segunda-feira, 23 de maio de 2011

TEOLOGIA - DEUS - 6ª Parte

 

IV. O Triúno Deus

1. A doutrina declarada.

  As Escrituras ensinam que Deus é Um, e que além dele não existe outro Deus. Poderia surgir a pergunta: "Como podia Deus ter comunhão com alguém antes que existissem as criaturas finitas?" A resposta é que a Unidade Divina é uma Unidade composta, e que nesta unidade há realmente três Pessoas distintas, cada uma das quais é a Divindade, e que, no entanto, cada uma está sumamente consciente das outras duas. Assim, vemos que havia comunhão antes que fossem criadas quaisquer criaturas finitas. Portanto, Deus nunca esteve só. Não é o caso de haver três Deuses, todos três independentes e de existência própria. Os três cooperam unidos e num mesmo propósito, de maneira que no pleno sentido da palavra, são "um". O Pai cria, o Filho redime, e o Espírito Santo santifica; e, no entanto, em cada uma dessas operações divinas os Três estão presentes. O Pai é preeminentemente o Criador, mas o Filho e o Espírito são tidos como cooperadores na mesma obra. O Filho é preeminentemente o Redentor, mas Deus o Pai e o Espírito são considerados como Pessoas que enviam o Filho a redimir. O Espírito Santo é o Santificador, mas o Pai e o Filho cooperam nessa obra. A Trindade é uma comunhão eterna, mas a obra da redenção do homem evocou a sua manifestação histórica. O Filho entrou no mundo duma maneira nova ao tomar sobre si a natureza humana e lhe foi dado um novo nome, Jesus. O Espírito Santo entrou no mundo duma maneira nova, isto é, como o Espírito de Cristo incorporado na igreja. Mas ao mesmo tempo, os três cooperaram. O Pai testificou do Filho (Mat. 3:17); e o Filho testificou do Pai (João 5:19). O Filho testificou do Espírito (João 14:26), e mais tarde o Espírito testificou do Filho (João 15:26). Será tudo isso difícil de compreender? Como poderia ser de outra maneira visto que estamos tentando explicar a vida íntima do Deus Todo-poderoso! A doutrina da Trindade é claramente uma doutrina revelada, e não doutrina concebida pela razão humana. De que maneira poderíamos aprender acerca da natureza íntima da Divindade a não ser pela revelação? (1 Cor. 2:16.) É verdade que a palavra "Trindade" não aparece no Novo Testamento; é uma expressão teológica, que surgiu no segundo século para descrever a Divindade. Mas o planeta Júpiter existiu antes de receber ele este nome; e a doutrina da Trindade encontrava-se na Bíblia antes que fosse tecnicamente chamada a Trindade.

2. A doutrina definida.

  Bem podemos compreender porque a doutrina da Trindade era às vezes mal entendida e mal explicada. Era muito difícil achar termos humanos que pudessem expressar a unidade da Divindade e ao mesmo tempo, a realidade e a distinção das Pessoas. Ao acentuar a realidade da Divindade de Jesus, e da personalidade do Espírito Santo, alguns escritores corriam o perigo de cair no triteísmo, ou a crença em três deuses. Outros escritores, acentuando a unidade de Deus, corriam perigo de esquecer-se da distinção entre as Pessoas. Este último erro é comumente conhecido como sabelianismo, doutrina do bispo Sabélio que ensinou que Pai, Filho, e Espírito Santo são simplesmente três aspectos ou manifestações de Deus. Este erro tem surgido muitas vezes na história da igreja e existe ainda hoje. Essa doutrina do sabelianismo é claramente antibíblica e carece de aceitação, por causa das distinções bíblicas entre o Pai, o Filho, e o Espírito. O Pai ama e envia o Filho, o Filho veio do Pai e voltou para o Pai. O Pai e o Filho enviam o Espírito; o Espírito intercede junto ao Pai. Se, então, o Pai, o Filho e o Espírito são apenas um Deus sob diferentes aspectos ou nomes, então o Novo Testamento é uma confusão. Por exemplo, a leitura da oração intercessória (João 17) com pensamento de que Pai, Filho e Espírito fossem uma só Pessoa, revelaria o absurdo dessa doutrina, isto é, seria mais ou menos isto: "Assim como eu me dei poder sobre toda a carne, para que eu dê a vida eterna a todos quantos dei a mim mesmo... eu me glorifiquei na terra, tendo consumado a obra que me dei a fazer. E agora eu me glorifico a mim mesmo com a glória que eu tinha comigo antes que o mundo existisse." Como foi preservada a doutrina da Trindade de não se deslocar para os extremos, nem para o lado da Unidade (sabelianismo) nem para o lado da Tri-unidade (triteismo)? Foi pela formulação de dogmas, isto é, interpretações que definissem a doutrina e a "protegessem" contra o erro. O seguinte exemplo de dogma acha-se no Credo de Atanásio formulado no quinto século: Adoramos um Deus em trindade, e trindade em unidade. Não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância. Pois a pessoa do Pai é uma, a do Filho outra, e a do Espírito Santo, outra. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma divindade, glória igual e majestade co-eterna. Tal qual é o Pai, o mesmo são o Filho e o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho incriado, o Espírito incriado. O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o Espírito Santo é imensurável. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E, não obstante, não há três eternos, mas sim um eterno. Da mesma forma não há três (seres) incriados, nem três imensuráveis, mas um incriado e um imensurável. Da mesma maneira o Pai é onipotente. No entanto, não há três seres onipotentes, mas sim um Onipotente. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. No entanto, não há três Deuses, mas um Deus. Assim o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. Todavia não há três Senhores, mas um Senhor. Assim como a veracidade cristã nos obriga a confessar cada Pessoa individualmente como sendo Deus e Senhor, assim também ficamos privados de dizer que haja três Deuses ou Senhores. O Pai não foi feito de coisa alguma nem criado, nem gerado. O Filho procede do Pai somente, não foi feito, nem criado, mas gerado.   O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um Pai, três Pais; um Filho, não três Filhos; um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta trindade não existe primeiro nem último; maior nem menor. Mas as três Pessoas co-eternas são iguais entre si mesmas; de sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas.
  A declaração acima pode parecer-nos complicada, por tratar-se de pontos sutis; mas nos dias primitivos demonstrou ser um meio eficaz de preservar a declaração correta sobre verdades tão preciosas e vitais para a igreja.

3. A doutrina provada.

  Visto como a doutrina da Trindade concerne à natureza íntima da Trindade, não poderia ser conhecida, exceto por meio de revelação. Essa revelação encontra-se nas Escrituras.

  (a) O Antigo Testamento. O Antigo Testamento não ensina clara e diretamente sobre a Trindade, e a razão é evidente. Num mundo onde o culto de muitos deuses era comum, tornava-se necessário acentuar esta verdade em Israel, a verdade de que Deus é Um, e de que não havia outro além dele. Se no princípio a doutrina da Trindade fosse ensinada diretamente, poderia ter sido mal entendida e mal interpretada. Muito embora essa doutrina não fosse explicitamente mencionada, sua origem pode ser vista no Antigo Testamento. Sempre que um hebreu pronunciava o nome de Deus (Elohim) ele estava realmente dizendo "Deuses", pois a palavra é plural, e às vezes se usa em hebraico acompanhada de adjetivo plural (Jos. 24:18, 19) e com verbo no plural. (Gên. 35:7.)
  Imaginemos um hebreu devoto e esclarecido ponderando o fato de que Deus é Um, e no entanto é Elohim — "Deuses". Facilmente podemos imaginar que ele chegasse à conclusão de que exista pluralidade de pessoas dentro de um Deus. Paulo, o apóstolo, nunca cessou de crer na unidade de Deus como lhe fora ensinada desde a sua mocidade (1 Tim. 2:5; 1 Cor. 8:4); de fato, Paulo insistia em que não ensinava outra coisa senão aquelas que se encontravam na Lei e nos Profetas. Seu Deus era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. No entanto, pregava a divindade de Cristo (Fil. 2:6-8; 1 Tim. 3:16) e a personalidade do Espírito Santo (Efés. 4:30) e incluiu as três Pessoas juntas na bênção apostólica. (2 Cor. 13:14.) Todos os membros da Trindade são mencionados no Antigo Testamento:
1) O Pai. (Isa. 63:16; Mal. 2:10.)
2) O Filho de Jeová . (Sal. 45:6, 7; 2:6, 7, 12; Prov. 30:4.) O Messias é descrito com títulos divinos. (Jer. 23:5, 6; Isa. 9:6.) Faz-se menção do misterioso Anjo de Jeová que leva o nome de Deus e tem poder tanto para perdoar como para reter os pecados. (Êxo. 23:20,21.)
3) O Espírito Santo. (Gên. 1:2; Isa. 11:2, 3; 48:16; 61:1; 63:10.) Prenúncios da Trindade vêem-se na tríplice bênção de Num. 6:24-26 e na tríplice doxologia de Isa. 6:3.

(b) O Novo Testamento. Os cristãos primitivos mantinham como um dos fundamentos da fé o fato da unidade de Deus. Tanto ao judeu como ao pagão podiam testificar: "Cremos em um Deus." Mas ao mesmo tempo eles tinham as palavras claras de Jesus para provar que ele arrogou a si uma posição e uma autoridade que seriam blasfêmia se não fosse ele Deus. Os escritores do Novo Testamento, ao referirem-se a Jesus, usaram uma linguagem que indicava reconhecerem a Jesus como sendo "sobre todas as coisas, Deus bendito para sempre" (Rom. 9:5). E a experiência espiritual dos cristãos apoiava estas afirmações. Ao conhecer a Jesus, conheciam-no como Deus. O mesmo se verifica em relação a Deus e ao Espírito Santo. Os primitivos cristãos criam que o Espírito Santo, que morava neles, ensinando-os, guiando-os, e inspirando-os a andar em novidade de vida, não era meramente uma influência ou um sentimento, mas um ser ao qual poderiam conhecer e com o qual suas almas poderiam ter verdadeira comunhão. E, ao examinarem o Novo Testamento, ali acharam que ele era descrito como possuindo os atributos de uma personalidade. Assim a igreja primitiva se defrontava com estes dois fatos: que Deus é Um, e que o Pai é Deus; o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. E estes dois grandes fatos concernentes a Deus constituem a doutrina da Trindade. Deus, o Pai, era para eles uma realidade; o Filho era para eles uma realidade; e da mesma forma, o Espírito Santo. E, diante desses fatos, a única conclusão a que se podia chegar era a seguinte: que havia na Divindade uma verdadeira, embora misteriosa, distinção de personalidades, distinção que se tomou manifesta na obra divina para redimir o homem. Várias passagens do Novo Testamento mencionam as três Pessoas Divinas. (Vide Mat. 3:16, 17; 28:19; João 14:16, 17, 26; 15:26; 2 Cor. 13:14; Gál. 4:6; Efés. 2:18; 2 Tes. 3:5; 1Ped. 1:2; Efés. 1:3, 13; Heb. 9:14.) Uma comparação de textos tomados de todas as partos das Escrituras mostra o seguinte:
1) Cada uma das três Pessoas é Criador, embora se declare que há um só Criador. (Jo 33:4 e Isa. 44:24.)
2) Cada uma é chamada Jeová (Deut. 6:4)

4. A doutrina ilustrada.

Como podem três Pessoas ser um Deus? — é uma pergunta que deixa muita gente perplexa. Não nos admiramos dessa estranheza, pois, ao considerar a natureza interna do eterno Deus, estamos tratando de uma forma de existência muito diferente da nossa. Assim escreve o Dr. Peter Green: Suponhamos que houvesse um ser, uma espécie de anjo, ou visitante do planeta Marte, que nunca tivesse visto nenhum ser vivo. Quão difícil seria para ele compreender o fato do crescimento. Poderia talvez compreender que uma coisa pudesse aumentar de volume, por assim dizer, por acréscimo, como um montão de pedras se torna sempre maior ao serem nele colocadas outras pedras. Mas teria dificuldade em compreender como uma coisa pudesse crescer, por assim dizer, de dentro e por si mesma. A idéia de crescimento seria para ele uma coisa muito difícil de ser compreendida. E se ele fosse orgulhoso, impaciente, e sem vontade de aprender, é quase certo que não a entenderia.
Agora suponhamos que esse mesmo ser estranho, tendo aprendido algo acerca da vida e do crescimento, como se vê nas árvores e nas plantas, fosse apresentado a um novo fato, a saber, o da inteligência, como se manifesta nos animais de ordem superior. Quão difícil seria para ele compreender o significado de gosto e desgosto, escolha e recusa, sabedoria ou ignorância. Se a vida já é difícil de entender, quanto mais o é a mente. Aqui, também, seria necessário ser humilde, paciente e ter vontade de aprender para entender essas idéias. Mas no momento em que começasse a compreender o que significa a mente e como funciona, teria que procurar entender algo mais elevado do que a mente, como a encontramos nos seres humanos. Aqui, outra vez, enfrentaria ele algo novo, estranho, e que não se explicaria por referência a coisa alguma que até então houvesse conhecido. Teria que ser cuidadoso, humilde, e estar disposto a ser instruído.
Ele, então, o tal anjo ou visitante de Marte, esperaria, e nós também faríamos bem em esperar, que ao passarmos da consideração da natureza do homem para a consideração da natureza de Deus encontraremos algo novo.
Mas existe um método pelo qual as verdades que estão além do alcance da razão ainda podem, até certo ponto, tomar-se perceptíveis a ela. Referimo-nos ao uso da ilustração ou da analogia. Porém elas devem ser usadas com cuidado, e não forçadamente.
"Toda comparação manca", disse um sábio da antiga Grécia. Até as melhores são imperfeitas e inadequadas. Elas podem ser comparadas a minúsculas lanternas elétricas que nos ajudam a enxergar algum tênue vislumbre da razão das verdades imensuráveis, vastas demais para serem perfeitamente compreendidas.
Obtemos de três fontes as ilustrações: a natureza; a personalidade humana; e as relações humanas.
(a) A natureza proporciona muitas analogias.
1) A água é uma, mas esta também é conhecida sob três formas — água, gelo e vapor.
2) Há uma eletricidade, mas no bonde ela funciona sob a forma de movimento, luz e calor.
3) O sol é um, mas se manifesta como luz, calor e fogo.
4) Quando São Patrício evangelizava os irlandeses, explicou a doutrina da Trindade usando o trevo como ilustração.
5) é de conhecimento geral que todo raio de luz realmente se compõe de três raios: primeiro, o actinico, que é invisível; segundo, o luminoso, que é visível; terceiro, o calorífero, que produz calor, o qual se sente mas não se vê. Onde há estes três, ali há luz; onde há luz, temos estes três. João o apóstolo, disse: "Deus é luz". Deus o Pai é invisível; ele se tomou visível em seu Filho, e opera no mundo por meio do Espírito, que é invisível, no entanto, é eficaz.
6) Três velas num quarto darão uma só luz.
7) O triângulo tem três lados e três ângulos; tirai-lhe um lado e não é mais triângulo. Onde há três ângulos há um triângulo.

(b) A personalidade humana.
1) Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança." O homem é um, e, no entanto, tripartido, constituído de espírito, alma e corpo.
2) O conhecimento humano assinala divisões na personalidade. Não temos sido cônscios, às vezes, de arrazoarmos com nós mesmos e de estarmos ouvindo a conversação? Eu falo comigo mesmo, e me escuto falando comigo mesmo!

(c) Relação
1) Deus é amor. Era eternamente Amante. Mas o amor requer um objeto a ser amado; e, sendo eterno, deve ter tido um objeto de amor eterno, a saber, seu filho. O Amante eterno e o Amado eterno! O Vínculo eterno e o caudal desse amor é o Espírito Santo.
2) Nosso governo é um, mas é constituído de três poderes: legislativo, judiciário e executivo.


Fonte: Conhecendo as Doutrinas da Biblia - Myer Pearlman



Pesquisa: Pr. Charles Maciel Vieira

Nenhum comentário:

Postar um comentário