quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Em entrevista exclusiva, deputado pastor Carlos Bezerra crava: “O Estado tem de saber que as igrejas têm suas próprias regras”


Ao entrar no recinto chama a atenção o grande quadro vermelho em uma das paredes da sala ocupada pelo deputado estadual Carlos Bezerra Jr., na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Mas o quadro vermelho não tem foice e martelo ou estrela branca. Estampa em letras grandes apenas uma palavra: justiça. Ele mesmo o instalou, na parede em frente à mesa em que despacha. A convite do próprio deputado Bezerra Jr. o Gospel+ visitou seu gabinete para uma entrevista exclusiva sobre fé, polêmicas e política.

“Pregue em todo tempo. Se necessário, use palavras”. A frase de Agostinho de Hipona é um dos lemas de vida de Carlos Bezerra Jr., da terceira geração de pastores de sua família – tradicional no meio pentecostal. Batizado com 14 anos, costumava disputar muitas batalhas bíblicas nos acampamentos de sua igreja quando mais jovem. A Bíblia, hoje surrada e cheia de grifos, ainda o acompanha em sua sala.

Como ele mesmo diz, “meus sermões vêm em forma de lei”. Criou o Mãe Paulistana – uma lei em defesa da vida que ajudou a derrubar a mortalidade infantil e materna –, instituiu proteção contra o abuso sexual para 150 mil crianças e é autor da mais importante lei contra o trabalho escravo desde a Abolição – elogiada inclusive pela ONU. Recentemente, se viu alvo de acusações por pedir investigação sobre site que estaria atacando jornalistas que cobriram passeata que, entre outras coisas, pedia a volta da ditadura militar. Para comentar este caso e falar sobre fé e o atual momento político do Brasil, Carlos Bezerra Jr. concedeu esta entrevista exclusiva ao Gospel+ – a primeira depois de ser reeleito como um dos parlamentares mais votados de SP.

Você pediu investigação sobre o site que criticou os jornalistas Gustavo Uribe, da Folha de S.Paulo, e Ricardo Chapola, do Estadão, que cobriram passeata que pedia impeachment de Dilma. Isso não vai contra os interesses de seu próprio partido, o PSDB?

Não, os próprios dirigentes do partido que integro se manifestaram contrários a pedidos de impeachment e volta da ditadura. Agora, independente da sigla partidária, a verdade precisa ser dita: não há “outro lado” quando se trata de ameaça à justiça ou a liberdade de imprensa. Diante da informação de que jornalistas estavam sendo atacados, como cidadão, como cristão e como parlamentar não havia outra coisa a ser feita a não ser pedir investigação. Por isso apresentei requerimento que solicitou ao Ministério Público e à Polícia Federal que investigassem o caso.

Mas você apoia o atual governo federal?

Não, sou oposição. Nos dois turnos das eleições, votei contra o grupo que está no poder porque entendo estar manchado pela corrupção. Os princípios em que creio me impedem de ser omisso ou conivente diante de tantos desmandos. Porém, não é porque sou contra o atual governo que também serei contra a democracia. Imprensa livre é uma conquista a ser mantida – independentemente da cor desse ou daquele partido.

Depois de pedir que esses ataques a repórteres fossem investigados você foi alvo de injúrias. Como lidou com isso?

Uma ou duas pessoas me chamaram até de comunista (risos)! Acho que chegaram a essa conclusão usando uma lógica meio rocambolesca, do tipo: “Mao Tse Tung e Stalin gostavam de macarronada. Mao Tse Tung e Stalin eram comunistas. O Bezerra gosta de macarronada. Logo, é comunista”. Veja, não sou comunista, sou progressista e social-democrata. Agora, quanto aos ataques, tomo-os como prova de que o caminho trilhado está correto. “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça…”, está escrito em Mateus. Foi em nome da justiça que pedi investigação sobre esse caso – mesma motivação que me fez lutar pela grávida pobre, pelas crianças vítimas de violência sexual e pelos explorados como escravos. Digo que sou um discípulo de Jesus “disfarçado” de deputado. E isso não pode ser só discurso. Essa retórica precisa vir acompanhada de ações, afinal, fé sem obras é morta, diz a Palavra. E política que não dá frutos também, eu diria. Se silenciarmos diante da injustiça – seja ela qual for – qual será nosso testemunho?

Assim como a liberdade de imprensa foi atacada nesse caso, a liberdade religiosa tem sido atacada em tantos outros. O que você tem feito quanto a isso?

Sou cristão e não abro mão de minha fé. Faço questão de reafirmá-la sempre. Quando estive diante das principais autoridades do mundo na defesa dos Direitos Humanos, na ONU, fiz questão de citar o profeta Amós e declarar: “corra o direito como água e a justiça como rio caudaloso”. Como deputado estadual, meu compromisso é de ser sal e luz. Sou contra qualquer iniciativa que queira cercear nosso direito de expressar a fé em Jesus ou queira calar nossa voz profética nessa nação, sou contra tentativas de rebaixamento moral da família e de desvalorização da vida, sou contra projetos que queiram obrigar pastores a fazer coisas que contrariem nossa fé – o Estado tem de saber que as igrejas têm suas próprias regras. Eu estou atento e vigilante. Se algo assim ameaçar avançar em SP, levantarei minha voz e agirei para impedir. Minha fé vale mais do que qualquer posição política Agora, é preciso ir além do “sou contra isso, sou contra aquilo”. Do que, nós, evangélicos, somos a favor? Essa é a questão. Como pastor que está na política, posso dizer que pregar, pra mim, é agir. É por ser a favor da vida e da justiça que defendo quem mais precisa com leis e projetos. Faço isso desde antes de entrar na vida pública, quando servia como médico voluntário nas periferias de São Paulo. E seguirei fazendo, porque esse é meu chamado.

Como acha que a Igreja deve agir no momento político atual?

Não posso assumir a posição de dizer o que a Igreja de Jesus deve ou não fazer. Posso dizer daquilo em que creio, como cooperador dessa Obra, não como seu porta-voz. Acredito sinceramente que não seja papel de quem se diz evangélico estimular ódio e intolerância no país. Assim como entendo que caiba a nós, evangélicos, não nos calar diante de tantos escândalos. Isso se faz erguendo a voz contra a injustiça, com um testemunho de vida reta diante de Deus e dos homens e, claro, com frutos. Parafraseando um escritor de que gosto, eu diria que, se queremos seguir a Jesus, temos de ser um incômodo para todos os sistemas, como Ele foi. É mais com obras do que com discurso que poderemos contribuir com uma sociedade mais justa. Muitos irmãos têm feito isso. Mas pelos nossos números, deveríamos estar causando um impacto positivo muito maior. Digo isso com temor no coração, pedindo a Deus misericórdia e buscando sempre me apresentar como obreiro aprovado, que não tem do que se envergonhar. Sigo na luta.


Fonte:  http://noticias.gospelmais.com.br/

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