Habacuque – Deus utiliza os caldeus
Hq 1.1-3.19
Com toda certeza, Habacuque foi testemunha do declive e queda do império assírio no transcurso de sua vida. Sincronizado com a decadência assíria e sua influência em Judá, chega o reavivamento com a chefia de Josias. Simultaneamente com estes acontecimentos, chegou o ressurgir do poder da Média e Babilônia na parte oriental do Crescente Fértil. A queda de Nínive pôde ter acontecido antes que Habacuque fizesse sua aparição como porta-voz de Deus.
A descrição da violência, a luta e a apostasia, tão freqüentes em Judá durante os tempos de Habacuque (1.2-4), parece encaixar com o período imediatamente seguinte à morte de Josias no 609. Os caldeus não se tinham ainda manifestado como uma ameaça suficiente forte para Judá, já que o controle do Egito se estendia desde o Eufrates, até a batalha de Carquemis (605 a.C.) [1].
Conseqüentemente, os anos transcorridos entre 609 e o 605 proporcionam uma conveniente base para a mensagem de Habacuque [2]. O diálogo entre Habacuque e Deus é digno de mencionar-se. O profeta apresenta a questão filosófica de uma aparente discrepância entre os fatos da história e a revelação divina.
Finalmente, ele resolve suas dificuldades expressando sua fé em Deus. O fato básico para a totalidade da discussão é o uso de Deus de um povo pagão para castigar a seu próprio povo.
Como guia para ulterior consideração da mensagem de Habacuque, pode ver-se a seguinte perspectiva:
I. Por que Deus permite a violência? Hq 1.1-4
II. Deus levanta os caldeus para castigar Judá Hq 1.5-11
III. Por que deveriam os malvados castigar os justos? Hq 1.12-2.1
IV. A vida justa pela fé e a esperança Hq 2.2-4
V. Denúncia da injustiça Hq 2.5-20
Habacuque se sente turvado pelos males que prevalecem em sua geração. Impera a injustiça, a violência e a destruição continuam, a Torá é ignorada, e a respeito disto o profeta apela impacientemente a Deus; porém, nada muda. Por quanto tempo ignorará Deus sua oração e tolerará tais condições?
A resposta de Deus está em marcha; os rudes e impetuosos caldeus estão se aproximando. Rápidos em seu avanço, espalham o terror com a captura de novas terras, a destruição das fortalezas e a supressão dos reis. Deus está permitindo a esses ferozes conquistadores que levem a justiça a Judá (1.5-11).
Utiliza Deus os malvados para castigar os infiéis em Judá? É que não são os ofensores entre o povo de Deus —não importa o quão culpáveis sejam— ainda melhores que os brutos idólatras procedentes da Babilônia? Habacuque imagina se a revelada natureza de Deus como santa e justa e as atuais condições dos pagãos invasores, garantem realmente a acusação de que Deus permita isso. turvado e perplexo porque Deus tem ordenado aos caldeus que executem seu juízo, Habacuque espera impaciente a resposta (1.12-2.1).
O profeta é convidado a registrar a revelação. Esta divina mensagem é tão significativa que deveria ser preservada para futuras considerações. A predição é certeira em seu cumprimento, embora o tempo não tenha chegado ainda. Simples e, contudo, profundo, é o básico princípio aqui expressado: o justo deverá viver em sua fidelidade [4]. Por contraste, a nação opressora será depois visitada com a maldição. A fé em Deus é a pedra de toque da perseverança numa vida de fidelidade.
Olhando em volta, Habacuque vê uma vívida demonstração dos males que prevalecem. Ele enumera aqueles que são soberbos e seguros em suas formas de proceder:
1) Os agressores injustos (2.6-8)
2) Aqueles que justificam suas más ações (2.9-11)
3) Os que derramam sangue para proveito pessoal (2.12-14)
4) Aqueles que decepcionam seus vizinhos (2.15-17)
5) Aqueles que confiam nos ídolos (2.18-19)
Observando agudamente aquelas múltiplas manifestações de presunção a respeito dele, Habacuque encontra alívio na realização de que o Senhor está em seu santo templo.
Imediatamente será pronunciado o solene aviso de que toda a terra deveria guardar silêncio diante dEle.
Esses pensamentos evocam um salmo de louvor dos lábios do profeta. Conhecidas para ele são as grandes obras de Deus em épocas passadas. Com uma chamada para que Deus se lembre de sua misericórdia em sua ira, Habacuque implora dEle que fala de novo conhecer seus poderosos feitos. Deus manifestou sua glória e utilizou a natureza para levar a salvação a seu povo de Israel quando os trouxe desde o deserto e os estabeleceu na terra prometida. Habacuque deseja suportar as presentes calamidades com o conhecimento de que o dia de Deus e sua ira cairão sobre o agressor. Embora os campos e os rebanhos falhem em suas provisões materiais, ele ainda se gozará no Deus de sua salvação. Mediante uma fé viva em Deus, o profeta reúne força para encarar-se a um futuro incerto.
[1] Ver Wiseman, op. cit., pp. 19-23.
[2] A maior parte dos eruditos datam Habacuque nas proximidades do final do século. Para sua ulterior discussão, ver Pfeiffer, op. cit., pp. 597-600, e Young, Introduction to the Old Testamení, pp. 263-265.
[3] Para discussão sobre Habacuque 3, como uma unidade separada, ver Pfeiffer, op. cit., pp. 597-600. O comentário dos rolos do Mar Morto discute somente os dois primeiros capítulos. Para um tratamento por W. F. Albright, que considera a totalidade do livro como "substancialmente o trabalho de um simples autor", ver seu artigo "The Psalm of Habatkuk", en Studies in Old Testament Prophecy, H. H. Rowley ed., pp. 1-18.
[4] O pronome hebraico é ambíguo. A LXX lê "por minha fidelidade", sugerindo que os justos viverão porque Deus tem essa divina faculdade. O uso no Novo Testamento reduz "fidelidade" a "fé". Comparar Rm 1.17, Gl 3.11, Hb 10.38. (N. da T.: a ACF e a PJFA portuguesas mencionam "fé", enquanto a NVI utiliza "fidelidade").
Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT
Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira
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