Os sonhos que contagiavam o inconsciente
A vida sem sonhos é como um céu sem estrelas. Alguns sonham em ter filhos, em rolar no tapete com eles, em se tornarem seus grandes amigos.
Outros sonham em ser cientistas, em explorar o desconhecido e descobrir os mistérios do mundo. Outros sonham em ser socialmente úteis, em aliviar a dor das pessoas.
Alguns sonham com uma excelente profissão, em ter grande futuro, em possuir uma casa na praia. Outros sonham em viajar pelo mundo, conhecer novos povos, novas culturas e se aventurar por ares nunca antes desvendados. Sem sonhos, a vida é como uma manhã sem orvalho, seca e árida.
O Mestre dos Mestres andava aos brados pelas cidades, vielas e na beira das praias, discursando sobre os mais belos sonhos. Seu discurso era contagiante. Seus ouvintes ficavam eletrizados. Seus sonhos mexiam com os desejos fundamentais do ser humano de todas as eras. Eles tocavam o inconsciente coletivo e traziam dignidade à existência tão breve, tão bela, mas tão sinuosa.
Quais foram os principais sonhos que abriram as janelas da inteligência dos discípulos e irrigaram suas vidas com uma meta superior?
Véndia o sonho de um reino justo
As pessoas que o ouviam ficavam perplexas. Elas deviam se perguntar: "Quem é esse homem? Que reino justo é esse que ele proclama? Conhecemos os reinos terrenos que nos exploram e nos discriminam, mas nunca ouvimos falar de um reino dos céus."
Ele proclamava com ousadia: "Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus." A palavra "arrepender" usada por Jesus explorava uma importante função da inteligência. Ela não significava culpa, autopunição ou lamentação. No grego ela significa uma mudança de rota, revisão de vida.
Queria que as pessoas repensassem seus caminhos, revisassem seus conceitos, retirassem o gesso de suas mentes. Os que são incapazes de se repensar serão sempre vítimas e não autores de sua história.
O Mestre dos Mestres discursava sobre um reino que estava além dos limites tempo-espaço. Um reino onde habitava a justiça, onde não havia classes sociais, não existia discriminação.
Uma esfera onde a paz envolveria o território da emoção e as angústias e aflições humanas não seriam sequer recordadas. Não era este um grandioso sonho?
Os tempos de Jesus eram uma época de terror. Tibério César, o imperador romano, dominava o mundo com mão de ferro. Para financiar a pesada máquina administrativa de Roma, pesados impostos eram cobrados. A fome fazia parte do cotidiano. Não se
podia questionar. Todo motim era debelado com massacres.
O momento político recomendava discrição e silêncio. Mas nada calava a voz do mais fascinante vendedor de sonhos.
Vendia o sonho da liberdade
Sem liberdade o ser humano se deprime, se asfixia, perde o sentido existencial. Sem liberdade, ou ele se destrói ou destrói os outros. Por isso o sistema carcerário não funciona.
A prisão exterior mutila o ser humano, não transforma a personalidade de um criminoso, não expande sua inteligência, não reedita as áreas do seu inconsciente que financiam o crime. Apenas imprime dor emocional. Eles precisam ser reeducados, conscientizados, tratados.
Jesus falava sobre a falta de liberdade interior, que é mais grave e sutil que a exterior.Vivemos em sociedades democráticas, falamos tanto de liberdade, mas freqüentem ente ela está longe do território da psique.
Existem diversas formas de restrição à liberdade. As preocupações existenciais, os pensamentos antecipatórios, a ditadura da estética do corpo e a exploração emocional das propagandas são algumas delas.
Gostaria de destacar a fabrica de ícones construída pela mídia. Os jovens não têm seus pais, professores e os demais profissionais que lutam para vencer profissionalmente como seus modelos de vida.
Seus modelos são mágicos: atores, esportistas, cantores que fazem sucesso do dia para noite. Este modelo mágico não tem alicerces, não dá subsídios para suportar dificuldades e enfrentar desafios. Cria uma masmorra interior, sonhos inalcançáveis. Cria uma grande maioria gravitando em torno de uma minoria. Para a psicologia, a supervalorização
é tão aviltante quanto a discriminação.
Jesus discorria sobre uma liberdade poética. A liberdade de escolha, de construir caminhos, de seguir a própria consciência. Discursava sobre o gerenciamento dos pensamentos, a administração da emoção, o exercício da humildade, a capacidade de perdoar, a sabedoria de expor e não impor as idéias, a experiência plena do amor pelo ser humano e por Deus.
O Mestre da vida vivia o que discursava. Não impedia as pessoas de abandoná-lo, de traí-lo e nem mesmo de negá-lo. Nunca houve alguém tão desprendido e que exercitasse de tal forma a liberdade.
vendia o sonho da eternidade
Onde estão Napoleão Bonaparte,' Hitler, Stahn? Todos pareciam tão fortes, cada um a seu modo, uns na força nsica, outros na loucura. Mas por fim todos sucumbiram ao caos da morte. Os anos passaram e eles se despediram do breve parênteses do tempo.
Viver é um evento inexplicável. Mesmo quando sofremos, nos angustiamos e perdemos a esperança, somos complexos e indecifráveis. Não apenas a alegria e a sabedoria, mas também a dor e a insensatez revelam a complexidade da psique humana.
Diariamente imprimimos no córtex cerebral, através da ação psicodinâmica do fenômeno RAM, milhares de experiências psíquicas. São milhões de experiências anuais que tecem a colcha de retalhos da nossa personalidade.
Quem pode esquadrinhar os fenômenos que nos transformam em "homo intelligens"? Quem pode decifrar os segredos que financiam as crises de ansiedade e as primaveras dos prazeres?
Quando viajo com minhas filhas à noite e vejo ao longe as casas nas fazendas com uma luz acesa, eu pergunto a elas: "Quem serão as pessoas que moram naquela casa? Quais são seus sonhos e suas alegrias mais importantes? Quais foram as lágrimas que elas nunca choraram?"
Desejo humanizar minhas filhas, levá-las a compreender que cada ser humano possui uma história fascinante, independente dos seus erros, acertos, vitórias e derrotas. Almejo que elas respeitem a vida e percebam a complexidade da personalidade.
Todavia, um dia essa personalidade experimenta o caos. A magnífica vida que possuímos vai para a solidão de um túmulo. Despreparada, enfrenta o seu maior evento, o seu capítulo final. Todo dinheiro, fama, status, labutas não acrescentam um minuto à existência. O fim da vida sempre perturbou o ser humano, dos primários aos intelectuais. Todos os heróis se tornam frágeis crianças no término da vida.
A medicina luta desesperadamente para prolongar a vida e dar qualidade a ela. As religiões têm a mesma aspiração. Elas discorrem sobre o alívio da dor e a superação da morte. Sem dúvida a continuidade consciente e livre da existência é o maior de todos os sonhos.
Do ponto de vista científico, nada é tão drástico para a memória e para o mundo das idéias do que o esfacelamento cerebral. A memória se desorganiza, bilhões de informações se perdem, os pensamentos se descolam da realidade, a consciência mergulha no vácuo da inconsciência.
O tudo e o nada se tornam a mesma coisa.
Jesus vendia, com todas as letras, o sonho da eternidade. Ele tinha plena consciência das conseqüências filosóficas, psicológicas e biológicas da morte. Mas, com segurança inigualável, discorria sobre sua superação.
Para a perplexidade da medicina, ele dizia ousadamente que pisava nesta Terra para trazer esperança ao mortal. A morte não destruiria a colcha de retalhos da memória. O ser humano sobreviveria e resgataria sua identidade. Retomaria a sua consciência.
Pais abraçariam seus filhos depois que fechassem os olhos.
Amigos se reencontrariam depois de longa despedida. Nunca alguém foi tão longe em seus sonhos. Os seus discursos arrebatavam multidões.
Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira
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