Ricardo Quadros Gouvêa
1. “Mananciais no Deserto” -- Lettie Cowman [Betânia]
Não há outro livro mais amado pelos evangélicos brasileiros.
Este campeão de vendagem é um livro de leituras devocionais diárias que
conquistou nosso país. O livro é, de fato, bom, mas desconfio que a tradução
deu uma mãozinha.
2. “Uma Igreja com Propósitos” -- Rick Warren [Vida]
O maior “best-seller” evangélico de todos os tempos é uma
catástrofe literária. É ainda difícil calcular o dano que esta obra equivocada
causou e ainda irá causar, com sua filosofia de ministério inteiramente vendida
ao “Zeitgeist”, propondo a homogeneização das igrejas e um pragmatismo de dar
medo.
3. “A Quarta Dimensão” -- David Paul Yonggi Cho [Vida]
Este livro fez mais pelo movimento pentecostal no Brasil do
que qualquer televangelista. O testemunho bem escrito do pastor coreano que
vive cercado de milagres causou “frisson” até mesmo nos grupos mais
conservadores. Seu modo de ver a vida com Deus e o ministério marcaram as
últimas décadas.
4. “A Agonia do Grande Planeta Terra” -- Hall Lindsay [Mundo
Cristão]
Calcado no pré-milenismo dispensacionalista de Scofield, este
“best-seller” apocalíptico empolgou os profetas do fim do mundo no Brasil, com
sua interpretação literalista imprudente e seu patriotismo norte-americano
acrítico. Lindsay foi o arauto de três décadas das mais absurdas especulações
escatológicas em nossas igrejas.
5. “O Ato Conjugal” -- Tim e Beverly La Haye [Betânia]
Sexo é um assunto importante, e o povo ansiava por uma
orientação em face da revolução sexual dos anos 60. Daí o sucesso de um livro
bem escrito como este, didático e conservador, ao gosto da moral evangélica,
mas sem ser inteiramente obtuso. Mesmo assim, muitos o chamaram de
pornográfico. Nada mais injusto.
6. “Este Mundo Tenebroso” -- Frank Peretti [Vida]
A ficção convence mais rápido. Revoluções acontecem
inspiradas por romances, e não por tratados filosóficos. Peretti, com seu
horror cristão, nos ensinou o significado da batalha espiritual nos anos 80,
reencantou o submundo evangélico, inspirou pregadores e, o que não é nada ruim,
motivou muitos adolescentes a ler obras de ficção bem melhores.
7. “A Morte da Razão” -- Francis Schaeffer [ABU]
A intelectualidade evangélica adotou este livro como alicerce
nos anos 70, para enfrentar o existencialismo, o movimento “hippie”, o marxismo
e a contracultura em geral. O livro convencia que o cristianismo não era
incompatível com o estudo e a reflexão. É um pena que Schaeffer estivesse tão
equivocado em suas idéias centrais.
8. “Celebração da Disciplina” -- Richard J. Foster [Vida]
Este clássico da espiritualidade cristã, escrito por um
quacre, fez um tremendo sucesso no Brasil a partir dos anos 80. É excelente,
mas será que todos que o compraram de fato o leram? Gostaria de perceber uma
maior influência das idéias de Foster em nosso povo, mais oração, silêncio,
calma, estudo, empenho, enfim, disciplina espiritual.
9. “De Dentro para Fora” -- Larry Crabb [Betânia]
Os livros devocionais evangélicos de viés psicológico ou de
auto-ajuda são os títulos que mais vendem. Dentre eles, alguns se destacam não
só por serem campeões de vendagem, mas porque são os melhores do gênero. Crabb
é o melhor autor do gênero e este é seu melhor livro, que impactou o nosso povo
nos anos 90.
10. “Louvor que Liberta” -- Merlin R. Carothers [Betânia]
Este pequeno e poderoso manifesto em forma de testemunho
revolucionou, nos anos 70, o louvor e a adoração no Brasil. O bom capelão
ensinou a todos nós a espiritualidade da adoração, o poder do louvor,
impulsionando as guerras litúrgicas que marcariam a vida de nossas comunidades
a partir de então.
11. “Vivendo sem Máscaras” -- Charles Swindoll [Betânia]
Outro “best-seller” devocional dos anos 90, de viés
psicológico e de auto-ajuda, com o vigor característico das obras de Swindoll,
escritas a partir de suas pregações. Muitos se sentiram não apenas edificados,
mas tocados e transformados.
12. “A Cruz e o Punhal” -- David Wilkerson [Betânia]
Outro opúsculo dos anos 70 que, na forma de um testemunho
pessoal, inspirou os jovens evangélicos a uma fé mais comprometida.
Curiosamente, não levou as igrejas a um investimento em missões urbanas, idéia
que permeia todo o livro. Talvez o Brasil evangélico dos anos 70 não estivesse
pronto para missões urbanas.
13. “Crer é Também Pensar” -- John Stott [ABU]
Stott é um ícone no Brasil, um nome respeitado pela sua
erudição e sua notável produção literária, apesar de estar invariavelmente sob
suspeita de heresia pelos mais neuróticos. O fato é que a qualidade de seus
livros varia. Seu excelente “Ouça o Espírito, Ouça o Mundo” merece mais
atenção. Já o opúsculo selecionado, tão conhecido desde os anos 70, não tem
muito a dizer além do título.
14. “O Senhor do Impossível” -- Lloyd John Ogilvie [Vida]
Outro devocional que emplacou no Brasil nos anos 80, não sem
méritos. É o maior sucesso do autor, ainda que inferior a “Quando Deus Pensou
em Você”, que o antecedeu. O livro estimula a fé e nos faz mais esperançosos,
apesar da teologia rasa.
15. “A Família do Cristão” -- Larry Christenson [Betânia]
Antes de Dobson e tantos outros, Christenson já era
“best-seller” nos anos 70. Pioneiro entre os que se pretendem auxiliares da
vida familiar cristã, ele foi estudado nos lares por grupos e células, em
escolas dominicais etc. Sua eficácia é comprovada.
16. “O Jesus que Eu Nunca Conheci” -- Philip Yancey [Vida]
Os anos 90 assistiram ao aparecimento de um dos mais argutos
e estimulantes autores evangélicos de todos os tempos: o audaz Yancey, que
começou a apontar para o paradigma emergente em livros como “Alma
Sobrevivente”, “Descobrindo Deus nos Lugares mais Inesperados”, “Maravilhosa
Graça”, “Rumores de Outro Mundo”, “Decepcionado com Deus” e tantos outros
livros excelentes. E o mais conhecido e lido parece ser mesmo “O Jesus que Eu
Nunca Conheci”.
17. “O Discípulo” -- Juan Carlos Ortiz [Betânia]
Poucos livros foram tão impactantes nos anos 70 quanto esta
obra que, excepcionalmente, não vinha do mundo anglo-saxão, mas da Argentina.
Por isso mesmo, Ortiz tinha uma outra linguagem, um discurso que convencia os
jovens brasileiros da seriedade e do valor de se tornar mais do que um mero
freqüentador de igrejas, um genuíno discípulo de Cristo.
18. “Bom Dia, Espírito Santo” -- Benny Hinn [Bompastor]
O neopentecostalismo brasileiro é, em grande parte, de
inspiração norte-americana. Talvez o nome mais importante nesse processo seja o
do “showman” evangélico Benny Hinn, que desde os anos 90 assombra os
norte-americanos pela televisão com seus feitos espetaculares. Mesmo quem não o
leu conhece sua influência no Brasil.
19. “O Refúgio Secreto” -- Corrie Ten Boom [Betânia]
O testemunho desta nobre senhora holandesa encantou também o
Brasil, onde seu livro foi um grande sucesso nos anos 70. Suas aventuras
durante a Segunda Guerra Mundial, sob o pano de fundo de sua educação em um lar
cristão, são comoventes e inspiradoras.
20. “A Autoridade do Crente” -- Kenneth Hagin [Infinita]
Hagin foi um divisor de águas no mundo evangélico, pois desde
sua influência os crentes “tomam posse”, “determinam”, “amarram” e “exigem”. Uma
nova forma de falar se fez presente, o que gerou muitas novas piadas também.
21. “Entendes o que Lês?” -- Fee e Stuart [Vida Nova]
Que bom que um livro sério como este foi tão lido e estudado
no Brasil. Trata-se de um compêndio de hermenêutica bíblica sem complicações,
em linguagem acessível, adotado por quase todos os seminários e estudado até
mesmo nas EBD’s e pequenos grupos. Este livro fez muito pela educação bíblica
dos evangélicos brasileiros.
22. “Culpa e Graça” -- Paul Tournier [ABU]
Não há, com raras exceções, psicólogo cristão que não
considere este livro um fundamento e um marco do pensamento cristão. Mas ele
não se limita a isso, tendo tido considerável influência na teologia evangélica
brasileira nos anos 90, preparando nosso povo para o paradigma emergente do
século 21.
23. “Novos Líderes para Uma Nova Realidade” -- Caio Fábio
D’Araújo Filho [Vinde]
Este opúsculo foi, se não o mais lido, certamente o mais
importante dos numerosos livrinhos do pastor Caio Fábio, fenômeno de
popularidade no Brasil nos anos 80 e 90, pastor midiático, influente,
contundente, imitado, adorado e odiado. Caio nos ensinou a ver as coisas de
outro jeito, e seu legado não vai desaparecer.
24. “Vida Cristã Normal” (ou “Equilibrada”, na reedição) --
Watchman Nee [Editora dos Clássicos]
O controverso evangelista e autor chinês Nee teve muita
influência nos anos 70 e 80, com sua visão mística do que significa ser um
cristão evangélico conservador. Este livro foi seu maior sucesso, um comentário
de Romanos, ainda que seu livro mais objetivo e claro seja “A Liberação do
Espírito”.
25. “É Proibido” -- Ricardo Gondim [Mundo Cristão]
Gondim é um dos melhores e mais polêmicos autores evangélicos
contemporâneos. Seus livros, como Eu Creio, Mas Tenho Dúvidas, O que os
Evangélicos (Não) Falam, Orgulho de Ser Evangélico, são sempre interessantes.
Nenhum, porém, foi tão influente e marcante como “É Proibido”, um verdadeiro
libelo anti-legalista.
26. “Conselheiro Capaz” -- Jay Adams [Fiel]
Adams era uma pessoa muito simpática. Sua escola de
aconselhamento cristão é muito antipática. Diferentemente de Crabb, por
exemplo, problemas emocionais têm origem fisiológica ou pecaminosa. Por isso, é
preciso confrontar as pessoas e insistir na mudança do seu comportamento. Foi
um sucesso nos anos 80. Haja behaviorismo!
27. “Quebrando Paradigmas” -- Ed René Kivitz [Abba Press]
Este livro foi decisivo para que os evangélicos brasileiros
começassem a enxergar a outra margem do rio, a margem pós-evangélica do
paradigma emergente. Kivitz é um autor surpreendente e notável, de mente
dinâmica e arejada, que propõe importantes rupturas e renovações, como em seu
outro livro “Outra Espiritualidade”.
28. “O Amor Tem Que Ser Firme” -- James Dobson [Mundo
Cristão]
O conhecido “Dr. Dobson” é pensador e autor de grandes
qualidades e grandes defeitos. Seus livros, como “Educando Crianças Geniosas”,
ajudam famílias e promovem uma espécie de teologia aplicada que merece atenção.
Há, porém, muito que não se deveria levar a sério, já que vai contra o que há
de mais consagrado na psicologia moderna.
29. “Supercrentes” -- Paulo Romeiro [Mundo Cristão]
O autor de “A Crise Evangélica” tem talento e tem algo a
dizer. Seus textos, especialmente o famosos “Supercrentes”, têm apontado para
os exageros e enganos de muitas posturas comuns no meio evangélico
contemporâneo.
30. “Cristianismo e Política” -- Robinson Cavalcanti [Ultimato]
Trata-se de um clássico. Este livro está nas origens de toda
reflexão política evangélica. Robinson é importante por outras questões, como
seus livros sobre sexualidade (“Uma Bênção Chamada Sexo”, “Sexualidade e
Libertação”), mas sua contribuição permanente é o estímulo que deu à reflexão
política evangélica.
31. “O Evangelho Maltrapilho” -- Brennan Manning [Mundo
Cristão]
Não há outro autor mais importante no meio evangélico nos
últimos dez anos do que Brennan Manning. Seus livros devocionais, como “O Impostor
que Vive em Mim”, “A Assinatura de Jesus”, “O Obstinado Amor de Deus”, estão
transformando radicalmente a maneira como os evangélicos entendem a vida
cristã. Eu fico muito grato.
32. “O Pastor Desnecessário” -- Eugene Peterson [Mundo
Cristão]
Peterson é muito estimado no meio evangélico brasileiro e um
dos autores mais bem avaliados dos últimos tempos. Responsável por projetos
como “The Message” (excelente paráfrase bíblica), tem nos galardoado com obras
como “Corra com os Cavalos”, “A Oração que Deus Ouve”, “A Vocação Espiritual do
Pastor”, “Transpondo Muralhas”, entre outros. Selecionei o que talvez seja o
mais importante.
33. “Poder Através da Oração” -- E. M. Bounds [Batista
Regular]
Nos anos 70, quando não havia ainda bons livros sobre oração,
como o de Richard Foster ou o de Eugene Peterson, os livros de Bounds sobre
oração circulavam de mão em mão, trazendo avivamento às igrejas. Hoje Bounds
está quase esquecido. Quase.
34. “Cristo é o Senhor” -- Dionísio Pape [ABU]
No fim dos anos 60 e começo dos anos 70, o nome de Pape se
destacava pela espiritualidade, profundidade e sucesso ministerial. Seu
opúsculo “Cristo é o Senhor” levou muitos à consagração e ao ministério.
35. “O Caminho do Coração” -- Ricardo Barbosa [Encontro]
Barbosa (junto com Osmar Ludovico, James Houston e outros) é
responsável pelo retorno ao interesse pela mística cristã em nosso país. Seus
livros nos ensinam uma outra atitude não somente em relação à vida, mas também
em relação à teologia. Uma atitude contemplativa.
36. “O Novo Testamento Interpretado” -- R. N. Champlin
[Hagnos]
Não privilegiei obras teológicas e comentários bíblicos nesta
lista porque tais livros, em geral, não vendem bem e sua influência é pequena.
Uma exceção precisava ser feita em relação ao favorito das bibliotecas. O
empenho exaustivo de Champlin precisava ser lembrado, pois ainda vende bem e é
o comentário primordial dos evangélicos.
37. “Icabode” -- Rubem Martins Amorese [Ultimato]
Este livro pode não ter sido tão lido quanto é citado, mas
definiu um novo tipo de reflexão cristã no Brasil, que propõe diálogo com a
cultura em outro nível que não o da evangelização, e sim o da discussão de
valores e princípios que podem levar nossa sociedade para um patamar melhor ou
pior. É uma boa influência.
38. “A Bíblia e o Futuro” -- Anthony Hoekema [Cultura Cristã]
Este estudo do Apocalipse cresceu em importância no Brasil em
uma época em que quase não havia obra que fizesse uma defesa do amilenismo,
apesar dos pouco conhecidos esforços de Harald Schally. O livro provocou
conversões em massa a partir dos anos 80, e a escatologia nunca mais foi a
mesma no Brasil.
39. “Cristianismo Puro e Simples” -- C. S. Lewis [Martins
Fontes]
Também conhecido como “Mero Cristianismo”, a busca de Lewis
pelo denominador comum da fé cristã impacta brasileiros desde os anos 70.
Seleciono o livro simbolicamente, já que Lewis não poderia ficar de fora, seja
por causa de “Os Quatro Amores”, “Milagres”, “Cartas do Inferno” ou “As
Crônicas de Nárnia”.
40. “A Mensagem Secreta de Jesus” -- Brian D. McLaren [Thomas
Nelson]
Em 2007 o leitor evangélico brasileiro foi surpreendido por
este livro do mesmo autor de “Uma Ortodoxia Generosa”. Fiquei admirado ao ver
como todos passaram a conhecer e a comentar a obra de McLaren, que representa
melhor do que ninguém o paradigma teológico evangélico emergente. Não dá pra
não ler.
• Ricardo Quadros Gouvêa é ministro presbiteriano e professor
de teologia e de filosofia.
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