segunda-feira, 23 de maio de 2011

TEOLOGIA - JESUS - CRISTOLOGIA - 3ª Parte

 

3. Sua ascensão.

Os evangelhos, o livro dos Atos e as Epístolas dão testemunho da ascensão. Qual o significado desse fato histórico? Quais as doutrinas que nele se baseiam? Quais seus valores práticos? A ascensão ensina que nosso Mestre é:
(a) O Cristo celestial. Jesus deixou o mundo porque havia chegado o tempo de regressar ao Pai. Sua partida foi uma "subida", assim como sua entrada ao mundo havia sido uma "descida". Ele que desceu agora subiu para onde estava antes. E assim como sua entrada no mundo foi sobrenatural, assim o foi sua partida. Consideremos a maneira de sua partida. Suas aparições e desaparições depois da ressurreição foram instantâneas; a ascensão foi, no entanto, gradual — "vendo-o eles" (Atos 1:9). Não foi seguida por novas aparições, nas quais o Senhor surgiu entre eles em pessoa para comer e beber com eles; as aparições dessa classe terminaram com a sua ascensão. Sua retirada da vida terrena que vivem os homens aquém da sepultura foi de uma vez por todas.
Dessa hora em diante os discípulos não deveriam pensar nele como o "Cristo segundo a carne", isto é, como vivendo uma vida terrena, e sim, como o Cristo glorificado, vivendo uma vida celestial na presença de Deus e tendo contato com eles por meio do Espírito Santo. Antes da ascensão, o Mestre aparecia, desaparecia e reaparecia de tempos em tempos para fazer com que paulatinamente os discípulos perdessem a necessidade de um contato visual e terreno com ele, e acostumá-los a uma comunhão espiritual e invisível com ele. Desse modo, a ascensão vem a ser a linha divisória entre dois períodos da vida de Cristo: Do nascimento até à ressurreição, ele é o Cristo da história humana, aquele que viveu uma vida humana perfeita sob condições terrenas. Desde a ascensão, ele é o Cristo da experiência espiritual, que vive no céu e tem contato com os homens por meio do Espírito Santo.

(b) O Cristo exaltado. Afirma certa passagem que Cristo "subiu", e outra diz que foi "levado acima". A primeira representa a Cristo como entrando na presença do Pai por sua própria vontade e direito; a segunda acentua a ação do Pai pela qual ele foi exaltado em recompensa por sua obediência até a morte. Sua lenta ascensão ante os olhares dos discípulos trouxe-lhes a compreensão de que Jesus estava deixando sua vida terrena, e os fez testemunhas oculares de sua partida. Mas uma vez fora do alcance de sua vista, a jornada foi consumada por um ato de vontade. O Dr. Swete assim comenta o fato: Nesse momento toda a glória de Deus brilhou em seu derredor, e ele estava no céu. Não lhe era a cena inteiramente nova; na profundidade do seu conhecimento divino, o Filho do homem guardava lembranças das glórias que, em sua vida anterior à encarnação, gozava com o Pai "antes que o mundo existisse" (João 17:5). Porém, a alma humana de Cristo até o momento da ascensão, não experimentara a plena visão de Deus que transbordou sobre ele ao ser levado acima. Esse foi o alvo de sua vida humana, o gozo que lhe estava proposto (Heb. 12:2), que foi alcançado no momento da ascensão. Foi em vista de sua ascensão e exaltação que Cristo declarou: é-me dado todo o poder (autoridade) no céu e na terra" (Mat. 28:18; vide Efés. 1:20-23; 1 Ped. 3:22; Fil. 2:9-11; Apoc. 5:12). Citemos outra vez o Dr. Swete: Nada se faz nesse grandioso mundo desconhecido, que chamamos o céu, sem sua iniciativa, direção e autoridade determinativa. Processos incompreensíveis à nossa mente realizam-se no outro lado do véu por meios divinos igualmente incompreensíveis. Basta que a igreja compreenda que tudo que se opera ali é feito pela autoridade de seu Senhor.

(c) O Cristo soberano. Cristo ascendeu a um lugar de autoridade sobre todas as criaturas. Ele é a "cabeça de todo o varão" (1Cor. 11:3), a "cabeça de todo o principado e potestade" (Col. 2:10); todas as autoridades do mundo invisível, tanto como as do mundo dos homens, estão sob seu domínio, (1 Ped. 3:22; Rom. 14:9; Fil. 2:10, 11.) Ele possui essa soberania universal para ser exercida para o bem da igreja, a qual é seu corpo; Deus "sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja." Em um sentido muito especial, portanto, Cristo é a Cabeça da igreja. Essa autoridade se manifesta de duas maneiras:
1) Pela autoridade exercida por ele sobre os membros da igreja. Paulo usou a relação matrimonial como ilustração da relação entre Cristo e a igreja (Efés. 5:22-23). Como a igreja vive em sujeição a Cristo, assim as mulheres devem estar sujeitas a seus maridos; como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, assim os maridos devem exercer sua autoridade no espírito de amor e auto-sacrifício. A obediência da igreja a Cristo é uma submissão voluntária; da mesma maneira a esposa deve ser obediente, não só por questão de consciência mas por amor e reverência. Para os cristãos, o estado de matrimonio se tomou um '"mistério" (isto é, uma verdade com significado espiritual), porque revela a união espiritual entre Cristo e sua igreja; "autoridade da parte de Cristo, subordinação da parte da igreja, amor de ambos os lados — o amor retribuindo amor, para ser coroado pela plenitude do gozo, quando essa união for consumada na vinda do Senhor" (Swete). Uma característica proeminente da igreja primitiva era a atitude de amorosa submissão a Cristo. "Jesus é Senhor" não era somente a declaração do credo mas também a regra de vida.
2) O Cristo glorificado não é somente o Poder que dirige e governa a igreja, mas também a fonte de sua vida e poder. O que a videira é para a vara, o que a cabeça é para o corpo, assim é o Cristo vivo para a sua igreja. Apesar de estar no céu, a Cabeça da igreja, Cristo está na mais íntima união com seu corpo na terra, sendo o Espírito Santo o vínculo. (Efés. 4:15, 16; Col. 2:19.)

(d) O Cristo que prepara o caminho. A separação entre Cristo e sua igreja na terra, separação ocasionada pela ascensão, não é permanente. Ele subiu como um precursor a preparar o caminho para aqueles que o seguem. Sua promessa foi: "Onde eu estiver, ali estará também o meu servo" (João 12:26). O termo "precursor" é primeiramente aplicado a João Batista como aquele que prepararia o caminho de Cristo (Luc. 1:76). Como João preparou o caminho para Cristo, assim também o Cristo glorificado prepara o caminho para a igreja. Esta esperança é comparada a uma "âncora da alma segura e firme, e que penetra até ao interior do véu; onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós" (Heb. 6:19,20). Ainda que agitada pelas ondas das provações e das adversidades, a alma do crente fiel não pode naufragar enquanto sua esperança estiver firmemente segura nas realidades celestiais. Em sentido espiritual, a igreja já está seguindo o Cristo glorificado; e tem-se "assentado nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Efés. 2:6). Por meio do Espírito Santo, os crentes, espiritualmente, no coração, já seguem a seu Senhor ressuscitado. Entretanto, haverá uma ascensão literal correspondente à ascensão de Cristo, (1 Tess. 4:17; l Cor. 15:52.) Essa esperança dos crentes não é uma ilusão, porque eles já sentem o poder de atração do Cristo glorificado (1Ped. 1:8). Com essa esperança, Jesus confortou os seus discípulos antes de sua partida (João 14:1-3). "Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1 Tess. 4:18).

(e) O Cristo intercessor. Em virtude de ter assumido a nossa natureza e ter morrido por nossos pecados, Jesus é o Mediador entre Deus e os homens (1 Tim. 2:5). Mas o Mediador é também um Intercessor, e a intercessão é mais do que mediação. Um mediador pode ajuntar as duas partes e depois deixá-las a si mesmas para que resolvam suas dificuldades; porém, um intercessor diz alguma coisa a favor da pessoa pela qual se interessa. A intercessão é um ministério importante do Cristo glorificado (Rom. 8:34). A intercessão forma o apogeu das suas atividades salvadoras. Ele morreu por nós; ressuscitou por nós; ascendeu por nós; e intercede por nós (Rom. 8:34). Nossa esperança não está em um Cristo morto, mas em um Cristo que vive; e não somente em Um que vive, mas em um Cristo que vive e reina com Deus. O sacerdócio de Cristo é eterno; portanto, sua intercessão é permanente. "Portanto, ele pode levar a um desfecho feliz ("perfeitamente", Hebreus 7:25) toda a causa cuja defesa ele pleiteia assegurando assim àqueles que se chegam a Deus, por sua mediação, a completa restauração ao favor e à bênção divinos. Realmente, o propósito de sua vida no céu é precisamente esse; ele vive sempre com esse intento de interceder diante de Deus a favor dos seus.
Enquanto Deus existir, não pode haver interrupção de sua obra intercessora... porque a intercessão do Cristo glorificado não é uma oração apenas, mas uma vida. O Novo Testamento não o apresenta como um suplicante constantemente presente perante o Pai, de braços estendidos e em forte pranto e lágrimas, rogando por nossa causa diante de Deus como se fora um Deus relutante, mas o apresenta como um Sacerdote-Rei entronizado, pedindo o que deseja de um Pai que sempre o ouve e concede Sua petição" (Swete). Quais as principais petições de Cristo em seu ministério intercessor? A oração do capítulo 17 de João sugere a resposta. Semelhante ao oficio de mediador é o de advogado (no grego, "parácleto"). (1João 2:1.) Advogado ou parácleto é aquele que é chamado a ajudar uma pessoa angustiada ou necessitada, para confortá-la ou dar-lhe conselho e proteção. Essa foi a relação do Senhor para com seus discípulos durante os dias de sua carne. Mas o Cristo glorificado também está interessado no problema do pecado. Como Mediador, ele obtém acesso para nós na presença de Deus; como Intercessor, ele leva nossas petições perante Deus; como Advogado, ele enfrenta as acusações feitas contra nós pelo "acusador dos irmãos", na questão do pecado. Para os verdadeiros cristãos uma vida habitual de pecado não é admissível (1 João 3:6); porém, isolados atos de pecado podem acontecer aos melhores cristãos, e tais ocasiões requerem a advocacia de Cristo. Em l João 2:1, 2 estão expostas três considerações que dão força a sua advocacia: primeira, ele está "com o Pai", na presença de Deus; segunda, ele é "o Justo", e como tal, pode ser uma expiação por outrem; terceira, ele é "a propiciação pelos nossos pecados", isto é, um sacrifício que assegura o favor de Deus por efetuar expiação pelo pecado.

(f) O Cristo onipresente. (João 14:12.) Enquanto estava na terra, Cristo necessariamente limitava-se a estar em um lugar de cada vez, e não podia estar em contato com todos os seus discípulos ao mesmo tempo. Mas ao ascender ao lugar de onde procedera a força motriz do universo, foi-lhe possível enviar seu poder e sua personalidade divina em todo tempo, a todo lugar e a todos os seus discípulos. A ascensão ao trono de Deus deu-lhe não somente onipotência (Mat. 28:18) mas também onipresença, cumprindo-se assim a promessa: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles" (Mat. 18:20).

(g) Conclusão: Valores da ascensão. Quais os valores práticos da doutrina da ascensão?
1) O conhecimento interno do Cristo glorificado, a quem brevemente esperamos ver, é um incentivo à santidade. (Col. 3:1-4.) O olhar para cima vencerá a atração das coisas do mundo.
2) O conhecimento da ascensão proporciona um conceito correto da igreja. A crença em um Cristo meramente humano levaria o povo a considerar a igreja como uma sociedade meramente humana, útil, sim, para propósitos filantrópicos e morais, porém destituída de poder e autoridade sobrenaturais. Por outro lado, um conhecimento do Cristo glorificado resultará no reconhecimento da igreja como um organismo, um organismo sobrenatural, cuja vida divina emana da Cabeça — Cristo ressuscitado.
3) O conhecimento interno do Cristo glorificado produzir uma atitude correta para com o mundo e as coisas do mundo. "Mas a nossa cidade (literalmente, "cidadania") está nos céus donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fil. 3:20).
4) A fé no Cristo glorificado inspirará um profundo sentimento de responsabilidade pessoal. A crença no Cristo glorificado leva consigo o conhecimento de que naquele dia teremos que prestar contas a ele mesmo. (Rom. 14:7-9; 2 Cor. 5:9,10.) O sentido de responsabilidade a um Mestre no céu atua como um freio contra o pecado e serve de incentivo para a retidão. (Efés. 6:9.)
5) Junto à fé no Cristo glorificado temos a bendita e alegre esperança de seu regresso. "E se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez" (João 14:3).


Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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