O cérebro humano é um mistério
ainda para a ciência. Centenas de pesquisas são realizadas para entender essa
máquina. E quais são os efeitos da fé sobre o nosso cérebro? A resposta para
essa pergunta também tem sido buscada por cientistas que querem entender a
ligação.
Essa busca por resposta
científica sobre a fé é assunto da segunda reportagem da Série 'FÉ', exibida
pela TV Tem nesta terça-feira (1º). As exibições seguem até sexta-feira (4)
abordando assuntos como cura, ciência, mercado, manifestações e história das religiões.
Na primeira reportagem, nesta segunda-feira (31), a abordagem foi sobre as
diversas religiões existentes no mundo.
Fé e razão por muito
tempo se estranharam. Aos poucos, começaram a se conhecer e dessa união surgem
respostas que explicam muito sobre a nossa capacidade de acreditar no que para
o homem é impossível. Mas este é só o começo de uma conversa que tem muito a
revelar.
De acordo com o neurocirurgião
Raul Marino Júnior, um dos mais importantes neurocirurgiões do país, cientistas
já responderam muitas perguntas sobre a máquina que nos comanda. Mas algumas
áreas ainda estão em constante pesquisa. A ciência descobriu porque andamos,
armazenamos informações e até de onde vem algumas doenças, mas sobre a fé, a
pergunta que norteia as pesquisa é se o cérebro seria o responsável pela
produção do que acreditamos.
Depois de muita
resistência, a ciência aceitou o desafio de estudar a fé e a ligação com o
cérebro. Marino realizou pesquisas no Brasil, nos EUA e no Canadá. Em 2007,
lançou o livro 'A religião do cérebro : as novas descobertas da neurociência a
respeito da fé humana'. Segundo Marino, o cérebro humano tem 100 bilhões de
células nervosas conectadas. Como em uma orquestra, cada neurônio
trabalha individualmente e de forma harmoniosa. Juntos regem a nossa vida.
“O cérebro armazena e é
capaz de gerar funções que podem ser explicadas pela neurologia. Quer dizer,
como é que o cérebro funciona para que o indivíduo possa ter sua consciência,
possa saber o que é alma, o que é espírito, o que é vontade, o que é fé.
Acreditamos que a fé está toda controlada por esta ‘coisa'. Por esta rede de
neurônios que são células cerebrais que dão ao homem uma coisa que os animais
não têm: a capacidade de pensar abstratamente, criar uma metafísica, criar um
sistema filosófico, espiritualizado de religião. Quando o homem começa a se dar
conta que ele não é só matéria, que ele deve ter algo por trás, um sopro
qualquer que dá a vida pra ele - ele não sabe como surgiu - não adianta você
querer explicar as coisas só pela ciência”, diz.
A palavra fé vem do
latim fidis, que é fiar-se, ter confiança. E é à fé que a esteticista
Cristiane Zaglobinski Santos atribui a cura do filho Rômulo. Há dois anos,
quando estava com sete meses de vida, ele foi diagnosticado com pré-leucemia. A
mãe conta que ao saber da doença, ficou abalada. "Ele ainda não tinha o
câncer, mas teria que fazer o tratamento como se fosse para não entrar na
leucemia propriamente dita". O menino foi acompanhado por um médico de
Sorocaba (SP) e a mãe foi convidada a participar de um grupo de oração.
“A gente fazia as rezas e colocamos o nome dele para ser atendido. Depois de um
tempo, quando voltei ao médico e ele abriu os exames, parou e me perguntou o
que eu tinha feito. Cheguei a levar um susto achando que tinha feito algo
errado e prejudicado a saúde do meu filho. Mas foi ao contrário. O médico me
disse: seu filho não tem mais nada”, relembra a mãe.
Para o pai, Marcelo
Alves Furian, a cura do filho foi devido à fé. "É a única explicação
plausível que encontro", diz.
Nessa busca por
explicações sobre os efeitos da fé na vida das pessoas, pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP) se reúnem uma vez por semana para discutir a
relação entre saúde, espiritualidade e religiosidade. De acordo com o
psiquiatra Frederico Camelo Leão, a condição de fragilidade humana em conexão
com algo maior - seja esse algo maior, deus, o universo, todo absoluto - o
inserem, fortalecem. “Além de relações de apoio social, um grupo religioso, por
exemplo, que comunga da minha fé e que tem uma forma de fortalecimento disso é
uma forma positiva de que a fé venha beneficiar o enfrentamento da doença e a
saúde”, comenta.
Para a coordenadora do
Museu de Anatomia da USP, Maria Inês Nogueira, quando a pessoa acredita em
algo, o cérebro reage de outra maneira. “Ele reage produzindo substâncias que
ajudam você a caminhar de forma melhor ou identificar aquilo que você acredita
que seja mais adequado para realizar o seu objetivo”, diz.
Ondas cerebrais
O pesquisador Marino conheceu e trabalhou com Michael Persinger, um fisiologista e psicólogo canadense, que pesquisou de que maneira o cérebro responde a estímulos eletromagnéticos. As pesquisas foram feitas com voluntários durante preces por meio de equipamentos que detalham o cérebro. Persinger criou uma espécie de capacete, apelidado de ‘capacete divino’.
O pesquisador Marino conheceu e trabalhou com Michael Persinger, um fisiologista e psicólogo canadense, que pesquisou de que maneira o cérebro responde a estímulos eletromagnéticos. As pesquisas foram feitas com voluntários durante preces por meio de equipamentos que detalham o cérebro. Persinger criou uma espécie de capacete, apelidado de ‘capacete divino’.
A equipe médica percebeu
que quando entramos em estado de contemplação, algumas áreas do nosso cérebro
são ativadas. O lobo pré-frontal, responsável pelo controle das emoções e o
lobo frontal aumentam de tamanho. Outra área ativada é o lobo temporal. Segundo
Marino, pela estimulação cerebral, com aparelhos especiais, ou também pelo
eletroencéfalograma, os especialistas perceberam que existe um quarto estado de
consciência, que é o estado de meditação.
O psicobiólogo Marcello
Árias, outro especialista nessa linha de pesquisa, explica que quando essas
ondas eletromagnéticas atingem o lobo temporal esse indivíduo que está em um
quarto escuro, fechado, começam a relatar experiências que podem sim serem
místicas.
Marcello Árias estuda a
interferência do nosso organismo sobre as funções mentais. Árias já escreveu
vários livros sobre o assunto e faz um alerta. “Eu não afirmaria que o homem
tem necessidade de religião. Ele tem a necessidade da espiritualidade. A
espiritualidade como busca de sentido à vida.
As religiões vieram a
posteriori. Elas são institucionalização da espiritualidade, porque eu posso
muito bem ser uma pessoa espiritualizada e crente sem estar vinculado a nenhuma
religião”, comenta.
Ainda segundo Árias, os
neurocientistas começaram a identificar algumas pequenas estruturas, alguns
pequenos comportamentos neurobiológicos que podem sim nos diferenciar. “Você
pode ter nascido com uma maior probabilidade, uma maior tendência de
desenvolver circuitos neurais que te capacitam vivenciar uma experiência que
pode ser por você definida como uma experiência mística, transcendental. Em
contrapartida, você pode ter pessoas que mesmo orando, que mesmo participando
de rituais, que mesmo profundamente, não consigam ter estas expansões de
consciência, estas experiências ditas místicas, religiosas”, completa.
Fé
e cérebro
Ainda das pesquisas divulgadas temos então como localizar a fé em nosso cérebro? O neurocirurgião Eduardo Carlos da Silva, de São José de Rio Preto (SP), acredita que sim. Segundo ele, pesquisadores americanos chegaram a definir o local exato que nos conecta com o divino. “Uma área que está sendo chamada de 'Ponto de Deus', na região temporal anterior do cérebro. Nessa área há a maior captação de metabólicos. Há um metabolismo evidenciado pela ressonância magnética funcional. Através do eletroencéfalograma, é possível perceber a produção de ondas maiores, gamas, que varia de 38 a 100hertz por segundo. Nessa situação, pode ser realizado o maior incremento - não só de atividade metabólica - mas também de atividade elétrica”, diz.
Ainda das pesquisas divulgadas temos então como localizar a fé em nosso cérebro? O neurocirurgião Eduardo Carlos da Silva, de São José de Rio Preto (SP), acredita que sim. Segundo ele, pesquisadores americanos chegaram a definir o local exato que nos conecta com o divino. “Uma área que está sendo chamada de 'Ponto de Deus', na região temporal anterior do cérebro. Nessa área há a maior captação de metabólicos. Há um metabolismo evidenciado pela ressonância magnética funcional. Através do eletroencéfalograma, é possível perceber a produção de ondas maiores, gamas, que varia de 38 a 100hertz por segundo. Nessa situação, pode ser realizado o maior incremento - não só de atividade metabólica - mas também de atividade elétrica”, diz.
O neurocirurgião Raul
Marino Júnior complementa que existem ondas quando estamos desperto, as ondas
rápidas, as ondas quando o indivíduo está em estado de coma, que são ondas
muito lendas, e tem as ondas quando você está dormindo, que são ondas muito
específicas. “Mas quando a gente está meditando, existe um tipo característico
de onda que mostra que a pessoa está em transe. É um transe benigno, melhor que
o sono”, explica.
Mas qual é a
interferência dessa mudança fisiológica em nosso dia-a-dia? No primeiro
semestre de 2012, o Brasil das diferentes religiões se uniu em uma corrente de
fé pela recuperação de Pedro, filho do cantor Leonardo. Pedro voltava de um
show quando o carro em que ele estava capotou na divisa dos estados de Minas
Gerais e Goiás. O cantor ficou internado na capital paulista por 81 dias.
Destes, 31 em coma. A recuperação rápida foi atribuída à fé.
O psicobiólogo afirma
que todos tentam explicar, mas ninguém chega próximo de uma explicação que seja
uma explicação plausível. “Então ainda estamos engatinhando. É um terreno
absolutamente espinhoso, arenoso, mas a neurociência começa a nos conceder
algumas respostas sobre a peculiaridade da biologia do funcionamento do cérebro
durantes estes transes religiosos”, afirma.
Fonte: http://g1.globo.com
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