Abraão (Gn 12.1-25.18)
I. Abraham estabelecido em Canaán 12.1-14.24
Transição desde Harã a Siquem, Betel e o País do Sul 12.1-9
Permanência em Egito 12.10-20
Separação de Abraão e Ló 13.1-13
A terra prometida 13.14-18
Ló resgatado 14.1-16
Abraão abençoado por Melquisedeque 14.17-24
II. Abraão espera o filho prometido 15.1-22.24
O filho prometido 15.1-21
O nascimento de Ismael 16.1-16
A promessa renovada – A aliança e seu filho 17.1-27
Abraão, o intercessor – Ló resgatado 18.1-19.38
Abraão liberado de Abimeleque 20.1-18
Nascimento de Isaque – Expulsão de Ismael 21.1-21
Abraão habita em Berseba 21.22-34
A aliança confirmada em obediência 22.1-24
III. Abraão provê pela posteridade 23.1-25.18
Abraão adquire um local de sepultamento 23.1-20
A noiva para o filho prometido 24.1-67
Isaque designado como herdeiro – Morte de Abraão 25.1-18
Mesopotâmia, a terra entre dois rios, foi o lar e a pátria de Abraão (Gn 12.6; 24.10 e At 7.2). situada sobre o rio Balik, um tributário do rio Eufrates, Harã constituiu o centro de cultura onde viveu com seus parentes. Os nomes da parentela de Abraão, Taré, Nacor, Peleg, Serug e outros, estão testemunhados nos documentos Mari e assírios como nomes de cidades nesta zona [1]. Em obediência ao mandado de Deus, de deixar a terra e parentela, Abraão deixou Harã para estabelecer-se com um novo lar na terra de Canaã.
Abraão tinha vivido em Ur dos caldeus antes de chegar a Harã (Gn 11.28-31). A identificação mais geralmente aceitada de Ur é a moderna Tell el-Muqayyar, que está situada a 14 quilômetros a oeste de Nasiriyeh, sobre o rio Eufrates, ao sul do Iraque. Foram dadas algumas considerações para as notações geográficas modernas nos tempos de Abraão a uma cidade chamada Ur, localizada no norte da Mesopotâmia [2]. O lugar meridional de Ur (Uri) foi escavado em 1922-34, conjuntamente pelo Museu Britânico e o Museu da Universidade de Filadélfia, sob a direção de Sir Leonard Wooley. Traçou a história de Ur desde o quarto milênio a.C. até o ano 3000 a.C., quando esta cidade foi abandonada. Neste lugar foram encontradas as ruínas do zigurate que tinha sido reconstruído pelo próspero rei sumério Ur Nammu, quem governou por pouco tempo antes do 2000 a.C. Esta cidade continua sendo a grande capital da Terceira Dinastia de Ur. A deusa-lua Nannar que foi adorada em Ur foi também a principal deidade em Harã [3]. A vida de Abraão conduz por si mesma a uma variedade de tratamentos.
Geograficamente se podem traçar seus movimentos começando com a cidade altamente civilizada de Harã. Deixando seus parentes, embora acompanhado de Ló, seu sobrinho, viajou por volta de 647 quilômetros até a terra de Canaã, onde se deteve em Siquem, aproximadamente a 48 quilômetros ao norte de Jerusalém. Além de uma excursão ao Egito obrigado pela fome, Abraão se deteve em lugares tão bem conhecidos como Betel, Hebrom, Gerar e Berseba. Sodoma e Gomorra, as cidades da planície para as quais emigrou Ló, estavam diretamente espalhadas ao leste do País do Sul ou Negueve, onde se estabeleceu Abraão.
Freqüentes referências indicam que Abraão foi um homem de considerável riqueza e prestigio. Longe de ser um nômade errabundo no sentido beduíno, Abraão dispunha de interesses mercantis. Embora a valoração de seus possessões seja modestamente resumida e expressada numa simples declaração "todas as coisas que haviam reunido e as almas que haviam conseguido em Harã" (12.5) é muito verossímil que esta riqueza sua estivesse representada por uma grande caravana quando emigrou à Palestina. Uma força de 318 servos utilizada para liberar a Ló (14.14) e uma caravana de dez camelos (24.10) não significa senão uma indicação dos recursos com que contava Abraão [4]. Os servos estavam acumulados por compra, doação e nascimento (16.1; 17.23; 20.14). Seus rebanhos e manadas de gado em constante crescimento, a prata e o ouro, e os servos para cuidar tão extensas possessões, indicam que Abraão foi um homem de grandes médios. Os líderes palestinos reconheceram a Abraão como a um príncipe com quem podiam fazer alianças e concluir tratados (Gn 14.13; 21.22; 23.6).
Desde o ponto de vista das instituições sociais, o relato do Gênesis de Abraão resulta um estudo fascinante. Os planos de Abraão para fazer de Eliézer herdeiro de suas possessões, já que não tivera um filho (Gn 15.2) refletem as leis de Nuzu, que determinavam que um casal sem filhos podia adotar como filho um servo fiel, que pudesse ostentar direitos legais e quem podia ser recompensado com a herança, como pagamento por seus cuidados constantes e o enterro em cãs de falecimento. Os costumes maritais de Nuzu, o mesmo que o código de Hamurabi, proviam que, se a esposa de um homem casado não tinha filhos, o filho de uma criada podia ser reconhecido como legítimo herdeiro. A relação de Agar com Abraão e Sara é algo típico dos costumes que prevaleciam na Mesopotâmia. A preocupação de Abraão pelo bem-estar de Agar pode também ser explicada pelo fato de que legalmente uma criada que parisse um filho não podia ser vendida para a escravidão.
Um estudo devocional de Abraão pode resultar altamente proveitoso. A promessa sêxtupla feita ao patriarca tem um grande alcance nas implicações da história. A promessa de Deus de fazer dele uma grande nação se realiza subseqüentemente nos acontecimentos do Antigo Testamento. "Eu te abençoarei", logo se tornou uma realidade em sua experiência pessoal.
O nome de Abraão se fez grande não somente como pai dos israelitas e maometanos, senão também como o grande exemplo de fé para os crentes cristãos, segundo os escritos do Novo Testamento, em Romanos, Gálatas, Hebreus e Tiago. Além disso, a atitude do homem para Abraão e seus descendentes teria uma direta influência na bênção ou maldição sobre o gênero humano; isto assegurou a Abraão um lugar único no desígnio providencial para a raça humana. Certamente, a promessa de que Abraão seria bendito foi literalmente cumprida durante sua vida, o mesmo que nos tempos subseqüentes. Finalmente, a promessa de abençoar todas as famílias da terra se descobre em seu alcance a escala mundial quando Mateus começa seu relato da vida de Jesus Cristo, estabelecendo que Ele é o "filho de Abraão".
A aliança joga um papel importante na experiência de Abraão. Notem-se as sucessivas revelações de Deus após a promessa inicial à qual Abraão responde com obediência. A medida que Deus acrescenta sua promessa, Abraão exerceu a fé, que lhe foi reconhecida como justiça em Gênesis 15. nesta aliança, a terra de Canaã foi especificamente dada em prenda aos descendentes de Abraão. Com a promessa do filho, a circuncisão se converte no sinal do pacto (Gn 17). Esta promessa da aliança foi selada finalmente no ato de obediência de Abraão, quando esteve disposto a executar o sacrifício de seu único filho Isaque (Gn 22).
A religião de Abraão é um tema vital nos relatos bíblicos, patriarcais. Procedente de um fundo politeísta onde a deusa-lunar Nannar era reconhecida como o deus principal na cultura de Babilônia, Abraão chega a Canaã. Que sua família serviu a outros deuses fica claramente estabelecido em Josué 24.2. em Canaã, e em meio de um entorno idólatra e pagão, a meta de Abraão foi a de "construir um altar ao Senhor". Depois de resgatar a Ló e ao rei de Sodoma, recusou uma recompensa, reconhecendo que ele estava por completo dedicado por devoção única a Deus, o "fazedor dos céus e da terra". A íntima comunhão e camaradagem existente entre Deus e Abraão estão belamente retratadas no capítulo 18, onde ele intercede por Sodoma e Gomorra. Talvez seja sobre a base de Is 41.8 e Tg 2.23 que a Septuaginta inseriu as palavras "meu amigo" em 18.17. Através dos séculos, a porta meridional de Jerusalém, que conduz a Hebrom e Berseba, tem sido sempre citada como a "porta da amizade", em memória da relação íntima entre Deus e Abraão.
Isaque, o filho prometido, foi o herdeiro de tudo o que Abraão possuía. Outros filhos de Abraão, tal como Ismael, de onde descendem os árabes e Midiã, o pai dos midianitas, receberam presentes quando partiram de Canaã, deixando o território a Isaque. Antes de sua morte, Abraão deixou a Rebeca por esposa de Isaque. Abraão também comprou a cova de Macpela [5], que se converteu no sepulcro de Abraão, Isaque e Jacó, assim como o de suas esposas.
[1] Esta terra era também conhecida como Padã-Harã, de tal forma que o nome "aramaico" foi aplicado a Abraão e a seus familiares. Ver Gn 25.20, 28.5, 31.20,24 e Dt 26.5. Também Labão falava aramaico. Gn 31-47.
[2] Gordon, op. cit., p. 1?2. Ver também as citas de Nuzu numa tese não publicada por Loren Fisher na Universidade de Brandeis, "Nuzu Geographical Names".
[3] G. E. Wrght, op. cit , p. 41, observa: "De qualquer modo, estamos seguros ao dizer que o lar com o qual os patriarcas estiveram mais intimamente relacionados foi Harã, existindo muito poucas evidências de qualquer influencia do sul da Mesopotâmia sobre suas tradições".
[4] Gordon, op. cit., p. 124.
[5] A compra de Abraão de tal propriedade (Gn 23) reflete a lei hitita. Efrom insistiu em vendê-lhe o campo inteiro, e assim Abraão se fez responsável pela tributação e outros impostos que desejava evitar, ao interesar-se somente pela cova. Ver J. F. Lehman, "Bulletin of ¡he American Schools of Oriental Research", nº 129 (1953), pp. 15-18. Ver Gordon, op. cit., p. 124 e Wright, op. cit., p. 51.
Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT
Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira
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