Isaias 1 - Filhos rebeldes
Após ‘ajudar’ os oprimidos, ‘fazer’ justiça aos órfãos e
‘cuidar’ das viúvas, ou seja, obedecer a palavra de Deus, por mais funesta que
seja a condição do homem, no momento em que se submete à palavra de Deus, Deus
faz do homem uma nova criatura, pois está é a sua promessa: ‘Ainda que os
vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve;
ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã’ (v.
18).
1 VISÃO de Isaías,
filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias,
Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá.
A visão do profeta Isaias neste capítulo tem por alvo o povo
de Judá e a cidade de Jerusalém antes do exílio Babilônico. O termo ‘visão’ ou
‘profecia’ refere-se a uma revelação ou comunicação de uma mensagem divina aos
homens. Apesar das grandezas que constam nas visões de Isaias, somente com o
profeta Moisés Deus falou cara a cara e sem enigmas ( Nm 12:6 ).
Como as visões foram concedidas por Deus a Isaias, temos o
próprio nome do profeta cedendo título ao livro. O termo traduzido por visão
era utilizado para fazer referencia ao profeta como vidente.
Uzias ( 2Rs 15:1 -7), Jotão ( 2Rs 15:32 -38), Acas ( 2Rs 16:1
-20) e Ezequias ( 2Rs 18:1 -20 ) foram quatro reis que governaram sobre Judá em
Jerusalém antes do exílio Babilônico.
2 Ouvi, ó céus, e dá
ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado: Criei filhos, e
engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.
Aparentemente o verso dá a entender que Deus está dando
‘publicidade’ à sua mensagem, porém, não é este o único objetivo da ordem que
convoca os céus e a terra por testemunha: ‘Ouvi, ó céus, e dá ouvido, tu, ó
terra’. Esta introdução na profecia era para remeter o povo de Israel à lei
dada por Moisés, lembrando o que estava previsto a destruição do povo, caso não
se convertessem a Deus “Hoje tomo por testemunhas contra vós o céu e a terra,
que certamente logo perecereis da terra, a qual passais o Jordão para
possuí-la; não prolongareis os vossos dias nela, antes sereis de todo
destruídos” ( Dt 4:26 ).
Ao convocar os céus e a terra por testemunha, Deus esta
demonstrando que o seu protesto tinha um público alvo específico: o povo que
fez um concerto com Deus e se comprometeu cumprir as palavras de Deus.
Além de ter evocado os céus e a terra por testemunha, Deus
lhes informou das pragas e moléstias que seriam acometidos por não obedecerem a
Deus, conforme o registrado em Deuteronômio 28, versos 15 à 68. Após vários
avisos, havia chegado o momento predito pelo Senhor, pois já não adiantava
castiga-los, já estavam completamente feridos, mas não atinavam que era em
decorrência de não terem obedecido a Deus (v. 5 ; Sl 50:4 ; Dt 4:36 ; Sl 76:8
).
Qual a mensagem divina em que Deus interpõe os céu e a terra
por testemunha? O Senhor disse por intermédio do profeta Isaias: “Criei filhos,
e engrandeci-os, mas eles se rebelaram contra mim” (v. 2). O poro de Israel
teve origem em Abraão e, após peregrinarem no Egito, Deus os resgatou com mão
poderosa, mas já nos primeiros dias após serem resgatados do Egito, o povo de
Israel mostrou-se rebelde à palavra de Deus ( Dt 1:43 ).
A mensagem de Deus é de cima e Ele mostra sinais na terra
para que os homens se deixem instruir "Desde os céus te fez ouvir a sua
voz, para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu grande fogo, e ouviste
as suas palavras do meio do fogo" ( Dt 4:36 ). Toda a criação é testemunha
de que Deus de muitas maneiras falou ao homem ( Hb 1:1 ).
Os filhos que foram criados e engrandecidos referem-se ao
povo de Israel que se tornou um grande povo, porém, desviaram do Senhor
"Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo; por isso se
lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles" ( Is 63:10 ).
3 O boi conhece o seu
possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem
conhecimento, o meu povo não entende.
Deus faz uma comparação entre os animais irracionais e o povo
de Israel para expor uma realidade terrível: o povo que devia ser pleno de
sabedoria por ter sido instruído por Deus, não conhecia o seu Deus. O boi, um
animal irracional, conhece o seu dono da mesma forma que o jumento a sua
manjedoura, mas Israel não conheceu e nem conhecia o seu Deus e Libertador "O temor do SENHOR é o
princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência" ( Pv 9:10
).
Diferente dos animais irracionais, que reconhecem o seu dono
e o seu lugar de descanso, o povo de Israel não entendeu que Deus estava
repreendendo para que entendesse que necessitavam do cuidado do Senhor, pois
Ele é, juntamente, sustento e descanso para o seu povo.
Faltava ao povo de Israel o ‘conhecimento’ do Santo, não
entendiam, não compreendiam a palavra do Senhor, e quem deveria ensiná-los, os
mestres da lei, estavam devorando o povo como se fosse pão "O meu povo foi
destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento,
também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto
que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus
filhos" ( Os 4:6 ; Sl 53:4 ; Rm 10:2 ; Is 30:1 ).
O povo devia crer que Deus os justificava por aguardar o
Descendente prometido a Abrão, porém, acreditavam que eram justos por
descenderem da carne de Abraão ( Is 53:11 ). Construíram veredas tortuosas para
si quando repousaram na carne e no sangue de Abraão ( Is 59:8 ).
4 Ai, nação pecadora,
povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores;
deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.
O profeta destaca algumas características pertinentes ao povo
de Israel:
Nação pecadora;
Povo iníquo;
Descendência de homens maus, e;
Filhos corruptores.
Eles são nomeados de pecadores, iníquos, homens maus e
corruptos. Não quiseram o Senhor, voltaram atrás e blasfemaram do Santo de
Israel "Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os
gentios por causa de vós" ( Rm 2:24 ).
À época de Cristo, ele mesmo enfatizou que nenhum dos
escribas e fariseus cumpria a lei, apesar de guardarem o sábado, fazerem a
circuncisão, não matarem, não roubarem, dizimarem, jejuarem, etc. "Não vos
deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais
matar-me?" ( Jo 7:19 ); "O fariseu, estando em pé, orava consigo
desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens,
roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano" ( Lc 18:11
).
Deus deixou claro que Israel não tinha conhecimento, ou seja,
que o seu povo não entendia (v. 3), e o apóstolo Paulo também enfatizou “Porque
lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento.
Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua
própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus” ( Rm 10:2- 3).
O desconhecimento era tamanho que Jesus igualmente protestou:
"Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as
Escrituras, nem o poder de Deus" ( Mt 22:29 ). Tudo o que o povo sabia não
passava de preceitos de homens que decoraram "Porque o Senhor disse: Pois
que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me
honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo
consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído" ( Is 29:13 ).
Como isto é possível, se o povo de Israel continuamente
oferecia sacrifícios e buscavam cumprir a lei?
5 Por que seríeis
ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o
coração fraco. 6 Desde a planta do pé
até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres
não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo.
Se o povo de Israel se recordasse da lei, veriam que já
estava previsto que, caso se rebelassem contra os preceitos de Deus, seriam
acometidos de diversos castigos ( Dt 28:15 -69).
O povo de Israel era avesso a Deus, e quando castigados, rebelava-se
ainda mais. Deus demonstra que a correção já não adiantava, pois todo o Israel
estava acometido de pecado. Quando recebe o homem por filho, Deus o corrige e
deixa claro o motivo: porque ama "Porque o Senhor corrige o que ama, e
açoita a qualquer que recebe por filho" ( Hb 12:6 ), mas o povo de Deus
ignorava esta característica Dele.
Deus descreve o povo de Israel com problemas na cabeça e no
coração (v. 5), e aponta que todo o corpo estava enfermo desde os pés até a
cabeça e que nunca se submeteram a qualquer tipo de tratamento que mudasse a
condição deles. Bastava o povo abrir mão do argumento de que eram povo de Deus
por serem descendentes de Abraão reconhecendo que eram miseráveis como todos os
outros homens, que Deus haveria de curá-los. Esta condição do povo é retratada
em provérbios: “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas que
nunca foi lavada da sua imundícia” ( Pv 30:12 ).
7 A vossa terra está
assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos
a devoram em vossa presença; e está como devastada, numa subversão de
estranhos. 8 E a filha de Sião é deixada
como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como uma cidade sitiada.
A cidade de Jerusalém assolada por guerras e intrusos desfrutando
do que o povo de Israel haviam plantado era o último estágio da gama de
castigos descritos por Moisés antes de serem levados cativos ( Dt 28:39 ).
Com o castigo, a terra foi assolada e as cidades queimadas.
Os estrangeiros tinham livre circulação na cidade e o povo de Jerusalém nada
podia fazer para impedir.
Em função da correção, tudo foi devastado e subvertido por
estrangeiros. A cidade de Jerusalém estava sitiada, semelhante a uma cabana na
vinha cercada de uvas, ou uma choupana em meio ao pepinal: abandonada a própria
sorte.
Neste ponto o castigo já não era alternativa, pois apesar da
condição deplorável do povo, não reconheciam a sua miserabilidade e não se
socorriam de Deus.
9 Se o SENHOR dos
Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos,
e semelhantes a Gomorra. 10 Ouvi a
palavra do SENHOR, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó
povo de Gomorra.
Isaias faz referência a um remanescente preservado por Deus
para evitar a extinção de Judá e, consequentemente, a extinção da linhagem do
Messias. Um povo remanescente tem resistido ao longo dos tempos em função da
fidelidade de Deus que prometera a Davi o Descendente ( 2Sm 7:12 ).
Se não fosse a misericórdia de Deus em preservar um remanescente
o povo de Judá havia desaparecido da face da terra "Porque eu, o SENHOR,
não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos" ( Ml 3:6
). Após esclarecer o povo de que se não
fosse a misericórdia, há muito Jerusalém teria deixado de existir, o profeta
introduz Sodoma e Gomorra como figura de Judá. Moisés já havia feito referencia
a Israel como Sodoma e Gomorra: "Porque a sua vinha é a vinha de Sodoma e
dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, cachos amargos
têm" ( Dt 32:32 ; Gn 18:16 e 19:28 ; Rm 9:29 ).
O povo e os lideres de Jerusalém não atentaram para a palavra
de Deus e novamente Deus lhes dá o aviso que ecoou em Israel ( Jr 23:14 ; Ez
16:46 -58). Enquanto Sodoma e Gomorra tornou-se símbolo de promiscuidade,
Israel e Judá tornaram-se adúlteros, visto que transtornaram, adulteraram as
palavras de Deus e os sacerdotes ensinaram o povo somente preceitos de homens (
Jr 23:16 ).
Em função dessas duas figuras (Sodoma e Gomorra), o povo de
Israel é nomeado diversas vezes como adúlteros. O termo ‘adultero’ é empregado
como figura para retratar a condição espiritual do povo, por ter abandonado o
seu Deus ( Tg 4:4 ). Dt 4.2
A apostasia do povo de Jacó teve dois extremos. Na época dos
reis houve uma apostasia enorme, pois não buscavam a Deus e seguiam após outros
deuses conforme o costume das nações, tornando-se um povo idólatra e promiscuo,
etc. Após o retorno do cativeiro, houve algumas reformas religiosas, com seu
ápice no período dos Macabeus, quando, provavelmente, surgiu a seita dos
fariseus e saduceus, porém, mesmo conservadores e legalistas, continuaram
distantes da verdade revelada na lei ( Lc 18:11 ).
Com figuras como Sodoma e Gomorra, Deus passa a falar com o
povo utilizando-se de adágios, parábolas e enigmas. Para compreender a mensagem
de Deus, primeiramente se faz necessário desvendar os enigmas para depois
interpretar as parábolas (v. 21).
11 De que me serve a
mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Já estou farto dos
holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de
sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. 12 Quando vindes para comparecer perante mim,
quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?
O elemento de culto que os habitantes de Jerusalém julgavam
de maior valor, o sacrifício, é posto em xeque pelo próprio Deus. Deus faz a
pergunta: - ‘De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios?’
Além de deixar claro que estava farto dos holocaustos, Deus
enfatiza que não se agrada de sangue de animais. Esta verdade permeia os livros
do A. T., pois o salmista diz: "Pois não desejas sacrifícios, senão eu os
daria; tu não te deleitas em holocaustos" ( Sl 51:16 ). O profeta Samuel
também anunciou: "Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios,
como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que
o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros" ( 1Sm
15:22 ).
Como ofereciam tantos holocaustos, era de se presumir que ao
menos Deus houvesse pedido aos homens que oferecessem holocaustos, porém, Deus
é enfático: - ‘Quem requereu isto?’. Quando lemos os livros do Pentateuco,
vemos Deus requerendo do seu povo que obedeça a sua palavra, sem diminuir ou
acrescentar ( Dt 4:2 ), e não encontramos Deus requerendo sacríficos, antes
disciplinando como deveriam proceder caso se propusessem oferece-los “Fala aos
filhos de Israel, e dize-lhes: Quando algum de vós oferecer oferta ao SENHOR,
oferecerá ...” ( Lv 1:2 ).
Desde Abel e Caim voluntariamente os homens oferecem sacrifícios
a Deus, porém, Deus nunca requereu isto das mãos dos homens, pois Deus tem
interesse no homem (ofertante), e não na oferta (sacrifícios). O povo de Israel
estava como Caim, oferecendo sacrifício debalde, pois Deus não tem interesse no
sacrifício ou na oferta, antes no ofertante.
Em primeiro lugar Deus atenta para o ofertante e depois para
a oferta. E se Deus rejeita o ofertante, consequentemente a oferta está
rejeitada “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma
oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da
sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e
para a sua oferta não atentou” ( Gn 4:3 -5).
13 Não continueis a
trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os
sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem
mesmo a reunião solene. 14 As vossas
luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas;
já estou cansado de as sofrer.
O alerta de Deus é solene: - ‘Não continueis a trazer ofertas
vãs’. Após avisá-los, vêm os motivos: o incenso é abominação. As luas novas, os
sábados (dias de festas solenes), datas tão importantes ao povo de Jerusalém
também eram abominações.
Da mesma forma que Deus não pode suportar a iniquidade,
também não podia suportar a reunião solene. Enquanto o homem não se submete à
palavra de Deus sem alterá-la, os seus sacrifícios e ofertas são vãos. Deus não
muda com o passar do tempo, então, desde o primeiro holocausto Deus repudiava
os seus sacrifícios. Deus odiava, não suportava e sofria com as solenidades.
Um povo que se dizia servo de Deus, ignorava a vontade do seu
Senhor, o que nos remete ao exposto nos versos 2 e 3.
15 Por isso, quando
estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que
multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão
cheias de sangue. 16 Lavai-vos,
purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai
de fazer mal. 17 Aprendei a fazer bem;
procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da
causa das viúvas.
Deus apresenta o motivo pelo qual não atendia as suplicas do
povo. Quando estendiam as mãos suplicando por socorro, Deus não voltava o rosto
para observá-los. Mesmo que aumentasse em quantidade o número de orações
(multiplicando), Deus não os atenderia. Somente a oração de um justo pode muito
em seus efeitos, visto que a iniquidade do ímpio separa o homem de Deus para
que não seja ouvido. Enquanto o homem não ouvir a palavra de Deus e crer, Deus
não o ouve, porque somente após ouvir e crer é que o homem se torna justo
diante de Deus.
O apóstolo Paulo deixou registrado que o seu povo “... têm
zelo de Deus, mas não com entendimento” ( Rm 10:2 ). Os sacrifícios, jejuns,
orações e ofertas era um zelo de Deus sem entendimento, mas ainda em nossos
dias muitos procuram aproximar-se de Deus através desses mesmos elementos.
O motivo pelo qual Deus não atendia o povo: - ‘As vossas mãos
estão cheias de sangue!’ ( Is 59:3 ).
Estes três versos constituem uma parábola repleta de enigmas
e, para compreender a parábola, primeiro é necessário desvendar os enigmas.
As mãos manchadas de sangue é figura de violência contra
Deus. Não diz de agressão contra o semelhante, antes da violência em querer se
apoderar do reino de Deus por sua própria força. É por isso que Deus alerta:
"E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel, dizendo:
Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos
Exércitos" ( Zc 4:6 ).
Enquanto João Batista apregoava o reino dos céus, os seus
ouvintes não se arrependiam, e continuavam a fazer da carne e do sangue
(descendência da carne de Abraão) o seu braço (salvação), portanto, o que
professavam não era segundo o Espírito, antes obras de iniquidade, obras de
violência "E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência
ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele" ( Mt 11:12 ; Is 59:6 ). As práticas como os
jejuns, orações, sacrifícios, ofertas, etc., era o que manchavam as suas mãos
de sangue.
Como a palavra de Deus é: "Tem porventura o SENHOR tanto
prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do
SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é
do que a gordura de carneiros" ( 1Sm 15:22 ), e no início da visão Isaias
disse: "Ouvi a palavra do Senhor, vós príncipes de Sodoma; dai ouvidos à
lei de nosso Deus, vós o povo de Gomorra” (v. 10), para lavarem-se,
purificarem-se, tirando a maldade dos seus atos (obras) das suas mãos, deveriam
cessar de fazer o mal, ou seja, ouvirem (obedecerem) a palavra de Deus.
Somente a palavra de Deus para lavar e purificar o homem.
Somente após ser lavado através da palavra de Deus, o homem retira a maldade
dos seus atos. Deus olhou do céu para os filhos dos homens e não havia um que
fizesse o bem. Mesmo o povo de Israel que haviam recebido as escrituras e a
promessa, não havia quem fizesse o bem, pois apesar de terem recebido a
palavra, cada um seguia os seus próprios conceitos e conjecturas ( Is 58:13 ).
Como a palavra de Deus é espírito, o homem que obedece a Deus
compreendeu a mensagem dita a Zorobabel: "E respondeu-me, dizendo: Esta é
a palavra do SENHOR a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas
sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos" ( Zc 4:6 ).
Ou seja, Deus disse a Zorobabel o mesmo que foi dito por
Samuel e Isaias: Obedecer é melhor que sacrificar, pois sacrificar é violência,
força, diz da ação do homem em busca de agradar a Deus. Mas, o espírito diz da
palavra de Deus, pois somente a palavra de Deus lava e purifica completamente o
homem.
Para compreender estes dois versos: “Lavai-vos,
purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai
de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido;
fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” (v. 16 -17), faz-se
necessário analisar os seguintes versos:
"Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho
falado" ( Jo 15:3 );
"O espírito é o que vivifica, a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida" ( Jo 6:63 );
“Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à
verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos
outros com um coração puro” ( 1Pe 1:22 ).
Ou seja, quem obedece a verdade, que é a palavra de Deus,
deixa a violência dos seus atos e passa a servi-lo pelo seu espírito: está
limpo pelas palavras dita por Cristo, que é espírito e vida
Mas, os enigmas e figuras não se restringem aos dois versos
analisados. O verso seguinte possui muitos outros enigmas que compõem a
parábola: “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido;
fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” (v. 17).
Os que deixam de fazer o mal aprendendo a fazer o bem são os
que obedecem a Deus. Os que aprendem e obedecem a Deus automaticamente deixam
de fazer o mal e passam a fazer o bem. É da natureza dos que são vivificados
pelo espírito (palavra de Cristo) fazer o bem, pois a árvore boa dá furto bom
"Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz
frutos maus" ( Mt 7:17 ).
Aprender a fazer o bem é o mesmo que obedecer a Deus procurar
o que é justo, pois obedecer a Deus é a justiça e o bem. Fazer o bem e procurar
o que é justo é o mesmo que ajudar o oprimido, fazer justiça ao órfão e cuidar
das viúvas. Os oprimidos, os órfãos e as viúvas são figuras que remente o homem
a considerar a sua real condição diante de Deus: necessitados. São figuras que
demonstra a condição do pecado, uma forma de apontar e fazer referência à
condição do povo e dos seus lideres. Ajudar os oprimidos, fazer justiça aos
órfãos e cuidar das viúvas é o mesmo que falar a palavra de Deus com verdade (
Zc 8:16 ; Ef 4:25 ; Is 58:13 ), ajudarem a si mesmos obedecendo à palavra do
Senhor, pois Adão abandonou toda a sua geração quando se vendeu ao pecado, e
todos estão separados de Deus até que creiam em sua palavra.
Se o leitor não se aperceber que está diante de uma parábola
repleta de figuras e enigmas, interpretará como se Deus estivesse tratando de
questões socioeconômicas. Neste ponto, em vez de converter-se a Deus obedecendo
a sua palavra, o leitor aplicar-se a religiosidade e os seus sacrifícios, pois
reputará que Deus o aceitará por estar cuidando dos órfãos e das viúvas.
Outros consideram que o sacrifício de sangue não era aceito
porque as pessoas não estavam apresentando o melhor do rebanho no altar, e se
esquecem que o sacrifício que Deus não rejeita é um coração contrito “Os
sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e
contrito não desprezarás, ó Deus” ( Sl 51:17 ). Somente quando o homem é aceito
por Deus é que suas ofertas e sacrifícios são aceitos “Então te agradarás dos
sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se
oferecerão novilhos sobre o teu altar” ( Sl 51:19 ).
18 Vinde então, e
argui-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata,
eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o
carmesim, se tornarão como a branca lã.
Após ‘ajudar’ os oprimidos, ‘fazer’ justiça aos órfãos e ‘cuidar’
das viúvas, ou seja, obedecer a palavra de Deus, por mais funesta que seja a
condição do homem, no momento em que se submete à palavra de Deus, Deus faz do
homem uma nova criatura, pois está é a sua promessa: ‘Ainda que os vossos
pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que
sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã’ (v. 18).
Mesmo que os pecados fossem como a escarlata, certo é que se
tornariam brancos como a neve! O proposto por Deus é simples, mas o homem tem
que querer. Se o homem quiser e ouvir a voz do Senhor, alcança a promessa:
ainda que os vossos pecados sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a
branca lã.
19 Se quiserdes, e
obedecerdes, comereis o bem desta terra. 20 Mas se recusardes, e fordes
rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse.
Este verso demonstra a misericórdia e longanimidade de Deus
que, antes de impingir o castigo, apresenta uma oportunidade. Isto foi posto
para exemplo, pois no dia em que se chama hoje, se ouvires a vos do Senhor, não
endureças o coração ( Hb 4:11 ).
Após a promessa do perdão dos pecados, caso quisessem e
obedecessem, também haveriam de comer do melhor da terra. Não havia como se
estabelecerem na terra da promessa sem antes ser extirpado o pecado do meio do
povo.
Como Deus está falando diretamente com os judeus, a promessa
divide-se em duas: a) salvação individual, e; b) salvação nacional. Ao serem
resgatados do Egito, o povo foi resgatado nacionalmente, porém, permaneceram
escravos do pecado. Agora Deus quer resgatá-los do pecado e, se quisessem e
obedecessem, seriam salvos nacionalmente "Nos seus dias Judá será salvo, e
Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O
SENHOR JUSTIÇA NOSSA" ( Jr 23:6 ).
Mas, haverá um tempo de refrigério para Israel quando as duas
casas serão redimidas pelo Senhor Jesus, e Deus o nomeará de: O Senhor justiça
nossa ( 2Co 3:16 ).
Mas, por que é necessário o homem querer obedecer a sua
palavra? A resposta encontra-se o seguinte verso: "Ora, o Senhor é Espírito;
e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" ( 2Co 3:17 ). O Senhor
é Espírito, ou seja, o Verbo que se fez carne, e onde está a palavra da Vida,
aí há liberdade ( 1Jo 1:2 ).
No Éden diante da expressa Imagem de Deus que tudo criou pelo
poder de sua palavra ( Jo 1:1 -3), o homem teve a liberdade de permanecer na
vida e rejeitar a morte; hoje, a oportunidade e dada, porém, o homem tem a
liberdade de querer a vida obedecendo, ou permanecer na morte.
21 Como se fez
prostituta a cidade fiel! Ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava
nela, mas agora homicidas.
A palavra de Deus entregue a Israel por mão de um medianeiro
é perfeita, reta, justa, mas os interpretes amalgamaram os seus próprios
conceitos e criaram preceitos que, em vez de vida, tornou-se palavra de engano,
palavra de morte.
A condição da cidade de Jerusalém era de se admirar. A cidade
plena de retidão, onde a justiça estabeleceu a sua morada, agora estava cheia
de homicidas (homens violentos, mãos manchadas de sangue).
Por que a cidade era fiel, plena de retidão e justiça? Porque
Deus a escolheu para ali habitar "E habitarei no meio dos filhos de
Israel, e lhes serei o seu Deus" ( Êx 29:45 ); "Então haverá um lugar
que escolherá o SENHOR vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome" ( Dt
12:11 ); "Por que saltais, ó montes elevados? Este é o monte que Deus
desejou para a sua habitação, e o SENHOR habitará nele eternamente" ( Sl
68:16 ).
Como os habitantes de Jerusalém não deram crédito à palavra
de Deus, não foram gerados de novo da semente incorruptível, portanto, não eram
servos de Deus e nem amaram a Deus "E herdá-la-á a semente de seus servos,
e os que amam o seu nome habitarão nela" ( Sl 69:36 ).
O verso 21 de Isaias 1 complementa o salmo 132: “Porque o
SENHOR escolheu a Sião; desejou-a para a sua habitação, dizendo: Este é o meu
repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente
o seu mantimento; fartarei de pão os seus necessitados” ( Sl 132:13 -15).
Como o povo não se resignou a ser os ‘necessitados’ do
Senhor, pois confiavam que eram salvos por serem descendentes da carne de
Abraão, a cidade fiel tornou-se prostituta, promiscua, Sodoma e Gomorra!
22 A tua prata
tornou-se em escórias, o teu vinho se misturou com água. 23 Os teus príncipes
são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda
atrás das recompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a
causa da viúva.
Deus havia dado ao seu povo a sua palavra (prata pura),
porém, como não a receberam integralmente, antes foram rebeldes transtornando o
mandamento ( Dt 4:2 ), o que seguiam não passava de escória, mandamentos de
homens "As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em
fornalha de barro, purificada sete vezes" ( Sl 12:6 ); "Prata
escolhida é a língua do justo; o coração dos perversos é de nenhum valor"
( Pv 10:20 ).
O vinho é figura da alegria, da salvação, e Deus protesta
contra eles demonstrando que a alegria proveniente da aliança foi desfeita
"Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Quem
dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim
(...) O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de
víboras" ( Dt 32:28 -29 e 33). Diz do vinho da contenda que o apóstolo
Paulo veta aos cristãos ( Ef 5:18 ). Israel misturou a palavra da verdade
(vinho) com preceitos de homens (água).
Como o vinho misturou-se com a água, a aliança de Deus com os
que titubeavam foi desfeita "Tardai, e maravilhai-vos, folgai, e clamai;
bêbados estão, mas não de vinho, andam titubeando, mas não de bebida
forte" ( Is 29:9 ); "Tanto mais que, por ser dado ao vinho é desleal;
homem soberbo que não permanecerá; que alarga como o inferno a sua alma; e é
como a morte que não se farta, e ajunta a si todas as nações, e congrega a si
todos os povos" ( Hb 2:5 ; Rm 9:6 ).
Como transtornaram a palavra do Senhor sendo rebeldes a
aliança, os príncipes de Jerusalém não passavam de ladrões, salteadores ( Jo
10:8 e 10). Os lideres de Israel não eram pastores, mas mercenários, visto que
andavam atrás de recompensas. Por negarem aos homens que necessitavam (órfãos,
viúvas) a palavra da verdade, a justiça de Deus não era estabelecida.
Por sua vez, Cristo quando veio denunciou os ladrões, os
mercenários e como pastor fez justiça aos oprimidos pelo pecado ( Mt 11:28 ; Sl
146:5 -10 compare com Mt 5:3 -11). Jesus, o servo do Senhor, veio fazer justiça
aos oprimidos ( Mt 11:28 ).
24 Portanto diz o
Senhor, o SENHOR dos Exércitos, o Forte de Israel: Ah! tomarei satisfações dos
meus adversários, e vingar-me-ei dos meus inimigos.
Neste verso, Cristo toma a palavra, pois Ele é o Senhor dos
Exércitos, o Deus Forte, o braço do Senhor.
Há um dia estabelecido em que o Senhor Jesus glorificado há
de vingar-se dos seus adversários, aqueles que transtornaram a sua palavra.
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