quarta-feira, 30 de março de 2022

O CREDO DE ATANÁSIO

 



O Credo de Atanásio


ORIGEM 

O Credo de Atanásio, subscrito pelos três principais ramos da Igreja Cristã, é geralmente atribuído a Atanásio, Bispo de Alexandria (século IV), mas estudiosos do assunto conferem a ele data posterior (século V). Sua forma final teria sido alcançada apenas no século VIII. O texto grego mais antigo deste credo provém de um sermão de Cesário, no início do século VI. 

O credo de Atanásio, com quarenta artigos, é um tanto longo para um credo, mas é considerado “um majestoso e único monumento da fé imutável de toda a igreja quanto aos grandes mistérios da divindade, da Trindade de pessoas em um só Deus e da dualidade de naturezas de um único Cristo.” 


TEXTO 

1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal. 2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para sempre. 3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade. 4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância. 5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo outra. 6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-eterna majestade. 7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo. 8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado. 9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado. 10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. 11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno. 12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado. 13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. 14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente. 15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. 16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus. 17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. 18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. 19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores. 20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado. 21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado. 22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. 23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor. 25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada. 26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade. 27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo. 28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem. 29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe. 30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana. 31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade. 32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois mas um só Cristo. 33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua humanidade. 34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa. 35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo. 36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia. 37. Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. 38. Em cuja vinda, todo homem ressuscitará com seus corpos, e prestarão conta de sua obras. 39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o mal, para o fogo eterno. 40. Esta é a fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser salvo. 


Fonte:  http://www.monergismo.com/textos/credos/credoatanasio.htm


terça-feira, 29 de março de 2022

A MORTE DE JESUS: CARREGANDO A TRANSGRESSÃO

 


A morte de Jesus exprime o amor de Deus por nós e, assim, desperta nosso amor por ele. Entretanto, a ideia de que esse despertamento de amor resolve, por si só, as coisas entre nós e Deus é simplória demais. Precisamos de mais do que uma manifestação de amor, e “uma teologia da expiação procura unificar a profundidade da malignidade moral que o homem percebe em si mesmo e a obra de Jesus”. É em razão de a execução de Jesus envolver uma morte por nós que fez dela uma revelação da natureza de Deus; sua morte em nosso favor foi um meio de reconciliar, purificar, fazer restituição, libertar e vencer o mal. A morte de Jesus não foi algo tão sem sentido como um suicídio, mas também foi mais do que um martírio heroico.


Ao preestabelecer a morte de Jesus, Deus estava fazendo algo que afetava seu relacionamento conosco; isso fez de sua morte um ato de amor. Primeiro, porém, Jesus carregou nossa transgressão e, desse modo, efetivou nossa reconciliação.


Oferecendo reconciliação


O objetivo da ação de Deus em Jesus foi oferecer-nos reconciliação. Reconciliação, um tema central no Novo Testamento, não diz respeito em primeiro lugar à nossa atitude para com Deus, mas à atitude de Deus em relação a nós e aos nossos erros. Nas Escrituras, conversa de reconciliação pressupõe que a humanidade (judeus e gentios) saiu de um relacionamento harmonioso com Deus. Agimos como o marido que traiu a esposa, ou o filho que traiu o pai, ou o homem que roubou a namorada de seu melhor amigo. É normal que pai/esposa/amigo भquem irados. O contexto por trás da conversa da Escritura com respeito à reconciliação se baseia no fato de Deus estar irado conosco, embora também nos ame.


O Novo Testamento enfatiza o fato de Deus estar irado com o mundo, de ter expressado sua ira no passado, de fazer isso no presente e de que a expressará no futuro. “A ira de Deus se revela dos céus contra toda impiedade e incredulidade das pessoas, que suprimem a verdade pela incredulidade” (Rm 1:18). “Acumulas ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2:5). “A ira de Deus recai sobre pessoas desobedientes” (Ef 5:6). Podemos imaginar as pessoas rogando às montanhas: “Caiam sobre nós e escondam-nos do rosto daquele que se assenta no trono e da ira do cordeiro” (Ap 6:16).


Ao mesmo tempo, as Escrituras também reconhecem que Deus não tem o hábito de pôr sua ira em ação. O fato de ele nos dar Jesus para morrer por nós expressa seu comprometimento em se reconciliar conosco. “Enquanto éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus por meio da morte do seu Filho” e “tendo sido reconciliados, seremos resgatados por sua vida”, de modo que “exultamos em Deus por intermédio do nosso Senhor Jesus, o Ungido, por meio de quem recebemos agora a reconciliação” (Rm 5:8-11). Significa que podemos, de fato, ter paz com Deus e que não seremos vítimas de sua ira no futuro (Rm 5:1,9). 


Livro: Teologia Bíblica

Autor: John Goldingay

Editora: Thomas Nelson