de Jesus Cristo, suprindo eles dessa forma na própria carne o que falta às Suas aflições, por amor do Seu corpo místico, a Igreja.
INTRODUÇÃO

Por que escrevo este livro

Trago para cada crente livre uma mensagem da Igreja Subterrânea que está atrás da Cortina de Ferro.
A Igreja Subterrânea que eu dirigi por muitos anos resolveu que eu deveria fazer todo o possível para chegar ao mundo livre e trazer-lhe uma urgente mensagem. Por um milagre sobrevivi às misérias que o leitor vai ler e consegui chegar ao mundo livre. Neste livro trago a mensagem da qual fui incumbido pela fiel e sofredora Igreja Subterrânea dos países comunistas. Assim, para que a mensagem da Igreja Subterrânea receba da parte do leitor completa e urgente consideração, dou, em pri­meiro lugar, o meu próprio testemunho e narrarei a seguir a obra da referida Igreja.


CAPÍTULO I

Um Ateu encontra Cristo

Fui criado em um lar onde religião nenhuma era admitida. Durante minha infância não recebi qual­quer educação religiosa e com a idade de 14 anos já me considerava ateu. Fora este o resultado de uma infância rude. Fiquei órfão nos meus primeiros anos e conheci o que é ser pobre durante a Primeira Guerra Mundial. Aos 14 anos estava eu tão convencido do ateísmo como os comunistas hoje. Havia lido livros ateus e não era apenas uma questão de não crer em Deus ou em Jesus Cristo... Eu odiava tais noções, considerando-as malé­ficas à mente humana.   Assim cresci com ódio à religião.
Mas, como vim a entender posteriormente, tive a graça de ser um dos escolhidos de Deus por motivos que não estão ao meu alcance. Tais motivos nada tinham a ver com o meu caráter, pois era muito mau.
Apesar de ateu, alguma coisa inexplicável sempre me atraía às Igrejas. Era-me difícil passar por um tem­plo sem que lá entrasse. Entretanto, nunca entendi o que se passava em tais igrejas. Prestava atenção aos sermões, contudo eles não apelavam ao meu coração. Tinha certeza de que não havia Deus. Odiava a idéia de Deus como Senhor a quem eu tinha de obedecer. Odiava a noção errada dEle, que tinha em minha mente. Gostaria, porém, imensamente de saber da existência de um coração meigo em algum lugar no centro do uni­verso. Conhecia pouco dos prazeres da infância e da mocidade. Mas suspirava por um coração bondoso, pal­pitando por mim, em algum lugar.
Sabia que não existia Deus, porém sentia-me triste com a idéia de que tal Deus de amor não existisse. Certa vez, em minha íntima luta espiritual, entrei em uma Igreja Católica: vi ali gente de joelhos, dizendo al­guma coisa. Então pensei em ajoelhar-me junto a eles, tentando entender o que eles estavam dizendo, e repeti as rezas para ver se algo me aconteceria. Eles rezavam à Santa Virgem: "Ave Maria, cheia de graça". Repeti as palavras com eles muitas vezes, olhei para a está­tua da Virgem Maria, porém nada me aconteceu. Piquei muito triste com Isso.
Um dia, mesmo sendo ateu muito convicto, orei a Deus. Minha oração foi mais ou menos assim: "Deus, eu sei com certeza que Tu não existes. Porém, se por acaso Tu existires, o que eu duvido, não é minha obri­gação acreditar em Ti; é tua obrigação Te revelares a mim". Eu era ateu, porém o ateísmo não dava paz ao meu coração.
Foi nessa hora de tormenta íntima — como vim a descobrir depois — que em uma vila nas montanhas da Romênia, um velho carpinteiro orava assim: "Meu Deus, eu Te servi na terra e desejava ter minha recom­pensa tanto na terra como nos Céus. E a minha recom­pensa deve ser que eu não morra antes de ter trazido um judeu para Cristo, porque Jesus era do povo judeu. Porém eu sou pobre, velho e doente. Não posso ir em busca de um judeu. Em minha vila não há judeu algum. Traze um judeu à minha vila e eu farei o melhor que puder para levá-lo a Cristo".
Algo irresistível levou-me àquela vila. Nada tinha para fazer ali. A Romênia tem doze mil vilas. Porém eu fui àquela vila. Vendo que eu era judeu, o carpinteiro me cortejou como nunca uma bela jovem havia sido cortejada. Ele viu em mim uma resposta às suas ora­ções e deu-me uma Bíblia para ler. Eu a havia lido antes várias vezes por motivos culturais. Porém a Bí­blia que ele me havia dado era de um tipo diferente. Como me disse depois, ele havia orado horas a fio, jun­tamente com sua esposa, pela minha conversão e a da minha senhora. E a Bíblia que ele me deu fora escrita, não tanto com letras, mas com chamas de amor ateadas por suas orações.   Eu mal podia lê-la.   Apenas chorava sobre ela, comparando minha vida má com a vida de Jesus; minha impureza com Sua pureza; meu ódio com Seu amor; e Ele me aceitou para ser um dos Seus!
Logo depois minha esposa também se converteu. Ela trouxe outras almas para Cristo e estas outras almas trouxeram ainda mais almas para Cristo e então uma nova Congregação Luterana estabeleceu-se na Romênia.
Chegou então o tempo do Nazismo. Tivemos muito que sofrer. Na Romênia, o Nazismo tomou a forma de ditadura com elementos de ortodoxia extremista, os quais perseguiam tanto os grupos protestantes como os judeus.
Mesmo antes da minha ordenação e antes de estar preparado para o ministério, eu era realmente o líder dessa Igreja, sendo o seu fundador. Eu era responsável por ela. Minha esposa e eu fomos muitas vezes presos, açoitados e levados à presença de juizes nazistas. O terror nazista era enorme, porém era apenas uma amos­tra daquilo que haveria de vir sob o regime comunista. Tivemos de dar ao nosso filho um nome não judaico, para preservá-lo com vida.
Tais dias sob o Nazismo nos trouxeram uma grande vantagem. Eles nos ensinaram que açoites físicos pode­riam ser suportados; que o espírito humano com a ajuda de Deus pode sobreviver a horríveis torturas. Essa época também nos ensinou as técnicas de um trabalho cristão secreto que era uma preparação para uma prova muito pior que haveria de vir, prova que estava diante de nós.

Continua...........

Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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