terça-feira, 29 de março de 2022

A MORTE DE JESUS: CARREGANDO A TRANSGRESSÃO

 


A morte de Jesus exprime o amor de Deus por nós e, assim, desperta nosso amor por ele. Entretanto, a ideia de que esse despertamento de amor resolve, por si só, as coisas entre nós e Deus é simplória demais. Precisamos de mais do que uma manifestação de amor, e “uma teologia da expiação procura unificar a profundidade da malignidade moral que o homem percebe em si mesmo e a obra de Jesus”. É em razão de a execução de Jesus envolver uma morte por nós que fez dela uma revelação da natureza de Deus; sua morte em nosso favor foi um meio de reconciliar, purificar, fazer restituição, libertar e vencer o mal. A morte de Jesus não foi algo tão sem sentido como um suicídio, mas também foi mais do que um martírio heroico.


Ao preestabelecer a morte de Jesus, Deus estava fazendo algo que afetava seu relacionamento conosco; isso fez de sua morte um ato de amor. Primeiro, porém, Jesus carregou nossa transgressão e, desse modo, efetivou nossa reconciliação.


Oferecendo reconciliação


O objetivo da ação de Deus em Jesus foi oferecer-nos reconciliação. Reconciliação, um tema central no Novo Testamento, não diz respeito em primeiro lugar à nossa atitude para com Deus, mas à atitude de Deus em relação a nós e aos nossos erros. Nas Escrituras, conversa de reconciliação pressupõe que a humanidade (judeus e gentios) saiu de um relacionamento harmonioso com Deus. Agimos como o marido que traiu a esposa, ou o filho que traiu o pai, ou o homem que roubou a namorada de seu melhor amigo. É normal que pai/esposa/amigo भquem irados. O contexto por trás da conversa da Escritura com respeito à reconciliação se baseia no fato de Deus estar irado conosco, embora também nos ame.


O Novo Testamento enfatiza o fato de Deus estar irado com o mundo, de ter expressado sua ira no passado, de fazer isso no presente e de que a expressará no futuro. “A ira de Deus se revela dos céus contra toda impiedade e incredulidade das pessoas, que suprimem a verdade pela incredulidade” (Rm 1:18). “Acumulas ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2:5). “A ira de Deus recai sobre pessoas desobedientes” (Ef 5:6). Podemos imaginar as pessoas rogando às montanhas: “Caiam sobre nós e escondam-nos do rosto daquele que se assenta no trono e da ira do cordeiro” (Ap 6:16).


Ao mesmo tempo, as Escrituras também reconhecem que Deus não tem o hábito de pôr sua ira em ação. O fato de ele nos dar Jesus para morrer por nós expressa seu comprometimento em se reconciliar conosco. “Enquanto éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus por meio da morte do seu Filho” e “tendo sido reconciliados, seremos resgatados por sua vida”, de modo que “exultamos em Deus por intermédio do nosso Senhor Jesus, o Ungido, por meio de quem recebemos agora a reconciliação” (Rm 5:8-11). Significa que podemos, de fato, ter paz com Deus e que não seremos vítimas de sua ira no futuro (Rm 5:1,9). 


Livro: Teologia Bíblica

Autor: John Goldingay

Editora: Thomas Nelson

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