Publicado em 2013-01-02
O presidente da Rede de Cuidadores revelou esta quarta-feira
que a associação recebeu várias denúncias de abusos alegadamente praticados por
sacerdotes ou responsáveis de instituições católicas, lamentando a atitude da
Igreja de "enterrar a cabeça na areia".
Álvaro de Carvalho divulgou um comunicado, a propósito do
processo do Seminário Menor do Fundão, que levou à detenção do vice-reitor por
suspeita de abuso de menores, por considerar essencial a associação dar "a
sua versão dos acontecimentos em termos dos factos para evitar mais
equívocos".
"Parece existir, por parte de alguns responsáveis da
Igreja católica, uma informação deficiente em relação à sequência de factos que
levaram à nossa tomada de posição há cerca de três semanas", disse o à
Lusa.
Desde a sua fundação, há cerca de três anos, a associação de
defesa de crianças vítimas de maus-tratos ajudou a prevenir e a resolver
inúmeras situações de violência em famílias, instituições e pessoas vítimas,
nomeadamente, de abusos sexuais infantis.
"Da experiência vivida por alguns dos elementos da Rede,
sabe-se que existem no nosso país, como aliás em todos os outros, estruturas
'secretas' muito poderosas, as quais são 'peritas' no alimentar de silêncios
cúmplices destes crimes, como de outros cujos contornos só são conhecidos
através da comunicação social e nem sempre de forma precisa e completa",
refere no comunicado.
Os casos referenciados à associação são sempre tratados com
uma "atitude discreta", no sentido de contactar inicialmente os
responsáveis da instituição em causa e esperar que haja uma resposta adequada.
Quando isso não acontece, a associação denuncia o caso a
outras instâncias, nomeadamente judiciais.
O caso do Fundão "teve este desenvolvimento por razões
que nos ultrapassam", lamentou, sublinhando que não foi a Rede que o
"detetou ou denunciou".
"Se tivesse sido, as vítimas já estariam a ser objeto do
indispensável apoio psicológico, proporcionado por técnicos credenciados e
independentes, bem como de apoio jurídico, que lhes permitisse, bem como às
suas famílias, começar a reparar os danos produzidos".
Segundo Álvaro de Carvalho, a associação recebeu "várias
denúncias de abusos levados a cabo por sacerdotes e/ou responsáveis religiosos
de instituições católicas ou no exercício quotidiano da sua atividade
individual", às quais foi dado encaminhamento.
Todas as situações estavam prescritas do ponto de vista
judicial e, por isso, não foi feita uma denúncia formal.
"Sabendo que os abusos sexuais de crianças são
praticados por pedófilos, uma perversão sexual com registo compulsivo (...)
dirigimo-nos sempre que necessário aos seus diretos responsáveis, com o
objetivo de impedir a continuação de tais práticas criminosas", sublinhou,
adiantando que "na maior parte das situações a Rede foi escutada".
"No que à Igreja Católica diz respeito, isso só
aconteceu quando os abusadores, já condenados, eram ex-seminaristas,
credenciados pela hierarquia, como os restantes, idóneos para exercer a
profissão de professores de Religião e Moral Católica".
Para o psiquiatra, a Igreja tem tido tradicionalmente um
comportamento de, perante um perigo, "enterrar a cabeça na areia, salvo
"raríssimas exceções".
"Tem havido um ou outro bispo [como no caso do Fundão]
que têm tido posições muito claramente distintas desta que parece continuar a
ser a atitude tradicional da Igreja".
Fonte: http://www.jn.pt/
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