segunda-feira, 23 de maio de 2011

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO - 3 PARTE - A. Knight & W. Anglin



TRINTA ANOS DE SOSSEGO
No ano 117 morreu Trajano, e o seu sucessor, Adriano, continuou as perseguições. E foi só no ano 138, quando An­tônio Pio subiu ao trono, que os cristãos ficaram de alguma maneira aliviados dessa opressão. Com o seu reinado bran­do e pacífico começou um período de sossego que durou perto de trinta anos; e durante esse tempo a Palavra de Deus teve livre curso e Cristo foi glorificado. E certo que houve alguns casos isolados de opressão, mas a perseguição geral tinha desaparecido e o Evangelho depressa se espa­lhou por todas as províncias dos domínios romanos.
A gloriosa mensagem foi levada para o Ocidente até nas extremidades da Gália e para o Oriente até a Armênia e a Assíria; e milhares daqueles que em vão tinham procurado a paz de coração nas mitologias de Roma e do Egito, escu­taram avidamente as palavras da vida, e espontaneamente se tornaram discípulos de Cristo.

UMA NOVA PERSEGUIÇÃO
Contudo, com a subida ao trono de Marco Aurélio, co­meçou uma nova opressão, e no segundo ano do seu reina­do, as nuvens da perseguição começaram de novo a amon­toar-se.
As várias inquietações quase se seguiram uma após ou­tra com espantosa rapidez, e que pareciam, às vezes, per­turbar as próprias instituições do Império, forneceram um pretexto fácil para a renovação das perseguições; e logo em seguida o antigo ódio pelos cristãos que havia muito estava guardado nos corações dos ímpios, começou mais uma vez a manifestar-se pelo antigo grito "Lancem os cristãos aos leões!" tão terrivelmente familiar aos ouvidos de muitos, e que passou como um sopro pestilento pelo Império Orien­tal. Assim teve origem a quarta perseguição geral.

MARTÍRIO DE POLICARPO
A maior força da tempestade que se aproximava sen­tiu-se na Ásia Menor, onde saíram os novos editos, e o nome de Policarpo, bispo em Esmirna, apareceu brilhan­temente na lista dos mártires daquele tempo. Ao contrário de Inácio que se expunha desnecessariamente à vontade cega da populaça, Policarpo não recusou escutar os conse­lhos e pedidos dos seus amigos, e quando viu que estava sendo espiado em Esmirna retirou-se para uma aldeia pró­xima, e ali continuou o seu trabalho.
Sendo perseguido, foi para outra aldeia, exortando o povo que se encontrava no seu caminho; e assim foi viven­do dessa maneira errante até que os seus inimigos des­cobriram o lugar onde se refugiava. Então o velho bispo (avisado, segundo dizem, num sonho de que deveria glorificar a Deus, sofrendo morte de mártir) resignou-se com pa­ciência à vontade de Deus, e entregou o seu corpo às mãos dos oficiais encarregados de o prenderem. Antes de deixar a casa, deu ordem para que lhes dessem de comer; e, em se­guida, parecendo saber antecipadamente o que esperava, encomendou-se a Deus. Diz-se que o fervor de sua oração comoveu de tal maneira os oficiais que eles se arrepende­ram de ser os instrumentos da sua captura. Montaram-no num jumento, e trouxeram-no para Esmirna, onde estava reunida uma grande multidão para celebrar a festa dos pães asmos.
Por consideração pela sua idade avançada e pela sua sabedoria, Nicites, homem de grande influência, e seu filho Herodes, oficial da cidade, foram ao seu encontro e, fa­zendo-o entrar no seu carro, instaram com ele para que as­segurasse a sua liberdade, tributando honras a César e consentindo em oferecer sacrifícios aos deuses. Ele recu­sou-se a isto e, por esse motivo, foi empurrado do carro com tal violência abaixo que na queda torceu uma coxa. Mas o velho servo de Deus continuou pacificamente o seu caminho, sem se perturbar com a rudeza de Herodes, indi­ferente aos gritos da multidão que, no seu ódio, empurra­va-o de um lado para outro; e deste modo chegaram à are­na.

POLICARPO E O GOVERNADOR
Era este o sítio onde tinham chegado os jogos e exposi­ções sagradas; e conta-se que na ocasião de entrar na are­na, uma voz, como que vinda do céu, exclamou: "Sê forte Policarpo, e porta-te como um homem". Seja como for, um poder que não era humano susteve o servo de Deus, e quando o cônsul, comovido com o seu aspecto venerável, pediu-lhe que jurasse pela alma de César, e dissesse: "Fora com os ímpios!" O velho mártir, apontando para os bancos cheios de gente, repetiu com tristeza: "Fora com os ímpios!" "Jurai", disse o governador, compadecido, "e eu vos mandarei embora. Renegai a Cristo." Mas Policarpo respondeu com brandura: "Tenho-o servido durante oiten­ta e sete anos, e nunca Ele me fez mal. Como posso eu ago­ra blasfemar contra o meu Rei e Salvador?"
"Jurai pela alma de César", repetiu o governador ainda inclinado à compaixão, mas Policarpo respondeu: "Se julgais que hei de jurar pela alma de César como dizeis, e fingis não saber quem eu sou, ouvi a minha confissão livre: sou cristão; e se desejais conhecer a doutrina do cristianis­mo, concedei-me um dia para falar-vos e escutai-me". 0 governador, notando com inquietação o clamor da multi­dão, pediu ao ancião que abjurasse sua fé, mas Policarpo se negou a fazer isso. Tinham-lhe ensinado a honrar os poderes superiores, e sujeitar-se a eles porque eram ordena­dos por Deus, mas quanto ao povo, principalmente no es­tado atual de turbulência em que se encontrava, nada lhe apresentaria em sua defesa. "Tenho à mão animais fero­zes", disse o governador, "lançar-vos-ei a eles, se não mudardes de opinião" - "Mandai-os vir", disse Policarpo tranqüilamente.
O velho peregrino alegrava-se com a perspectiva de se ver prontamente livre de um mundo ímpio e cheio de per­seguições, e sua tranqüila intrepidez exasperou o governa­dor, que por esse motivo ameaçou queimá-lo, mas o intré­pido Policarpo respondeu: "Ameaçais-me com o fogo que arde por um momento, e depressa se apaga, mas nada sabeis da pena futura, e do fogo eterno reservado aos ímpios".
O governador perdeu completamente a paciência, mandou um arauto apregoar no meio da arena: "Policarpo é cristão". Esta proclamação foi repetida três vezes, como era de costume e a raiva da população chegou ao auge. Vi­ram no velho prisioneiro um homem que tinha desprezado os seus deuses, e cujo ensino tinha retirado o povo dos seus templos, e tornou-se geral o grito de: "Lancem Policarpo aos leões!"
Mas a hora do espetáculo já tinha passado, e o asiarca que tinha aos seus cuidados os espetáculos públicos recu­sou-se a fazer a vontade do povo. Se ainda estavam dispos­tos a dar-lhe a morte, tinham de escolher qualquer outro dia: assim pois, se ouviu imediatamente o grito para que Policarpo fosse queimado. A lenha e a palha estavam ali à mão, e a vítima depois de ser despojada da sua capa, foi le­vada às pressas para o poste. Queriam pregá-lo a ele, mas Policarpo pediu-lhes para ser simplesmente atado, e con­cederam-lhe isso.
Tendo em seguida recomendado a sua alma a Deus deu o sinal ao algoz, e este logo lançou fogo à palha. Mas, diz a tradição, os acontecimentos maravilhosos do dia ainda não tinham chegado ao seu fim. Por qualquer razão desconhe­cida, as chamas não tocaram no corpo de Policarpo, e os espectadores, vendo-se enganados, olhavam uns para os outros na maior admiração.
Contudo, o ódio venceu a superstição, e pediram ao al­goz que matasse a vítima a golpes de espada. Assim se fez, o golpe fatal foi imediatamente dado, e naquele momento de cruel martírio, o fiel servo do Senhor entregou a alma a Deus, e ficou para sempre longe do alcance dos seus perse­guidores.

OUTROS MARTÍRIOS
Muitos outros, em nada inferiores na fé e valor a Poli-carpo, ainda que menos distintos pelas suas aptidões, so­freram durante esta perseguição, e seria de muito interesse falar de alguns se o espaço permitisse. Seria, por exemplo, interessante falar de Germano, um jovem cristão cuja constância e coragem deram um testemunho tão brilhante da realidade de sua fé, mesmo na hora solene de sua morte, que muitos se converteram; ou de Justino de Nápoles, o qual, tendo estudado todos os sistemas filosóficos, e ocu­pando um lugar de destaque entre os professores do seu tempo, tomou-se com alegria um discípulo do meigo e sublime Jesus. E maravilhoso dizer que ele depois selou com o seu sangue o testemunho que tinha dado e alcançou no seu martírio um nome nobre - o de Justino, o filósofo, por que ainda é conhecido, e pelo qual será chamado para receber a sua coroa de mártir.

PERSEGUIÇÃO EM LIÃO E VIENA
Em Lião e Viena também a fé dos crentes foi duramen­te provada, porque o inimigo das almas andava muito ati­vo. Toda a espécie de tortura que o espírito humano podia imaginar era infligida aos cristãos daquelas cidades; mas o número aumentava sempre; e qualquer esforço que se fi­zesse para exterminar a nova religião não fazia senão espa­lhá-la cada vez mais, e com maior rapidez. Foi ali que Blandina, uma escrava de aparência fraca e franzina, de­pois de sofrer com exemplar paciência as mais extraordi­nárias torturas, durante as quais os próprios perseguidores se cansaram, ganhou a coroa do martírio, e morreu dando glórias a Deus.
Ali também Santos, diácono da igreja, e Mauro, que havia pouco se convertera ao cristianismo, sofreram nobremente pela verdade, bem como Attalo, de Pérgamo; Potimo, bispo de Lyon, e muitos outros.
E assim, da mesma maneira que o metal precioso passa pelo fogo do refinador que o torna puro, também a Igreja de Deus passou pelo fogo e aflição, e uma grande parte da escória que andava ligada a ela separou-se e consumiu-se, enquanto que as fagulhas que saem do lume, levadas para aqui e para ali pelo vento da perseguição, atearam no peito de muitos o desejo de compreenderem este extraordinário assunto e, por assim dizer, entenderem a natureza deste novo metal que de tal modo podia suportar a prova de fo­go.

UMA CARTA A JUSTINO
Parece que até este tempo, a igreja tinha conservado aque­la simplicidade de conduta e culto de que temos alguns be­los exemplos em Atos dos Apóstolos, e em outros livros. Conta o mártir Justino as práticas que se faziam no seu tempo, e que não deixam de ser interessantes: "Encontra­mo-nos no dia do Senhor", diz ele, "para adoração, nas ci­dades e vilas; lemos nos livros dos profetas e das memórias dos apóstolos tanto quanto o tempo nos permite. Acabada a leitura, o presidente ou bispo, num discurso ou sermão, exorta os fiéis a seguirem aqueles excelentes exemplos; em seguida todos se levantam e oram juntos. Depois disto tra­zem pão, vinho e água, e o presidente faz oração e dá gra­ças conforme a sua habilidade, e toda a gente diz "Amém". Faz-se então a distribuição dos elementos abençoa­dos a todos os presentes, e aos ausentes manda-se pelos diáconos.
"Aqueles que são ricos, e estão dispostos a contribuir dão o dinheiro que querem, cada qual conforme a sua von­tade; e o que se junta é entregue ao presidente, que o dis­tribui cuidadosamente para os órfãos e as viúvas, e para aqueles que por doença ou outro qualquer motivo estão ne­cessitados, e também aos que se acham presos, e aos es­trangeiros que residem conosco. Em suma, à todos aqueles que precisam de auxílio".
Que bela simplicidade de vida e de culto! Na verdade é isso em parte um exemplo da continuação "na doutrina dos apóstolos e no partir do pão e na oração", que se reco­menda no livro de Atos dos Apóstolos, e que constitui um distintivo da primitiva cristandade.

Continua.......

Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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