quinta-feira, 2 de junho de 2011

BATALHA ESPIRITUAL - Pr.Caio Fabio - 6ª Parte

 

Discernindo Nossas Relações com os Principados e as Potestades


Depois de se ter uma idéia rápida acerca dos seres espirituais que são descritos pela Bíblia, cabe a seguinte pergunta: o que nós precisamos saber, hoje, sobre a nossa relação com tais seres espirituais?
Há algumas coisas que a Palavra de Deus nos diz que são absolutamente importantes discernir no lidar, no enfrentar e no perceber o mundo espiritual que nos cerca.
A primeira coisa que a Palavra de Deus diz que precisamos saber é que a cruz relativizou o poder dos principados e potestades.
O que a Palavra de Deus diz a esse respeito pode ser encontrado em Colossenses 2:14-15:
"Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o no cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz."
Também em João 12:31, encontra-se algo acerca disso:
"Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso."
Falando a obra do Espírito Santo, Jesus diz:
"Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: (...) do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado." (João 12:8 e11).
O diabo e todos os demônios já estão julgados; os principados e as potestades estão julgados. Para os principados e potestades, a cruz é o ponto mais escatológico e mais apocalíptico da História. O fim para eles, portanto, já veio. Nas regiões celestiais, o fim já chegou. E o diabo sabe disso. É por isso que Apocalipse 12:10 diz:
"(...) Agora veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus"
Eu aprendi isso na prática. Eu era recém-convertido, e fui levado "a reboque" para expulsar um demônio. Eu era novo na fé, naquela ocasião. Alguém foi chamar um pastor experiente para isso:
" - Pastor, pastor!...- Tem uma pessoa possessa lá perto de casa! Vamos lá!"
Eu, que estava perto daquele pastor, olhando para mim, falou:
" - Vamos comigo, meu filho!"
Logo eu que, meses antes, havia sido um meio possesso! E lá fui eu.
Como eu andava rápido, e o pastor andava um pouco mais devagar, conversando com o irmão que fora chamá-lo, quando dei por mim, eu já havia entrado na casa onde estava a mulher possessa. Quando entrei na casa, e a possessa partiu na minha direção, e eu a encarei, em nome de Jesus, falei-lhe da Cruz. Eu lhe falei:
"- Em nome de Jesus, que morreu na Cruz, eu o repreendo!"
De imediato, ela - a possessa - citou-me Colossenses 2:14-15, na íntegra. Depois disso, eu perguntei àquele irmão que fora buscar-nos:
"– Ela já foi a alguma igreja?"
Ele me respondeu:
"- Nunca. Ela não sabe ler! Ela é 'burra de pai e de mãe'!..."
Mas, apesar disso que ele me falou, ela recitou na íntegra tal texto bíblico. O espírito maligno, por meio dela, falou:
"- Eu estava lá! Quando Ele cancelou o escrito de dívida, e expôs os principados e as potestades ao desprezo, triunfando sobre eles na Cruz, eu estava lá!"
Confesso: o diabo nunca me edificou tanto!
Saiba disso: na batalha espiritual, não temos que vencer os principados e as potestades, porque eles já estão vencidos; porém, temos apenas que reclamar a vitória de Jesus. Essa é a primeira coisa que precisamos saber. Vejo muita gente querendo lutar e vencer uma batalha que já está vencida. A rigor, a batalha espiritual já se deu. Hoje, nós estamos apenas afirmando a vitória de Jesus.
A segunda coisa que precisamos saber e aprender é que os principados e as potestades aprendem com a Igreja. Ou seja, há toda uma relação didática, pedagógica e instrutiva da nossa parte com os principados e as potestades. Como isso se dá?
"Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais." (Efésios 3:10).
Enquanto estamos por meio destas páginas pensando e refletindo sobre batalha espiritual, de acordo com Paulo, os principados e as potestades estão fazendo o mesmo. Enquanto vivemos, praticamos nossa missão no mundo. A Palavra de Deus nos assevera que os principados e potestades estão recebendo ministração acerca da sabedoria divina, mediante a reflexão, a ação e a postura da Igreja no seu fazer missionário na terra.
É por isso que a Igreja tem que desmascarar poderes espirituais. O apóstolo Paulo diz que não ignorava os desígnios do diabo (II Coríntios 2:11). Era em virtude disso que ele podia exercer discernimento, como o afirmado em Atos 16: 16-18,, em que Paulo, olhando para aquela moça com espírito de adivinhação - a qual "confirmava" que Paulo era servo do Deus Altíssimo (Atos 16:17) -, não encontrou nela nenhuma atitude de propaganda positiva do reino, mas de uma atuação maligna e escarnecedora do diabo (Atos 16:18). Por isso Paulo diz:
"Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios." (II Coríntios 2:11).
A Palavra de Deus também nos diz em I Coríntios 4:9, que os apóstolos deixavam os poderes espirituais (os principados e as potestades) perplexos, no teatro espiritual.
"Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens."
O interessante que a palavra utilizada no original grego é "theátron", que se refere a palco, a espetáculo. Paulo diz que as potestades e os principados estão de olho na ação da Igreja, na ação de apóstolos, na ação de homens e de mulheres de Deus. Há toda uma expectativa espiritual acerca de tais manifestações. Ninguém evangeliza ou deve evangelizar brincando. Paulo diz em 1 Coríntios 10 e 11 que os momentos de culto são impregnados de realidades espirituais. Nós nos "ocidentalizamos", tornando-nos muito racionalistas, muito fechados, com uma mente muito árida, muito lógica, perdendo a possibilidade de ler a Bíblia com os olhos que discernem o grande teatro espiritual, no qual eu e você somos personagens cotidianos.
Paulo está dizendo que os principados e potestades o conheciam:
"Mas o espírito maligno lhes respondeu: conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas, vós, quem soís?" (Atos 19:15).
É acerca disso que Paulo está falando:
" - As potestades e os principados me conhecem. Nós, apóstolos, tornamo-nos espetáculos tanto a anjos, quanto a homens."
Lembro-me de uma ocasião em que entrei na casa de uma pessoa possessa, no bairro de São Francisco, em Manaus. Quando cheguei àquela casa, encontrei uma menina que tinha vindo do interior do Amazonas, a qual não sabia ler nem escrever, e que nunca havia saído do interior do estado para a capital, e que nunca havia me visto antes; com uma força sobre-humana – havia, mais ou menos, uns 8 homens segurando-a, os quais ela jogava de um lado para o outro.
Quando cheguei àquela casa, portanto, ela, olhando para mim, falou com uma voz masculina:
" - Desgraçado! Eu o conheço! Eu o vi no Rio de Janeiro. Você era meu, mas o perdi!"
Naquela casa, apenas eu e aquele espírito sabíamos a que este se referia. Foi numa noite de "reveillon", no Rio de Janeiro, em 1972, eu ia ficando possesso, na praia de Copacabana, sentindo uma coisa escuríssima entrando em mim... Fui perdendo o controle sobre mim mesmo... Apenas me lembrei de um versículo que a minha avó me ensinara embalando a minha rede em Manaus, que diz:
"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam." (Salmo 23:4).
Eu me encontrava, naquela noite, com a cabeça cheia de maconha, cheia de cocaína, cheia de bebida e de tudo que não prestava... Mas, no momento em que senti aquela coisa entrando em mim, lembrei-me desse versículo ensinado pela minha avó. Eu não cheguei a pronunciá-lo. O versículo só passou pela minha cabeça, quando senti aquela coisa ser jogada para fora de mim.
E lá estava eu no Amazonas, vendo, na prática, não nos bancos de um seminário, mas na prática, o que a Bíblia diz quanto aos principados e potestades conhecerem as ações da Igreja. Apóstolos, homens e mulheres de Deus são espetáculo tanto a anjos quanto a homens. Muitas vezes, em algumas cruzadas evangelísticas, literalmente me sinto no centro desse palco, no qual há forças espirituais tremendas em ação. Se se quer evangelizar com seriedade; se se quer pregar com compromisso; se se quer orar com fé; se se quer ministrar com honestidade, é imprescindível que se adquira o discernimento de que não se está apenas verbalizando uma verdade ou um sentimento, mas que se está no meio de um conflito espiritual tremendo, no qual anjos e demônios reconhecem a sabedoria de Deus pela ministração daqueles que são povo de Deus na Igreja.
A terceira coisa que precisamos saber e aprender é que os principados e as potestades alimentam e são alimentados pelas forças da História. Algo acerca disso já foi falado bem sucintamente no capítulo anterior, mas agora, iremos nos deter um pouco mais sobre esse assunto.
Em Apocalipse 17:12-13, diz o seguinte:
"Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas rece- bem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Têm estes um só pensamento, e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem."
O interessante no texto citado é que a besta lhes dá autoridade e eles, reciprocamente, oferecem autoridade a ela. Eles não têm autoridade ("ainda não receberam reino"), mas já receberam da besta uma unção para tê-la ("mas recebem autoridade como reis, com a besta"), e, quando a têm, devolvem-na a ela ("e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem.").
Este texto de Apocalipse está dizendo absolutamente isto: os principados e as potestades alimentam e são alimentados pelas forças da História - as forças políticas, econômicas, culturais e pela sua conjuntura mais ampla e complexa.
A quarta coisa que precisamos saber e aprender é que os principados e potestades não existem autonomamente. Primeiramente, porque não são independentes de Deus. Isto porque continuam sob a soberania divina.
É importante que fique claro que não temos um universo dividido, no qual uma parte pertence a Deus e a outra ao diabo. Não! O universo não está dividido assim. O universo se manifesta desta forma: há Alguém sobre tudo e sobre todos. O Seu nome é o Senhor, e abaixo dEle estão todas as coisas.
Também os principados e as potestades não são independentes uns dos outros, não agindo sem conexão entre si. O apóstolo Paulo nos fala de uma coordenação e de uma conjugação de forças e poderes:
 "Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e no força do seu poder. Revestí-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nos regiões celestes." (Efésios 6:10-12).
Observem as seguintes palavras extraídas do texto acima: "principados", "potestades", "dominadores" e "forças". Todas elas dão-nos uma idéia de ação coordenada.
Os principados e as potestades também não são independentes da História, agindo e atuando dentro dela.
A quinta coisa que precisamos saber e aprender é que os principados e potestades são sensíveis a duas ações especiais da Igreja. Há duas ações especiais da Igreja que sensibilizam imensamente o mundo das realidades espirituais.
A primeira ação é a oração, conforme Atos 12:1 onde se diz que a Igreja está orando "marotamente" (v. 12), mas, apesar disso, um anjo é enviado para abrir a porta do cárcere para Pedro sair (v.7).
Já em Mateus 17:14-21, é narrado o fato da tentativa feita pelos discípulos de Jesus de expulsarem o demônio, mas não o conseguem. Jesus, porém, descendo do monte da transfiguração, diz-lhes:
"(...) esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum." (Mateus 17:21).
Os teólogos tentam dar as explicações as mais diversas a este texto; mas, eu prefiro continuar a acreditar que oração é oração, e jejum é jejum, literalmente.
A segunda ação que sensibiliza os principados e potestades é o testemunho dos crentes, o qual deflagra processos tremendos nas regiões celestiais. O testemunho que gera tais processos é o de Jesus, quando se abre a boca para anunciar-Lhe a vitória, pregando a Sua cruz e não se dobrando às forças históricas que tentam fazer que se negue o Seu nome, e andando em integridade, proclamando a Sua vitória.
Em Apocalipse 12:11, lemos:
"Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida."
Sei que, atualmente, a intenção de muitos, quando pensam em enfrentar principados e potestades, é convidar crentes para algum lugar para fazerem declarações bonitas e triunfantes da vitória de Jesus, Todavia, o texto acima de Apocalipse diz que tais declarações não são feitas de mim para você, e nem de mim para os seres espirituais apenas; mas, ela é feita de nós para o mundo. Quando se vai para a sociedade, deve-se proclamar a vitória da cruz ("venceram por causa do sangue do Cordeiro"), suportando o peso de ser servo de Jesus, mesmo às custas de ações e atitudes que trarão conseqüências profundas à vida, podendo redundar em morte.


Discernindo as Forças Históricas na Batalha Espiritual

Agora que já se sabe quem são esses seres espirituais; agora que já se sabe o que a Cruz lhes fez; agora que já se sabe qual a relação dos principados e potestades com a Igreja; agora que já se sabe como os principados e potestades atuam na História; agora que já se sabe quais as ações da Igreja que fragilizam tais seres espirituais; agora, enfim, que já se sabe tudo isso, uma pergunta deve ser feita: será que se pode escolher um caso, ou fazer um estudo de casos, no qual se possa ver esses seres em ação, bem como o povo de Deus em ação em relação a esses seres?
No capítulo 10 do profeta Daniel, diz-nos que tudo o que vai ser descrito e narrado nele ocorreu num momento histórico-político importantíssimo. O que é interessante na Bíblia é que as coisas espirituais não estão divorciadas da História. Não se fala das dimensões celestiais num lugar indefinido; ao contrário, elas têm a ver com a terra, com o mundo em que vivemos.
Primeiramente, diz-se que tudo aconteceu no terceiro ano do rei Ciro (v.1) - acerca do qual Isaías havia profetizado quase 100 anos antes (Isaias 45), dizendo que Deus o levantaria para abrir a porta aos exilados judeus em Babilônia, permitindo-lhes a volta à sua terra, a fim de reconstruírem suas vidas.
Prosseguindo, Daniel diz que no terceiro ano do rei Ciro ele estava à beira do rio Tigre (Daniel 10:4). Lá, Daniel teve a visão de anjo, o qual é descrito de forma inteiramente diferente daquelas que geralmente ouço, quando alguém diz que teve uma visão de um. Geralmente, dizem-me:
"- Pastor, eu vi um anjão com uma espada deste tamanho!..."
Passado algum tempo, eu pergunto a uma das pessoas que me disseram ter visto um anjo:
 "- Como era mesmo aquele anjo que você disse que viu?"
"- Ah! Me esqueci, pastor!" - responde-me.
Eu nunca vi um anjo. Mas, no dia em que vir um, certamente, mesmo que viva mais 400 anos, vou descrevê-lo exatamente da mesma forma que o vi pela primeira vez. Não consigo crer em alguém que diz que vê anjo, mas se esquece dele no dia seguinte.
Daniel, entretanto, diz:
"- Eu vi um anjo!... E, olha, eu tive uma tremedeira danada... Mudei de cor... fiquei branco de medo... quase desmaiei... Eu fiquei estarrecido com aquela visão esmagadora!..."
O anjo o toca e lhe diz:
"- Levanta, Daniel."
Daniel diz que foi tocado pelo anjo (v.10), ficando de pé, mas que, mesmo assim, continuou a sentir medo (v.11). O anjo, então, começa a relatar-lhe o propósito de sua visita:
"(...) Daniel, homem muito amado, está atento às palavras que te vou dizer, e levanta-te sobre os pés; porque eis que te sou enviado. Ao falar ele comigo esta palavra, eu me pus em pé tremendo. Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e por causa das tuas palavras é que eu vim. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia. Agora vim para fazer-te entender o que há de suceder ao teu povo nos últimos dias; porque a visão se refere a dias ainda distantes." (Daniel 10:11-14).
O anjo começa a dizer-lhe que os persas vão cair (v.20) e que outro reino iria levantar-se - o da Grécia (v.20), surgindo um homem poderoso nesse reino, cujo nome não é citado, mas é Alexandre, o Grande. Esse reino grego será intenso e mundial (Daniel 11:3), porém curto. Quando esse rei grego morrer, o reino será dividido em quatro (Daniel 11:4). E foi isso que ocorreu, historicamente falando. Cassandro, Lasímoco, Ptolomeu e Seleuco ficaram com os reinos. Dois desses reinos tornam-se especialmente fortes, quais sejam o de Ptolomeu e o de Seleuco.
Depois disso, o anjo diz que haverá guerra entre o reino do norte e o reino do sul (Daniel 11:10-11). E o campo dessa batalha será Israel.
Daniel faz menção a uma mulher muito bonita, que é Cleópatra, aparecendo em Daniel 11:6, a qual é filha do rei do Sul, mas que é dada a um príncipe do reino do Norte, na tentativa de uma aliança entre os reinos. Mas, a aliança é quebrada depois (Daniel 11:7).
Vão sendo descritas as inúmeras lutas históricas entre Ptolomeus e Seleucos. Também é mencionada a revolta dos macabeus (Daniel 11:14).
O que é que se aprende com toda essa narrativa?
Em primeiro lugar, aprende-se que os principados e as potestades têm relação com a História. Em Daniel 10:13, encontramos algo a esse respeito, falando que as manifestações espirituais se relacionavam com o mundo visível e suas expressões políticas. O verso 13 nos fala do príncipe da Pérsia – a qual existe na geografia mundial real, concreta. O anjo está dizendo que havia uma correspondência espiritual, e que havia principados malignos agindo na Pérsia:
"Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias. Porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia."
Em Daniel 10:20b, fala-se sobre o príncipe da Grécia:
"(...) eis que virá o príncipe da Grécia."
Também havia um principado poderoso agindo na Grécia.
E, em Daniel 10:21b, fala-se em Miguel, que é chamado de "vosso príncipe" ou seja, príncipe do povo de Israel:
"(...) e ninguém há que esteja ao meu lado contra aqueles, a não ser Miguel, vosso príncipe."
Se a Pérsia tinha principados; se a Grécia tinha principados; se Israel tinha Miguel; a pergunta que deve ser feita agora é a seguinte: quem são os principados que estão sobre o Brasil?
Algo interessante é notar que os principados também mudam com a História. Eles estão tão imiscuídos nela, que não mantêm um mesmo padrão de atuação o tempo todo: a História muda, eles mudam com ela.
Se os principados e potestades não mudassem, nós teríamos o mesmo padrão de ação espiritual na Pérsia (atualmente Irã) até hoje. Houve convulsões religiosas e políticas tão profundas que determinaram outra manifestação espiritual lá.
Mas o princípio que fica é este. Por mais estranho que isso possa parecer a algumas mentes teológicas mais sofisticadas, a Bíblia é clara quanto à atuação dos principados e potestades no seio da História, agindo sobre nações, de maneira tão íntima, tão intrínseca que a Bíblia os especifica, referindo-se à área de atuação deles, como o príncipe das Nações.
Há todo um exercício a ser feito por nós, com cuidado e inteligência, para discernirmos quem são os principados que atuam no nosso país.
Em segundo lugar, aprende-se que a batalha espiritual não nos isenta de vivermos dentro o conjunto das forças históricas.
A vitória do anjo sobre os principados da Pérsia não mudou a História, do ponto de vista mediato. O anjo diz a Daniel:
"- Eu vim para te dizer que tu és amado. Não pude chegar mais cedo, porque fui impedido pelo príncipe da Pérsia. Miguel veio ao meu socorro. Depois disso é que eu pude vir."
Poder-se-ia pensar que ele - o anjo - diria o seguinte:
"- O povo de Israel está livre, nunca mais ninguém vai oprimi-lo. Não há mais sofrimento, desgraça, opressão, não há mais nada que aflija o homem."
Não é isso que se espera como resultado de vitória nas regiões celestiais? No entanto, o anjo diz que houve vitória, mas que, apesar dela, sofrimentos e angústias sobreviriam sobre o povo de Deus.
Isso nos deve levar a rever completamente o nosso entendimento do que vem a ser vitória nas regiões celestiais. Vitória nas regiões celestiais, tendo por base o texto de Daniel 10 e 11, não significa mudanças sócio-políticas radicais; não significa reviravoltas econômicas dramáticas; não significa, necessariamente, a prosperidade material do povo de Deus. A vitória do anjo não mudou dramaticamente a História, mas mostrou o que haveria de acontecer no futuro:
"Agora vim para fazer-te entender o que há de suceder ao teu povo dos últimos dias; porque a visão se refere a dias ainda distantes." (Daniel 10:14).
Em terceiro lugar, aprende-se que a batalha espiritual não é tanto a de neutralizar forças espirituais, mas de discerni-las, a fim de não nos aliarmos a elas.
Há pessoas que pensam que não é preciso ter tal discernimento, uma vez que acreditam que não vão ter garantias de que o seu confronto espiritual não vai mudar a História, imediatamente. Daniel não mudou o curso histórico. A peleja foi vencida nas regiões celestiais não necessariamente para neutralizar as forças espirituais que estavam agindo na História, nem para neutralizar as forças históricas alimentando as espirituais; mas, sobretudo, para discerni-las, para não nos aliarmos a elas.
Daniel recebe discernimento da visão:
 "(...) e teve inteligência da visão." (Daniel 10:1b).
O perigo é que alguns do povo de Daniel não tiveram discernimento, aliando-se ao lado errado. É o que se diz em Daniel 11:14:
"Naqueles tempos se levantarão muitos contra o rei do Sul; também os dados à violência dentre o teu povo se levantarão para cumprirem a profecia, mas cairão."
Em quarto lugar, aprende-se que a batalha espiritual não é ganha quando o povo de Deus triunfa sobre as forças da História, e, sim, quando não se deixa seduzir por elas.
Encontra-se uma afirmação acerca disso em Daniel 11:33-35, que diz:
"Os entendidos entre o povo ensinarão a muitos; todavia cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo. Ao caírem eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas. Alguns dos entendidos cairão para serem provados, purificados, e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado."
Há, nesse texto, alguma palavra de vitória sobre as forças históricas? Ao contrário: estão debaixo de pancada.
Por fim, em quinto lugar, o que se aprende é que a batalha espiritual não é caracterizada por vitória histórica do povo de Deus, mas pela sua salvação.
A grande vitória não é ter a garantia de que, um dia, o Brasil vai ter um Presidente da República evangélico. A grande vitória não é ter a certeza de que todas as verbas públicas irão para os caixas da Igreja. A grande vitória não é saber que nada vai ser feito sem a autorização de algum pastor poderoso.
Note-se que o povo de Israel tem um defensor, que é Miguel (Daniel 12:1), mas passam por angústias terríveis:
"Nesse tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo; mas naquele tempo será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro."
Mas, a Palavra de Deus ainda diz:
"(...) mas naquele tempo será salvo o teu povo."
O povo de Daniel não se tornou o povo mais forte da História. Pelo contrário, é descrito como um povo fraco e abatido, mas com a promessa de que seria uma nação de pessoas salvas.
Do Brasil, o que podemos esperar quanto à vitória contra os principados e potestades?
A Palavra de Deus nos promete apenas que podemos ser um povo salvo; o que nós queremos ver é um povo de gente embranquecida e purificada; gente que não se dobra, gente que não se curva, gente que não se vende; gente que não se deixa seduzir por lisonjas; gente que não pega em armas para praticar violência; gente que sabe que a luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades; gente que sabe que não é por força nem por violência, mas que é pelo Espírito Santo de Deus que se consegue vencer (Zacarias 4:6b), em nome de Jesus.

Fonte: Batalha Espiritual - Caio Fabio


Pesquisa: Pr. Charles Maciel Vieira

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