terça-feira, 24 de maio de 2011

TEOLOGIA - IGREJA - ECLESIOLOGIA 2ª Parte

II. A Fundação da Igreja

1. Considerada profeticamente.

Israel é descrito como uma igreja no sentido de ser uma nação chamada dentre as outras nações a ser um povo de servos de Deus. (Atos 7:38.) Quando o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, a palavra "congregação" (de Israel) foi traduzida "ekklesia" ou "igreja". Israel, pois, era a congregação ou a igreja de Jeová. Depois de a igreja judaica o ter rejeitado, Cristo predisse a fundação duma nova congregação ou igreja, uma instituição divina que continuaria sua obra no terra (Mat. 16:18). Essa é a igreja de Cristo, que veio a ter existência no dia de Pentecoste.

2. Considerada Historicamente.

A igreja de Cristo veio a existir, como igreja, no dia de Pentecoste, quando foi consagrada pela unção do Espírito. Assim como o Tabernáculo foi construído e depois consagrado pela descida da glória divina (Êxo. 40:34), assim os primeiros membros da igreja foram congregados no cenáculo e consagrados como igreja pela descida do Espírito Santo. É muito provável que os cristãos primitivos vissem nesse evento o retorno da "Shekinah" (a glória manifesta no Tabernáculo e no templo) que, havia muito, partira do templo, e cuja ausência era lamentada por alguns dos rabinos. Davi juntou os materiais para a construção do templo, mas a construção foi feita por seu sucessor, Salomão. Da mesma maneira, Jesus, durante seu ministério terreno, havia juntado os materiais da sua igreja, por assim dizer, mas o edifício foi erigido por seu sucessor, o Espírito Santo. Realmente, essa obra foi feita pelo Espírito, operando mediante os apóstolos que lançaram os fundamentos e edificaram a igreja por sua pregação, ensino e organização. Portanto, a igreja é descrita como sendo "edificados sobre o fundamento dos apóstolos..." (Efés. 2:20).

III. Os membros da Igreja.

O Novo Testamento estabelece as seguintes condições para os membros da igreja:
- fé implícita no Evangelho e confiança sincera e de coração em Cristo como o único e divino Salvador (Atos 16:31);
- submeter-se ao batismo nas águas como testemunho simbólico da fé em Cristo; e
- confessar verbalmente essa fé. (Rom.10:9,10.)
No princípio, praticamente todos os membros da igreja eram verdadeiramente regenerados. "E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar" (Atos 2:47). Entrar na igreja não era uma questão de unir-se a uma organização, mas de tornar-se membro de Cristo, assim como o ramo é enxertado na árvore. No transcurso do tempo, entretanto, conforme a igreja aumentou em número e em popularidade, o batismo nas águas e a catequese tomaram o lugar da conversão. O resultado foi um influxo na igreja de grande número de pessoas que não eram cristãs de coração. E desde então, essa tem sido mais ou menos a condição da cristandade. Assim como nos tempos do Antigo Testamento havia um Israel dentro dum Israel, israelitas de verdade, bem como israelitas nominais, assim também no transcurso da história da igreja vemos uma igreja, dentro da igreja, cristãos verdadeiros no meio de cristãos apenas de nome. Portanto, devemos distinguir entre a igreja invisível, composta dos verdadeiros cristãos de todas as denominações, e a igreja visível, constituída de todos os que professam ser cristãos — a primeira, composta daqueles cujos nomes estão escritos no céu; a segunda, compreendendo aqueles cujos nomes estão registrados no rol de membros das igrejas. Nota-se a distinção em Mateus 13, onde o Senhor fala dos "mistérios do reino dos céus" — expressão essa que corresponde à designação geral "cristandade".
As parábolas nesse capítulo esboçam a história espiritual da cristandade entre o primeiro e o segundo advento de Cristo, e nelas aprendemos que haverá uma mistura de bons e maus na igreja, até a vinda do Senhor, quando a igreja será purificada e se fará separação entre o genuíno e o falso. (Mat. 13:36-43, 47-49.) O apóstolo Paulo expressa a mesma verdade quando compara a igreja a uma casa na qual há muitos vasos, uns para honra e outros para desonra. (2Tim. 2:19-21). É a igreja sinônimo do reino de Deus? Que a igreja seja uma fase do reino entende-se pelo ensino de Mat. 16: 18, 19, pelas parábolas em Mat. 13, e pela descrição de Paulo da obra cristã como sendo parte do reino de Deus (Col. 4:11). Sendo "o reino dos céus" uma expressão extensa, podemos descrever a igreja como uma parte do reino. William Evans assim escreveu: "A igreja pode ser considerada como uma parte do reino de Deus, assim como o Estado de Illinois é parte dos Estados Unidos." A igreja prega a mensagem que trata do novo nascimento do homem, pelo qual se obtém entrada no reino de Deus (João 3:3-5; 1Ped. 1:23.)

IV. A obra da Igreja.

1. Pregar a salvação.

A obra da igreja é pregar o Evangelho a toda a criatura (Mat. 28:19, 20), e explanar o plano da salvação tal qual é ensinado nas Escrituras. Cristo tornou acessível a salvação por provê-la; a igreja deve torná-la real por proclamá-la.

2. Prover meios de adoração.

Israel possuía um sistema de adoração divinamente estabelecido, pelo qual se chegava a Deus em todas as necessidades e crises da vida. Assim também a igreja deve ser uma casa de oração para todos os povos, onde Deus é cultuado em adoração, oração e testemunho.

3. Prover comunhão religiosa.

O homem é um ser social; ele anela comunhão e intercâmbio de amizade. é natural que ele se congregue com aqueles que participam dos mesmos interesses. A igreja provê uma comunhão baseada na Paternidade de Deus e no fato de ser Jesus o Senhor de todos. É uma fraternidade daqueles que participam duma experiência espiritual comum. O calor dessa comunhão era uma das características notáveis da igreja primitiva. Num mundo governado pela máquina política do Império Romano, em que o indivíduo era praticamente ignorado, os homens anelavam uma comunhão onde pudessem livrar-se do sentimento de solidão e desamparo. Em tal mundo, uma das características mais atraentes da igreja era o calor e a solidariedade da comunhão — comunhão em que todas as distinções terrenas eram eliminadas e os homens e mulheres tomavam-se irmãos e irmãs em Cristo.

4. Sustentar uma norma de conduta moral.

A igreja é "a luz do mundo", que afasta a ignorância moral; é o "sal da terra", que a preserva da corrupção moral. A igreja deve ensinar aos homens como viver bem, e a maneira de se preparar para a morte. Deve proclamar o plano de Deus para regulamentar todas as esferas da vida e sua atividade. Contra as tendências para a corrupção da sociedade, deve ela levantar a sua voz de admoestação.
Em todos os pontos de perigo deve colocar uma luz como sinal de perigo.

V. As ordenanças da Igreja

O Cristianismo no Novo Testamento não é uma religião ritualista; a essência do Cristianismo é o contato direto do homem com Deus por meio do Espírito. Portanto, não há uma ordem de adoração dogmática e inflexível, antes permitindo à igreja, em todos os tempos e países, a liberdade de adotar o método que lhe seja mais adequado, para a expressão de sua vida. Não obstante, há duas cerimônias que são essenciais, por serem divinamente ordenadas, a saber, o batismo nas águas e a Ceia do Senhor. Em razão de seu caráter sagrado, elas, às vezes, são descritas como sacramentos, literalmente, "coisas sagradas", ou "juramentos consagrados por um rito sagrado". Também são elas mencionadas como ordenanças porque são "ordenadas" pelo próprio Senhor.
O batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã, e simboliza o começo da vida espiritual. A Ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a continuação da vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo; o segundo sugere a comunhão com Cristo. O primeiro é administrado somente uma vez, porque pode haver apenas um começo da vida espiritual; o segundo é administrado freqüentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser alimentada.

1. O batismo.

(a) O modo. A palavra "batizar", usada na fórmula de Mateus 28:19.20. significa literalmente mergulhar ou imergir. Essa interpretação é confirmada por eruditos da língua grega e pelos historiadores da igreja. Mesmo eruditos pertencentes a igrejas que batizam por aspersão admitem que a imersão era o modo primitivo de batizar. Além disso, há razões para crer que para os judeus dos tempos apostólicos, o mandamento de ser "batizado" sugeriria "batismo de prosélito", que significava a conversão dum pagão ao Judaísmo. O convertido estava de pé na água, até ao pescoço, enquanto era lida a lei, depois do que ele mesmo se submergia na água, como sinal de que fora purificado das contaminações do paganismo e que começara uma nova vida como membro do povo da aliança. De onde veio, então, a prática da aspersão e de derramar a água? Quando a igreja abandonou a simplicidade do Novo Testamento, e foi influenciada pelas idéias pagãs, atribuiu importância antibiblica ao batismo nas águas, o qual veio a ser considerado inteiramente essencial para se alcançar a regeneração. Era, portanto, administrado aos enfermos e moribundos. Posto que a imersão não era possível em tais casos, o batismo era administrado por aspersão. Mais tarde, por causa da conveniência do método, este generalizou-se. Também, por causa da importância da ordenança, era permitido derramar a água quando não havia suficiente para praticar a imersão. Notem a seguinte citação dum antigo escritor do segundo século, agora concernente ao batismo, batiza assim: havendo ensinado todas essas coisas, batiza em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, em água viva (corrente). E se não tiveres água viva, batiza em outra água; e se não podes em água fria, então em água morna. Mas se não tiveres nem uma nem outra, derrama água três vezes sobre a cabeça, em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não obstante, o modo bíblico e original é imersão, o qual corresponde ao significado simbólico do batismo, a saber, morte, sepultura e ressurreição. (Rom. 6:1-4.)

(b) A fórmula. "Batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mat. 28:19). Como vamos reconciliar isso com o mandamento de Pedro: "...cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo"? (Atos 2:38). Estas últimas palavras não representam uma fórmula batismal, porém uma simples declaração afirmando que recebiam batismo as pessoas que reconheciam Jesus como Senhor e Cristo. Por exemplo, o "Didaquê", um documento cristão escrito cerca do ano 100 A.D., fala do batismo cristão celebrado em nome do Senhor Jesus, mas o mesmo documento, quando descreve o rito detalhadamente, usa a fórmula trinitária. Quando Paulo fala que Israel foi batizado no Mar Vermelho "em Moisés", ele não se refere a uma fórmula que se pronunciasse na ocasião; ele simplesmente quer dizer que, por causa da passagem milagrosa através do Mar Vermelho, os israelitas aceitaram Moisés como seu guia e mestre como enviado do céu. Da mesma maneira, ser batizado em nome de Jesus significa encomendar-se inteira e eternamente a ele como Salvador enviado do céu, e a aceitação de sua direção impõe a aceitação da fórmula dada por Jesus no capítulo 28 de Mateus. A tradução literal de Atos 2:38 é: "seja batizado sobre o nome de Jesus Cristo". Isso significa, segundo o dicionário de Thayer, que os judeus haviam de "repousar sua esperança e confiança em sua autoridade messiânica". Note-se que fórmula trinitária é descrita duma experiência. Aqueles que são batizados em nome do triúno Deus, por esse meio estão testificando que foram submergidos em comunhão espiritual com a Trindade. Desse modo pode-se dizer acerca deles: "A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos" (2 Cor. 13:13).

(c) O recipiente. Todos os que sinceramente se arrependem de seu pecado, professam a fé no Senhor Jesus, são elegíveis para o batismo. Na igreja apostólica o rito era acompanhado das seguintes expressões exteriores:
1) Profissão de fé. (Atos 8:37.)
2) Oração. (Atos 22:16.)
3) Voto de consagração. (1 Ped. 3:21.)
Visto que os infantes não têm pecados de que se arrepender e não podem exercer a fé, logicamente são excluídos do batismo nas águas. Com isso não os estamos impedindo que venham a Cristo (Mat. 19:13,14), pois eles podem ser consagrados a Jesus em culto publico.

(d) A eficácia. O batismo nas águas, em si não tem poder para salvar; as pessoas são batizadas, não para serem salvas, mas porque já são salvas. Portanto, não podemos dizer que o rito seja absolutamente essencial para a salvação. Mas podemos insistir em que seja essencial para a integral obediência a Cristo. Como a eleição do presidente da nação se completa pela sua posse do governo, assim a eleição do convertido pela graça e pela glória de Deus se completa por sua pública admissão como membro da igreja de Cristo.

(e) O significado. O batismo sugere as seguintes idéias:
1) Salvação. O batismo nas águas é um drama sacro (se nos permitem falar assim), representando os fundamentos do Evangelho. A descida do convertido às águas retrata a morte de Cristo efetuada; a submersão do convertido fala da morte ratificada, ou seja, o seu sepultamento; o levantamento do converso significa a conquista sobre a morte, isto é a ressurreição de Cristo.
2) Experiência. O fato de que esses atos são efetuados com o próprio convertido demonstra que ele se identificou espiritualmente com Cristo. A imersão proclama a seguinte mensagem: "Cristo morreu pelo pecado para que este homem morresse para o pecado." O levantamento do convertido expressa a seguinte mensagem: "Cristo ressuscitou dentre os mortos a fim de que este homem pudesse viver uma nova vida de justiça."
3) Regeneração. A experiência do novo nascimento tem sido descrita como uma, "lavagem" (literalmente "banho", Tito 3:5), porque por meio dela, os pecados e as contaminações da vida de outrora foram lavados. Assim como o lavar com água limpa o corpo, assim também Deus, em união com a morte de Cristo e pelo Espírito Santo, purifica a alma. O batismo nas águas simboliza essa purificação. "Levanta-te, e lava os teus pecados (isto é, como sinal do que já se efetuou)" (Atos 22:16).
4) Testemunho. "Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo" (Gál. 3:27). O batismo nas águas significa que o convertido, pela fé, "vestiu-se" do caráter de Cristo de modo que os homens podem ver a Cristo nele, como se vê o uniforme no soldado. Pelo rito de batismo, o convertido, figurativamente falando, publicamente veste o uniforme do reino de Cristo.


Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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