O pródigo
que ficou em casa
“Ora, o filho mais velho estivera no campo; e quando voltava,
ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e
perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou
matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não
queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo” (Lucas 15:25-27).
É aqui que a trama da parábola do filho pródigo engrossa. A
localização da história de Jesus torna evidente que independente de quanto é
comovente a saga do filho mais novo, o filho mais velho é o verdadeiro foco da
parábola. Foi dito como resposta a acusação orgulhosa da elite religiosa judia
de que Jesus expôs o seu verdadeiro caráter através da sua
companhia—“pecadores” notórios e ladrões. A sua acusação na verdade fez mais em
revelar o seu próprio orgulho hipócrita e sem piedade do que qualquer falha no
Senhor, um fato que não era provável que reparassem. E foi da preocupação por
eles, não pelos “pecadores” desprezados, que esta grande parábola surgiu—uma
história de um filho esbanjador, um pai de coração partido e um irmão que se
recusou a se reconciliar com qualquer um deles. Como poderiam não ser tocados
por esta história comovente a respeito do amor de um pai por um filho desviado
e a sua alegria com a recuperação deste filho? Não eram eles pais também? Não
seria isso que eles teriam feito?
O filho mais velho, de início não tem um papel grande na
história. Quando seu pai, a pedido de seu irmão, divide os seus pertences, ele
simplesmente recebe dois terços da riqueza do seu pai que era, como
primogênito, dele de direito (Deuteronômio 21:17). Se ele compartilhou a dor do
seu pai com a partida repentina do seu irmão ou o seu anseio por ele durante a
sua ausência, não nos contaram. Ele estava cuidando dos negócios na fazenda.
Enquanto o seu irmão tolo estava gastando muito dinheiro numa rebeldia grande,
ele era a alma da indústria. Ele era respeitável e responsável. O seu irmão era
sem valor, sem perdão. Ele era bom, seu irmão era mal. Em contraste, o irmão
mais velho encontrou seu sentido e seu valor. Foi o que tornou seu mundo
ordenado e lhe deu sentido.
Mas agora repentinamente acaba toda esta ordem. O seu irmão
esbanjador voltou; não para a vergonha, como certamente merecia, mas para
música e danças! A raiva do irmão mais velho estava muito forte diante de tal
injustiça. Para a sua diligência e fidelidade, não havia tido nenhuma
comemoração nem festividades, nem um cabrito! Mas agora para este jovem imoral
e sem valor, uma alegria extasiada! Era completamente errado!
O convite do seu pai para que ele entrasse e se juntasse a
comemoração, para ele era uma total estupidez. O seu pai era tão tolo quanto
seu irmão era um libertino. Era uma violação de tudo que era justo e correto e
ele não chegaria perto de tal insanidade. Com sua reação ele não só demonstra o
seu desprezo por seu irmão que esteve desviado, mas também pelo seu pai, que
sempre havia sido fiel. Para o homem que lhe criou e lhe deu tudo o que possuía
não havia nem respeito nem compaixão. A sua auto-justiça orgulhosa (“sem jamais
transgredir uma ordem”) e ambição para si mesmo se mostram de forma crua. Era
uma cena feia; e era isso que Jesus queria mostrar.
O menino que ficou em casa era tão pródigo quanto seu irmão
mais novo. Ele havia vivido todo este tempo comendo as espigas secas da
auto-justiça enquanto, como seu pai o lembrou, “tudo o que é meu é teu”. Não
era por merecer que ele teria toda esta abundância, mas pelo amor do seu pai.
Tudo que ele precisava era ter pedido.
Esta grande parábola é a imagem de duas figuras: Deus na sua
grande bondade e misericórdia e o fariseu na sua miserável mesquinhez
espiritual. Como o irmão mais velho, o Fariseu não servia a Deus porque O amava
mas porque trouxe a ele um sentido incrível de superioridade pessoal. Ele era
abjetamente pobre no seu merecimento imaginário quando ele poderia ser rico
pela graça de Deus. Como o irmão mais velho via o seu irmão mais novo os
fariseus olhavam com desprezo os “pecadores” socialmente desprezados e jamais
viam a sua própria pobreza espiritual. A verdade é que eram, de longe, piores
que os publicanos e “pecadores” com os quais acusavam Jesus porque aqueles
excluídos frequentemente reconheciam o seu estado pecador—algo de que nenhum
Fariseu com respeito próprio seria culpado. Assim, como uma vez Jesus lhes
disse, “publicanos e meretrizes vos procedem no reino de Deus” (Mateus 21:31).
Porém mesmo assim Deus os ama, e pede a eles que venham para a festa. Que Pai
maravilhoso!
–por Paul Earnhart
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