Principados e Potestades: Quem são e como se manifestam.
Inicialmente, vejamos no Velho Testamento quem são eles, como são chamados e como se manifestam. Vale também perguntar, primeiramente, como é que o Velho Testamento descreve a Satanás. Ele aparece inicialmente em Gênesis, como a serpente:
"Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do Jardim? (...) Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal." (Génesis 3:1, 4 e 5).
Satanás aparece, portanto, como um ser provocador de inteligências à autonomia. Ele existe para, de alguma forma, fazer a inteligência humana não se submeter ao projeto de Deus. O propósito de Satanás é estimular a razão humana à autonomia, desviculando-a da obediência a Deus.
Ele aparece no Livro de Jó, no capítulo 1, como um obcecado promotor de justiça: ele é o acusador, o advogado de acusação, que questiona a Deus quanto à integridade de Jó, pondo em questão os motivos que o levam a ser justo para com Deus e com os homens:
"Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste a meu servo Jó? Porque ninguém há no terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal. Então respondeu Satanás ao Senhor: Porventura Jó debalde teme a Deus? Acaso não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra. Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face." (Jó 1:6-11).
Com essa atitude de Satanás, aprendemos algo terrível: toda obra de acusação provém do diabo. E não somente isto: toda a busca meticulosa, exagerada, obcecada e detalhista da "justiça" é também diabólica.
Satanás aparece também em 1 Crônicas 21:1 e 7, como o provocador de reis, incitando o coração de Davi a fazer um censo com perspectivas erradas, em razão do qual sobrevêm ao povo de Israel calamidades tremendas, porque a ira do Senhor se manifesta.
"Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou a Davi a levantar o censo de Israel. (...) Tudo isto desagradou a Deus, pelo que feriu a Israel."
Ele é também descrito como o acusador impiedoso; aquele que chama a culpa à luz; aquele que põe o dedo em riste; aquele que torna os pecados conhecidos; aquele que agita a consciência; aquele que faz que sentimentos de culpa se exacerbem. Ele é assim caracterizado em Zacarias 3:1-5, quando ele é posto como advogado de acusação num grande tribunal espiritual, tentando fazer o sumo sacerdote Josué sentir-se um ser desprezível, vil e culpado:
"Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor. Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás, sim, o Senhor que escolheu Jerusalém te repreende; não é este um tição tirado do fogo? Ora, Josué, trajado de vestes sujas, estava diante do anjo. Tomou este a palavra, e disse aos que estavam diante dele: Tirai-lhe as vestes sujas. A Josué disse: Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de finos trajes. E disse eu: Ponham-lhe um turbante limpo sobre a cabeça. Puseram-lhe, pois, sobre a cabeça um turbante limpo e o vestiram com trajes próprios; e o anjo do Senhor estava ali."
O Velho Testamento não fala tanto do diabo, o qual é descrito e referido em alusões muito rápidas. Entretanto, o Velho Testamento não para por aí; são descritos outros personagens do mundo espiritual, que são os demônios.
Em I Reis 22:21, os demônios são apresentados como espíritos mentirosos que se manifestam por meio dos falsos profetas:
"Então saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o Senhor: Com quê? Respondeu ele: Sairei, e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim."
Isto se dá quando Josafá (rei de Judá) e Acabe (rei de Israel) vão à guerra juntos, e os profetas destes os estimulam a ir para a luta. Josafá, não contente, faz a seguinte pergunta aos cerca de 400 profetas de Acabe:
"Não há aqui ainda algum profeta do Senhor para o consultarmos?"(I Reis 22:7).
Eles trazem o profeta Micaías, que profetiza:
"(...) Vi todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o Senhor: Estes não têm dono; torne cada um em paz para a sua casa." ( I Reis 22:17).
Acabe, porém, não confiou na sua palavra, por acreditar que Micaías sempre profetizava o mal a seu respeito:
"Então o rei de Israel disse a Josafá: Não te disse eu que ele não profetiza meu respeito o que é bom, mas somente o que é mau?" (I Reis 22:18).
Micaías, então, lhe diz o que viu na sua visão, acerca do "espírito mentiroso" que o Senhor permitiu que controlasse os profetas de Acabe, dando a este um mau conselho:
"(...) Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua direita e à sua esquerda. Perguntou o Senhor: Quem enganará a Acabe, para que suba, e caia em Ramote-Gileade? (...) Então saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o Senhor: Com quê? Respondeu ele: Sairei, e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim." (I Reis 22:19-20b;21-22).
Assim, descobre-se que é obra demoníaca proferir mentiras por intermédio da boca de falsos profetas.
O Velho Testamento ainda fala desses espíritos como podendo ser espíritos de prostituição. É o que é referido em Oséias 4:12:
"O meu povo consulta o seu pedaço de pau, e a sua vara lhe dá resposta, porque o espírito de prostituição os engana, e eles prostituindo-se abandonam o seu Deus."
Neste verso se diz que a sociedade de Israel, naqueles dias, estava cheia, possuída por espírito de prostituição de todo tipo, que corrompia a nação como um todo.
O Livro de Jó, no capítulo 4, fala-nos de espírito de medo, de terror:
"Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo". (Jó 4:15).
O Salmo 91 parece ecoar tal afirmação, quando fala do terror noturno:
"Não te assustarás do terror noturno..." (Salmo 91:5a).
No texto de Jó, o que se tem é a afirmação de um de seus amigos - Elifaz - que, pelo jeito, tinha uma compreensão bastante espírita do mundo, concebendo o cosmos absolutamente regido por leis de causa e efeito, do ponto de vista moral. Se se está sofrendo, é porque se fez algo errado:
"Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniqüidade e semeiam o mal isso mesmo eles segam." (Jó 4:8).
Com isso, Elifaz vai desenvolvendo um raciocínio espírita com uma determinada lógica, até que num dado momento ele diz:
"Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo." (Jó 4:15).
Em seguida, ele continua descrevendo alguma coisa muito parecida com as que aparecem em manifestações espiritualistas:
"Parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava diante dos meus olhos; houve silêncio e ouvi uma voz." (Jó 4:16).
A Bíblia, no Velho Testamento, também faz menção à manifestação de um espírito de adivinhação numa sessão com a pitonisa de En-Dor, quando Saul vai consultá-la com a intenção de falar com Samuel:
"Então disse Saul aos seus servos: Apontai-me uma mulher que seja médium, para que me encontre com ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Há uma mulher em En-Dor que é médium. (...) Então lhe disse a mulher: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel." (I Samuel 28:7 e 11).
O Velho Testamento também fala acerca de espíritos das ruínas e das geografias do ódio. Especialmente em Isaías e Jeremias encontramos afirmações reiteradas quanto a isso, sobretudo quando se fala de Babilônia, de Nínive, de Jerusalém e de algumas outras cidades abomináveis, as quais foram destruídas por causa do seu pecado, de sua injustiça, da bruxaria e da idolatria que praticavam:
"Farei de Jerusalém montões de ruína, morada de chacais; e das cidades de Judá farei uma assolação, de sorte que fiquem desabitadas." (Jeremias 9:11).
"Babilônia se tornará em montões de ruínas, morada de chacais, objeto de espanto e assobio, e não haverá quem nela habite." (Jeremias 51:37).
Além disso, o Novo Testamento fala do assunto de modo ainda mais explícito:
"Então exclamou com potente voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, covil de todo espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável." (Apocalipse 18:2).
Ao ler tais textos, parece que esses lugares - encharcados de ódio, destruição e caos - e que configuraram uma geografia de injustiça e de impiedade, tornam-se referenciais de algo espiritual que não é apenas simbólico, mas, de alguma forma, real e concreto.
Eu poderia contar várias histórias que nos deixam entender que as afirmações de Jeremias e de Isaías não são só poéticas e simbólicas, porém factuais.
Em I Samuel 16:14-16, fala-se de um espírito maligno de tormenta, que é o que angustia a Saul, deixando-o hipocondríaco:
"Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor, da parte deste um espírito maligno o atormentava. Então os servos de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno, enviado de Deus, te atormenta. Manda, pois senhor nosso, que teus servos, que estão em tua presença, busquem um homem que saiba tocar harpa: e será que, quando o espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, então ele a dedilhará, e te acharás melhor."
Isto porque na versão da Septuaginta, ou seja, a versão grega do texto do Velho Testamento hebraico, Saul é descrito como hipocondríaco. Os espíritos malignos que agiam nele levaram-no a desenvolver uma hipocondria psicológica.
O Velho Testamento também fala de anjos - caídos ou não.
A primeira categoria de anjos que aparece no Velho Testamento são os chamados anjos das nações, os quais são associados nos salmos com deuses de nações. No original grego, diz-se que quando Deus estava repartindo as terras, Ele o fez de acordo com o número de Seus filhos. Na versão em português, tem-se o seguinte texto:
"Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os termos dos povos, segundo o número dos filhos de Israel." (Deuteronômio 32:8).
Eu andei lendo e estudando alguns comentaristas e exegetas especialistas no Velho Testamento, os quais são unânimes em dizer que o texto original não fala em filhos de Israel, mas, sim, em filhos de Deus, que é a mesma designação usada no Velho Testamento para referir-se a anjos:
"Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles." (Jó 1:6).
Parece que essa mesma realidade é a mesma que aparece no livro do profeta Daniel, onde se fala que as nações da terra encontram correspondência espiritual nas regiões celestiais. Fala-se, naquele texto ainda, de alguns príncipes, a saber: da Pérsia, como um ser espiritual que tem ingerências profundas sobre o reino persa (Daniel 10:13); do príncipe da Grécia (Daniel 10:20); e, de Miguel, como o príncipe de Israel:
"E ele disse: Sabes por que eu vim a ti? Eu tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia. Mas eu te declararei o que está expresso na escritura da verdade: e ninguém há que esteja ao meu lado contra aqueles, a nãio ser Miguel, vosso príncipe." (Daniel 10:20-21).
No livro do profeta Isaías, do capítulo 41 ao 48, essa mesma idéia parece forte, porque naquele texto Deus nos é apresentado julgando os deuses dos povos num conselho celestial. Não se está falando de um juízo de Deus sobre ídolos, mas se está falando do juízo de Deus sobre principados e potestades espirituais que estão recebendo uma sentença divina pela corrupção das nações que estiveram sob seu jugo.
A idéia bíblica de que a Babilônia representava forças espirituais malignas deveria nos fazer tomar aceitável a idéia de que nações, hoje, estão, igualmente, sob a mesma opressão de forças espirituais malignas.
Outro ser descrito - também como anjo - é o Anjo do Senhor, que aparece inúmeras vezes no Velho Testamento, em forma humana. Não se trata de anjos, mas de o Anjo do Senhor. Uma de suas primeiras aparições está em Gênesis 18:1-4:
"Apareceu o Senhor a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos, olhou, e eis três homens de pé em frente dele. Vendo-os, correu da porta do tenda ao seu encontro, prostrou-se em terra, e disse: Senhor meu, se acho mercê em tua presença, rogo-te que não passes do teu servo: traga-se um pouco de água, lavai os vossos pés e repousai debaixo desta árvore."
Observe, atentamente, que são três os homens que aparecem a Abraão. No entanto, este se dirige a apenas um deles, chamando-o de "Senhor meu". Os outros dois são apenas descritos como anjos. Isso é confirmado, quando Abraão conversa com o Senhor a respeito da destruição de Sodoma e Gomorra, que lhe fora anunciada por Ele, uma vez que seu sobrinho Ló era morador de uma daquelas cidades:
"Disse ainda Abraão: Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez: Se, porventura, houver ali dez? Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos dez. Tendo cessado de falar a Abraão, retirou-se o Senhor; e Abraão voltou para o seu lugar. Ao anoitecer vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado". (Gênesis 18:32-19:1a.).
É importante, ainda, que se chame a atenção para o fato de que tal aparição não foi uma visão ou um sonho. Isto porque Abraão os trata com toda hospitalidade que era costume oferecer aos visitantes naquela região: "traga-se um pouco de água, lavai os vossos pés e repousai debaixo desta árvore; trarei um bocado de pão: refazei as vossas forças, visto que chegastes até vosso servo; depois seguireis avante. Responderam: Faze como disseste. Apressou-se, pois, Abraão para a tenda de Sara, e lhe disse: Amassa depressa três medidos de flor de farinha, e faze pão assado ao borralho. Abraão, por sua vez, correu ao gado, tomou um novilho, tenro e bom, e deu-o ao criado, que se apressou em prepará-lo. Tomou também coalhada e leite e o novilho que mandara preparar, e pôs tudo diante deles; e permaneceu de pé junto a eles debaixo da árvore; e eles comeram." (Gênesis 18:4-8).
Esse mesmo Anjo aparece em Juízes 2:1-5 de maneira gritante, porque nesse texto se diz que ele não só aparece, mas também prega:
"Subiu o Anjo do Senhor de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe à terra, que, sob juramento, havia prometido a vossos pais. Eu disse: Nunca invalidarei a minha aliança convosco. Vós, porém., não fareis aliança com os moradores desta terra, antes derrubareis os seus altares; contudo, não obedecestes à minha voz. Que é isso que fizestes? Pelo que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes vos serão por adversários, e os seus deuses vos serão laços. Sucedeu que, falando o Anjo do Senhor estas palavras a todos os filhos de Israel, levantou o povo a sua voz e chorou. Daí chamarem a esse lugar Boquim [pranteadores]; e sacrificaram ali ao Senhor."
O Anjo do Senhor Se apresentou a Israel, pregando e exortando-o ao arrependimento, de maneira que todo o povo chorou na presença dEle.
Ainda em Juízes 6:11-12, é feita outra referência a esse Anjo, agora, porém, manifestando-Se a Gideão:
"Então veio Anjo do Senhor, e assentou-se debaixo do carvalho, que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o pôr a salvo dos midianitas. Então o Anjo do Senhor lhe apareceu, e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valente."
Também em Juízes 13:3 é esse mesmo Anjo que anuncia o nascimento de Sansão à sua mãe:
"Apareceu o Anjo do Senhor a esta mulher, e lhe disse: Eis que és estéril, e nunca tiveste filho; porém conceberás, e darás à luz um filho."
Em Zacarias 3:1-2a, esse mesmo Anjo cala a boca de Satanás:
"Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor. Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás."
Esse mesmo Anjo é chamado de príncipe do exército do Senhor:
"Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos, e olhou: eis que se achava em pé diante dele um homem que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a ele, e disse- lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos adversários? Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do Senhor, e acabo de chegar. Então Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu Senhor ao seu servo? Respondeu o príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." (Josué 5:13-15).
Ele também Se manifesta como o inimigo noturno de Jacó, que "sai no tapa" com ele a noite inteira:
"(...) e lutava com ele um homem, até ao romper do dia. Vendo este que não podia com ele, tocou-lhe no articulação da coxa; deslocou-se a junta da coxa de Jacó, na luta com o homem. Disse este: Deixa-me ir, pois ia rompeu o dia. Respondeu Jacó: Não te deixarei ír, se me não abençoares. Perguntou-lhe, pois: Como te chamas? Ele respondeu: - Jacó. Então disse: já não te chamarás Jacó, e, sim, Israel: pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste." (Gênesis 32:24b-28).
Portanto, esse Anjo do Senhor é descrito por meio de categorias divinas, confundindo-Se com Deus – quando se fala nEle, fala-se em Deus – numa mesma perspectiva, a tal ponto que, desde a antigüidade, os comentaristas bíblicos falam de uma Teofania ou de uma Cristofania, ou seja, de uma manifestação do próprio Cristo.
É-nos também apresentado esse mesmo Anjo como o destruidor noturno dos exércitos de Senaqueribe:
"Então naquela mesma noite saiu o Anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil; e quando se levantaram os restantes pela manhã, eis que todos estes eram cadáveres." (II Reis 19:35).
Este rei assírio, sitiando Jerusalém, e insultando ao rei de Judá, ao profeta e a todos os moradores daquele reino, dispunha de um exército enorme de milhares de homens fortemente armados e muito bem preparados. Diz-nos a Bíblia que Deus falou com o profeta naquela mesma noite e este disse ao rei de Judá:
"Pelo que assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma, não virá perante ela com escudo, nem há de levantar trincheiras contra ela. Pelo caminho por onde vier, por esse voltará; mas nesta cidade não entrará, diz o Senhor." (II Reis 19:32-33).
Outra expressão muito bonita encontrada no livro de Reis é a proferida por Eliseu:
"(...)Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros!" (II Reis 2:12).
Este é o clamor de Eliseu, proferido quando Elias está sendo trasladado ao céu.
Quando, ainda, o rei da Síria declara guerra a Israel (II Reis 6:8), sitiando a cidade de Dotã, onde se encontrava o profeta Eliseu (II Reis 6:1314), é pensando naqueles "carros de Israel, e seus cavaleiros", e vendo-os, que Eliseu assim diz ao seu moço:
"(...) Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles." (II Reis 6:16).
Isso é ratificado na oração que Eliseu faz ao Senhor:
"Orou Eliseu, e disse: Senhor, peço- te que lhe abras os olhos para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu." (II Reis 6:17).
Anjos também aparecem no Velho Testamento como ministradores de calamidades. Isto porque quando Davi faz a escolha política errada de fazer o censo (I Crônicas 21:2), vindo sobre ele o juízo de Deus (I Crônicas 21:7), é um anjo destruidor que executa o mandado divino:
"Enviou Deus um anjo a Jerusalém, para a destruir; ao destruí-la, olhou o Senhor, e se arrependeu do mal, e disse ao anjo destruidor: Basta, retira agora a tua mão. O anjo do Senhor estava junto à eira de Ornã, o jebuseu. Levantando Davi os olhos, viu o anjo do Senhor, que estava entre a terra e o céu, com a espada desembainhada na mão, estendida contra Jerusalém; então Davi e os anciãos, cobertos de panos de saco, se prostraram com o rosto em terra." (I Crônicas 21:15-16).
O profeta Ezequiel fala de seres viventes e angelicais muito estranhos, de uma outra ordem, de uma outra natureza:
"Do meio dessa nuvem saía a semelhança de quatro seres viventes, cuja aparência era esta: tinham a semelhança de homem. Cada um tinha quatro rostos, como também quatro asas. As suas pernas eram direitas, a planta de cujos pés era como a de um bezerro, e luzia como o brilho de bronze polido. Debaixo das asas tinham mãos de homens, aos quatro lados; assim todos quatro tinham seus rostos e suas asas. Estas se uniam uma à outra; não se viravam quando iam; cada qual andava para a sua frente. A forma de seus rostos era como o de homem; à direita os quatro tinham rosto de leão; à esquerda, rosto de boi; e também rosto de águia todos os quatro. Assim eram os seus rostos. Suas asas se abriam em cima; cada ser tinha duas asas, unidas cada uma à do outro; outras duas cobriam os corpos deles." (Ezequiel 1:5-11).
E Isaías 6:2, fala-nos de serafins que aparecem enchendo o templo com a glória de Deus, trazendo reverência eterna ao Senhor:
"Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava."
De uma maneira geral e rápida, é isso que o Velho Testamento diz desses seres. O Novo Testamento acrescenta algumas coisas mais.
Primeiramente, o Novo Testamento, quando fala de Satanás, diz que ele é o tentador, focalizando-o como perturbador da dimensão existencial e psicológica, estimulando áreas da psiquê, tentando fazer que esta se volte contra o projeto de Deus:
"Então o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede do boca de Deus. Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo. E lhe disse: Se és Filho de Deus, atira- te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e lhe disse. Tudo isto te darei se prostrado, me adorares. Então Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto." (Mateus 4:3-10).
Satanás também é apresentado como distorcedor da verdade, o desviador da visão da Cruz; aquele que é capaz de transformar a revelação de Deus numa teologia humana. É o que se verifica quando Pedro, após dizer "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mateus 16:16b), e de ter ouvido Jesus lhe dizer "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus". (Mateus 16:17), logo após Pedro ter declarado e ouvido tais palavras, ele ouviu Jesus dizer ainda:
"É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e no terceiro ressuscite." (Lucas 9:22).
Pedro, ao ouvir essas palavras, achou que, porque Deus o havia usado uma vez, o usaria sempre, falou-lhe:
"(...) Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá." (Mateus 16:22b).
Jesus, entretanto, lhe responde:
"(...) Arreda! Satanás; tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim, das dos homens." (Mateus 16:23).
Satanás também é apresentado como o príncipe deste mundo:
"(...) porque o príncipe deste mundo já está julgado." (João 16:11).
Satanás ainda é descrito como o deus deste século:
"(...) o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus." (II Coríntios 4:4).
Ele também é considerado o patrocinador do ódio, segundo o texto de II Coríntios 2:10-11:
"A quem perdoais alguma coisa, também eu perdôo; porque de fato o que tenho perdoado, se alguma coisa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na presença de Cristo, para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios."
Em João 8:44b, Satanás é chamado por Jesus de homicida, pai de todo tipo de violência:
"(...) Ele foi homicida desde o princípio."
Nesse mesmo texto de João, ele também é descrito como o pai da mentira:
"(...) e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio porque é mentiroso e pai da mentira." (João 8:44c).
Ele também é o mentor da hipocrisia religiosa. Foi Satanás que incitou a Ananias e a Safira a mentirem ao Espírito Santo, acerca do dinheiro resultante da venda de uma propriedade:
"Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?" (Atos 5:1-3).
É o pai dos religiosos empedrados, de acordo com João 8:44a, quando Jesus diz aos religiosos dos Seus dias:
"Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos."
É o articulador das divisões da Igreja:
"Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e, sim, a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam os corações incautos. Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal. E o Deus da paz em breve esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás." (Romanos 16:17-20).
Em outras palavras, sempre ou quase sempre, no meio das divisões quem está tendo vitórias não é Deus, mas o diabo. Pode ser até que a divisão esteja sendo feita em nome do Espírito Santo, mas, cuidado! O diabo vai estar dando uma gargalhada num canto da igreja. A divisão só é admissível quando é feita em razão de um grande e importante princípio da Palavra de Deus, seja tal princípio de natureza ética, ou doutrinária.
Satanás também é apresentado como o requerente da vida humana. Em Lucas 22:31, é - nos dito que ele reclamou a vida de Pedro:
"Símão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo."
Satanás é enfocado como o carrasco dos homens, quanto à disciplina, de acordo com 1 Coríntios 5:5. Alguns deles são entregues a Satanás para a destruição do corpo, a fim de que a culpa lhes traga conseqüências psicossomáticas "para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor [Jesus]."
Ele – Satanás – é descrito como transformista, como um "camaleão espiritual", em II Coríntios 11:14:
"E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz."
Satanás é tido por atiçador de hostilidades contra a Igreja, de acordo com Apocalipse 2:10:
"Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida."
Ele é apresentado, também, como o grande dragão, em Apocalipse 12:9:
"E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra e, com ele, os seus anjos."
Satanás é descrito como acusador, em Apocalipse 12:10b:
"(...) pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus."
Também Satanás é descrito como o pervertedor das nações do mundo, como em Apocalipse 20:7b8a:
"Satanás será solto da sua prisão, e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra."
Ele é, também, o enganador milagroso, que é capaz de fazer sinais e prodígios com a força da mentira e das trevas, conforme em I Timóteo 4:1:
"Ora, o espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios."
O Novo Testamento não só fala do diabo, mas também fala de demônios, de espíritos malignos que possuem pessoas; de espíritos de enfermidade, como o de surdez e de mudez (Marcos 7:25), de gagueira (Marcos 7:32-34) e de encurvamento. O Novo Testamento também fala de espíritos de comunidade, como em Gadara (Mateus 8:28-34), onde os espíritos pedem a Jesus para não serem mandados para fora daquela região, porque haviam se especializado em "gadaranismo". Fala-se em espíritos de angústia coletiva (Apocalipse 9), quando se descreve a abertura do poço do abismo, do qual sai toda sorte de seres espirituais malévolos, que geram angústia e perversão na sociedade humana, as quais redundam em todo tipo de violência, como a guerra, a pornografia, o caos social e a inteligência do homem rebelada contra Deus, quando o homem começa a sentir um desejo ardente de morrer.
O Novo Testamento também fala de anjos como portadores de boas novas (Lucas 1:26-28), quando do anúncio do nascimento de Jesus; ou como libertadores de cristãos, quando da libertação de Pedro:
"Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz iluminou a prisão; e, tocando ele o lado de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. Então as cadeias caíram-lhe das mãos." (Atos 12:7).
Os anjos também são descritos como recepcionistas daqueles que morrem no Senhor, conforme Lucas 16:22a, quando Lázaro - o mendigo - é levado pelos anjos ao seio de Abraão:
"Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão."
Os anjos são descritos, no Novo Testamento, como consoladores de aflitos, como em Lucas 22:43, quando Jesus, na Sua agonia no Getsêmani, é confortado por um anjo:
"Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava."
Também os anjos são pré-evangelizadores, "preparadores de terreno" espirituais, tal como é narrado em Atos 10:3-4, quando Cornélio tem o coração preparado para receber a palavra que Pedro lhe traria, através de uma ação pré-evangelizadora de um anjo:
"Esse homem observou claramente durante uma visão, cerca da hora nona do dia, um anjo de Deus, que se aproximou dele e lhe disse: Cornélio! Este, fixando nele os olhos, e possuído de temor, perguntou: Que é Senhor? E o anjo lhe disse: As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus."
Também anjos são algozes dos prepotentes, como aquele que fere a Herodes por não haver dado glória a Deus:
"Em dia designado, Herodes, vestido de traje real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o povo clamava: É a voz de um deus, e não de um homem! No mesmo instante um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou." (Atos 12:21-23).
Também são os anjos enfrentadores de poderes malignos, conforme a epístola de Judas, verso 9:
"Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda."
São descritos também como intercessores de campos missionários:
"Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Ele se levantou e foi." (Atos 8:26).
Filipe é retirado de uma cruzada evangelística em Samaria (Atos 8:4-8) e enviado para um lugar deserto, para pregar o evangelho ao ministro da fazenda da Etiópia (Atos 8:27).
Em Atos 16:9b, Paulo está incerto para onde ir, e, à noite, tem uma visão, na qual um varão macedônio se apresenta a ele e lhe diz:
"Passa à Macedônia, e ajuda-nos."
Certa vez, lendo alguns livros dos "pais" da Igreja, constatei que é opinião quase unânime entre eles que essa visão de Paulo foi a de um anjo. Isto porque, chegando a Filipos - cidade da Macedônia - uma mulher chamada Lídia se converte (Atos 16:14), uma jovem possessa de espírito de adivinhação é liberta (Atos 16:16-18), o carcereiro da prisão onde ficaram presos Paulo e Silas se converte (Atos 16:29-30), uma igreja é estabelecida (Atos 17:4), e, em virtude de todas essas coisas, o ministério de Paulo toma um novo rumo, devido ao atendimento do pedido feito para ir à Macedônia.
No Apocalipse os anjos são descritos como mensageiros de Deus, questionadores da verdade, libertadores de forças espirituais, guerreiros, portadores de oráculos, guardadores de cidade, soldados nas batalhas espirituais, anunciadores de juízos e adoradores incessantes na presença de Deus.
Embora a exposição desses elementos descritos tenha sido um pouco longa, ela se faz necessária, uma vez que, possivelmente, haja algum leitor não muito afeito com eles, objetivando resgatar esses personagens bíblicos: o que fazem, onde agem e como agem.
Fonte: Batalha Espiritual - Caio fabio
Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira
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