O Antigo Testamento tornou-se "antigo" devido ao Novo Testamento. Já no nome "Antigo Testamento" - que, afinal, apenas se justifica pela contraposição ao Novo Testamento - oculta-se o problema da interpretação cristã deste corpus de tradição. Não obstante, este nome, marcado pela auto compreensão cristã, remonta ao próprio AT, mais precisamente à expectativa profética em relação ao futuro: depois do juízo, Deus se voltará novamente para o seu povo. Segundo a promessa de Jr 31.3lss., uma nova "aliança" (em latim testamentum) substituirá a antiga aliança rompida. Esta palavra já não mostra exemplarmente como o AT extrapola, supera a si mesmo na esperança? Tal expectativa, que transcende as sua" próprias realidades, pode ser retomada pela compreensão cristã. O Novo Testamento relaciona a promessa profética com o futuro que irrompeu em Jesus (cf. 2 Co 3; Hb 8). Todavia, o termo "antiga aliança" ou "testamento" não aparece ainda no Novo Testamento para identificar os livros do AT.
No Novo Testamento o Antigo Testamento é citado como autoridade (p. ex., Lc 10.25ss.), como "Escritura inspirada pelo Espírito de Deus" (2 Tm 3.16). O AT é considerado "a Escritura" ou "as Escrituras" pura e simplesmente (Lc 4.21; 24.27ss. e outras). Esta designação reflete o alto conceito de que goza e que, em certo sentido, é singular; não deve ser mal-entendida, contudo, no sentido de que o AT seja por sua natureza palavra codificada na escrita, o Novo Testamento, ao contrário, palavra viva, comunicada oralmente. Pois uma parte considerável do AT, sobretudo na mensagem profética, originou-se da pregação oral e mais tarde foi lida e comentada no culto (Ne 8.8; Lc 4.17).
O AT no seu todo é perifraseado no Novo Testamento também como "lei" (Jo 12.34; 1 Co 14.21 e outras), mais especificamente como" lei e os profetas" ou "Moisés e os profetas" (Mt 7.12; Lc 16.16,29; Rm 3.21 e outras) e, por fim, uma vez como "Moisés, os profetas e os salmos" (Lc 24.44). Esta designação, porém, implica um possível mal-entendido: o AT seria por sua natureza legalista. A "lei", contudo, não tem apenas caráter de mandamento (cf. Mt 22.40), mas também de profecia (Jo 15.25; Mt 11.13 e outras). Uma interpretação legalista de forma alguma corresponde à auto compreensão do AT.
Fonte: Introdução ao Antigo testamento - Werner H. Schmidt
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