Especialistas entendem que a indicação de Marco Feliciano
para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara
dos Deputados expõe a consolidação do poder político das religiões no Brasil,
sobretudo da evangélica, que tem registrado crescimento vultuoso na sociedade
brasileira.
A informação acima foi publicada pela agência alemã Deutsche
Welle, que mensurou o crescimento político dos evangélicos: em 20 anos, o
número de parlamentares da bancada evangélica se multiplicou, passando de 23 em
1990, para 73 em 2010.
Para Christina Vital, professora de ciências sociais da
Universidade Federal Fluminense (UFF), “os católicos sempre foram hegemônicos
no Brasil, você não precisava nem dizer que pertencia a essa religião. Mas, com
o crescimento dos evangélicos, há um desequilíbrio nessa equação. A disputa foi
para além dos limites do campo religioso, porque estar na política é garantir
espaços privilegiados”, afirma.
Este poderio político cristão no Brasil se consolida no
Legislativo através da aliança entre católicos e evangélicos, que juntos somam
95 parlamentares que se impõe contra questões como aborto, casamento gay e
liberação das drogas.
A definição contemporânea de Direitos Humanos coloca os
religiosos num quadro de contestação por parte dos ativistas gays, por exemplo.
A matéria da Deutsche Welle, no entanto, destaca que após a redemocratização,
evangélicos e católicos foram importantes “para o avanço dos direitos humanos e
pautas da minoria, como temas ligados à terra, melhoria das condições de
trabalho e dos direitos cidadãos”, e pondera lembrando que “os assuntos, no
entanto, não afetavam a reprodução e a sexualidade”.
A Frente Parlamentar em Defesa da Vida e Preservação da
Família reúne 192 deputados, entre políticos eleitos diretamente por sua
atuação religiosa e outros que de alguma forma se identificam com os princípios
conservadores de preservação da vida, representado 40% do Congresso Nacional.
“Não são somente eles que são conservadores. Eles vocalizam
boa parte do que a população brasileira pensa sobre aborto, direitos das
mulheres e de homossexuais”, constata a professora Christina Vital.
Numa comparação com a Alemanha, o professor Frank Usarski,
que leciona ciências da religião na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), afirma que, o pluralismo das forças religiosas é menor no
Brasil, entretanto a influência da religião se mostra mais forte: “O
enraizamento das igrejas na consciência e na realidade social dos brasileiros é
maior”, diz.
Christina Vital observa ainda que a questão do Estado Laico
no Brasil é confusa, levando em consideração que o termo é muito abrangente. A
professora ilustra a questão citando o fato de que aqui, não há contribuição
direta do Imposto de Renda para instituições religiosas, como em alguns países
da Europa, mas há por parte do Estado um diálogo com as religiões, por exemplo:
“Por esse lado, o Estado é laico. Mas, por outro, se laicidade não é a presença
da religião ou não ter a interlocução da religião com o segmento político, aí o
Brasil não é laico. No Brasil, há uma enorme presença do elemento religioso no
espaço público”, resume.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
Nenhum comentário:
Postar um comentário