Nominal é o
termo usado para qualificar o indivíduo que professa uma determinada fé, sem
com tudo ser praticante. Seria apenas de nome; seria católico no nome, mas não
professaria efetivamente a fé católica; seria protestante no nome, mas não
professaria plenamente a fé protestante. O termo pode ser aplicado fora do
contexto religioso. O termo é utilizado pelo IBGE que apenas verifica quem é
católico, protestante, ou de outras religiões apenas pela sua declaração
nominal. Sobre esses dados surgem críticas de que nem todo que se declara de
determinada crença a pratica, logo o são apenas de nome. O fundamentalismo se
apresenta em oposição ao religioso nominal. Os mesmos especulam que, com o
passar do tempo, haverá o crescimento e surgimento da maior religião mundial
que será a "religião nominal"; crença de pessoas que dirão crer em
alguma coisa, mas não abraçarão qualquer Declaração de Fé, ou dogma, que
professe como fundamental para sua vida espiritual.
J. C. Ryle
No artigo
Formalismo, por John Charles Ryle (1816 - 1900), discorre que "a religião
formal não é religião, e que o cristão formal não é um cristão, do ponto de
vista de Deus", assim, compreende o autor que o cristão "sem nenhuma
influência no seu coração ou vida" é detentor da "religião
formal", mas também defendia o Bispo da Igreja da Inglaterra que não
bastava ser exterior o cristão, se não o for cristão interior, o que resulta no
risco do surgimento do "farisaísmo" na alma do homem, pois enquanto o
homem vê o exterior, Deus sonda os corações.
Retidão
externa sem um coração reto, não é nada mais nada menos que farisaísmo. As
coisas externas do cristianismo - batismo, Ceia do Senhor, caridade, ser membro
da igreja e coisas semelhantes - nunca levam a alma de qualquer homem ao céu, a
menos que seu coração seja reto. O cristianismo deve existir tanto interna,
quanto externamente, e é o interior que Deus fixa seu olhar.
Ainda sobre
esse tema, Jonh Ryle defende, ao contrário da postura hoje conhecida como do politicamente
correto, uma postura popular que se põem como defensora do que a comunidade
considere correto e louvável, ainda que vá contra princípios bíblicos que se
opõem ao cristianismo secular. Defende Ryle a tese de que a "a verdadeira
religião não deve esperar ser popular nunca. Não terá o louvor do homem, mas de
Deus".
A religião
do coração é muito humilhante para ser popular. Não deixa para o homem natural
nada do que se vangloriar. Diz-lhe que é um pecador culpado, perdido, merecedor
do inferno, e que ele tem que correr para Cristo a fim de ser salvo. Fala que
ele está morto, e deve viver novamente e nascer do Espírito. O orgulho do homem
se rebela contra tais ensinos. Ele odeia que lhe digam que seu caso é tão ruim.
A religião
do coração é muito santa para ser popular. Não deixará o homem natural quieto.
Interfere no seu mundanismo e pecados. Requer dele coisas que ele abomina e das
quais é avesso - conversão, fé, arrependimento, mente inclinada para coisas
espirituais, leitura da Bíblia, oração. Ordena que deixe muitas coisas que ele
ama e se apega, as quais não pode deixar de lado. Realmente seria estranho se
ele gostasse disto. Cruza seu caminho como um estraga prazeres e é absurdo
esperar que ele se agrade nela.
Contexto bíblico
Segundo católicos
e protestantes, a fé cristão faz exigência de uma confissão de fé, segundo as
Escrituras Sagradas.
Mas qualquer
que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está
nos céus.
Pedro negou
a Jesus Cristo por três vezes, ainda que tenha dito que jamais negaria a
Cristo:
Mas ele
disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo
nenhum te negarei. E da mesma maneira diziam todos também.
Ao negar
três vezes a declaração de fé ao nome de Jesus, Pedro passou por uma situação,
segundo o Evangelho, no qual, defronte do Cristo ressurreto, por três vezes fez
declaração de amor e ciência que Jesus seria onisciente, uma característica
típica de Deus.
Tornou a
dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor,
tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira
vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito
terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te
amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
O negar de
Pedro ao nome de Jesus poderia ser apontado como um cristianismo nominal, onde
se diz ser um seguidor de determinada crença, mas logo a frente se nega com
atos ou palavras. A necessidade de conversão verdadeira por parte de Pedro já
estava vaticinada, tanto no ato de negar a Jesus, como na necessidade de
verdadeira conversão. Pedro seria um crente nominal, segundo as palavras do
próprio Jesus que vaticinara que ele o negaria, e que ele ainda iria se
converter, apesar de ter seguido a Jesus por aproximadamente três anos.
Mas eu
roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres,
confirma teus irmãos.
Formalismo Político & Nominalismo
Religioso
O dicionário
catequético da Igreja Presbiteriana do Brasil descreve "cristão
nominal" como aqueles que usam a igreja para "um ponto de encontro
para rever os amigos, parentes e para ter uma "terapia espiritual",
sem, contudo, ter "o novo nascimento". Entretanto encera afirmando
que "com o tempo muitos se convertem".
A Igreja
Batista Independente, citando Gene Edwards ao qualificar o Imperador
Constantino o primeiro cristão medieval "noventa porcento cristão de nome
e noventa porcento pagão de pensamento"., apresenta, como J. C. Ryle
criticava, a postura muitas vezes direcionada para a conduta política e
popular, contrariando a postura que certas vezes apresenta o cristão não
formal, que não busca a transparecer uma postura do ‘politicamente correto’.
Assim, afirma a respeito de Constantino que ""conversão" parece
ter sido um ato de astúcia política".
Como o catolicismo pode ser
verdadeiro quando os católicos são tão frios?
POR:
GARY HOGE
A maioria
dos católicos que eu conheço não levam a fé à sério. Eles são mundanos e
seculares e eles parecem não se preocupar com Jesus ou o Evangelho.
G.K.
Chesterton disse uma vez que o melhor argumento contra o cristianismo são os
cristãos. Isso é certamente verdade do catolicismo. O Papa João Paulo II ,
colocando-o educadamente, diz: " A Igreja Católica não esquece que muitos
entre os seus membros fazem com que o plano de Deus possa ser perceptível
apenas com dificuldade. "(Ut Unum Sint, 11). Mas isso é realmente um
argumento contra a verdade da fé? Não vejo como. Argumentar que o catolicismo é
falso, por não transformar as vidas daqueles que não praticam, é como
argumentar que a aspirina não funciona porque não alivia as dores de cabeça
daqueles que não a tomam.
Minha família afirma ser católica,
mas eles não levam a fé à sério.
Tente se
lembrar de que muitas pessoas são católicas só de nome. Se você perguntar o que
eles são, eles dirão: "Oh , eu sou católico". Mas o que eles querem
dizer é : "Meus pais eram católicos". É mais uma etnia do que uma
religião para algumas pessoas. É o que eles são, não o que eles acreditam.
Diminuição de católicos no Brasil na
pauta da última reunião do Consep em 2012
Por
Assessoria de Imprensa
28 / Nov /
2012 07:19
O último encontro
deste ano de 2012 entre os membros do Conselho Episcopal Pastoral da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), se realiza nesta terça e
quarta-feira, 27 e 28 de novembro. Logo no início dos trabalhos, os bispos
voltaram ao tema da diminuição do número de católicos no país conforme os dados
do último Censo e publicados no chamado mapa das religiões no Brasil.
O padre
Thierry Linard de Guertechin, presidente do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento,o Ibrades, fez uma ampla reflexão de sua análise dos números
considerando o ambiente religioso do Brasil e a prática da Igreja Católica. Em
síntese, ele chamou a atenção no sentido de levar a sério os resultados do
Censo. Diante da expectativa de uma resposta concreta aos dados do Censo,
destacou a importância das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil
(DGAE) que já são uma resposta a essa realidade. Realçou que a diminuição do
número de católicos, em termos absolutos, se deu nas chamadas áreas
consideradas rurais. Os números das áreas urbanas continuam mais ou menos
estáveis.
“O
verdadeiro desafio é constituído pela mentalidade secularizada que cria uma
nova imagem de homem e de mulher, não imagem e semelhança de Deus, mas do poder
e do mercado”, destacou o padre Thierry. No debate, dom Francisco Biasin, bispo
de Barra do Piraí/Volta Redonda (RJ) e presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso considerou que a
discussão sobre esse tema é de grande importância na preparação para a próxima
Assembleia Geral que vai tratar da paróquia como comunidade de comunidades. Dom
Jacinto Bergman, bispo de Pelotas (RS) e presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para a Animação Bíblico-catequética também lembrou que faz parte desse
âmbito de reflexão a constatação de uma “mudança de época” já aprofundado no
Documento de Aparecida e nas Diretrizes Gerais.
Dom João
Carlos Petrini, bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para Vida e Família, recordou que a situação dos católicos nominais em
queda não é bem uma novidade e que o vínculo dos chamados católicos praticantes
não parece existir queda. Ele considera, no entanto, que os números do Censo é
uma chamada de atenção para se colocar em prática um trabalho de manter sinais
públicos que ajudem no despertar o sentido de pertença dos católicos nominais.
Dom Pedro Brito, arcebispo de Palmas (TO) e presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, lembrou que o
enfraquecimento da missão e da atuação dos sacerdotes como referência
intelectual e moral também comprometem a atuação da Igreja e nisso está também
o desafio para transformação com acento na missão.
Dom Armando
Bucciol, bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para a Liturgia, destacou a qualidade do testemunho e da
atuação de bispos, padres e lideranças leigas de alto nível. Segundo ele, é
preciso lembrar da expressão “apaixonar-se por Cristo” como o ponto de partida
da ação missionária. O padre Deusmar Jesus da Silva, assessor da Comissão para
os Ministérios Ordenados, insistiu a respeito da necessidade de pesquisas que
ajudem a orientar o planejamento de pastoral com especial atenção para
pesquisas em nível paroquial. É preciso conhecer mais a realidade da comunidade
local.
O Consep,
diante do desafio dessa reflexão, decidiu que a presidência CNBB vai enviar aos
bispos de todo o Brasil um texto como o título “Reflexões Pastorais do Consep
sobre o Mapa das Religiões” de modo que se possa colaborar com o aprofundamento
sobre os grandes temas que estão em torno desse tema.
Um Brasil mais evangélico e menos
católico
Os dados
sobre religião do Censo 2010, cujos números absolutos foram divulgados em 29 de
junho, viraram manchetes em toda imprensa secular. Tamanha repercussão tem
fundamento. Pela primeira vez desde o longínquo ano de 1872 o número de
católicos diminuiu no Brasil. Paralelamente, o protestantismo foi apontado como
a religião que mais cresceu no período intercensionário (intervalo de dez anos).
Na interpretação de demógrafos, sociólogos e outros especialistas há uma
“revolução silenciosa” em curso no País.
Acompanhando
a evolução do perfil religioso da nação na última década, o IBGE constatou que
o catolicismo perdeu 1,7 milhão de adeptos. Com o recuo, o número de católicos
no país chegou a 123,3 milhões, o que representa 64,6% da população. Até 1970,
essa proporção superava os 90%. Em 1872, ela era de expressivos 99%.
A maior redução ocorreu no Norte, de 71,3%
para 60,6%. A queda de fiéis também foi significativa no Nordeste (de 79,9%
para 72,2% entre 2000 e 2010) e no Sul (de 77,4% para 70,1%).Entre os estados,
o menor percentual de católicos é do Rio de Janeiro: 45,8%.
O
catolicismo perdeu milhões de fiéis em todo mundo, especialmente na Europa, que
está configurada como uma sociedade pós-cristã. A novidade brasileira é que
estamos vivendo não uma crise, mas uma migração da fé. Ao lado da linha
vermelha que indica o encolhimento da Igreja Católica, há nas amostragens do
Censo 2010 uma linha azul em trajetória ascendente que aponta para a expansão
das igrejas evangélicas.
As
denominações protestantes atraíram 16,1 milhões de pessoas em dez anos e hoje
somam 42,3 milhões adeptos, o que representa 22,2% da população.
Dos que se
declararam evangélicos, 60% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de
missão (tradicionais) e 21,8 %, evangélicos não determinados. Os pentecostais
foram os que mais cresceram: passaram de 10,4% para 13,3% da população em 2010.
Considerada
desde sempre um dos símbolos do catolicismo no Brasil, a região Norte chamou a
atenção dos pesquisadores. Ali, o número de católicos diminuiu de 71,3% para
60,6%, enquanto os evangélicos aumentaram sua representatividade de 19,8% para
28,5%. O mérito é, quase exclusivamente, das denominações pentecostais.
A grande
ameaça à hegemonia católica, entretanto, não reside no aumento do número de
evangélicos. Está na idade deles. Segundos os dados do IBGE, a maior proporção
de católicos foi identificada entre brasileiros com mais de 40 anos. Já a idade
mediana dos evangélicos pentecostais é de 27 anos. E a idade média dos
evangélicos tradicionais é de 29 anos. O protestantismo tupiniquim é muito mais
jovem do que se supunha.
“A população
evangélica tem proporcionalmente mais mulheres e jovens, e menos idosos. Isso
significa que apenas pelo efeito da inércia demográfica, ou seja, mesmo que não
houvesse novas conversões, o rebanho evangélico já cresceria mais do que o
católico”, notou o filósofo Hélio Schwartsman em editorial da Folha de S.
Paulo.
O demógrafo
José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas,
explica que, mantida a tendência das últimas décadas, o número de evangélicos
irá superar o de católicos em 20 ou 30 anos.
“O maior país católico do mundo vai deixar de ser católico”, prevê o
demógrafo.
Por isso a
realidade identificada pelo Censo 2010 foi interpretada por muitos cientistas
da religião como a maior crise do catolicismo brasileiro desde a proclamação da
República, quando houve a separação formal entre a igreja romana e o Estado.
“O impacto
dessa mudança é grande para a Igreja Católica. A Rússia teve revolução e
permaneceu ortodoxa. Os Estados Unidos, mesmo com a Guerra Civil, se mantiveram
protestantes. Entre os países grandes, mudanças assim só ocorreram em
consequência de guerras e revoluções. No Brasil, acontece um processo
diferente, a revolução é silenciosa”, diz José Eustáquio.
IURD perde fiéis e Igreja Mundial se
consolida
A Igreja
Mundial do Poder de Deus, denominação do bispo Valdemiro Santiago, ganhou 315
mil seguidores nos últimos dez anos. Foi o maior crescimento entre as
neopentecostais, segmento evangélico onde há maior circulação e disputa por
fiéis.
O
coordenador de População e Indicadores Sociais do IBGE, Cláudio Dutra Crespo,
ressalta que no Censo de 2000 a Igreja Mundial nem aparecia na pesquisa e que
agora teve 315 mil declarantes, ou seja, pessoas que confirmaram frequentar
essa denominação.
“Foi a única
denominação nova que se ressaltou no número de declarantes”, afirmou Cláudio
Crespo. Enquanto isso, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do bispo
Edir Macedo, teve uma baixa de quase 230 mil adeptos, passando de 2,102 milhões
para 1,873 milhões, uma queda de mais de 10,8% de seu público. É a primeira vez
que a IURD aparece perdendo público.
A notícia
mais salgada para Edir Macedo é que os dados apontam que a Igreja Universal do
Reino de Deus está perdendo fiéis justamente para a Igreja Mundial do Poder de
Deus, comandada pelo seu desafeto, o apóstolo Valdomiro Santiago. E há também
migração de gente da IURD para os diferentes ramos da Assembleia de Deus.
“A forma
como essas igrejas se comunicam com os seus respectivos públicos, que variam de
acordo com características sociais e regionais, é fundamental para entender
essa questão. A mensagem religiosa que se adapta a uma realidade específica,
que envolve uma gama significativa de população, tem chances maiores de
encontrar novos adeptos”, explicou o coordenador do IBGE, Cláudio Crespo.
O Avanço Pentecostal
O Censo 2010
especificou que dentre as religiões evangélicas, as que tiveram maior expansão
foram as de origem pentecostal, especialmente nos bolsões de periferia dos
grandes centros urbanos. O destaque dentre elas é a Assembleia de Deus.
Somadas, as
diferentes ramificações da denominação atraíram 3,9 milhões de brasileiros nos
últimos dez anos. A Assembleia de Deus tinha 8 milhões de adeptos em 2000 e
chegou aos 12, 3 milhões em 2010. Para o bispo Manoel Ferreira, presidente da
Assembleia de Deus Ministério de Madureira, os números são ainda mais
expressivos.
“O número é
maior que o registrado pelo IBGE. A Assembleia de Deus reúne atualmente 16
milhões de pessoas”, afirmou. O instituto não desmentiu o líder assembleiano. A
possibilidade existe porque muitos evangélicos deram respostas genéricas à
pergunta “qual é sua religião ou culto?”, e foram classificados como
“evangélicos não determinados”. A categoria somou 9,2 milhões de pessoas.
A ascensão
dos pentecostais também está diretamente associada com a perda de fiéis da
Igreja Católica. Enquanto o movimento carismático tenta substituir a velha e
cansativa liturgia católica romana por um simulacro de culto pentecostal, com
muita música e espontaneidade, muitos católicos decidiram procurar a fonte
original.
“Com certeza
podemos afirmar que 80% dos que deixam de ser católicos nos últimos dez anos se
tornam evangélicos das mais diferentes denominações pentecostais,
principalmente em função de essas igrejas contarem com uma linguagem mais urbana,
mais metropolitana, própria dos nossos tempos”, disse o pesquisador Cláudio
Crespo.
Um
representante do setor tradicional do protestantismo brasileiro reconhece os
méritos de tais igrejas. Na opinião de Fernando Brandão, diretor-executivo da
Junta de Missões Nacionais (JMN), órgão mantido pela Convenção Batista
Brasileira, essa variação é resultado do trabalho que os pentecostais têm
desenvolvido com ênfase na comunidade e em grupos específicos, como mães
solteiras, crianças e jovens.
“A partir da
década de 80, as igrejas passaram a intensificar as ações em comunidades
carentes. Também se preocuparam em trabalhar com crianças e adolescentes, o que
não faz a Igreja Católica, que é mais voltada para os adultos”, avaliou. O
líder batista ponderou ainda que a expansão das rádios evangélicas e a atuação
dos tão criticados telepastores, que disputam espaço na TV, contribuíram para o
avanço protestante.
“Isso tudo
era mais ou menos esperado. A questão que intriga os especialistas é saber se
há ou não um fundo do poço, um piso abaixo do qual os católicos não despencam”
refletiu o filósofo Hélio Schwartsman em sua coluna na Folha de S. Paulo. Uma
análise dos números de 2010 sugere que não: o catolicismo pode perder mais.
Isso porque
as classes C e D estão cada vez mais inseridas no mercado de consumo, com um
surpreendente potencial de compra. São justamente as classes sociais que mais
têm integrado as igrejas neopentecostais. Isso significa que tais denominações
terão mais chances de investir em evangelização por meio de TV’s e rádios. Além
disso, elas podem associar suas doutrinas ao progresso econômico de tais
classes.
Os dados do
Censo 2010 mostram que mais de 60% dos evangélicos pentecostais recebem até um
salário mínimo.
A comparação
da distribuição das pessoas por rendimento mensal domiciliar per capita revelou
que 55,8% dos católicos estavam concentrados na faixa de até um salário mínimo.
Mas são os
evangélicos pentecostais o grupo com a maior proporção de pessoas nessa classe
de rendimento (63,7%), seguidos dos sem religião (59,2%). Em outras palavras,
os pentecostais estão mais próximos do povo.
O Recuo Católico
Após a
divulgação do Censo 2010, a Igreja Católica entrou no confessionário. Cardeais,
arcebispos e bispos de todo o País decidiram enfrentar a realidade com amargas
doses de autocrítica.
“Perdemos o
povo”. Foi com esse tom de resignação que o cardeal Dom Cláudio Hummes,
ex-prefeito da Congregação do Clero no Vaticano e ex-arcebispo de São Paulo,
lamentou os números do IBGE.
Para o padre
Thierry Linard, designado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
para comentar a pesquisa, a igreja tem dificuldade em se adaptar às mudanças
sociais que o País experimenta.
Na avaliação
dele, a instituição não soube acompanhar as migrações que ocorreram tanto do
campo para a periferia das grandes cidades do Sudeste quanto para as regiões
Norte e Centro-Oeste do Brasil.
“A forma
como a igreja lidou com o movimento migratório brasileiro no século passado
pode explicar um pouco o que aconteceu. Os fiéis não encontraram a Igreja
Católica aonde eles foram, seja nas periferias das metrópoles, como Rio de
Janeiro e São Paulo, ou nas cidades mais distantes do País”, disse o
representante da CNBB.
Thierry
Linard, que também é demógrafo, admite que as denominações evangélicas souberam
ir aonde era necessário. “A Assembleia de Deus, por exemplo, tem mais
penetração na periferia. Onde surge uma comunidade, logo surge uma igrejinha.
No caso da Igreja Católica é muito mais lento: a estrutura é mais pesada”.
O cientista
político Cesar Romero Jacob, da PUC-RJ, usa uma interessante metáfora para
concordar com o demógrafo católico. “Houve uma mudança na distribuição espacial
das pessoas. Todo mundo percebeu. Mas a Igreja Católica é como um transatlântico
que demora muito para mudar a rota, devido ao tamanho de sua estrutura
burocrática. Já os evangélicos são como pequenas embarcações”, ilustrou.
O demógrafo
José Eustáquio diz que a hegemonia católica vai perdendo força nas localidades
mais cosmopolitas de cada região, para onde muitos brasileiros migram à procura
de trabalho e vão perdendo as referências culturais herdadas da família.
“Na região
Norte, por exemplo, a população é, em grande parte, formada por migrantes que,
apesar de terem vindo do Nordeste com tradição católica, estavam ali naquela
nova região soltos culturalmente. No Nordeste não havia migrantes, ali era a
população local com suas tradições herdadas”, detalhou o cientista.
Outro
problema histórico do catolicismo brasileiro é a flexibilidade doutrinária dos
seus adeptos. Uma das dúvidas levantadas pelos estudiosos em relação ao Censo
2010 é justamente se os que conciliam catolicismo e outras religiões, como
espíritas e umbandistas, se identificaram como católicos ou preferiram a outra
identidade.
“Entre os
católicos é comum ter pessoas não praticantes. Não se sabe até que ponto são
católicos de fato. Nas outras religiões isso não acontece. O que se declara é
um participante mesmo. Essa é a grande diferença. O evangélico, por exemplo,
participa muito mais. É fiel aos princípios da igreja”, analisou Cláudio
Crespo, coordenador de Indicadores Sociais do IBGE.
O cardeal
Dom Cláudio Hummes tocou nesta ferida. Para ele, é como se a igreja tivesse
deixado sua doutrina num altar. “Não basta fazer uma bela teologia em pequenos
grupos se os católicos que foram batizados não são evangelizados”, disse o
cardeal.
Qual será o
perfil religioso do brasileiro no futuro? O fim inevitável e cada vez mais
próximo da hegemonia católica no País desperta a curiosidade dos especialistas
sobre como será a identidade cultural das futuras gerações, afinal, a grave
mudança no perfil religioso altera também os costumes e a própria consciência
coletiva.
Fernando
Altemeyer, professor de ciência da religião da PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo), aposta numa pulverização religiosa.“A tendência é de
que a religião seja cada vez mais plural e não concentrada em um ou dois
segmentos como acontece hoje”, afirmou. Segundo ele, até dentro da religião
evangélica deve ter uma migração entre os fiéis nos próximos anos.
Mas nem tudo são flores. Indiferente ao tom de
triunfalismo com o qual alguns líderes evangélicos comemoram o crescimento da
igreja, o teólogo presbiteriano Augustus Nicodemus Lopes, atual chanceler da
Universidade Mackenzie, avaliou que do ponto de vista cultural o Brasil pode
continuar o mesmo porque as igreja evangélicas estão adotando as velhas
práticas da igreja de Roma, incluindo a famigerada idolatria.
“Alguém pode
ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar
as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto, por
exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros. Da mesma
forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica”,
declarou.
Só haverá
motivos para comemorar de fato, ressalva o presbiteriano, quando os evangélicos
deixarem de copiar as práticas que definiram a identidade católica ao longo dos
séculos. As igrejas evangélicas ainda copiam, por exemplo, o sistema papal que
impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo. É daí, interpreta o
chanceler da Universidade Mackenzie, que surgem tantos autointitulados
apóstolos e bispos.
Augustus
Nicodemus Lopes também nota que o forte misticismo que o catolicismo brasileiro
gradualmente cooptou das religiões afro-brasileiras, presente nos milagres de
santos, no uso de relíquias, aparições de Cristo e de Maria, uso de água benta,
entre outros, também se infiltrou entre os protestantes.
“Hoje há um
crescimento espantoso entre setores evangélicos do uso de copo d’água, rosa
ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, oração no monte ou no vale. É
infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo. Esse
fenômeno só pode se explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo
misticismo impresso na alma católica dos evangélicos”, acrescentou o teólogo.
Referendando
a avaliação do presbiteriano, os dados do Censo 2010 mostram que a migração de
católicos é maior em direção às igrejas pentecostais e neopentecostais, que
concentram práticas acima descritas. O perfil religioso será uma fusão do
catolicismo com o pentecostalismo?
“O
anticatolicismo brasileiro se concentrou apenas na questão das imagens e de
Maria, e em questões menores como não fumar, não beber e não dançar. Não foi e
não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros
pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro. Eu me pergunto
se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um
filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neocatolicismo tardio”,
respondeu Augustus Nicodemus.
Papa quer fiéis mais disciplinados
Fortalecer a
doutrina entre os fiéis é justamente uma das missões que o Papa Bento XVI
apresentou como prioridade de seu pontificado. Paradoxalmente, isso pode ter
causado ainda mais baixas na igreja. Os católicos nominais foram
particularmente desconfortados pela exortação do Papa sobre o divórcio e o
segundo casamento.
Logo no
começo do seu pontificado, Bento XVI assustou os fiéis mais liberais com uma
mensagem duríssima contra o divórcio. “Os que se divorciam estão arruinando a
vida de muitas crianças, que se sentem órfãs não por ficarem sem pais, mas por
terem muitos pais”, declarou o chefe da Igreja Católica para desgosto geral.
Ao condenar
de forma contundente a prática disseminada entre os seus, Bento XVI sinalizou
que os que se dizem católicos, mas não têm compromisso com a igreja sofrerão
constrangimento. Do ponto de vista puramente pragmático, a atitude de confronto
do pontífice pode parecer uma espécie de autossabotagem. Mas pode ser que o
líder católico prefira uma igreja mais coesa a uma igreja de massas.
Para o
filósofo e teólogo Luiz Felipe Pondé, professor da PUC-SP, a perda de fieis é
um preço que o pontífice está disposto a pagar em nome de um rebanho mais
disciplinado, do ponto de vista doutrinário. Pondé acredita que Bento XVI deixa
patente que não está tão preocupado com a quantidade, mas com a qualidade dos
fiéis que povoam seu rebanho. E isso está mudando a face da Igreja Católica.
“Bento XVI
quer deixar claro que esse montão de descasados ‘peca’, passando para os jovens
o exemplo do que não deve ser feito. A lógica dele é a seguinte: ‘Nós não vamos
mais fazer acordo com católico meia-boca. Você quer ser católico, mas é
separado? Tudo bem, vai continuar católico, mas vamos lembrá-lo que fracassou
com a família. Nós não vamos deixar você pensar que descasar é legal porque,
afinal, você partiu para outra’. O católico terá a consciência de que se não
conseguiu manter a família fracassou no que interessa, pois ela é sagrada, os
filhos não são seus, mas são de Deus”, afirmou o filósofo, para quem o Papa é
intencionalmente impopular.
Bento XVI
não titubeou em criticar também políticos e governos que se associam com a
Igreja Católica, mas traem seus dogmas em questões fundamentais. Quando veio ao
Brasil em 2007, o pontífice lançou um ataque do próprio voo entre Roma e São
Paulo, quando criticou os políticos que se dizem católicos, mas são favoráveis
ao aborto.
Aos jornalistas
que o acompanhavam no avião, o Papa disse que políticos que agissem daquela
forma poderiam ser excomungados. O recado foi enviado para deputados, senadores
e políticos que votassem a favor de uma proposta de lei do aborto.
“Bento XVI
entende que a Igreja é uma instituição que contempla a eternidade, enquanto a
gente está mais preocupado com o que vai acontecer no mundo nos próximos dez
anos. Claro, há o risco de perder fiéis, mas o pontífice entende que não deve
ter medo do mal e nem fazer acordo com ele”, completou Pondé.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
http://sentircomaigreja.blogspot.com.br/ (blog
católico)
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