A queda do homem e suas conseqüências
Gn 3.1 – 6.10
O ponto mais crucial na relação do homem com Deus é a mudança drástica que se precipitou pela desobediência do primeiro (3.1-24). Como o mais trágico desenvolvimento na história da raça humana, constitui um tema recorrente na Bíblia.
Enfrentada com uma serpente que falava, Eva começou a duvidar da proibição de Deus e deliberadamente desobedeceu [1]. Por sua vez, Adão cedeu à persuasão de Eva.
Imediatamente se acharam cônscios de sua decepção e do engano produzido pela serpente e de sua desobediência a Deus. com folhas de figueira tentaram cobrir suas vergonhas. Face a face com o Senhor Criador, todas as partes implicadas nesta transgressão foram julgadas solenemente. A serpente foi amaldiçoada por acima de todos os animais (3.14). a inimizade seria colocada como relação perpétua entre a semente da serpente, que representava mais que o réptil presente, e a semente da mulher [2]. A respeito de Adão e de Eva, o juízo de Deus tem um caráter de misericórdia, ao assegurar a definitiva vitória para o homem através da semente da mulher (3.15) [3]. Todavia, a mulher foi condenada ao sofrimento de criar seus filhos e o homem sujeito a uma terra maldita. Deus proveu peles para suas vestes, que implicava matar animais como conseqüência de ser homem pecador. Conscientes do conhecimento do bem e do mal, Adão e Eva foram imediatamente expulsados do jardim do Éden, por medo a que comessem da árvore da vida e assim ficassem para sempre. perdido o habitat da eterna felicidade, o homem encarou as conseqüências da maldição, com a só promessa de um eventual consolo através da semente da mulher, que mitigaria seu destino.
Dos filhos nascidos a Adão e Eva, somente três são mencionados por seu nome, as experiências de Caim e Abel revelam a condição do homem em seu novo estado mudado.
Ambos adoravam a Deus trazendo-lhe ofertas. Enquanto que o sacrifício de um animal de Abel era admitido, a oferta de vegetais de Caim era rejeitada. Irritado por isso, Caim matou a seu irmão.
Já que tinha sido advertido por Deus, Caim adotou uma atitude de deliberada desobediência, convertendo-se assim no primeiro assassino da humanidade. Não é falto de razão chegar à conclusão de que esta mesma atitude prevaleceu quando levou sua oferta, que Deus tinha rejeitado.
A civilização de Caim e seus descendentes se reflete numa genealogia que sem dúvida alguma representa um muito longo período de tempo (4.17-24). O próprio Caim fundou uma cidade.
Uma sociedade urbana na antigüidade, certamente, implicava o crescimento de rebanhos e manadas de animais. As artes se desenvolveram com a invenção e produção de instrumentos musicais. Com o uso do ferro e do bronze chegou a ciência da metalurgia. Esta avançada cultura deu aparentemente ao povo um falso senso de segurança. Isto se vê numa atitude de despreocupação e fanfarronaria ostentada por Lameque, o primeiro polígamos. Teve o orgulho de utilizar armas superiores para destruir a vida. Caracteristicamente ausente, por contraste, esteve qualquer reconhecimento de Deus pela progênie de Caim.
Depois da morte de Abel e sua perda e da decepção a respeito de Caim como assassino, os primeiros pais tiveram uma nova esperança com o nascimento de Sete (4.25ss).
Foi nos dias do filho de Sete, Enos, que os homens começaram a voltar-se para Deus. Com o passar de numerosas gerações e muitos séculos, outro signo de aproximação a Deus foi exemplificado em Enoque. Esta notável figura não experimentou a morte; sua vida de piedade filial com Deus terminou com sua ascensão. Com o nascimento de Noé, a esperança reviveu mais uma vez.
Lameque, um descendente de Sete, antecipou que através de seu filho, o gênero humano seria consolado da maldição e relevado dela, pela qual tinha sofrido desde a expulsão do homem do Jardim do Éden.
Em dias de Noé, o crescente ateísmo da civilização alcançou uma verdadeira crise.
Deus, que tinha criado o homem e seu habitat, estava decepcionado com sua prevalecente cultura.
Os matrimônios entre os filhos de Deus e as filhas dos homens o haviam desgostado [4]. A corrupção, os vícios e a violência se incrementaram até o extremo de que todos os planos e ações dos homens estavam caracterizados pelo mal. A atitude de lamentação de Deus em ter criado o gênero humano resultava aparente no plano de retirar seu espírito do homem. Um período de cento e vinte anos de aviso precedeu o juízo que pendia sobre a raça humana. Somente Noé encontrou favor aos olhos de Deus. Justiceiro e sem mácula, se manteve numa aceitável relação com o Deus Criador.
[1] Note-se que a única outra ocasião na Escritura de um animal que fala, está na asna de Balaão (Números 22.28).
[2] Comparar a interpretação do Novo Testamento em João 8.44; Romanos 16.20; 2 Coríntios 11.3; Apocalipse 12.9; 20.2, etc.
[3] Note-se a esperança baseada nesta promessa em Gênesis 4.1, 25; 5.29 e as promessas messiânicas no Antigo Testamento.
[4] "Filhos de Deus" pode referir-se aos angélicos seres ou a linha de Sete. Para a última interpretação, as "filhas dos homens" se refere à linha de Caim. Para esta discussão, ver Albertus Pieters, "Notes on Gênesis" (Grand Rapids, Ferdmans, 1943), pp. 113-116. estes matrimônios cruzados, seja o que for o que representassem, desgostaram a Deus.
Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT
Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira
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