quarta-feira, 18 de maio de 2011

PSICOLOGIA PASTORAL - 4ºPARTE-Prof. Pr. VICENTE LEITE - IBETEL

Continua...........


3.2.2 O temperamento sangüíneo

  As características do temperamento sangüíneo são a vivacidade e a volubilidade. Explica-se com a forte sensibilidade receptiva, ligada a reação fraca.

  O aspecto trai logo o sanguíneo. Em geral é esbelto, agradável e de físico elegante. Possuí sistema nervoso vivaz, facilmente excitável.
  Os olhos são vivos e móveis, o passo veloz, mas um tanto incerto.
  Falta-lhe o comportamento enérgico. A atitude exprime grande agilidade e vivacidade, às vezes exuberância sentimental.

  O sanguíneo possui o sentimento acentuado para a exterioridade, isto é, para tudo o que pode perceber por meio dos sentidos. Embora também tenha espírito ativo e ardente, é-lhe difícil concentrar a mente sobre objeto preciso, dirigir a vontade com perseverança para alvo fixo.

  É esteta por nascimento, deleitando-se com as formas belas e agradáveis à vista. A seus olhos, que nunca estão parados, dificilmente escapa menor detalhe. Vê todos os movimentos, mesmo os que não deve. Escuta qualquer observação, mesmo se não se lhe destina ao ouvido, toma parte em todas as conversas e sempre quer intervir mesmo se não entende nada do tema. Na sua leviandade ousa atirarse
a qualquer empresa, antes mesmo de tê-la avaliado suficientemente. Vice-versa, falta-lhe a faculdade de terminar o empreendimento começado, também porque não dispõe de resistência tenaz e de perseverança. Tem sentimentos ternos e ardentes.
 
  Com facilidade deixa-se dominar pela disposição de ânimo. Tende à exaltação e exagero. Nem o elogio nem a desaprovação que formula devem tomar-se muito a sério. Acha tudo divino, magnífico, maravilhoso. Entusiasma-se com facilidade. Mas, com mais facilidade ainda deixa-se induzir a jogar fora as armas por qualquer pequeno insucesso ou crítica severa. À sua natureza corresponde concepção
alegre de vida, superficial, muitas vezes até leviana. Nada considera pelo lado trágico. O riso e o pranto alternam-se com facilidade. Está sempre em contato com o próximo. É o homem de sociedade por excelência, que não encontra dificuldade em freqüentar os homens, sendo por isso bem-visto e amado.

  O sanguíneo encontra, no caminho para a santidade, devido ao temperamento, não poucos empecilhos. A índole inconstante, um pouco inclinada à leviandade, causa-lhe dificuldades no progresso espiritual. Passa depressa sobre o que é profundo.

  Considera aborrecido tudo quanto exige fadiga, sacrifício, renúncia, mortificação.
Pensa antes de tudo em ocupar-se com os sentidos e satisfazê-los. No trabalho procura a variedade, gosta de companhia e divertimento.

  Contenta-se com meias-medidas e superficialidade. Muito cheio de si, é suscetível ao louvor, até à adulação, mas sente-se desmoralizado pela censura e repreensão. Vaidoso e ávido de prazeres, gosta muito de comer e beber bem, preocupa-se muito com o modo de trajar, com o lugar onde mora e todos os outros gozos da vida. Deixa-se fascinar com facilidade pelo que é vistoso, é presa fácil dos próprios humores e
sentimentos, caprichos e inclinações. Por sua natureza vaidoso e volúvel esquece de boa vontade qualquer preocupação e corre o perigo de entregar-se aos prazeres vulgares. Quer participar de tudo, estar presente em toda parte. Sendo de índole curiosa e loquaz, para não dizer linguareiro, confia em todo o mundo; com dificuldade guarda os próprios segredos. Revela tendência acentuada para a exaltação e os prazeres eróticos. Brinca levianamente com os pecados mais graves, é muito fácil fazê-lo mudar de rumo e corrompê-lo. É-lhe difícil o recolhimento, a solidão no silêncio, na oração e mortificação. Tende mais para o ciúme, para a ostentação vazia.  Na loquacidade não dá muito valor à verdade. Também a vanglória e a vileza podem induzi-lo à mentira. Exagera muita vez e de boa vontade. Quando faz qualquer
narração, tudo exagera. Tem opinião excelente de si próprio. julga-se seriamente o mais inocente do mundo. A luta principal deveria ser contra a paixão sensual.  Tomando a sério essa luta e a estrada da perfeição, encontrarão no próprio temperamento muita matéria para o domínio de si mesmos, para a renúncia, sacrifício e combate incessante contra o próprio eu.

  O temperamento sanguíneo apresenta, apesar disso, também vantagens do ponto de vista moral e religioso. Até a volubilidade do sanguíneo pode tornar-se bênção, se for da mesma forma inconstante no pecado. Sua cólera dura pouco, não conserva rancor; e o mesmo se aplica às relações com Deus. Uma vez de acordo com Deus não ficará nunca muito tempo separado dele. Seu sentimento conduz à reparação. Muitas vezes, naturalmente, também não passa de fogo de palha. O arrependimento não é bastante profundo, às vezes permanece somente na superfície. No entanto, é suscetível de correção e aceita com facilidade as observações como, de sua parte,
possui grande capacidade para corrigir os outros sem que fiquem ressentidos. A cólera é superada com a mesma rapidez com que se apodera dele. No trato com os homens mostra-se serviçal, condescendente, gentil. É capaz de comover-se e adaptar-se.

  Compartilha das dores e alegrias alheias. Sabe brincar e rir, consolar e animar. Além disso, é franco e cândido, e por isso ninguém fica zangado com Ele. Se conseguir vencer a antipatia e simpatia às vezes muito pronunciadas, que lhe dominam as relações com o próximo, esforçando-se para elevar-se a amor purificado, espiritualizado, sobrenatural, as relações com os homens tornar-se-ão fáceis e encontrará o modo de tornar-se tudo para todos, em amor sereno e
desinteressado.
 
  Para a auto-educação deve criar princípios claros e segui-los. Deve adquirir profundeza maior, pesquisar tudo inteiramente, aspirar à verdadeira virtude e severidade da vida. Deve considerar-se feliz se encontrar um amigo verdadeiro que lhe fique ao lado, que o livre de precipitações inconsideradas e de todas as irreflexões. Deve trabalhar constantemente para a consolidação do caráter. Deve temperar a vontade e obrigar o intelecto a ocupar-se do que é sério. Desse modo
conseguirá avançar na perfeição; tornar-se-á bom, gentil, sempre amigo, trazendo para os outros apenas alegrias.

  O obreiro de temperamento sanguíneo com facilidade tornar-se-á prático e conseguirá sucesso especialmente na direção espiritual da juventude. O temperamento dos meninos e de muitos jovens, como sabemos, é acentuadamente sanguíneo, justamente pela personalidade amável, radiante e serena conquistará depressa o amor em seu ambiente, reanimará e alegrará não poucas almas sofredoras e árduas. Deve evitar, porém, que a alegria se torne exagerada e seja
causa de desilusões para os que procuram nele profundeza espiritual, pois de outra forma não o tomarão mais a sério, nem o considerarão como pessoa digna de confiança. Deve aprender a sentir a vida espiritual alheia e não medir todos os outros com a unidade da própria volubilidade, justamente o obreiro sanguíneo deve submeter-se a autodisciplina severa, se não quiser perder a mais delicada das
atividades sacerdotais, a capacidade de dirigir almas.

3.2.3 O temperamento melancólico

  A característica do melancólico consiste na união de capacidade receptiva escassa a capacidade forte de reação. Aparentemente, também a reação psíquica parece fraca; na realidade, porém, fica encerrada no fundo da alma, mesmo quando esta é agitada por emoções fortes. O melancólico é tão impressionável que não consegue
livrar-se da lembrança de certas impressões. Bastaria isto para demonstrar que o melancólico é o temperamento mais complicado, ou menos desenvolvido, e mais dificilmente penetrável.

  O melancólico tem como característica o físico magro, às vezes fraco.
  O sistema nervoso é irritável e hipersensível. O olhar é tranqüilo, sério e reservado, o passo lento e medido. Demonstra certo desinteresse pelos acontecimentos externos. Parece ocupado sempre com o próprio íntimo. Seus aspectos revelam-se freqüentemente angústia e sofrimento.

  Não é fácil reproduzir a fisionomia espiritual do melancólico. É sujeito a
incoerências, muitas vezes irregular na maneira de agir e enigmático também para si mesmo. O que estamos para dizer não se aplica, dessa forma, a todos os melancólicos. É justamente o temperamento que apresenta muitos matizes. Todavia podemos constatar diferença notável entre os indivíduos que se deixam transportar pelo temperamento e os que procuram freá-lo e dominá-lo.

  O melancólico tem alma extraordinariamente rica e, muita vez,extremamente terna. Influências externas podem agitá-lo com a maior intensidade. Mesmo se reagir lentamente à influência e ao estímulo dessas impressões, o efeito às vezes é muito duradouro. Até depois de varias semanas, quando já está tudo mais do que esquecido pelos outros, ainda se atormenta por causa de alguma palavra dura, alguma ofensa; e o inquieta ainda mais do que no momento mesmo em que se
deu. O melancólico é de poucas palavras, sempre ocupado consigo mesmo, com disposição forte para a reflexão, Procura afastar-se dos homens e da agitação do mundo para construir para si um mundo na própria alma, no silêncio da solidão. Por isso acontece muitas vezes que, em meio às conversas mais interessantes e alegres, esteja espiritualmente ausente. Seria erro qualificar-lhe a atitude como falta de interesse ou indiferença, julgando-o amante das comodidades e da inércia. Está sempre ativo, sempre ocupado. Mas vive quase sempre num mundo duplo e mais freqüentemente no mundo dos próprios pensamentos, e não no que o circunda. Demonstra pouca compreensão pela alegria rumorosa dos filhos deste mundo; antes,
tende à melancolia e à tristeza, às vezes até ao pessimismo e ao sentimentalismo doentio. No entanto, muitas vezes sente-se só e abandonado, incompreendido e não amado. Crê que os homens não querem saber dele e ninguém no mundo lhe quer sinceramente bem.

  Parece-lhe que só as próprias costas suportam o peso do mundo inteiro. Ainda mais, de vez em quando invade-o nostalgia instintiva e indefinível. Às vezes gostaria de entregar-se, seguir completamente os próprios sentimentos; não desejaria mais viver e sim morrer. Deveria encontrar energia suficiente para superar certas situações sorrindo, como fazem os outros, em vez de fazer o coração sangrar e considerar
tudo muito mais difícil de que realmente o é. O melancólico mostra-se muito preocupado com as suas ações e extremamente consciencioso.
 
  Cumpre as tarefas com precisão escrupulosa. Se lhe dão tempo suficiente, o trabalho é exato, calmo e inteiramente de confiança. A precisão pode, às vezes, aumentar até ao pedantismo, que considera essencial o secundário e deixa de lado o que é muito mais importante.

  Como a alma tem de sofrer e superar tantos empecilhos e dificuldades,
demonstra grande compreensão pela dor, misérias e dificuldades alheias. Possui a faculdade de colocar-se no lugar dos outros. Fica felicíssimo se pode ajudar, prestar um serviço, porque se lhe apresenta assim a ocasião de justificar um pouco o direito à própria existência.

  Sofre de muitos complexos de inferioridade. Não pode conceber que os outros se alegrem com a sua presença, apreciem-lhe os trabalhos e tenham necessidade dele. Julga que em toda parte esteja perturbando, considera-se inútil e sem habilidades.  No entanto, possui muitas capacidades. Tem sentimento profundo de ordem, sensibilidade aguda para a beleza. O temperamento melancólico nos deu a maioria dos poetas, compositores e artistas.

  Agitado muitas vezes no íntimo por estados de ânimo, por humores e
sentimentos que contrastam entre si, o melancólico é reservado diante do mundo exterior. Nas suas relações com o próximo descobre sempre a própria inabilidade, a impotência tímida, o desânimo. É certo que, repetidas vezes, observou como zombaram dele, como se divertiram com seu comportamento. Perde assim a última possibilidade de confiança. Torna-se desconfiado e insocial, corre até o risco de
entregar-se completamente à melancolia; gostaria de desabafar, mas não encontra palavras capazes. Pesa os prós e os contras, considera tudo sob todos os pontos de vista imagináveis e como conclusão perde a boa ocasião.

  Por isso não chega a decisão firme e clara, nem mesmo com relação à própria vida moral, Adia constantemente as decisões vitais, importantes, radicais - sempre amanhã, nunca hoje - e, por fim paralisa as energias de modo tal que não chega jamais à ação. Justamente pela precisão conscienciosa, reflete os prós e os contras, de modo que se torna difícil a decisão por determinado caminho. Mais difícil ainda se
apresenta a situação quando outros se intrometem em seus negócios e procuram persuadi-lo. Cede muito facilmente e abandona projetos amadurecidos após meditações de semanas inteiras, porque numa conversa com alguém surgiram novos pontos de vista. O insucesso o desanima e amedronta. Se encontra resistência e prevê insucesso, gostaria de renunciar completamente à obra iniciada. No entanto ele, que não confia em si, que julga todos os outros mais capazes e mais
hábeis, é justamente o que produz trabalho sério quando se põe simplesmente diante dele uma tarefa, pedindo-lhe que a execute; mas não se deve dar-lhe muito tempo para hesitações e ponderações, reflexões e sofismas. Não se deve exigir dele o empenho impetuoso do colérico. É lento no trabalho, porque é meticuloso em todo o
comportamento. Mas se lhe concedermos tempo e calma suficientes, demonstra ser trabalhador preciso e consciencioso, que se dedica à própria obra com grande tenacidade, perseverança e paciência.

  Também no melancólico o orgulho tem parte considerável. Manifesta-se grande medo de fazer feio, em sensibilidade exagerada e no temor à vergonha. Nas relações com o próximo, o melancólico é muitas vezes atormentado não só por suspeitas, mas também por ciúmes.

  Confia nos outros com dificuldade. Mas encontrando alguém a quem se possa abrir, vigia cuidadosamente para que a confiança não seja traída e isso até o ponto de tornar-se um peso para o confidente de seu coração, cuja paciência, por causa de certas atitudes, será colocada à prova de modo bastante duro. Não confiará nunca por muito tempo numa mesma pessoa. A desconfiança apodera-se dele com muita facilidade e julga não encontrar a compreensão plena e o amor que merecia. No caso de eventuais mal-entendidos, em vez de pedir explicações e esclarecimentos, leva na alma alguma palavra escapada sem premeditação, coloca-a sempre de novo na balança da precisão e é capaz de citá-la ao pé da letra, mesmo após vários anos,
sempre com tristeza profunda e renovada. Não percebe com facilidade os próprios dotes, nem os dos outros. Mas tende facilmente ao exagero do mal. Vê tudo muito escuro; deixa-se oprimir pelo cúmulo de dificuldades naquilo em que o sanguíneo nem sequer as percebe.

  Deve lutar muito contra as aversões, suscitadas por determinadas pessoas. Muitas vezes sente-se perturbado, devendo distinguir entre antipatia pessoal e recusa motivada objetivamente. Certas pessoas estão simplesmente mortas para ele, por uma razão qualquer. Não quer mais saber delas. Ao invés, a aversão pode crescer até o desespero, até o ódio mais violento. Só com esforço extremo deixa-se
induzir a uma explicação amigável. Essa índole do melancólico torna-se
particularmente perigosa se influencia a relação íntima com Deus. O insucesso, as recaídas no pecado, podem torná-lo de tal modo infeliz que corra o perigo de abandonar até a Deus e suscitar nele, além de certa aversão, até a recusa e o ódio a Deus. É o grande perigo, o grande escolho. Este perigo, naturalmente, é atenuado por viver-lhe, no mais íntimo da alma desejo intensíssimo de Deus, do eterno e do
infinito, sem o qual não pode sentir-se feliz.

  O temperamento melancólico oferece não poucas vantagens no caminho da santidade. A inclinação marcante para o mundo interior, o apego ao recolhimento, à solidão, o dobrar-se sobre si mesmos facilita a oração mental. O melancólico possui a verdadeira disposição para a devoção. O desejo fundamental do coração é anseio imenso de valores supremos, de felicidade imorredoura, de refugiar-se em Deus,
de vida eterna. Sabe que não há maior felicidade na terra do que a paz de Deus num coração puro. O melancólico, porém, pode ser desanimado até na oração. Esse desânimo cresce poderosamente, quando teve a desgraça de cometer pecado grave.  Sentindo-se separado de Deus por pecado mortal, sente-se muito infeliz. Não pode,
como outros, curar-se dEle. A má ação persegue-o dia e noite. Torna-se presa da tristeza, do desgosto da vida. É aqui que se apresenta a reviravolta mais perigosa, isto é, a ameaça de perder a confiança em si e em Deus; ao invés, por certa obstinação e ódio contra Deus, pode entregar-se às paixões vulgares. Se porém, em vez de se entregar por desânimo e desespero à tristeza infrutuosa e à melancolia, aprender a consentir de bom grado à dor e à desventura que o atingiram, se
souber encontrar a união com Deus em arrependimento filial e profundo, conseguirá vantagem. Justamente ele, que experimenta tanta dor íntima, deve também procurar familiarizar-se com o sofrimento.

  Deve aprender a ver na dor a participação dos sofrimentos de Jesus Cristo. Deve exercitar-se na aceitação alegre da dor, até desejar a cruz do sofrimento por amor a Deus. O amor à cruz é a sua salvação, fortuna, fonte, de paz indizível da alma, de vida espiritual profunda e rica, de verdadeira devoção, pronta ao sacrifício.

  Assim, o melancólico deve formar a si mesmo, deve educar-se e deixar-se educar pelas circunstâncias, pelo ambiente. Deve lutar pela própria santidade, livrar-se do desânimo da alma, do desgosto pela vida, do sofrimento e do temor. Deve consentir de modo calmo, racional, humilde e com confiança ilimitada em qualquer sacrifício e
sofrimento, qualquer miséria externa e interna que o atinja. Deve colocar o amor como base fundamental da alma: o amor a Deus, o amor ao próximo, o amor a cada homem por mais antipático que pareça. Desse modo se libertará mais depressa do egoísmo oculto, e levado pela vida, na escola do sofrimento, aprenderá o que é o amor purificado e sobrenatural a Deus e ao próximo, sob cuja luz se aproximará sempre mais do ideal da santidade pessoal.

  Em linhas gerais o melancólico não se adapta bem às grandes empresas, a tarefas de chefe responsável, pois falta-lhes energia, resolução e o otimismo indispensável exigidos. Prejudica-os também a desconfiança inata e o medo da vergonha. Daí, não é só ele quem padece, quando lhe confiam um cargo de direção, mas impõe muitas
vezes aos dependentes sacrifícios enormes, especialmente por causa da desconfiança e personalidade alheia à alegria. Tem tendência forte à mania crítica, ao sofisma justificado sob o pretexto do zelo pela glória de Deus, enquanto que, em grande parte, provém do próprio descontentamento espiritual.

3.2.4 O temperamento fleumático

  O temperamento fleumático é o oposto do colérico e caracteriza-se por
sensibilidade receptiva fraca unida a capacidade ativa fraca. As impressões estimulam o fleumático nada ou pouco, a reação é fraca ou falta completamente. Daí resulta a atitude psíquica fundamental de propensão à comodidade e à preguiça, de fraqueza em todas as paixões, de amor ao sossego e aversão à fadiga e esforço.
 
  O fleumático exteriormente possui, em geral, certa corpulência. É pesado, desajeitado ou pouco ágil. O sistema nervoso é fraco. O olhar sem ardor e sem energia, o passo cômodo. Gosta de dormir, come muito e adora o descanso.
Também nas manifestações psíquicas o fleumático é cômodo e preguiçoso. A alma responde às impressões externas com lentidão, sem emoção especial. Custa a perder a paciência, a menos que se lhe perturbe a cômoda tranqüilidade. Pode considerar-se esta sede de quietude como característica dominante. O resultado é a fraqueza, a falta de energia. O intelecto não é, com certeza, o mais adequado a
meditações profundos. Não é capaz de sacudir a própria vontade. A mente é pouco desenvolvida. Dificilmente se entusiasma, mas também dificilmente se inquieta. Corre o perigo constante de cair numa espécie de hebetismo ou aridez espiritual fria. Gosta da vida regular, calma, não perturbada. Estes aspectos do caráter fleumático constituem obstáculo também à perfeição.

  Por mais que o fleumático se esforce no trabalho, nas ligações com o próximo, nas relações com Deus, na profundeza da alma nada o toca, permanece frio e indiferente.
Apesar dessas fraquezas, esse temperamento apresenta certas vantagens. O fleumático nunca é atirado. Odeia tudo o que é arriscado e passional. No pensar, no agir é lento e ponderado. Todavia o que começa, leva a termo. A calma permite-lhe ver com sobriedade tudo o que acontece em redor. Com semelhantes dotes pode também tornar-se alguém, terá mesmo superioridade nas situações que exigem ponderação, pois nem sempre o sucesso depende da rapidez da ação.

Quando os outros estiverem desiludidos há muito tempo e dobrarem cansados as asas, ele ainda terá forças intactas para prosseguir a obra com paciência silenciosa. Não tem pretensões e é modesto sob todos os aspectos. Pacífico, vive em paz com todos, mesmo se não gosta de comunidade.

  Concluindo podemos afirmar: faltam ao fleumático o impulso interno e a energia. Tem de conquistar maior força de vontade, sentimento do dever mais decidido, maior desenvoltura, maior coragem diante da vida. Assim também encontrará o lugar certo, embora não tenha nascido para comandar as grandes batalhas da vida. Muitas vezes
será apenas arrastado pelos que estão na vanguarda. Mas justamente a esses pode prestar serviços com a ação refreadora da prudência.

  O temperamento fleumático é o menos disposto à perfeição, pois falta-lhe por natureza a força do arroubo. Atingir a santidade pessoal exige, além disso, constância de vontade e perseverança, que é muito difícil para o fleumático, por disposição congênita.

  Como o obreiro se fundamenta, seja pela essência, seja pela missão, na paixão pelo ideal, encontraremos bem poucos fleumáticos entre os ministros. Apesar da vantagem da ponderação, sobriedade e paciência, deverão combater durante toda a vida contra as fraquezas do temperamento, especialmente a falta de energia e a lentidão na mediocridade. Livrem-se de construir o ideal pessoal unicamente sob a
índole fleumática, mas sim sob as capacidades que derivam da combinação com algum outro temperamento.

  Antes de terminar a exposição dos temperamentos, lembremos ainda que as fraquezas e a força, os valores e os defeitos naturais do indivíduo dependem em grande parte do temperamento diverso. Daí a necessidade de conhecer não só o próprio temperamento, mas também o das pessoas que devemos guiar e ensinar. Os lados bons de cada temperamento são o fundamento natural da santidade; será
preciso controlar e combater os lados negativos. Malgrado todos os esforços, o homem raramente poderá livrar-se de todos os defeitos e de todas as fraquezas do temperamento; nem mesmo se tender seriamente à perfeição e tiver vida longa à disposição. O ministro de Cristo bom conhecedor das almas, perceberá até na cabeceira de moribundo se tem diante de si o colérico, sanguíneo, melancólico ou
fleumático. Os defeitos que Deus, muitas vezes, deixa até no homem mais perfeito, naturalmente sem nenhuma culpa pessoal, são defeitos de temperamento. Acham-se profundissimamente radicados na disposição psicofísica do homem e são a escola permanente da vigilância, paciência e humildade.

  Conforme aludimos precedentemente, o temperamento não se manifesta nunca em forma pura, isto é, isento de combinações com outros. As combinações mais comuns são o sanguíneo-melancólico e o colérico-sanguíneo. A combinação colérico-melancólico é menos freqüente, enquanto a colérico-fleumático por sua natureza não existe, prescindindo-se de que, em todos os indivíduos, encontram-se vestígios de todos os temperamentos.

  Querendo comparar o temperamento às estações, poderemos dizer que a primavera corresponde ao sanguíneo, o verão ao colérico, o outono ao melancólico e o inverno ao fleumático. Na relação com os diversos períodos da vida humana, poderemos afirmar que a idade infantil tem certa afinidade com o temperamento sanguíneo, a idade do desenvolvimento com o melancólico, a idade madura com o colérico e a velhice com o fleumática. Encontramos também certa dependência
entre temperamento e sexo: os temperamentos colérico e fleumático prevalece nos homens, enquanto o melancólico e sanguíneo se encontram mais nas mulheres.
 
  Também os povos distinguem-se pela predominância de determinado temperamento. Enquanto nos meridionais prevalecem os sanguíneos e nos, povos do centro da Europa os coléricos, os povos “dos países setentrionais caracterizam-se pela índole tranqüila e fleumática. São próprias dos povos aladas a profundidade ânimo e a melancolia, que correspondem ao tipo melancólico.

  Estas indicações admitem muitas exceções. Por isso não será nunca demasiado dizer que no campo da tipologia psicológica toda classificação rigidamente sistemática coloca-nos em pistas falsas. Em última análise todo ser humano representa personalidade única, não, suscetível de repetição e diferente de todas as outras.


Pesquisa: Pastor Charles Maciel

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