Introdução
Praticamente não nos envolvemos em debates acerca da
composição e extensão das Escrituras do Antigo e Novo Testamento. Isso porque
já nascemos com uma Bíblia na mão, não importa a tradição. As Sociedades
Bíblicas já nos entregam a “bíblia” pronta e não percebemos que a “Coleção de
Escritos” ali contida tem um longo processo de formação e calorosas discussões.
Premissas acerca da Autoridade da Igreja, Inspiração dos Textos Sagrados, de
sua Preservação, da Revelação e outros assuntos são subjacentes à Canônica 1.
Embora o resultado da forma final das “bíblias”2 seja decisão Conciliar como veremos abaixo, é
preciso um exame histórico-teológico da questão. Como diz F. F. Bruce3 :
A crença cristã histórica é que o Espírito Santo, que
presidiu à formação de cada um dos livros, também lhes dirigiu a seleção e
incorporação, continuando assim a cumprir à promessa do Senhor de que ele
guiaria os discípulos a toda verdade. Isso, no entanto, só pode ser discernido
por uma percepção espiritual, e não por uma pesquisa histórica. Nosso
propósito, então, é averiguar o que a pesquisa histórica revela sobre a origem
do cânon neotestamentário. Alguns dirão que nós aceitamos os vinte e sete
livros do Novo Testamento pela autoridade da Igreja, mas mesmo assim como essa
instituição veio a reconhecer esses livros, e nenhum outro mais, como dignos de
serem colocados no mesmo nível de inspiração e autoridade do cânon do Antigo
Testamento?
Essas indagações nos conduzem a ver que muitos aspectos
importantes acerca do Cânon ainda precisam ser debatidos. Para muitos, algumas
questões resolvem-se apelando para as mesmas decisões conciliares. Por exemplo,
entre os Protestantes, especialmente aqueles ligados à Confessionalidade
Histórica, pode-se simplesmente apelar para uma Confissão e dar a discussão por
encerrada. Vejamos o caso de nossos Símbolos, especialmente em sua Confissão de
Fé. No Capítulo I e § 2 e 3, diz o Símbolo sobre a extensão do Cânon:
II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus
escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que
são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e
de prática: O Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I
Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. O Novo Testamento: Mateus,
Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I
Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João,
II João, III João, Judas, Apocalipse. III. Os livros geralmente chamados
Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da
Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo
algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.
Note que a CFW apresenta os 66 livros como o temos hoje nas
Bíblias Protestantes, bem como a rejeição dos livros chamados apócrifos, mas
não apresenta os critérios para esta coleção. Houve um longo processo histórico
para aceitação e, ainda hoje, pelo menos entre os Protestantes, não há mais
discussão sobre tal extensão.4 No
entanto, as Bíblias Católicas possuem uma extensão diferente dos Protestantes.
O estudo do Cânon é importante para que se possa obedecer a
Deus de forma correta e não incorrer em morte: “Porque esta palavra não vos é
vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na
terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir” (Dt 32. 47).
Nome e
Conceito (Canonicidade e Apócrifos) 5
A palavra Cânon (kanw,n), de origem semita, significa cana de
medir ou régua. Segundo informa Philipp Vielhauer,6 o uso figurado do termo foi aplicado a
diversas áreas: estética, gramatical, hermenêutica, ética, filosófica e
religiosa. Passou a ter, então, o sentido de norma ou regra. O termo aparece 62
vezes no AT (Jó 31. 22; Is. 46. 6; 2 Rs. 18. 21).
No Novo Testamento (NT) a palavra kanón aparece 4 vezes: em
Gl 6. 16: “e, a todos quantos andam conforme esta regra”; Paulo usa no sentido
de regra moral ou lei moral e em 2Co. 10. 13, 15, 16, onde aparece
respectivamente “reta”, “nossa regra”, “além”, com o sentido de esfera de ação
demarcada por Deus.
Entre os Pais da Igreja, pode-se verificar que Clemente de
Roma usa a palavra como “cânon de obediência”. Clemente de Alexandria chama a
harmonia do Antigo e NT de “cânon eclesiástico”. Irineu, em referência ao Credo
Batismal, o chama-o “Cânon da Verdade”(kanw.n tn/j avlhqei,aj). Policarpo chama
o Evangelho de “Cânon da Fé”. As Sagradas Escrituras foram chamadas de “regra
(cânon) de todas as coisas”, enquanto Isodoro de Pelúsio a chama de “divinas
Escrituras, Cânon da Verdade”. Muitos são testemunhos antigos que poderiam ser
alistadas aqui para mostra que o termo “cânon” já estava sendo utilizado como um
padrão, uma regra.
É óbvio que a Igreja em si não precisou formar para si a
ideia de um cânon,7 até porque o
Cristianismo, como descendente do Judaísmo (At 9.2;24.5,14;28.22), não estava
sem uma “Escritura Sagrada”. Simplesmente, o Cristianismo recebeu como Palavra
de Deus as “Antigas Escrituras” como autoridade a priori.8 As palavras de Benjamin Warfield são
interessantes aqui. Diz ele:
A igreja cristã não precisou formar para si a ideia de um
‘cânon’ [...], ou seja, de uma coleção de livros dados por Deus para ser a
regra autoritativa de fé e prática. Ela herdou esta ideia da igreja judaica,
juntamente com a coisa em si, as Escrituras judaicas, ou o cânon ‘do Antigo
Testamento’ [...] A igreja cristã, portanto, nunca existiu sem a ‘Bíblia’ ou
sem um ‘cânon’ 9
Porém, o termo Cânon foi aplicado aos escritos do AT/NT no
4.º século e isso em dois sentidos: 10 primeiro, como “registro oficial”, um
“catálogo”, aplicado à lista dos livros reconhecidos na Igreja como escritos
sagrados. No segundo sentido, o termo foi usado como “norma normans” (norma
normativa), aplicado à Coleção de Escritos Sagrados como regra de ensino e vida
de igreja pelo conteúdo destes escritos. Portanto, quando a Igreja Cristã
recebeu e confirmou a lista dos livros aceitos e recebidos como inspirados, a
palavra cânon passou a ser usada para expressar o conteúdo das Escrituras como
se encontra nestes livros. Assim, “cânon é o corpo de escritos havidos por
únicos possuídos de autoridade normativa para a fé cristã, em contraste com os
escritos que não o são, ainda que contemporâneo”.
Quanto ao termo “apócrifo” (gr. Apokryphos), que significa
“oculto”, “secreto” ou “escondido”. Segundo Geisler,11 o termo “geralmente se refere a livros
polêmicos do AT que os protestantes rejeitam e os católicos romanos e as
igrejas ortodoxas aceitam”. Porém, os que aceitam tais livros os chamam de
“deuterocanônicos”, distinguindo, assim, dos livros do Cânon Judaico (AT)
chamado de Protocanônico.
O termo foi aplicado primariamente a “livros místicos de
sentido obscuro e esotérico que só se deveriam colocar nas mãos de uns poucos
iniciados, capazes, por isso mesmo, de os entenderem, pois ao povo em geral
eram inteiramente ininteligíveis”. Assim
foi chamado o livro de Zoroastro. Posteriormente o termo passou a designar a
literatura espúria, falsa ou fictícia e, por fim, aos heréticos. Daí “entre os
cristãos”, diz Bentezen , o termo significar os “escritos que estão excluídos
do Cânon”. Entre os Judeus havia um termo para diferenciar entre os Canônicos e
Apócrifos: “os que mancham as mãos” e “os que não mancham as mãos”.
A Revelação
Auto-Autenticada de Deus – Critério Primeiro para Canonicidade 14
Para nossa discussão neste escrito, propomos estudar o tema
do Cânon começando com o pressuposto da Revelação de Deus. Primeiro, porque,
como Cristãos, justificamos nossas crenças no próprio Deus e não nas opiniões
ou especulações humanas. Sendo assim, a Revelação é a garantia de nosso
conhecimento. Na Luz do Senhor vemos a Luz (Sal 36.9). Ora, se em Cristo Jesus
estão escondidos todos os tesouros da sabedoria, então o princípio de nossa
sabedoria começa com o Senhor Jesus e sua revelação auto-autenticada (Col 3.2).
Sendo assim, primeiramente trataremos da auto-autenticação
dos Documentos Bíblicos, percebendo que não é a Igreja que tem autoridade sobre
as Escrituras, mas, sim ao contrário: as Escrituras, sendo Revelação de Deus,
têm autoridade sobre a Igreja. Diferente dos Romanistas, não repousamos a nossa
fé na Tradição, mas sobre o testemunho de Deus como registrado em sua Palavra.15 São apropriadas as palavras de Charles
Hodge16:
Não cremos que o Novo Testamento seja divino com base no
testemunho da Igreja. Aceitamos os livros incluídos nas Escrituras canônicas
sobre a dupla base da evidência interna e externa. Pode-se provar
historicamente que esses livros foram escritos por homens cujos nomes carregam;
e pode-se também provar que esses homens foram instrumentos devidamente
autenticados do Espírito Santo. A evidência histórica que determina a autoria
do Novo Testamento não é exclusivamente a dos pais cristãos. O testemunho dos
escritores pagãos é, em alguns aspectos, de maior peso que o dos próprios pais.
Podemos crer no testemunho da testemunho da história inglesa, eclesiástica e
secular, de que os Trinta e Nove Artigos foram elaborados pelos reformadores
ingleses, sem sermos tradicionalistas. De igual forma, podemos crer que os
livros do Novo Testamento foram escritos pelos homens cujos nomes carregam sem
admitir a tradição como parte da regra de fé. Além disso, a evidência externa
de qualquer gênero é uma parte bastante subordinada do fundamento da fé
protestante nas Escrituras. Esse fundamento é principalmente a natureza das
doutrinas nela reveladas, bem como o testemunho do Espírito, com e pela
verdade, ao coração e à consciência. Cremos nas Escrituras pela mesma razão que
cremos no Decálogo.
Sendo assim, o fundamento para aceitação dos Livros
autoritativos independe de alguém reconhecer ou não sua canonicidade. Antes, a
“natureza (ou razões) da canonicidade é, portanto, logicamente distinta da
história (ou reconhecimento) da canonicidade”. 17 Então, de que depende? Tenho,
dentro deste arcabouço pressuposicional, que dois fatores são primordiais. O
primeiro, a Inspiração torna a autoridade de um livro reconhecidamente divino.
Se Deus falou, o que ele diz é autoridade suficiente. Na entrega de Sua
Palavra, Deus mesmo é a sua garantia Cf. Gn 22. 16; Hb 6.13). Independente da
resposta humana, os escritos são, em si mesmo, canônicos. A Escritura,
portanto, não se torna divina através de reconhecimento individual ou
coletivo18 . Pode parecer que esse critério seja subjetivo, mas não é. Antes,
ele é corroborado pela própria Escritura (Deut. 4.2; Pv 30. 5, 6; Apoc. 22. 18,
19). 19 Segundo, aliado à Inspiração, temos também a Providência. Nem tudo que
Deus revelou foi preservado ou escrito (Nm 21.14; Js 10. 31; 2Cro 9.29; 12.15;
Jo 21.25; 1Co 5.9; 12.28; 2Co 2.4; 7.8; 12.4, 7; Rev. 10.4), nem por isso era
menos autoritativo do que o que foi escrito e preservado. O Cânon para e da igreja,
então, deve ser aquele que foi inspirado e preservado.20
Nesse sentido, o que temos? Das coleções mais antigas da
Bíblia, iniciando pelos Dez Mandamentos,21
quando o próprio Senhor escreveu as Tábuas (Êx. 31.18), lemos também: “E
aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de
Deus, esculpida nas tábuas”(Êx 32.16; Dt 4.13; 10.4). As Tábuas foram guardadas
e preservadas na Arca da Aliança (Dt 10.5). A partir daí, a revelação escrita e
que seria preservada cresce por meio da daqueles a quem o Espírito Santo falou
(2Pe 1.21). Desse modo, Moisés, como profeta de Deus (Dt 34.10), recebeu de
Deus a ordem para escrever sua revelação (Dt 31. 24 – 26; Êx 17.14; 24.4;
34.27; Nm 33.2; Dt 31.22). O mesmo se deu com Josué (Js 24.26). Wayne Grudem
chama a atenção de que esse acréscimo feito por Josué seria impensável frente à
advertência de nada acrescentar à Palavra de Deus (Dt 4.2; 12.32). 22 A
conclusão é que, ou Josué desobedeceu ou que estava tão certo de que o que ele
escrevia era revelação autorizada de Deus. Os Escritos de Moisés foram
recebidos como Palavra de Deus. Por exemplo, de Josué, que recebeu a ordem de
estudar e guardar as palavras reveladas a Moisés (Js 1. 7,8) a Malaquias (4.4 –
6), a Lei revelada a Moisés considerada como a Palavra de Deus, não sendo
preciso um concílio (ou a antiga igreja) a definir sua canonicidade.
Especialmente relevante é o aumento dos escritos por parte
dos profetas (Cf. 1Sm 10.25; 1Cr 29.29; 2Cro 20.34; 1Rs 16.7; 2Cr 26.22; 32.32;
Jr 30.2). A partir de então, cada escrito inspirado era reconhecido (testemunho
interno do Espírito Santo?) por outros profetas. Daniel (9.2) reconheceu a
autoridade dos escritos de Jeremias (25. 11, 12)23. O mesmo aconteceu com o trato que Jeremias
deu a Miquéias(Jr 26.18), que o precedeu 125 anos antes.24 Por volta de 435 a.C, já não mais havia
acréscimo ao que ficou conhecido como “Tríplice Divisão”. Na literatura judaica
após este período, estabelecido estava a certeza que não mais havia novas
palavras dos profetas. Por exemplo, em 1Macabeus (9.27) se diz: “Israel caiu
numa tribulação tão grande como não houvera desde que cessaram os
profetas”. Sabedoria de Ben Siraque,
também conhecido como Eclesiástico (c. 200-180), já mostra que o Antigo
Testamento encontrava-se organizado em “a Lei, os Profetas e os outros
Escritores”(Prólogo. Cf. 49.8 -10; 44 – 50). O segundo livro de Macabeus (c.
104-64 a.C; 2.13) relata os livros sagrados já reconhecidos, entre eles as
“Memórias de Neemias”, os “livros referentes aos reis e aos profetas, os
escritos de Davi e as cartas dos reis sobre as oferendas”. Digno de nota é que,
já no período cristão, não encontramos absolutamente nenhuma discussão entre
Jesus e os Líderes Religiosos de Israel sobre a extensão do Cânon do Antigo Testamento.
Antes, as referências às Divisões do Antigo Testamento são abundantes (Lc
24.44; Cf. Mt 5.17; Lc 16.16,17). 26
O mesmo pode ser dito Acerca do Novo Testamento. A comunidade
cristã primitiva recebeu o Antigo Testamento como o temos hoje (Cf. Rm 3.2).
Aqueles que foram comissionados por Cristo estavam cientes de que suas palavras
eram revelação, a ponto de colocarem-na ao lado do Antigo Testamento. Segundo
Vilhauer.27
O fato de que o cristianismo primitivo possui, desde o
início, uma “Escritura Sagrada” no posteriormente assim chamado AT e que o
usava, fornece critérios para o reconhecimento da canonicidade de um escrito
cristão: um escrito cristão somente atingiu a categoria de uma ‘escritura
sagrada’, portanto, validade canônica, quando é tratado do mesmo modo como o
AT. Isso quer dizer, quando é usado como grafh,, e isso se revela no modo de
citação. Portanto não já pelo simples fato de um escrito cristão ser citado
tacitamente em outro escrito, e, sim, primeiro quando é citado, como o Antigo
Testamento, como grafh, - por meio de fórmulas como le,gei h` grafh, (Gl 4.30),
w`j kaqw.j ge,graptai (1Co 1.31; Rm 1.17, et passim), ou le,gei to. pneu/ma to.
a[gion (Hb 3.7) – ele está no mesmo nível do AT, Sagrada Escritura, “canônico”.
Percebemos que o critério revelacional, ao invés do
institucional, foi prioritário na aceitação de um corpus canônico
neotestamentário. O reconhecimento Apostólico28, à semelhança do reconhecimento profético,
estava no fundamento para a autoridade do Novo Testamento. Tal como no Antigo
Testamento, o Novo Testamento também fornece as indicações de sua canonicidade.
Por exemplo, acerca das Cartas Paulinas, elas deveriam ser lidas publicamente
nas igrejas. Em 1Tessalonicenses 5.27, Paulo “conjura” “pelo Senhor” que sua
epístola fosse lida em todas as igrejas. Essa ordem só faria sentido dentro da
concepção de que o que Paulo escrevia teria que ser considerado ensinamento do
Senhor para a Igreja (Cf. Col 4.16). Com essa convicção, Paulo considerava que
suas palavras eram aquelas que o “Espírito Santo” ensinava (1Co 2.13) de modo
que suas instruções eram de autoridade divina. Diz o Apóstolo: “Se alguém cuida
ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são
mandamentos do Senhor”(1Co 14. 37). Não por menos que a Igreja recebeu seus
escritos como Palavra de Deus (1Tes 2.13; 2Tes 2.15) e que aqueles que não
atentassem para suas Palavras, não deveriam ter associação com os Crentes. Diz
ele: “Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal,
e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe”(2Tes 3.14).
De igual modo, outros escritos apostólicos também foram colocados
lado a lado com o Antigo Testamento. Assim fez Pedro, por exemplo, pondo as
Cartas de Paulo29 ao lado das “demais Escrituras” que eram deturpadas pelos
indoutos. Paulo também não tem o menor constrangimento ao ladear, chamando de
Escritura, as palavras de Moisés junto ao Evangelho de Lucas (1Tm 5.18; Dt
25.4; Lc 10.7). De acordo com o argumento de Grudem: 30
Se aceitamos os argumentos favoráveis ao ponto de vista
tradicional da autoria dos escritos neotestamentários, então a maior parte do
Novo Testamento pertence ao cânon por causa da autoria direta dos apóstolos.
Isso incluiria Mateus; João; Romanos a Filemon (todas as epístolas paulinas);
Tiago; 1 e 2 Pedro; 1, 2 e 3 João; e Apocalipse.
Mas, não consta acima os Evangelhos de Marcos, Lucas, Atos,
Hebreus e Judas. Ora, o que sabemos acerca de Jesus Cristo depende da palavra
escrita nestes Evangelhos. A proximidade dos relatos nas narrativas é tanta
que, a rejeição de um deles implicará a rejeição dos outros.31 Por exemplo, 606 dos 661 versículos de Marcos
aparecem em Mateus. Dos 1068 versos de Mateus, cerca de 500 também se acham em
Marcos. Há apenas 31 versos que estão em Marcos, mas não estão em Mateus e
Lucas.32 A relação entre Lucas e Mateus
e Marcos é também considerável. Mateus e Lucas possuem 250 versos em comum, sem
qualquer paralelo com Marcos. Ou seja, Mateus e Lucas compartilham de
informações que Marcos não possui. Lucas compartilha 380 versos com Marcos,
embora com poucas variações. Se o Evangelho de Lucas é, então, aceito como
canônico pela comunidade primitiva, o mesmo se deu com Atos, também escrito por
Lucas. Além do mais, tais escritos não apostólicos circularam lado a lado com
os Escritos Apostólicos, tendo, portanto, o testemunho pessoal dos Apóstolos
para confirmação da autoridade divina dos livros. 33
Em tudo isso, verificamos que os Escritos Apostólicos,
diferentemente dos Apócrifos, foram recebidos como um “corpo de verdade”, um
“depósito”(1Tm 6.20, 21; 2Tm 2.14) ou, como diz o escritor Judas, “a fé que uma
vez foi dada aos santos”(Jd 3), certamente pelos Apóstolos e Profetas, os
Fundamentos da Igreja (Ef 2.20), de cujas palavras os Cristãos deveriam
lembrarem-se (Jd 17).
Frederick F. Bruce,34
após exaustiva pesquisa sobre a formação do Cânon, escreveu: “Portanto,
todas as reivindicações para transmitir uma
revelação adicional... são alegações falsas... se estas reivindicações
são incorporadas nos livros que visam substituir ou completar a Bíblia, ou
assumir a forma de extra-tradições bíblicas, tais reivindicações são proclamadas
como dogmas pela autoridade eclesiástica”
E os outros
escritos? Aplicação da abordagem pressuposicional do Cânon das Escrituras
Bom, alguém talvez possa objetar afirmando que o que foi
escrito acima também possa ser aplicado aos Apócrifos (ou ao Corão, ou aos
Vedas etc), visto que a Igreja Romana aceita os “deuterocanônicos”. No entanto,
não foi se não em 1546, no Concílio de Trento, que a Igreja adotou tais livros
oficialmente. Historicamente, alguns dos Pais aceitaram alguns Apócrifos do
Novo Testamento. Por exemplo, a Epístola de Barnabé (c. 70-79 d.C), escrita por
Clemente de Alexandria, faz parte do Códice Sinaítico, manuscrito do século IV.
Ao mesmo tempo, escritos apostólicos tiveram sua autenticidade duvidada, como
foi o caso de Hebreus, Tiago e Judas.
Não é que o testemunho histórico seja sem importância.
Historicamente, os 27 livros do Novo Testamento já eram aceitos na comunidade
pós-apostólica desde cedo. D. A. Carson35
diz que “os quatro evangelhos, Atos, as 13 epístolas paulinas, 1 Pedro e
1 João são universalmente aceitos já bem cedo; a maior parte do restante do
cânon do Novo Testamento já está estabelecida à época de Eusébio (c. 260 – 340
d.C)”. Porém, a primeira lista a incluir apenas os 27 livros como o temos hoje,
é datada de 367 d.C numa carta escrita por Atanásio à igreja de Alexandria. No
Ocidente, o debate sobre a composição do Novo Testamento como o que temos hoje
encerra-se no Terceiro Concílio de Cartago (397), tendo a presença de
Agostinho.
A despeito disso, devemos sempre apelar para a autoridade
final da Revelação. Os Protestantes, além dos fatores históricos, devem
rejeitar os Apócrifos (AT/NT) com base na reivindicação da autoridade final,
especialmente na coerência da revelação. Como exemplo, podemos contrastar as
palavras de Paulo em Primeira Coríntios 14.37, 38; em Gálatas 1.8 com as
palavras do autor de Segundo Macabeus. Enquanto Paulo diz “se alguém cuida ser
profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos
do Senhor”(1Co 14.37), o autor de Macabeus diz: “Assim terminou a história de
Nicanor. Como desde esse tempo a cidade ficou em poder dos hebreus, eu também
porei aqui o ponto final em nossa história. Se consegui deixá-la bem escrita e
construída, isso é o que eu queria. Se saiu vulgar e medíocre, fiz o melhor que
podia”(2Mc 15.37,38). Em outra ocasião, o próprio autor de Macabeus reconheceu
que são “com textos da Lei e dos Profetas” que se devia exortar ao
encorajamento (15.9). Tais escritos não foram recebidos pelos crentes da Antiga
nem da Nova Aliança.
Sem contar os erros históricos, éticos e teológicos contidos
em tais livros36 . Por exemplo, Tobias (c. 200 a.C) alega ter vivido quando da
revolta de Jeroboão (c. 931 a.C) e a conquista de Israel pela Assíria (722
a.C), embora sua idade total, conforme registro, fosse de 158 anos (Cf. Tob
1.3-5; 14.11). De acordo com Judite, o rei da Assíria era Nabucodosor (Jud.
1.1, 7). Enquanto as Escrituras ensinam que Deus criou o mundo a partir do nada
(Gn 1.1; Hb 6.3), o livro de Sabedoria ensina que havia matéria (7.17) e
Segundo Macabeus ensina a oração pelos Mortos (12.45, 46).
Por fim, perceba no quadro abaixo a maneira correta de
discutir o assunto: 37
Idéia Incorreta de
Canonicidade Idéia Correta de
Canonicidade
A Igreja é a Determinadora do Cânon. A Igreja é a Descobridora do
Cânon.
A Igreja é a Mãe do Cânon A Igreja é a Filha do Cânon.
A Igreja é o
Magistrado do Cânon. A Igreja é a Ministra do Cânon.
A Igreja é a
Reguladora do Cânon. A Igreja é a Reconhecedora do Cânon.
A Igreja é o Juiz do
Cânon. A Igreja é a Testemunha do Cânon.
A Igreja é a Mestra
do Cânon. A Igreja é a
Serva do Cânon.
Conclusão
Obviamente, questões outras são levantadas e passíveis de
muitas discussões. Dentre elas, a do fechamento do Cânon e a se há ou não a
possibilidade de novas revelações escritas.
Obviamente, questões outras são levantadas e passíveis de
muitas discussões. Dentre elas, a do fechamento do Cânon e a se há ou não a
possibilidade de novas revelações escritas.
Porém, talvez a mais contemporânea seja a desconfiança do
Cânon como o temos hoje. Especialmente no ressurgimento dos escrito
Gnóstico38 e por Críticas
cinematográficas ao Cristianismo Tradicional ,39 mas não menos em segmentos que
agora não se denominam mais como igrejas.40
No primeiro caso, a crítica é histórica, procurando compreender as
razões que levaram ao Cristianismo a rejeitar os Gnósticos.41 Não é muito difícil reconhecer o motivo da
rejeição dos Escritos Gnósticos. Mas que a questão retorna ao cenário, tal como
nos primeiros séculos, como bem pode ser visto pelas obras polemistas do Dr.
Bart Ehrman.42
O segundo caso, e para mim mais preocupante, é fruto do
subjetivismo kierkegaardeano em nossa época. Por uma voz interior têm rejeitado
completamente as palavras das Escrituras43 . Aliás, encontramos a formulação de
um “cânon dentro do cânon”. Agora, os mais importantes são os Evangelhos
(Mateus, Marcos, Lucas e João) e não as Cartas Paulinas ou mesmo o Antigo
Testamento. Certo dia ouvi um líder de uma comunidade dizer: “Se o que Isaías
ou Paulo dizem for contrário ao que Jesus Cristo diz, então fico com Cristo”.
Até parece extremamente piedoso, mas a implicação é que a
Escritura, de Gênesis a Apocalipse, deve conter alguma contradição e, assim,
não é ela toda revelação de Deus. Tal postura denunciaria, nas palavras de F.F.
Bruce, 44 “uma incapacidade de apreciar o que realmente é o cânon [...]”. Além
de criar duas realidades hermenêuticas: 1) a do próprio Cristo e; 2) a dos
Apóstolos e Profetas. O resultado disso é a impressão de que os dois se
contradizem, como se as Palavras dos Apóstolos e Profetas também não fossem as
palavras de Cristo.45 Por exemplo, Pedro
disse que sobre os Profetas estava o Espírito de Cristo (2Pd 1.10-12). O Evangelho
de Paulo é o mesmo do de Cristo (Ef 3.1 – 11) e rejeitá-lo ou corrompê-lo é
tornar-se anátema (Gl 1.8). Desse modo podia Jesus dizer que consultando
Moisés, os Profetas e os Escritos, encontrar-se-ia o próprio Cristo, a vida
eterna (Jo. 5.39). A promessa feita a Abraão é chamada de Evangelho (Gal 3. 6)
e quem fez esta promessa foi a Escritura!
Para os neo-evangélicos, sempre que alguma coisa soar
(leia-se as palavras dos Profetas ou Apóstolos) diferente do que supostamente
Jesus falou,46 fica-se com o nível
infalível (as palavras que concordam com Cristo) e rejeita-se o nível falível
(as outras palavras). A conclusão seria: NEM toda ESCRITURA é DIVINAMENTE
inspirada. E também: ALGUMAS profecias da Escritura SÃO de PARTICULAR
INTERPRETAÇÃO (dos Profetas e Apóstolos).
A posição, portanto, é contraditória e perigosa. Assim, a
implicação de tal postura é uma espécie de fideísmo. Porém, não temos Cristo
sem Escritura; não temos Escritura sem Cristo. É Christus, Solus Christus EM
Tota Scriptura, Sola Scriptura!
____
1 A ciência bíblica responsável pela História da Bíblia, sua
Formação e Conteúdo é chamada de Isagógica.
Dentro da Isagoge há a disciplina que trata da doutrina do Cânon e as
razões para se ter os livros que se tem hoje, bem como os motivos de rejeição
de outros; chama-se Canônica (KERR, 1952). Ela estuda a história da fixação do
Cânon e é necessário que assim seja, pois as Escrituras não foram escritas
todas de uma só vez. Por cerca de quase 1500 anos e cerca de 40 autores estavam
envolvidos na tarefa de anunciar e registrar a Revelação de Deus primeiramente
ao Seu povo e depois a todos os homens.
2 Sim, bíblias no plural, visto que nas tradições Católicas
e Protestantes, existem “bíblias diferentes” quanto à extensão, tema de nosso
escrito.
3BRUCE, F.F. Merece Confiança o Novo Testamento? 3ªd.
Revisada. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2010, p. 29.
4Apesar de que haja acordos entre algumas Sociedades
Bíblicas para igualar a extensão. Os livros chamados “deuterocanônicos” ficariam no final das Bíblias Protestantes.
5Para um tratamento exaustivo de usos e definições, Cf.
COSTA, Herminsten Maia Pereira. A Inspiração e Inerrância das Escrituras. São
Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 15 – 62.
6 VIELHAUER, Philipp. História da Literatura Cristã
Primitiva – introdução ao Novo Testamento, aos Apócrifos e aos Pais
Apostólicos. Santo André: Acadêmica Cristã, 2005, p. 803.
7 WARFIELD, Benjamin B. A Inspiração e Autoridade da Bíblia
– a clássica doutrina da Palavra de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.
331.
8 VILHAUER, idem, p. 805. Cf. SCHREINER, Josef. O Novo
Testamento na Vida da Igreja. In: SCHREINER, Josef; DAUTZENBERG, Gerhard. Formas e Exigências do
Novo Testamento. 2ed. São Paulo: Ed. Teológica, 2004, p. 433 – 453.
9 WARFIELD, idem, p. 331.
10 VILHAUER, idem, p. 804.
11GEISLER, Norman. Enciclopédia Apologética – resposta aos
críticos da fé cristã. São Paulo: Vida Acadêmica, 1999, p. 47ss.
12 KERR, Guillherme. O Cânon do Antigo Testamento. São
Paulo: Imprensa Metodista, 1952, p. 143.
13 BENTEZEN, Aage. Introdução ao Antigo Testamento. vol. 1.
5ed. São Paulo: ASTE, 1959, p. 30.
14 Deixamos o aspecto histórico para um outro escrito.
15 HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos,
2001, p. 95..
16Idem, p.
96.
17 BAHNSEN,
Greg. L. The Concept and Importance of Canonicity. Antithesis I:5 (Sept./Oct.,
1990). Covenant Media Foundation. Disponível: <
http://www.cmfnow.com/articles/pt093.htm>.
18Idem.
19Nem tampouco o raciocínio circular. O que estamos fazendo
é apelando para um critério último de autoridade. Em qualquer filosofia ou
estudo, sempre se tentará apelar para uma “autoridade última ou fundamental”.
Ou seja, consciente ou inconscientemente, alguém pressuporá algum tipo de
autoridade final: Razão, Sensação, Revelação etc. Para mais informações, Cf.
FRAME, John. Apologética para a Glória de Deus – uma introdução. São Paulo:
Cultura Cristã, 2010, p. 17 – 20. Do mesmo autor consultar. A Doutrina do
Conhecimento de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 146 – 148.
20Veja como, daqui, é possível, então, extrair o segundo
fator apresentado por Hodge: o histórico.
21Cf. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida
Nova, 2000, p. 28, 29.
22Idem, p. 29.
23De acordo com o Dr. Walter C. Kaiser Jr. (The Old Testament Documents – Are they
reliable and relevant? Downers Grove, Ill: IVP, 2001, p. 33), na
passagem de Daniel 9.2, o profeta se refere aos escritos de Jeremias
demarcando-o pelo artigo: os livros. Isso é interessante porque dá-nos a
entender já haver um grupo chamado “os livros”.
24KAISER, idem, p. 33.
25SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. São Paulo:
Paulus, 2002 (itálicos meus). A versão Bíblia de Jerusalém (São Paulo:
Paulinas, 1993) diz: “foi esta uma grande tribulação para Israel, qual não
tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um profeta no meio deles”
26O Cânon Hebraico se compõe de três partes (SELLIN, E.; FORHER,
George. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Acadêmica Cristã/Paulus,
2007, p. 690, 691. ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura – a doutrina reformada das
Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p. 35) como se segue abaixo:
a. Torah (Lei): Equivale ao Pentateuco – Gênesis, Êxodo,
Levíticos, Números e Deuteronômio;
b. Nebhiim (Profetas): Divide-se em Rishonim (Primeiros) –
Josué, Juízes, Samuel e Reis. E Akharonim (Posteriores) – Isaías, Jeremias,
Ezequiel e Profetas Menores.
c. Ketubhim (Escritos): Subdivide-se em três grupos:
Poéticos – Salmos, Provérbios e Jó; Megilloth (Rolos) – eram lidos nos anos
litúrgicos – Cantares (Páscoa), Rute (Pentecostes), Lamentações (Quinto Mês),
Eclesiastes (Festa dos Tabernáculos) e Ester (Festa de Purim); Históricos –
Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.
27Idem, p. 807.
28Isso não quer dizer que todos os livros do Novo
Testamento, para ser considerado canônico, deveriam ser escrito por um
Apóstolo. A autoridade delegada dos Apóstolos a um colaborador também foi
reconhecida. Veja abaixo.
29Ainda é discutido se já havia aqui um Corpus Paulinum
completo.
30Idem, p. 34.
31Não temos, aqui, espaço para tratar do Problema Sinótico.
Recomenda-se, neste caso, o livro de F.F. Bruce já citado na bibliografia.
32BRUCE, idem, p. 41, 42.
33Note que não seria difícil para os Apóstolos fazerem
objeções sobre tais escritos (Gl 1.8-10; 2Tes 2.2; Jd 3, 4)
34Apud
BAHNSEN, idem.
35CARSON,
D.A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São
Paulo: Ed. Vida Nova, 1997, p. 548.
36BAHNSEN, idem.
37GEISLER, idem, p. 48, 108.
38 Escritos datados do final do século II, mas descoberto em 1946 Nag Hammadi, no Egito.
39 Especialmente nas ficções de Dan Brown. Cf. BROWN, Dan. O
Código da Vinci. São Paulo: Sextante,
2004.
40Agora são “comunidades”, “estações”, “projetos”, “ação”
etc. Em muitos casos, se opõe a aquilo
que chamam de “instituição”. No entanto, tentando evitar as instituições, criam
outras não tão institucionais assim, menos burocráticas e, supostamente
firmadas na graça, quando as outras que não elas estão na desgraça.
41 Como não temos espaço aqui para discutir o assunto,
recomendo o livro de JONES, Peter. A Ameaça Pagã – Velhas heresias para uma
nova era. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
42 EHRMAN,
Bart D. Lost scriptures: books that did not make it into the New Testament. New
York: Oxford University Press, 2003. The lost Gospel of Judas Iscariot: a new
look at betrayer and betrayed. New York: Oxford University Press, 2006. Lost Christianity: The Battles for Scripture
and the Faiths We Never Knew. New Yok: Oxford University Press, 2003. Jesus,
Interrupted: Revealing the Hidden Contradictions in the Bible (and Why We Don’t
Know About Them). HarperCollins, 2009. Em cada escrito, a crítica do Dr.
Ehrman dirige-se à autenticidade, credibilidade, inspiração, canonicidade e
preservação das Escrituras do Novo Testamento e do Cristianismo. Não é
possível, neste espaço, oferecer as respostas aos problemas levantados pelo Dr.
Ehrman. É suficiente dizer, por enquanto, que os problemas levantados pelo Dr.
Ehrman não são novos. Os interessados podem visitar o Ehrman Project,
responsável por oferecer sólidas respostas bíblicas, teológicas, históricas e
filosóficas aos questionamentos do Dr. Ehrman. Visite: http://ehrmanproject.com/index.
43Chamo a atenção para uma reivindicação semelhante nos
tempos de João Calvino(Inst. Livro I, cap. IX. Tradução da UNESP). Lá ele diz(§1): “Com efeito, há pouco
emergiram alguns transtornados que, arrogando-se pretensiosamente o magistério
do Espírito, desprezam a leitura e a simplicidade daqueles que seguem, como
dizem eles, a letra morta e que mata. Gostaria de saber deles quem é esse
espírito por cujo sopro de grandeza são tão arrebatados que ousam desprezar
como simples e pueril a doutrina da Escritura. Pois, se respondem que é o
espírito de Cristo, tal certeza é muito ridícula, pois concordam que os
apóstolos de Cristo e os outros fiéis da primeira Igreja não foram iluminados
por outro espírito. E nenhum deles, no entanto, aprendeu daí a desprezar a
palavra de Deus, mas antes cada um foi impregnado de um grande respeito por
ela, como seus próprios escritos atestam muito bem”. E ainda (§3): “Pois a Lei
do Senhor é letra morta e mata os que a lêem se a graça de Cristo; soa somente
aos ouvidos, sem tocar o coração. Mas, se é eficazmente impressa nos corações
pelo Espírito, exibe o Cristo e é palavra de vida, convertendo as almas,
emprestando sabedoria aos pequenos etc. [...Os filhos de Deus] não conhecem
outro Espírito que não aquele que nos apóstolos habitou e falou, por cujos
oráculos são frequentemente chamados à audição da Palavra”(grifos meus). Fica
claro que, se os neo-evangélicos não conseguem ver Cristo em Isaias ou em
Paulo, então não é o Espírito de Cristo quem os guia.
44BRUCE, F.F. O Cânon das Escrituras. São Paulo: Hagnos,
2011, p. 256.
45Há algumas Bíblias no Brasil que destacam as palavras de
Cristo em vermelho. Numa reunião de instrução ou ensino, alguém logo apela
dizendo: “mas essas são as palavras de Cristo”.
46Digo supostamente porque o neo-evangélico precisará
confiar, sob base alguma a não ser sua subjetividade, no que Mt, Mc, Lc e Jo
disseram DE e SOBRE Jesus, visto Jesus Cristo não haver deixado absolutamente
nada escrito, ao contrário, por exemplo, das Tábuas da Lei (Êx 32.16).
AUTOR
Gaspar de Souza
Ministro da Igreja Presbiteriana do
Brasil; Docente nos Seminários Presbiteriano do Norte - Recife; e no
Seminário Pentecostal do Nordeste nas áreas de Teologia Exegética e
Apologética. Mestrando em Teologia pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper
(Mackenzie). Casado e pai de duas lindas filhas.
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