Isaque e Jacó (Gn 25.19-36.43)
I. A família de Isaque 25.19-34
Rebeca, a mãe dos gêmeos 25.19-26
Esaú e Jacó intercambiam os direitos de primogenitura 25.27-34
II. Isaque estabelecido em Canaã 26.1-33
A aliança confirmada a Isaque 26.1-5
Dificuldades com Abimeleque 26.6-22
A bênção de Deus sobre Isaque 26.23-33
III. A bênção patriarcal 26.34-28.9
Isaque favorece a Esaú 26.34-28.9
A bênção roubada: imediatas conseqüências 27.5-28.9
IV. As aventuras de Jacó com Labão 28.10-32.2
O sonho em Betel 28.10-22
Família e riqueza 29.1-30.43
A separação com Labão 31.1-32.2
V. Jacó volta a Canaã 32.3-35.21
Reconciliação de Esaú e Jacó 32.3-33.17
Dificuldades em Siquem 33.18-34.31
Adoração em Betel 35.1-15
Raquel enterrada em Belém 35.16-21
VI. Descendentes de Isaque 35.22-36.43
Os filhos de Jacó 35.22-26
Enterramento de Isaque 35.27-29
Esaú e seu clã em Edom 36.1-43
O caráter de Isaque, segundo se descreve no Gênesis, está em certa forma escurecido pelos acontecimentos da vida tanto do pai como do filho. Com o anúncio da morte de Abraão, o leitor fica imediatamente apresentado a Jacó, quem emerge como o elo da sucessão patriarcal. Pode ser que muitas das experiências de Isaque fossem similares às de Abraão, pelo que haja pouco que narrar ao respeito.
Embora Isaque herdou a riqueza de seu pai e continuou a mesma pauta de vida, é interessante notar que se comprometeu em questões de agricultura perto de Gerar (26.12).
Abraão em certa ocasião tinha-se detido em Gerar, em território filisteu, mas passou muito tempo nas redondezas de Hebrom. Quando Isaque começou a cultivar a terra, obteve colheitas que lhe proporcionaram o cento por um. Aquele êxito tão pouco comum nas lavouras do campo excitou a inveja dos filisteus de Gerar, de forma que Isaque teve de deslocar-se, por considerá-lo necessário, rumo a Berseba, com objeto de manter relações pacíficas.
A presença dos filisteus em Canaã durante os tempos patriarcais tem sido considerada um anacronismo. O estabelecimento caftoriano em Canaã por volta de 1200 a.C. representou uma migração tardia do Povo do Mar, que previamente tinham-se estabelecido em outras ocasiões durante um longo período de tempo. Os filisteus se haviam estabelecido em pequenos grupos muito antes de 1500 a.C. Com o passar do tempo se misturaram com outros habitantes do Canaã, porém o nome de "Palestina" (Filistéia) continua levando o testemunho de sua presença em Canaã. A cerâmica caftoriana por todo o sul e a parte central da Palestina, ao igual que as referências literárias, testemunham a superioridade dos filisteus nas artes e habilidades manuais. Nos dias de Saul monopolizaram os trabalhos metalúrgicos na Palestina [1].
Polemico em conduta, Jacó surgiu como herdeiro da aliança. De acordo com os costumes de Nuzu, negociou com Esaú para assegurar-se a herança e seus direitos. Sua capacidade de negociador fica logo aparente em sua aquisição dos direitos de primogenitura pelo escasso preço de um prato de lentilhas. O irreal sentido de Esaú do valor das coisas pôde ter sido provocado pela fatiga temporária e à exaustão de uma expedição de caça que não teve recompensa alguma. Além disso, Jacó ganhou a bênção no leito de morte, usando um truque e a decepção, instigado por Rebeca, sua mãe. O significado desta aquisição se compreende melhor por comparação com as leis contemporâneas que faziam tais bênçãos orais legalmente válidas. Deve notar-se, contudo, o fato que o relato bíblico coloque a ênfase no lugar que ocupa a chefia familiar por acima das bênçãos materiais.
Temendo o provável matrimônio de Jacó com mulheres hititas, tanto como a vingança de Esaú, Rebeca concebeu e instrumentou um plano para enviar a seu filho favorito a Padã-Harã. De caminho, Jacó responde a um sono em Betel com uma promessa condicional para servir a Deus e uma tentativa de dar o dizimo de suas rendas. Tendo recebido uma cordial acolhida em seu lar ancestral, Jacó entra num acordo com Labão, irmão de Rebeca. De acordo com os costumes de Nuzu, isto poderia ter sido mais que um simples contrato para o matrimônio. Aparentemente, Labão não tinha um filho naquela época, pelo que Jacó foi instituído como herdeiro legal. Típico da época foi o presente de Labão de uma criada a cada uma de suas filhas, Raquel e Lia. A esposa de Labão deu a luz mais tarde a outros filhos, pelo que Jacó deixou de ser o herdeiro principal. Aquela mudança nos assuntos não foi do agrado de Jacó; desejou ir embora, porém foi dissuadido por um novo contrato que lhe abria a possibilidade de obter riqueza mediante os rebanhos de Labão. Com o passar do tempo, Jacó chegou a ser tão próspero, apesar do reajuste de contrato de Labão, que a relação existente entre o pai e o genro se alterou.
Alentado por Deus para voltar à terra de seus pais, Jacó reuniu todas suas possessões e partiu no momento oportuno, quando Labão estava ausente num negócio de gado. Três dias mais tarde Labão soube da partida de Jacó e mandou em sua busca. Após sete dias lhe deu alcance nas colinas de Gileade. Labão estava profundamente perturbado pela desaparição de seus deuses-lar. O terafim, que Raquel tinha escondido com êxito enquanto Labão buscava nas possessões de Jacó, pôde ter sido mais legal que de significação religiosa para Labão [2]. De acordo com a lei Nuzu, um genro que tiver em seu poder os deuses-lar poderia reclamar a herança da família ante um tribunal. Dessa forma Raquel tentava obter certa vantagem para seu marido, ao roubá-lhe os ídolos. Porém Labão anulou qualquer benefício dessa índole por um convenio com Jacó antes de separar-se.
Continuando rumo a Canaã, Jacó antecipou o terrível encontro com Esaú. O temor o venceu, ainda que toda crise do passado tivesse acabado com vantagem para ele. A ponto de não voltar, Jacó encarou-se com uma crucial experiência (32.1-32). Dividindo todas suas possessões nem rio, Jacó, em preparação para o encontro com Esaú, se voltou a Deus em oração.
Reconheceu humildemente que era imerecedor de todas as bênçãos que Deus lhe havia outorgado. Mas de face para o perigo, suplicou por sua liberação. Durante a solidão da noite, lutou a braço partido com um homem. Nesta estranha experiência, na qual reconheceu um encontro divino, seu nome foi mudado pelo de "Israel" em lugar de continuar chamando-se Jacó. Depois disso, Jacó não foi o impostor; em seu lugar esteve sujeito à decepção e aos sofrimentos por seus próprios filhos.
Quando chegou Esaú, Jacó se prostrou sete vezes —outra antiga tradição mencionada nos documentos ugaríticos e de Amarna—, e recebeu a seguridade do perdão de seu irmão.
Declinando cortesmente a generosa ajuda oferecida por Esaú, Jacó continuou lentamente para o Sucote, enquanto Esaú voltava ao Seir.
A caminho para o Hebrom, Jacó acampou em Siquem, Betel e Belém. Embora adquiriu algumas terras em Siquem, o escândalo e a perfídia de Levi e Simeão tornaram impossível continuar vivendo naquela região (34.1-31). Este incidente, o mesmo que o ofensivo de Rubem (35.22), teve a ver com a bênção de Jacó para seus filhos (49).
Quando recebei instruções de Deus para trasladar-se a Betel, Jacó se preparou para sua volta àquele lugar sagrado suprimindo a idolatria de seu lar. Em Betel erigiu um altar. Ali, Deus renovou a aliança com a seguridade de que não só uma nação, senão um grupo de nações e reis surgiriam de Israel (35.9-15).
Enquanto viajavam para o sul, Raquel morreu ao dar a luz a Benjamim. Foi enterrada na vizinhança de Belém, num lugar chamado Efrata. Seguindo sua viagem com seus filhos e possessões, Jacó chegou finalmente ao Hebrom, ao lar de seu pai Isaque. Quando morreu Isaque, Esaú voltou desde Seir para reunir-se com Jacó no sepultamento de seu pai.
Os edomitas, aparentemente, contavam com uma ilustrativa história. Pouco se conhece a respeito deles, além do relato sucinto relatado em Gn 36.1-43, o que indica que tinham diversos reis inclusive antes que qualquer rei reinasse em Israel. Neste aspecto, a narrativa do Gênesis dispõe de linhas colaterais antes de resumir o relato patriarcal.
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