O Reino de Deus é o tema
central da pregação de Jesus e, por extensão, da pregação e ensino dos
apóstolos. Foi mencionado anteriormente que um dos eventos que o crente
veterotestamentário aguardava era a vinda do Reino de Deus, e que essa
expectação estava conectada, especialmente em Daniel, com o aparecimento futuro
do Filho do Homem. A chegada do Reino de Deus, portanto, bem como sua
permanência e consumação final, deve ser vista como um aspecto essencial da
escatologia bíblica. Georg Ladd faz o seguinte comentário: “Uma vez que a
missão histórica de Jesus é vista pelo Novo Testamento como um cumprimento da
promessa vétero-testamentária, toda a mensagem do Reino de Deus incorporada nos
atos e palavras de Jesus pode ser incluída na categoria da escatologia” 1.
Como podemos verificar no
levantamento histórico encontrado no apêndice, o Reino de Deus é um conceito
extremamente importante nas discussões escatológicas modernas. Ritschl, Harnack
e C.H. Dodd consideram o Reino, no ensino de Jesus, como exclusivamente
presente, enquanto que homens como Weiss, Schweitzer e Moltmann ensinavam que o
reino era exclusivamente futuro. Ainda outros eruditos bíblicos, como
Geerhardus Vos e Oscar Cullmann, viam o Reino tanto como presente quanto como
futuro - presente em um sentido e futuro em outro 2. Para chegarmos a uma avaliação destes pontos
de vista conflitantes, deveremos ter de examinar, cuidadosamente, o conceito do
Reino de Deus.
No início do Novo Testamento,
ouvimos João, o Batista, e Jesus, ambos anunciando a vinda do Reino de Deus.
João Batista veio pregando no deserto da Judéia, dizendo: “Arrependei-vos,
porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3.2) 3. João exortava seus
ouvintes, preparando para a vinda deste Reino, que seria inaugurado pelo
Messias, designado apenas como “O que Haveria de Vir”. João viu a missão d
Aquele que Haveria de Vir como sendo primeiramente de separação: aqueles que se
arrependessem ele salvaria, e julgaria os que não se arrependessem. João, na
verdade, “esperava essa dupla obra messiânica acontecer em um evento
escatológico único” 4. Ele
tinha pregado que o Messias vindouro iria tanto “recolher o seu trigo no
celeiro” como queimar a palha em fogo inextinguível (Mt 3.12). Quando João
estava na prisão, começou a refletir sobre o fato de que, embora tivesse visto
Jesus realmente recolhendo trigo, não o vira queimando palha. Isso levou João a
enviar seus discípulos a Jesus, e a perguntar: “És tu aquele que estava para
vir, ou havemos de esperar outro?” (Mt 11.3). Na resposta, Jesus citou
profecias do Antigo Testamento que estavam sendo cumpridas em seu ministério;
profecias acerca dos cegos recebendo sua visão e dos coxos sendo reabilitados
(vs 4-5). As palavras de Jesus implicavam que a fase de julgamento de seu
ministério, como João a tinha descrito, deveria vir mais tarde; assim temos
aqui a primeira alusão ao fato de que a primeira vinda do Messias deveria ser
seguida por uma segunda - um fato que João
não tinha entendido claramente.
Jesus também anunciou a vinda
do Reino, em palavras que soavam semelhantemente àquelas de João Batista: “O
tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo 5; arrependei-vos
e credes no evangelho” (Mc 1.15). Porém, embora as pregações de João Batista e
de Jesus soassem como semelhantes, havia uma diferença básica entre elas. A
chave para a diferença é encontrada nas palavras de Jesus: “O tempo está
cumprido”. Enquanto João tinha dito que o Reino estava para vir na pessoa
daquele que Haveria de Vir, Jesus disse que o tempo predito pelos profetas
agora estava cumprido (Lc 4.21), e que o Reino agora estava presente na sua
própria pessoa. Dessa forma, por exemplo, Jesus podia dizer o que João Batista
nunca falou: “O Reino de Deus é chegado sobre vós” (Mt 12.28; Lc 11.20) 6. Por esta razão, então, Jesus pode falar
acerca de João Batista: “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do
que João Batista; mas o menor no Reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11).
João foi o precursor do Reino, mas ele próprio ficou do lado de fora dele; ele
anunciou a nova ordem de coisas, mas não era ele próprio parte dela. Ladd
descreve da seguinte maneira a diferença entre as pregações do Reino por João
Batista e por Jesus: “João tinha anunciado uma visitação iminente de Deus, o
que significaria o cumprimento da esperança escatológica e a vinda da era
messiânica. Jesus proclamou que essa promessa estava de fato sendo cumprida...
Ele anunciou, corajosamente, que o Reino de Deus tinha vindo a eles... A
promessa foi cumprida na ação de Jesus: em sua proclamação das boas novas para
os pobres, liberdade para os cativos, visão restaurada para o cego, libertando
aqueles que eram oprimidos. Isso não era uma teologia nova ou nova idéia ou
nova promessa; era um novo evento na história” 7.
Podemos dizer, portanto, que
Jesus mesmo inaugurou o Reino de Deus cuja vinda tinha sido predita pelos
profetas do Antigo Testamento. Por causa disso, nós devemos ver o Reino de Deus
sempre como indissoluvelmente ligado à pessoa de Jesus Cristo. Nas palavras e
feitos de Jesus, milagres e parábolas, ensino e pregação, o Reino de Deus estava
dinamicamente ativo e presente entre os homens.
Às vezes, nos Evangelhos, o
nome de Cristo é igualado com o Reino de Deus. Isto será evidente se olharmos
para as passagens paralelas, nos Sinóticos, que tratam da história do jovem
rico. Em resposta à pergunta de Pedro: “Eis que nós tudo deixamos e te
seguimos: que será, pois, de nós?” (Mt 19.27), Jesus diz: “Todo aquele que
tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos,
por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida
eterna” (v.29). No paralelo, em Marcos, Jesus fala de deixar todas estas coisas
“por causa do Reino de Deus” (Lc 18.29).
Encontramos uma equiparação
similar entre Cristo e o Reino no livro de Atos. Filipe é descrito como alguém
“que os evangelizava a respeito do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo” (At
8.12). E Paulo é descrito no último versículo do livro de Atos como “pregando o
Reino de Deus e ensinando acerca do Senhor Jesus Cristo” (At 28.31, RSV).
Passagens desse tipo talvez
ajudem a explicar porque não lemos tanto acerca do Reino de Deus nas Epístolas
quanto nos Evangelhos. Nos escritos de Paulo, na verdade, o termo reino
é encontrado apenas treze vezes, e nas Epístolas não-paulinas ele é encontrado
apenas cinco vezes. Isto não significa, entretanto, que os Apóstolos não
ensinavam ou pregavam o Reino. O comentário de Karl Ludwig Schimidt é útil
aqui: ‘Desta forma, podemos ver porque a
Igreja apostólica é pós-apostólica do NT não falava muito do basileia tou
theou (Reino de Deus) explicitamente, mas sempre o enfatizou implicitamente
através de sua referência ao kyrios lesous Christos (= O Senhor Jesus
Cristo). Não é verdade que ele agora colocou a Igreja em lugar do Reino pregado
por Jesus de Nazaré. Pelo contrário, a fé no Reino de Deus persiste na
experiência de Cristo pós-Páscoa” 8.
Deveríamos dizer, neste ponto,
algo a respeito da distinção entre Reino de Deus e Reino dos céus.
Somente Mateus usa a última expressão; em todas as outras partes do Novo
Testamento encontramos Reino de Deus (com variações ocasionais como Reino
de Cristo ou Reino de nosso Senhor). Embora alguns tenha tentado encontrar uma diferença
de sentido entre estas duas expressões, deve ser mantido que Reino dos céus e Reino de Deus são sinônimos em seu
significado. Uma vez que os judeus evitavam o uso do nome divino, na prática
judaica ulterior, a palavra céus era usada freqüentemente como um
sinônimo para Deus; porque Mateus estava escrevendo primeiramente para leitores
judeus, podemos entender sua preferência por esta expressão (embora até Mateus
utilize o termo Reino de Deus quatro vezes). A expressão malkuth
shamayim (reino dos céus) é encontrada na literatura judaica
ulterior; a frase que Mateus geralmente utiliza, basileia ton ouranon
(reino dos céus), é uma tradução grega literal desta expressão hebraica. Uma
vez que as expressões Reino dos céus e Reino de Deus são
intercambiáveis nos sinóticos, podemos concluir seguramente que não há
diferença de significação entre as duas.
Como deveremos definir o reino
de Deus? Esta não é uma tarefa fácil, especialmente porque o próprio Jesus
nunca forneceu uma definição do reino. Também não encontramos tal definição nos
escritos apostólicos; as palavras de Paulo em Rm 14.17: “Porque o reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”,
mesmo que úteis e esclarecedoras, não são exatamente uma definição. Deveremos
ter de agir indutivamente.
Georg Eldon Ladd indica que os
Evangelhos nem sempre falam da mesma maneira acerca do Reino; ele encontra pelo
menos quatro usos distintos da expressão 9.
Muitos eruditos bíblicos têm
enfatizado um ou outro significado, freqüentemente refletindo sua posição
teológica particular. Naturalmente, é também bem possível que as diferentes
maneiras pelas quais Jesus e os Apóstolos falaram sobre o Reino representem
facetas diversas de uma única, porém complexa idéia.
Ao procurarmos o significado
central do Reino, a primeira questão a ser colocada é se o Reino vigora sobre
um setor ou território sobre o qual Deus governa, ou sobre o Reino ou governo
de Deus como tal. A concepção mais amplamente aceita do Reino de Deus é que seu
significado principal é o Governo ou Reino de Deus mais do que um território
sobre o qual ele governe. Ladd menciona dezoito fontes recentes que representam
o Reino como o Governo ou Reinado de Deus 10. Ele cita uma porção de
passagens do Novo Testamento, tanto dos Evangelhos como de fora deles, que
trazem o pensamento de que o Reino é o Reino de Deus 11. Embora
ocasionalmente o termo “reino” tenha conotação de espaço, ao referir-se a uma
ordem de coisas ou a um estado de paz e felicidade, normalmente ele descreve o
Reinado de Deus sobre o seu povo.
Não há dúvida de
que o primeiro significado, especialmente o de domínio como o exercício
da dignidade real, é pronunciamentos centrais acerca do “Reino dos Céus” nos
Evangelhos. Então, o significado espacial do Reino é secundário. Quando o texto
diz que basileia ton ouranon “está próximo”... não deveríamos pensar
primeiramente em uma entidade espacial ou estática que esteja descendo dos
céus, mas antes em um governo real divino que de fato e efetivamente começa sua
operação; por causa disso, devemos pensar na ação divina do rei 12.
... O Reino dos
Céus pregado por João e Jesus é antes de tudo um processo de caráter
dinâmico... Pois a vinda do Reino é o estágio inicial do grande drama da
história do fim 13.
Portanto, o Reino de Deus deve ser entendido como o
Reinado dinamicamente ativo de Deus na história humana através de Jesus Cristo,
cujo propósito é a redenção do povo de Deus do pecado e de poderes demoníacos,
e o estabelecimento final dos novos céus e nova terra. Isto significa que o
grande drama da história da salvação foi inaugurado e que a nova era foi
instaurada 14. O Reino não deve ser entendido como apenas a salvação
de certos indivíduos ou mesmo como o Reino de Deus no coração de seu povo; não
significa nada menos que o Reino de Deus sobre todo o seu universo criado. “O
Reino de Deus significa que Deus é Rei e age na história para trazer a história
a um alvo divinamente determinado”15.
Fica evidente, portanto, que o Reino de Deus, como
descrito no Novo Testamento, não é um estado de atividade realizada através de
conquistas humanas, nem a culminação de esforços humanos extenuantes. O Reino é
estabelecido pela graça soberana de Deus e suas bênçãos devem ser recebidas
como dons dessa graça. A tarefa do homem não é trazer o Reino para a
existência, mas nele ingressar pela fé, e orar para que ele seja mais e mais
capacitado a submeter-se ao governo beneficente de Deus, em todas as áreas de
sua vida. O Reino não é a escalada ascendente do homem para a perfeição mas a
irrupção de Deus na história humana para estabelecer seu Reinado e para levar
adiante seus propósitos 16.
Dever-se-á acrescentar que o Reino de Deus inclui tanto
um aspecto positivo como um negativo. Ele significa redenção para aqueles que o
aceitam e nele ingressam pela fé, e juízo para aqueles que o rejeitam. Jesus deixa isto muito claro
em seus ensinos, especialmente em suas parábolas. Aquele que ouve as palavras
de Jesus, e as pratica, é como um homem que constrói sua casa sobre a rocha,
enquanto aquele que ouve as palavras de Jesus, mas não as pratica, é semelhante
ao homem que constrói sua casa sobre a areia - e grande foi a sua queda (Mt
7.24-27). Aqueles que aceitam o convite para as bodas, se regozijam e estão
felizes, enquanto que aqueles que rejeitam o convite são entregues à morte, e o
homem sem as vestes nupciais é lançado fora nas trevas (Mt 22.1-14). Na verdade,
porque a nação de Israel, como um todo, rejeitou o Reino, Jesus disse que o
Reino de Deus seria tirado deles e dado a uma nação que produzisse seus frutos
(Mt 21.43). O propósito primeiro do
Reino de Deus é a salvação, no sentido integral da palavra, daqueles que nele
ingressam - porque “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo,
mas para salvar o mundo através dele” (Jo 3.14, NIV). Mas aqueles que rejeitam
e desprezam o Reino receberam o maior julgamento: “Todo o que cair sobre esta pedra
[a pedra angular, que é Jesus Cristo] ficará em pedaços’; e aquele sobre quem
ela cair, ficará reduzido a pó” (Lc 20.18)
Quais são os sinais da presença do Reino? Um destes
sinais é a expulsão de demônios por Jesus. Quando Jesus fez isto,
mostrou que ele havia conquistado uma vitória sobre os poderes do mal e que,
por causa disto, o Reino de Deus tinha chegado. O próprio Jesus salientou isto,
quando disse aos fariseus que argumentavam que ele estava expulsando demônios
por Belzebu, o príncipe dos demônios: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo
Espírito de Deus, certamente é chegado o Reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28).
Um outro sinal é a queda de Satanás. Quando os
setenta retornaram de sua missão, dizendo que até os demônios se sujeitavam a
eles em nome de Cristo, Jesus é citado dizendo: “Eu via Satanás caindo do céu
como um relâmpago” (Lc 10.18). Não há dúvida de que estas palavras devem ser
interpretadas figuradamente, não literalmente. Elas significam que “a vitória
sobre Satanás”, que o pensamento judaico situava conjuntamente no fim da era,
aconteceu na história, em certo sentido, na missão de Jesus”17.
Podemos dizer que, nessa época, o poder do Reino de Deus entrou na história
humana através do ministério dos discípulos - um ministério, entretanto, que
estava baseado na vitória que Jesus já tinha conquistado sobre Satanás. Resta
dizer que esta vitória sobre Satanás, embora decisiva, ainda não é final, uma
vez que Satanás continua ativo durante o ministério subseqüente de Jesus (Mc
8.33; Lc 22.3 e 31). O que de fato aconteceu durante o ministério de Jesus foi
uma espécie de amarração de Satanás (veja Mt 12.29 e compare com Ap 20.2) -
isto é, uma restrição de suas atividades. Que tipo de restrição isto envolveu
nos veremos mais adiante.
Ainda um outro sinal da presença do Reino foi a realização
de milagres por Jesus e seus discípulos. Na operação desses milagres era
efetuada a vinda do Reino. O próprio Jesus indicou isto em sua reposta a João
Batista, na qual ele instruiu seus discípulos como segue: “ide, e anunciai a
João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos
são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres
está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.4-5).
Mas estes milagres foram apenas sinais; eles tinham suas limitações. Primeiro,
nem todos os doentes foram curados, nem todos os mortos ressuscitados. Mais
ainda, os doentes que foram curados, os coxos que tiveram seu andar recuperado
e os mortos que foram ressuscitados, ainda tinha de morrer. Os milagres tinham
função provisória, indicando a presença do Reino, mas ainda não marcando sua
consumação final.
Mais um sinal, até mais
importante que o último, era a pregação do Evangelho. Os milagres de
cura não foram o maior dom que Jesus concedeu. Muito mais importante foi a
salvação ele trouxe àqueles que creram - uma salvação mediata ou, seja, através
da pregação do Evangelho. Quando Jesus disse aos setenta: “Não obstante,
alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem e, sim, porque os vossos
nomes estão arrolados nos céus” (Lc 10.20), ele estava restaurando o senso de
prioridade deles. É significativo, portanto, que na resposta de Jesus a João
Batista, citada acima, o sinal último e culminante, que mostra que Cristo
verdadeiramente é o Messias e que o Reino verdadeiramente veio, é este: “aos
pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.5).
A dádiva do perdão de
pecados é um sinal da presença do
Reino. Nos profetas do Antigo Testamento, o perdão dos pecados tinha sido
predito como uma das bênçãos da era messiânica vindoura (vejam-se Is 33.24; Jr
31.34; Mq 7.18-20; Zc 13.1). quando Jesus veio, ele não somente pregou acerca
do perdão de pecados mas, realmente, o concedeu. A cura do paralítico, após
Jesus ter perdoado seus pecados, foi uma prova de que “o Filho do homem tem
sobre a terra autoridade para perdoar pecados” (Mc 2.10). o fato de que os
escribas acusaram Jesus de blasfêmia nesta ocasião, uma vez que - assim
argumentavam -, somente Deus pode perdoar pecados, indicou que eles não perceberam
que o Reino de Deus realmente estava presente entre eles. Eles não se deram
conta de que “A presença do Reino de Deus não era um novo ensino de Deus: era
uma nova atividade de Deus na pessoa de Jesus, trazendo aos homens, como uma
experiência presente, o que os profetas prometeram no Reino escatológico”18.
Relacionado com os sinais da
presença do Reino, dever-se-ia relembrar que a vinda do Reino não significou um
fim para o conflito entre bem e mal. Continuará a haver conflito e oposição
entre o Reino de Deus e o Reino do mal através da história, e neste conflito o
povo de Deus será convocado ao sofrimento. Na verdade, a antítese entre estes
dois reinos, é até intensificada pela vinda de Cristo. Não nos disse Jesus:
“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt
10.34)?
O que há de maior interesse na
área da escatologia a respeito do Reino é a questão sobre se o Reino de Deus,
nos ensinos de Jesus e dos apóstolos, era considerado uma realidade presente ou
uma realidade futura, ou ambas. Esta questão tem sido objeto de muito debate.
Será relembrado que alguns eruditos vêem o Reino como exclusivamente futuro,
outro o vêem como exclusivamente presente e outros, ainda, o entendem tanto
como presente quanto como futuro. Faremos jus a todos os dados bíblicos apenas
quando concebermos o Reino de Deus tanto presente como futuro.
Jesus ensinou claramente que o
Reino de Deus já estava presente em seu ministério. Mateus 12.18 foi citado
anteriormente: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus,
certamente é chegado o Reino de Deus sobre vós” (cp. Lc 11.20). O verbo grego
usado aqui, ephthasen, significa chegou ou veio, e não está
para vir. O ponto é que a expulsão de demônios, por parte de Jesus, é prova
de que o Reino chegou, uma vez que não se pode saquear os bens de um homem
forte sem primeiro ter amarrado o homem forte (aqui significando o demônio).
Outra passagem que ensina claramente a presença do Reino nos dias de Jesus é a
de Lc 17.20-21. Os fariseus tinham acabado de perguntar a Jesus sobre quando
viria o Reino de Deus - significando, supomos, uma demonstração dramática do
forte poder de Deus que iria arrasar os romanos e estabelecer o reinado de Deus
sobre o mundo de maneira fisicamente visível. Jesus responde como segue: “Não
vem o Reino de Deus como visível aparência, nem dirão: ei-lo aqui! Ou: lá está!
Porque o Reino de Deus está no meio de vós” 19. Estas palavras não deveriam ser forçadas a
significar que não há “sinais dos tempos”, ou sinais da segunda vinda de
Cristo, aos quais nós devemos estar alertas, porque o próprio Jesus fala destes
sinais em outras ocasiões. O que Jesus está dizendo é que ao invés de aguardar
sinais espetaculares exteriores da presença de um Reino, primeiramente
político, os fariseus devem perceber que o Reino de Deus está no meio deles
agora, na pessoa do próprio Cristo, e que a fé nele é necessária para entrar
nesse Reino.
Algumas das parábolas de Jesus
implicam que o Reino já está presente. As parábolas do tesouro escondido e da
pérola de grande valor (Mt 13.44-46) ensinam que agora o homem deve vender tudo
o que possui para entrar no Reino. As parábolas do construtor da torre e do rei
saindo a guerrear (Lc 14.28-33) ensinam a importância de calcular o custo antes
de entrar no Reino, novamente implicando que o Reino está agora presente. No
sermão do monte, além disso, as bem-aventuranças descrevem o tipo de pessoa de
quem se pode dizer: “deles é (estin) o Reino dos céus” (Mt 5.3-10).
Quando os discípulos fazem uma pergunta a Jesus acerca de quem é o maior no
Reino dos c[eus, Jesus convida uma criança a integrar o grupo e diz: “Aquele
que se humilhar, como esta criança, este é o maior no Reino dos céus” (Mt
18.4). e quando os discípulos repreendem aqueles que estão trazendo crianças a Jesus,
o Mestre diz: “Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos
tais é (estin) o Reino dos céus” (Mt 19.14). Podemos acrescentar que os
sinais previamente mencionados (expulsão de demônios, realização de milagres, a
pregação do Evangelho e a concessão do perdão de pecados) também evidenciam o
fato de que o Reino está presente no ministério de Jesus 20.
Jesus, entretanto, também
ensinou que havia um sentido no qual o Reino de Deus ainda era futuro. Podemos
ver, primeiramente, algumas declarações específicas com esta finalidade. A
seguinte passagem do sermão do monte descreve a entrada do Reino como algo
ainda futuro e a combina com um futuro dia do juízo: “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu
Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!
Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos
demônios, e em teu nome não fizemos milagres? Então lhes direi explicitamente:
Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” (Mt
7.21-23). Verbos no tempo futuro são igualmente usados na seguinte declaração,
que fala claramente acerca de um Reino futuro: “Digo-vos que muitos virão do
Oriente e do Ocidente e tomarão lugares com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos
céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali
haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8.11-12).
Muitas das parábolas ensinam
uma consumação futura do Reino. A parábola das bodas indica um tempo futuro de
bênçãos para aqueles que aceitam o convite, mas num lugar de punição, nas
trevas exteriores, para aqueles que falham em preencher todos os requisitos (Mt
22.1-14). A parábola do joio e sua explicação (Mt 13.24-30 e 36-43) falam da
“consumação do século” (synteleia tou aionos) quando os que praticam a
iniqüidade serão lançados na fornalha acesa e quando os justos “resplandecerão
como o sol, no reino de seu Pai”. A parábola da rede (Mt 13.47-50) descreve, de
modo semelhante, a “consumação do século” (synteleia tou ainos), quando
“sairão os anjos e separarão os maus dos justos”. Na parábola das dez virgens (Mt 25.1-13)
aprendemos acerca da demora do noivo, acerca de um grito à meia-noite, e sobre
algumas que entraram com o noive para a festa das bodas e outras para quem a porta estava
permanentemente cerrada. A parábola termina com uma advertência tipicamente
“escatológica”: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (v.13). e a
parábola dos talentos (Mt 25.14-30) fala acerca de um homem que fez uma jornada
e ficou fora por muito tempo, acerca de um ajuste final de contas, e acerca de
alguns que foram convidados a entrar no gozo de seu Senhor e outros que foram
expulsos para as trevas exteriores.
Não seria difícil fornecer mais
evidências. Pelo que já foi citado, fica claro que o Reino de Deus, no ensino
de Jesus, era tanto presente como futuro. Tentar negar qualquer aspecto desta
doutrina é adulterar a evidência 21.
O apóstolo Paulo também
pensava que o Reino de Deus era tanto presente como futuro. Algumas de suas
declarações descrevem claramente o Reino de Deus como estando presente. Em 1
Coríntios 4, Paulo está escrevendo acerca de alguns inimigos seus arrogantes,
que pensam que ele não está vindo para Corinto: “Mas em breve irei visitar-vos,
se o Senhor quiser, e então conhecerei não a palavra, mas o poder dos
ensoberbecidos. Porque o Reino de Deus consiste não em palavra mas em poder”
(vs. 19,20). Obviamente, Paulo não está pensando a respeito de um Reino futuro,
mas acerca de um Reino que é presente agora. De modo semelhante Paulo fala a
seus leitores em Roma: “Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas
justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). E em uma de suas
últimas epístolas ele descreve a seus irmãos em Colossos: “Porque ele [Deus]
nos resgatou do domínio das trevas e nos trouxe para dentro do Reino do Filho
que ele ama, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados” (Cl 1.13-14, NIV).
Uma vez que desfrutamos agora do perdão dos pecados, está claro que o Reino do
qual Paulo fala aqui é um Reino ao qual nós temos o privilégio de pertencer
desde agora.
Mas há também passagens nas
quais Paulo retrata o Reino como futuro. Em 2 Tm 4.18, Paulo escreve: “O Senhor
me livrará de cada ataque maligno e trazer-me-á a seu Reino celestial em
segurança” (NIV). Tanto a expressão “Reino celestial” como o tempo futuro do
verbo traduzido “trazer-me-á em segurança” (sosei) indicam que Paulo, aqui,
está pensando acerca do Reino futuro. A palavra herdarão (kleronomeo)
sugere um benefício que será recebido em algum tempo futuro. Quando Paulo
utiliza este verbo, para indicar que certas pessoas serão excluídas do Reino de
Deus, ele está obviamente referindo-se ao Reino no sentido futuro: “Ou não
sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus?” (1 Co 6.9); “eu vos
declaro, como já outrora vos preveni que não herdarão o Reino de Deus os que
tais coisas praticam [as obras da carne]”(Gl 5.21). Em Ef 5.5 ele utiliza o
substantivo derivado deste verbo para fazer uma declaração semelhante: “Sabei,
pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem
herança no Reino de Cristo e de Deus”. E em 1 Co 15.50, Paulo descreve: “Isto
afirmo, irmãos, que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a
corrupção herdar a incorrupção”. Uma vez que ele está falando aqui acerca da
ressurreição do corpo, fica claro que o Reino de Deus é também aqui considerado
como ume estado de coisas que ainda é futuro.
Resumindo, então, podemos
dizer que o Reino de Deus, tanto no ensino de Jesus como no do apóstolo Paulo é
uma realidade tanto presente como futura. Por causa disso, nossa compreensão do
Reino precisa fazer jus a ambos estes aspectos. George Eldon Ladd dá ênfase à
importância de vermos estes dois aspectos: “A tese central deste livro [The
Presence of the Future (A Presença do Futuro)] é que o Reino de Deus é o
reinado redentor dinamicamente ativo de Deus para estabelecer seu governo entre
os homens, e este Reino, que aparecerá no final da era como um ato apocalíptico,
já entrou na história humana na pessoa e missão de Jesus para vencer o mal,
para libertar os homens do poder do mal e para trazê-los para as bênçãos do
reinado de Deus. O Reino de Deus envolve dois grandes momentos: cumprimento
dentro da história e consumação ao fim
da história” 22. Herman Ridderbos salienta um ponto semelhante. Ele
sugere que, no começo de seu ministério, Jesus deu mais ênfase à presença do
Reino em cumprimento à profecia do Antigo Testamento, ao passo que, mais para o
fim de seu ministério, ele deu maior destaque à vinda futura do Reino 23.
Entretanto, Ridderbos insiste em que os aspectos presentes e futuro do Reino
nunca devem ser separados:”... Porque o futuro e o presente estão
indissoluvelmente conectados na pregação de Jesus. Um é o complemento
necessário do outro. A profecia acerca do futuro só pode ser vista corretamente
do ponto de vista da presença cristológica, assim como o caráter do presente
implica a necessidade e certeza do futuro”24.
Aquele que crê em Jesus Cristo,
portanto, faz parte do Reino no tempo presente, desfruta de suas bênçãos e
compartilha de suas responsabilidades. Ao mesmo tempo, ele percebe que o Reino
é presente agora, apenas um estado provisório e incompleto, e por causa disso,
ele aguarda por sua consumação final no fim da era. Pelo fato de o Reino ser
tanto presente como futuro, podemos dizer que ele, agora, está escondido de
todos, exceto daqueles que têm fé em Cristo; um dia, entretanto, ele será
totalmente revelado, de forma que até seus inimigos terão, finalmente de
reconhecer e curvar-se perante seu governo. Este é o destaque na parábola do
fermento, em Lc 13.20-21. Quando o fermento (ou levedura) é colocado na
farinha, nada parece acontecer por um momento, mas ao final toda a massa está fermentada.
De maneira semelhante, o Reino de Deus está escondido agora, fazendo sua
influência ser sentida silenciosa mas penetrantemente, até que um dia surgirá a
céu aberto para ser visto por todos. Portanto, o Reino, em seu estado presente,
é objeto de fé, não de vista. Mas quando a fase final do Reino for instaurada
pela segunda vinda de Jesus Cristo, “todo joelho se dobrará e toda língua
confessará que Jesus Cristo é o senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.11).
O fato de o Reino de Deus
estar presente num sentido e ser futuro em outro implica que permanece um certa
tensão entre estes dois aspectos. Podemos descrever esta tensão em duas formas:
(1) A Igreja deve viver com um senso de urgência, percebendo que o fim da
história, como o conhecemos, pode estar bem próximo. Porém, ao mesmo tempo, ela
deve continuar a planejar e trabalhar por um futuro nesta terra presente, que
pode durar um longo período. (2) A Igreja foi alcançada pela tensão entre a era
presente e a era por vir. Conforme Georg Ladd pondera: “A Igreja experimentou a
vitória do Reino de Deus; e, mesmo assim, a Igreja está, como outros homens, à
mercê dos poderes deste mundo... É esta situação que cria a austera tensão - na
verdade, um conflito agudo; porque a Igreja é o ponto focal do conflito entre o
bem e o mal, Deus e Satanás, até o fim dos tempos. A Igreja nunca pode estar
descansando ou facilitando, mas precisa ser sempre a Igreja em luta e conflito,
freqüentemente perseguida, mas certa da vitória última” 25.
Já observamos que a escatologia
Neotestamentária deve ser comentada em termos do que já foi realizado e,
também, em termos do que ainda deve ser realizado e, por causa disso, toda a
teologia do Novo Testamento é marcada pela tensão entre o já e o ainda não 26. Podemos agora perceber que esta tensão está
ilustrada e exemplificada pelo ensino neotestamentário acerca do Reino de Deus.
Nós estamos no Reino e, mesmo assim, aguardamos sua manifestação completa; nós
compartilhamos de suas bênçãos mas ainda aguardamos sua vitória total; nós
agradecemos a Deus por ter-nos trazido para o Reino do filho que ele ama, e
ainda assim continuamos a orar: “Venha o teu Reino”.
Quais são algumas das
implicações, a nível de fé e vida, do fato de o Reino de Deus estar presente
conosco agora e estar destinado a ser revelado em sua totalidade na era
porvir? Em primeiro lugar, podemos
observar que somente Deus pode nos colocar nos Reino. Deus nos chama para o seu Reino (1 Ts 2.12), dá-nos o Reino
(Lc 12.32), traz-nos para o Reino do seu Filho (Cl 1.13), e nos confia o Reino
(“E eu [Cristo] vos confio um Reino, assim como meu Pai confiou um Reino a
mim”, Lc 22.29, NIV). De passagens deste tipo aprendemos que pertencer ao Reino
de Deus não é uma conquista humana mas um privilégio que nos é concedido por Deus.
Mas este fato não nos livra de
responsabilidade em relação ao Reino. Notaremos, mais adiante, que o Reino
de Deus exige, de nós, arrependimento e fé. Em várias ocasiões Jesus
disse que nós precisamos entrar no Reino de Deus. Só se pode entrar no
Reino humilhando-se a si mesmo como uma criança (Mt 18.3 e 4) 27,
fazendo a vontade do Pai dos céus (Mt 7.21), ou tendo uma justiça que excede à
dos escribas e fariseus (Mt 5.20). É difícil para um homem rico entrar no Reino
de Deus (Mc 10.25), presumivelmente porque ele é tentado a confiar mais em suas
riquezas do que em Deus. A não ser que renasçamos ou nasçamos do Espírito, não
podemos entrar no Reino de Deus (Jo 3.3 e 5). Somente Deus pode fazer alguém
renascer; e dessa forma o ponto no qual a mensagem do Evangelho atinge o
ouvinte é a intimação para crer: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que
deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna”(Jo 3.16).
O Reino de Deus, na verdade, demanda
nada menos que compromisso total. Nós devemos, assim disse Jesus, buscar
primeiro o Reino de Deus e sua justiça, confiando em que, assim fazendo, todas
as outras coisas de que necessitamos nos serão dadas (Mt 6.33). Nós temos de,
por assim dizer, vender tudo o que temos para adquirir o Reino (Mt 13.44,45).
Para permanecer no Reino, devemos estar prontos para arrancar fora o olho que
nos faz tropeçar (Mt 29) e cortar fora a mão que nos faz pecar (Mt 5.30).
devemos estar dispostos a odiar, se necessário, pai, mãe, irmão, irmã, e mesmo
nossas próprias vidas por amor do Reino (Lc 14.26). Devemos estar prontos a
renunciar a tudo o que temos para sermos discípulos de Jesus (Lc 14.33). Em
outras palavras, ninguém deve buscar entrar no Reino a não ser que tenha
calculado minuciosamente os custos (dessa decisão) (Lc 14.28-32).
Mais outra implicação da
presença do Reino poder ser acrescentada: o Reino de Deus implica redenção
cósmica. O Reino de Deus,
como já vimos, não significa apenas salvação de certos indivíduos, nem mesmo a
salvação de um grupo escolhido de pessoas. Significa nada menos do que a
renovação completa de todo o cosmos, culminando nos novos céus e nova terra.
Paulo descreve as dimensões cósmicas do Reino de Deus em palavras inspiradas:
“[Deus] em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos
o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,
de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as
coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.8-10).
“Porque Deus se agradou em ter toda sua plenitude
habitando nele [Cristo], e em através dele reconciliar consigo mesmo todas as
coisas, sejam coisas na terra ou coisas no céu, ao fazer a paz através de seu
sangue, vertido na cruz” (Cl 1.19,20, NIV).
“A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos
filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas
por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus” (Rm 8.19-21).
Ser
um cristão do Reino, portanto, significa que devemos ver toda a vida e toda a
realidade à luz do alvo da redenção do cosmos. Isto implica, como Abraham
Kuyper uma vez falou, que não há nenhuma polegada do universo da qual Cristo
não diga: “É minha”. Isto implica uma filosofia da história cristã: toda a
história deve ser vista como o desenvolvimento do propósito eterno de Deus.
Esta visão do Reino inclui uma filosofia cristã da cultura: a buscar seu
louvor. Isso também inclui uma visão cristã da vocação: todas as chamadas são
de Deus, e tudo o que nós fazemos na vida cotidiana deve ser feito para louvor
de Deus, seja estudo, ensino, pregação, negócios, indústria ou trabalho
doméstico. George Herbert o coloca bem:
“Ensina-me, meu Deus e Rei,
a te ver em todas as coisas,
e que, em qualquer coisa que
eu fizer,
a fazê-lo como para ti.
Notas
1. Ladd, Presence, pp. 325-326.
2. Veja adiante.
3. A palavra grega usada aqui é eggiken.
4. Ladd, Presence, p. 108.
5. Novamente a palavra grega é eggiken.
6. Aqui a palavra grega é ephthasen, do
verbo phthanein, que significa
“chegar”
7. Ladd, Presence, pp. 111-112.
8. K. L. Schmidt, “basileia” , TDNT, I,
p.589.
9. Ladd, Presence, p. 123
10. Ibid., p.127 n. 11.
11. Ibid., pp. 134-138.
12. H. Ridderbos, The Coming of the Kingdom (A
Vinda do Reino) Philadelphia: Presbyterian and Reformed, 1962, pp. 24-25.
13. Ibid., p. 27.
14. Ibid., ps. XXVII, 29; Ladd,
Presence, p.42.
15. Ladd, Presence, p. 331.
16. Cp Schimidt op.cit., pp.584-585; Ridderbos, Coming,
pp. 23-24.
17. Ladd, Presence, p. 157.
18. Ibid., p.215.
19. A leitura grega é entos hymon. Outras
traduções da expressão incluem: “dentro de vós” (RSV margem ASV texto), e
“entre vós” (NIV margem).
20. Veja também Ladd, Presence, pp. 149-217;
Ridderbos, Coming, pp. 47-56; Norman Perrin, The Kingdom of God in
The Teaching of Jesus (O Reino de Deus no Ensino de Jesus), pp. 74-78.
21. Cp. Ladd, Presence, pp. 307-328;
Ridderbos, Coming, pp.36-56, esp. 55,56; Perrin, op.cit.,
pp.83-84.
22. Ladd, Presence, p.218.
23. Ridderbos, Coming, p.468.
24. Ibid., pp. 520,521.
25. Ladd, Presence, p. 338.
26. Ver acima.
27. Cp. também Mc 10.15 e a passagem paralela, Lc
18.17.
Fonte: A Bíblia e o Futuro - Anthony Hoekema
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