Zacarias – Israel no mundo do ocaso
Zc 1.1-14.21
Jerusalém fervia com atitude e movimento, quando Zacarias anunciou suas declarações apocalípticas. Nos dias de vacilação que seguiram a Ageu em sua segunda mensagem, Zacarias recebeu ulterior inspiração para os bandos em luta dos judeus. com toda probabilidade, pertencia à linhagem sacerdotal de Ido, que tinha retornado à Palestina (Ne 12.1,4,16). Se ele é o sacerdote citado em Ne 12.16, era ainda um homem jovem no 520 a.C., quando começou seu ministério.
As mensagens de Zacarias em 1-8 estão definitivamente relacionadas com a época da reconstrução do templo. O resto deste livro pode ser razoavelmente datado No-Amom últimos anos de sua vida e subseqüentes à dedicação do templo. Observe-se a seguinte analise do livro de Zacarias [1]:
I. A chamada ao arrependimento Zc 1.1-6
II. As visões noturnas Zc 1.7-6.8
III. A coroação de Josué Zc 6.9-15
IV. O problema do jejum Zc 7.1-8.23
V. O pastor-rei Zc 9.1-11.17
VI. O governante universal Zc 12.1-14.21
As palavras de apertura de Zacarias seguem em pós da mensagem de alento de Ageu na Festa dos Tabernáculos. Citando a desobediência de seus antepassados a modo de advertência, Zacarias apóia o esforço de seu colega para ativar os judeus. Somente uma genuína mudança de coração evocará o favor de Deus (1.1-6).
O segundo oráculo de Zacarias chega numa seqüência de visões noturnas [2]. Em rápida sucessão se apreciam, descritos pelo profeta, os acontecimentos corriqueiros e os problemas com os que se encarava o povo. Com cada aspecto desta revelação, chegam as provisões de Deus para seu estímulo. Embora cada visão merece um estudo especial a respeito de sua significação para o futuro, o efeito de conjunto de panorama era vitalmente significativo para o auditório de Zacarias em sua nobre luta durante aqueles meses cheios de ansiedade.
Quatro cavalheiros aparecem na cena do começo. Voltando de uma patrulha de rigor, informam que todo está em calma. Em resposta a uma pergunta que se refere ao fado de Jerusalém, o Senhor dos Exércitos anuncia que Sião será confortado na restauração do templo de Jerusalém (1.7-17).
Quatro chifres e quatro carpinteiros são apresentados então ao profeta. A destruição dos primeiros pelos últimos representa a ruína das nações responsáveis da dispersão de Judá, Israel e Jerusalém (1.18-21).
Um homem que tinha na mão um cordel de medir aparece à vista de Zacarias. Tão populosa e próspera terá ficado Jerusalém que será necessário alargá-la além das muralhas. Quando o Senhor apareça como a glória desta cidade, Ele será também como uma muralha de fogo protetor. Reunindo a Israel, o Senhor aterrorizará as nações de tal forma que se convertam num despojo para o povo que uma vez foi levado em cativeiro. Judá será de novo herança de Deus quando o Todo Poderoso escolha, mais uma vez, a Jerusalém como seu lugar de morada (2.1-13).
Em outra visão ainda, Zacarias vê a Josué vestido com roupas sujas. Satanás, o acusador do sumo sacerdote de Israel, é repreendido por Deus, que tem escolhido a Jerusalém. Josué é vestido logo com os devidos ornamentos. Condicionado por sua obediência, Josué recebe a seguridade de que então pode representar aceitavelmente a seu povo diante de Deus. a promessa para o futuro está investida no servo identificado como "o renovo" [3]. Num único dia o Senhor dos Exércitos apagará todas as culpas da terra, para que regressem a paz e a prosperidade (3.1-10).
Especialmente digna de notar-se é a visão do castiçal de ouro com duas oliveiras. Por sua importância, Zacarias é acordado por um anjo. O recipiente que serve como depósito reservatório para a lâmpada, aparentemente estava continuamente alimentado pelo óleo das duas oliveiras. Mediante esta visão, chega a seguridade para Zorobabel de que Deus, por meio de seu Espírito, cumpriria seu propósito. Zorobabel tinha começado a construção do templo e a completaria. Mantendo a vigília, o Senhor de toda a terra é ajudado por dois ungidos, que obviamente são Josué (3.1-10) e Zorobabel (4.1-14; Ageu 2.20-23).
Certamente a seguinte visão é dramática. Zacarias vê um rolo voador, de um tamanho fantástico (uns 4,5 m por 9 m), que anuncia uma maldição contra o roubo e o perjúrio. A maldição é enviada pelo Senhor para consumir toda a culpa que há sobre a terra (5.1-4).
Imediatamente depois, chega o necessário para suprimir a maldade. Uma mulher, que representa a iniqüidade da terra, é levada a Babilônia com uma ânfora.
Na visão final, uns carros de guerra partem dos quatro pontos cardeais para patrulhar a terra. De novo, o Senhor de toda a terra exerce um controle universal como o fez na primeira visão mediante os cavalheiros (6.1-8).
A situação em Jerusalém se aproximava rapidamente a um estado crítico quando Zacarias entregou esta série de mensagens, que lhe chegaram durante a noite em visões. Tinham se passado exatamente cinco meses desde a reconstrução do templo em seu começo, em resposta à mensagem de Ageu. Entretanto, Tatenai e outros oficiais persas tinham chegado a Jerusalém para investigar o que ali acontecia, implicando que os judeus estavam rebelando-se contra a Pérsia (Esdras 5-6). Embora não ordenam logo um cesse dos trabalhos, tomam nota de todos os nomes dos chefes judeus, e fazem uma relação formal a Dario. Não está indicado quanto tempo transcorreu desde o envio da mensagem ao rei até que receberam a resposta. é provável que os judeus não conhecessem o veredicto do rei da Pérsia, quando Zacarias começou suas profecias.
Sem dúvida, haveria muitos que se perguntaram por quanto tempo estariam em condições de continuar o programa construtivo empreendido. Já tinham sido detidos uma vez; poderia acontecer de novo. o problema de seu imediato futuro que dependia do decreto do rei persa, molestou bastante a comunidade judaica.
Durante os dias da incerteza, o profeta teve uma mensagem alentadora. Mediante aquela série de visões noturnas, lhe chegou a certeza de que Deus, que vigia sobre toda a terra, tinha prometido a restauração de Jerusalém. As nações, em cujas mãos os israelitas tinham sofrido tanto, seriam destruídas, como os quatro carpinteiros destruíram os quatro chifres. A paz e a plenitude estavam asseguradas na promessa da expansão de Jerusalém fora de suas muralhas. Já que a muralha da cidade proporcionava seguridade contra o inimigo nos tempos do Antigo Testamento, o pacífico lugar além dos muros implicava liberdade de ser atacado. Na visão de Josué se fez provisão para uma adequada intercessão em favor de Israel. Imediatamente depois foi-lhe dada a seguridade de que Zorobabel seria revestido de poder pelo Espírito de Deus para completar a construção do templo. Apesar da maldição aplicada aos malvados e pecadores, a iniqüidade estava sendo realmente suprimida da terra. Em conclusão, a patrulha de carros sob o mando do Senhor da terra levaria a tranqüilidade aos reconstrutores do templo. A todos aqueles que foram receptivos à mensagem do profeta e exerceram sua fé em Deus, aquela oportuna palavra deve ter-lhes proporcionado um verdadeiro alento, em momentos em que tanta ansiedade existia enquanto não se recebia o veredicto de Dario.
Extraordinária e profética foi a ação simbólica do profeta (6.9-15). Com uma coroa de ouro e prata, e acompanhado por três judeus da Babilônia, Zacarias coroou a Josué como sumo sacerdote [4]. Muito significativa também foi a eleição de Josué, para significar o Renovo que construiria o templo quando as nações, de longe, prestariam seu apoio e ajuda [5]. A glória, a honra e a paz acompanham a este governante em sua combinação única de realeza e sacerdócio. Estas dignidades estavam separadas em Judá inclusive nos dias de Zacarias.
A coroa simbólica era para ser colocada no templo como monumento comemorativo. A mensagem do profeta seria certificada pela imediata ajuda que iam receber (6.15).
Tampouco se indica com que prontidão chegou a resposta de Dario. Porém chegou com o veredicto favorável para os judeus. Dario, o rei persa, não somente anulou a tentativa de Tatenai e seus colegas de governo para deter a construção, senão que ordenou que eles ajudassem aos judeus com subministros materiais e com tributos e ajuda econômica (Esdras 6.6-15).
Dois anos se passaram no programa da construção. Uma delegação de Betel chega a Jerusalém com uma consulta referente ao jejum [6]. Zacarias os lembra de que da ira de Deus tinha caído sobre Jerusalém por causa de que seus antepassados não obedeceram a lei nem escutaram os profetas, que os advertiram (7.4-14). O Senhor dos Exércitos é zeloso por Sião e restaurará Jerusalém. Os que restem serão reunidos desde o leste e desde o oeste de forma tal que uma ligação satisfatória e de mútua dependência será forjada entre Deus e seu povo (8.1-8).
A imediata aplicação a seu auditório é dada em 8.9-19. A admoestação de Zacarias é que se dupliquem os esforços no programa de reconstrução. Deus fez de Israel um objeto de zombaria entre as nações, porém agora se propõe fazer o bem para seu próprio povo. permitirá que a verdade, a justiça e a paz prevaleçam entre eles. Permitirá também que o jejum se torne em dias de alegria [7]. Quando Deus é reconhecido em Jerusalém, o povo ambicionará o favor divino. Os judeus serão procurados pelas nações porque reconhecerão que Deus está com seu povo (8.20-23).
Não se dá a data para a última parte do livro de Zacarias. Já que não se dão referências ao projeto da reconstrução, é verossímil que esta mensagem fosse dada após a dedicação do templo. Presumivelmente isto representa uma mensagem de Zacarias durante um período posterior a sua carreira profética.
Enquanto as nações circundantes estão sujeitas à ira de Deus (9.1-8), Jerusalém tem projetos de contar com um rei triunfante (9.9-10). Embora humilde e simples em aparência, o rei é justo e levará a salvação. Em seu domínio universal, falará de paz a todas as nações.
Em nome de Jerusalém, o Senhor dos Exércitos exercitará seu poder protetor contra o inimigo (9.11-17). Ele salvará seus filhos, já que são o rebanho de seu povo. Como uma ovelha sem pastor, os israelitas estão dispersos, mas Deus os resgatará. Eles virão desde todas as nações, inclusive desde terras distantes, enquanto que o orgulho dos pagãos cairá por terra (10.1-12).
Os pastores infiéis de Israel estão a ponto de serem consumidos num terrível juízo (11.1- 3). Mediante um segundo ato simbólico, Zacarias é convidado a converter-se no pastor de Israel (11.4-7) [8]. Num sentido, o profeta está agindo com a capacidade do Senhor dos Exércitos, quem é o verdadeiro pastor de Israel [9]. Enquanto ele assume este papel, Deus descreve a terrível sorte que aguarda a Israel em mãos dos falsos pastores. Israel está condenada. Em vão o pastor tenta salvar seu rebanho, porém este o detesta. Patético também é o fado do rebanho entre os traficantes de ovelhas cujos pastores não se cuidam delas. De igual modo, Deus exporá Israel para sofrer entre as nações, a causa de ter rejeitado seu verdadeiro pastor.
Mesmo que abandonada às nações para seu juízo, Israel tem um lugar nos planos de Deus. O dia chegará em que Israel se converterá numa pedra onerosa para as nações. Sião se sentirá reforçada e Judá emergirá com a vitória sobre todas as nações que foram contra ela (12.1-9).
Nesse dia de vitória, os israelitas se tornarão num espírito de graça e de súplica Àquele que uma vez rejeitaram (12.10-14) [10]. O povo de Jerusalém terá e se servirá de uma fonte para limpar-se do pecado e da sujeira. Não só o povo, senão também a terra será limpa. Os ídolos serão banidos da memória e os falsos profetas, relegados ao esquecimento (13.1- 6).
O sofrimento e a dor do verdadeiro pastor terão como resultado a dispersão das ovelhas. Embora perecerão dois terços do povo, o restante sobreviverá aos fogos purificadores. Esses tornarão a Deus e reconhecerão que é o Senhor (13.7-9).
No dia do Senhor, todas as nações serão reunidas em Jerusalém para a batalha. Desde o monte das Oliveiras, o Senhor resistirá aos inimigos e se converterá no rei de toda a terra.
Jerusalém, com um subministro de água sobrenatural, ficará estabelecida em segurança. A oposição, presa do pânico, se desintegrará de tal forma que a riqueza de todas as nações será recolhida sem interferência. Todos os sobreviventes irão a Jerusalém a adorar ao Rei, o Senhor dos Exércitos, e a guardar a Festa dos Tabernáculos. Com Jerusalém estabelecida como o ponto focal de todas as nações, o culto a Deus será purgado de toda impureza a tal grau que toda a vida possa redundar em seu engrandecimento.
[1] Para um tratamento representativo de Zacarias, designando 9-14 para o período grego, ver Pfeiffer, op. cit., 607-612. Para uma discussão das variadas teorias sobre dois Zacarias, ver Young, op. cit., pp. 269-273. Para uma interpretação de Zacarias como um só, ver The New Bible Commenlary, pp. 748-763. Ver também C. L. Feinberg, God Remembers, (Wheaton, 111.: Van Kampen Press, 1950). Note-se a seleta bibliografia de Feinberg com sua valoração para ulterior estudo, pp. 281-283.
[2] Zacarias começou seu ministério aproximadamente dois meses mais tarde que Ageu, quando o programa da construção já tinha sido completamente ativado.
[3] Ver Is. 4.2 e 11.1, Jr 23.15, Zc 6.12. Ver também Is. 42.1 e 52-13.
[4] O plural "coroas" em hebraico denota uma simples coroa de ouro e prata misturados, ou várias diademas. Ver Keil, op. cit., em seu comentário sobre 6.11.
[5] Normalmente a coroa real era entregue ao governante político. R. H. Pfeiffer, op. cit., pp. 605-606 troca o texto, lendo "Zorobabel" por "Josué" em 6.11, e afirma que Zorobabel estava coroado em secreto, porém suprimido como governador pelos persas. Falta a evidência que apóie esta teoria. Ver New Bible Commentary, p. 754. Albright, op. cit., p. 50, não vê indicação de que Zorobabel fosse, de jeito nenhum, desleal à coroa.
[6] Ver também Keil, op. cí.t, na discussão deste referência.
[7] Notem-se os dias de jejum e os eventos comemorados pelos judeus no cativeiro:
4º mês, 9º dia - As portas de Jerusalém derrubadas por Nabucodonosor (Jr 39.2-3; 52.6-7)
5º mês, 10º dia - A queima do templo (Jr 52.12-13)
7º mês, 3º dia - Morte de Gedalias (2 Rs 25.22-25)
10º mês, 10º dia - Começo do cerco a Jerusalém (2 Rs 25.1)
[8] Para um resumo das variadas interpretações desta passagem, ver ver Feinbcrg. op. cit., pp. 197-217.
[9] Ver Ez 34.11-31, Is 40.10-11, e outros que estão claramente identificados com o último Messias. Comparar também o Salmo 23 e João 10.
[10] Ver Zc 11.8, onde o verdadeiro pastor é detestado.
Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT
Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira
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