sexta-feira, 3 de junho de 2011

BATALHA ESPIRITUAL - Pr.Caio Fabio - 9ª Parte

 

Discernindo os Elementos da Fé Cristã

"(...) se declaram judeus, e não são, sendo antes sinagoga de Satanás." (Apocalipse 2:9b).
"Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão." (Apocalipse 13:11).
Estamos entrando, neste capítulo, num terreno onde todo cuidado é necessário, porque a terra é santa, sendo preciso todo cuidado quando se abordam aspectos relacionados às entidades que representam a fé cristã.
Tais entidades podem começar com propósitos maravilhosos e com ideais de serviço ao Reino de Deus, mas, no curso do tempo, mudarem sua natureza, pervertendo-se e "se demonizando". Essa é a terrível sutileza que pode acontecer-lhes.
Os dois textos acima dizem que, para nós cristãos, não é importante saber o que as entidades dizem sobre si mesmas. Jesus diz, acerca delas, que "(...) se declaram judeus, e não são, sendo antes sinagoga de Satanás". O que as entidades dizem sobre si mesmas não é importante, mas, o que elas são.
Por outro lado, se o que elas dizem sobre si mesmas não é importante, também com o que elas se parecem não o é. João, no livro do Apocalipse, fala da besta que emerge da terra, que é o poder religioso que abençoa o estado corrupto e "demonizado". João nos diz que tal besta se parecia com o Cordeiro, tendo Suas feições, mas o seu discurso, o que dizia, característico do dragão. Isso é muito sério, principalmente porque nossa tendência é ficarmos muito impressionados com esses dois aspectos - com o que falam e com o que se parecem. A Bíblia nos diz que o que elas dizem não importa, mas o que elas são de fato; e com o que elas se parecem também pouco importa.
Há um conceito absolutamente fundamental quando uma instituição, quando uma entidade, seja ela uma igreja, seja ela uma entidade de qualquer outra natureza, "se demonizam" e se pervertem em seu caminho, rendendo-se às influências malignas dos principados e das potestades. O conceito é simples e é basicamente este: sempre que qual- quer coisa ou qualquer instituição torna-se um fim em si mesma, fugindo assim a seu propósito original, ela "se demoniza". A VINDE pode "demonizar-se" daqui há algumas gerações adiante. A igreja que freqüentamos pode "demonizar-se", a nossa denominação pode "demonizar-se", dezenas de missões evangélicas no passado "se demonizaram". Nós não estamos falando novidade alguma com relação à possibilidade de que daqui para frente tais coisas aconteçam. Imaginemos o que ocorreu com a Igreja Católica Apostólica Romana original. Fora ela uma Igreja maravilhosa, com raízes apostólicas, com gente santa... Porém, dois séculos depois essa instituição se obscurece, enchendo-se de trevas e pervertendo-se, na Idade Média.
Para mim, um dos exemplos mais dramáticos disso é o Santo Sepulcro, local onde se celebra a crucificação de Jesus e Sua ressurreição, com possibilidades históricas as mais prováveis de que aquele seja o lugar, geográfica e geologicamente falando, em que Jesus ressuscitou. Sempre que entro naquele lugar não me sinto bem. É um cenário cheio de idolatria, obscuridade, com um clima espiritual de morte, mas não da morte que passa de si mesma para a vida, porém morte em si mesma, morte como aniquilamento final. É muito comum cristãos irem àquele lugar. Eles vão até lá alegres, mas, quando ali entram, levam um susto tremendo. Eu digo sempre que isso é um exemplo do que ocorreu com a serpente de bronze no deserto, a qual Moisés fez para que, ao olharem para ela, as pessoas que tivessem sido mordidas de cobras fossem curadas (Números 21:9). Essa mesma serpente de bronze, que no passado fora bênção, transforma-se em maldição, tendo que ser destruída (II Reis 18:4).
O interessante é que um lugar histórica e geograficamente tão significativo quanto aquele tenha conseguido se transformar em algo tão obscuro e, às vezes, até cheio de presença espiritual maligna.
Se isso pôde ocorrer com a montanha do Calvário, o mesmo pode acontecer com a nossa denominação, com o lugar mais santo da nossa igreja, e com qualquer coisa que fazemos. A Bíblia está cheia de exemplos que ilustram isso.
A Arca da Aliança simboliza o lugar da presença intensa de Deus. Nela havia exemplares originais das Tábuas da Lei, uma porção do maná e a vara de Arão que florescera (Hebreus 9:4). Tudo isso ocorre por ordem e por instrução divina. Mas, no momento em que essa mesma Arca começa a ser observada e concebida como um fim em si mesma; no momento em que ela começa a tomar conta sozinha do cenário religioso, crescendo na mente das pessoas, tornando-se objeto de culto; quando ela deixa de apontar para a direção para a qual foi destinada, passando a captar para si mesma toda a atenção, ela perde a sua significação. O que Deus faz com ela? Deus "perde" essa Arca. No exílio ela desaparece, nunca mais volta a ser encontrada, o que, possivelmente, salvou os judeus no exílio de se terem transformado num povo idólatra da Arca, uma vez que o templo estava destruído, e Jerusalém fora arrasada. Se eles ficassem com a Arca lá no exílio, talvez a história fosse outra. Deus os salva da Arca, a fim de salvá-los para Ele.
O Templo também foi construído por ordem divina, segundo a arquitetura divina, com instruções minuciosas de Deus. Repentinamente, ele deixa de ser o lugar da presença de Deus, tornando-se um fim em si mesmo, transformando-se no lugar dos negócios, no lugar das jogatinas. Deus o destrói. Ele é reconstruído, na intenção de ser outra vez o lugar da presença de Deus. Perverte-se mais uma vez. Jesus entra nele, exorcizando-o (João 2:13-16). O ato de Jesus de entrar no Templo com azorragues, expulsando dali as pessoas que faziam mau uso dele, é um ato de exorcismo institucional e religioso. Devemos interpretar, portanto, este ato de Jesus, da mesma forma que interpretamos uma expulsão de demônios. Como o exorcismo feito por Jesus não resolveu tudo, o Templo foi destruído depois.
A Sinagoga também foi criada por um movimento de judeus no exílio, em Babilônia, para substituir o Templo, para fazerem dela um local onde a Palavra pudesse ser ensinada, podendo seus filhos crescerem na fé, mantendo-se unidos, além de servir como um centro de promoção cultural do judaísmo, sendo um local de reflexão e de oração. Isso acontece. Depois, transforma-se num fim em si mesma, mais importante do que Deus. Pela sinagoga, pessoas são perseguidas e mortas. Paulo, por exemplo, sofre barbaramente as intervenções impiedosas e intolerantes daqueles que eram os líderes da Sinagoga. Em Apocalipse 2:9b se diz, como que resumindo isso, que tais pessoas "se declaram judeus, e não são, sendo antes sinagoga de Satanás".
A Igreja, em Apocalipse, já recebe advertências de Jesus quanto ao risco de ela "se demonizar", perdendo seu alvo, seu rumo, seu propósito, ensimesmando-se, voltando-se para si própria. Quando se lê em Apocalipse 2 e 3 as palavras proféticas de Jesus, confrontando a Igreja, elas revelam a Sua denúncia quanto ao ensimesmamento, quanto à possibilidade de "demonização", na medida em que se vai perdendo o rumo. Jesus diz em Apocalipse 2:5 à igreja de Éfeso:
"Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas."
Com isso, Jesus está dizendo que aquela igreja iria acabar, se continuasse a praticar o que a desviava dos caminhos de Deus.
Ele também diz à igreja de Pérgamo, em Apocalipse 2:16:
"Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem demora, e contra eles pelejarei com a espada da minha boca."
A essa igreja, Jesus diz que ela deve se arrepender, a fim de que Ele não venha sobre ela e a destrua.
Jesus diz à igreja de Sardes, em Apocalipse 3:3b:
"(...) Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti."
À igreja de Laodicéia, Ele diz:
"(...) estou aponto de vomitar-te da minha boca." (Apocalipse 3:16b).
Essas expressões todas são fortíssimas e deveriam ser ouvidas com toda a intensidade com a qual foram proferidas, significando exatamente o que elas queriam significar.
A grande questão sobre como começar a entrar na área do exercício do discernimento de quando essas entidades religiosas "se demonizam" começa primeiramente com uma percepção da relação de Jesus com a religião em Israel. Se queremos achar as pistas para discernir a "demonização" institucional, atentemos para a relação de Jesus com a religião em Israel, porque tal percepção nos ajuda a discernir quando a religião "se demoniza".

QUANDO A IGREJA "SE DEMONIZA"

Há quatro pistas que o Evangelho nos dá sobre quando a religião "se demoniza".
A primeira pista é quando a religião aceita o mundo como o mundo é. A religião "se demoniza" quando ela aceita o mundo como o mundo é. Jesus foi chamado de satânico pela religião, porque Ele não aceitava o mundo como ele era. Ele olha para o mundo e diz:
"- Não, não está certo!"
Mas, a religião olha para o mundo e diz:
"- Está tudo bem!"
Há, com isso, um choque tremendo, o qual é verificado em quatro áreas:
1.º . Jesus não aceitou a possessão demoníaca como "status" para ninguém. Jesus olhava para o possesso, para gente oprimida espiritualmente, e expulsava os demônios que os atormentavam. O que aconteceu? Foi acusado de expelir demônios em nome de Belzebu.
"(...) Este não expele os demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios." (Mateus 12:24).
Infelizmente, essa mesma atitude dos fariseus em acusarem Jesus de expelir demônios pelo poder de Belzebu ainda se verifica em muitas igrejas tradicionais. É necessário muito cuidado, principalmente aquele que tem a pretensão de achar-se o grande discernidor de quem é ou não é de Deus, a fim de que não venha a estar afirmando o fato de que prefere ver pessoas quietamente possessas a aflitamente em processo de libertação, em nome de Jesus.
2.º. Jesus não aceitou a normalidade da vida pretensamente "certinha" dos religiosos. Jesus olhou para os fariseus em suas práticas rígidas e formais, com tudo muito certinho e tudo no lugar, e com isso, achando-se com a capacidade de julgar as demais pessoas, de enfrentar o próximo com ar de superioridade, porém vivendo a desgraça de serem mediocremente felizes: felizes por participarem de todas as reuniões da igreja; felizes por sentarem nos primeiros bancos da igreja; felizes por se acharem o exemplo de virtude cristã; felizes por acreditarem que são melhores que os outros. Isso é o farisaísmo. Jesus diz não a isso tudo. Ele procurava justamente os de vida torta, os desviados, os infelizes. Por exemplo, a mulher samaritana:
"Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá; ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade." (João 4:16-18)
O gadareno é um outro exemplo. Zaqueu também o é. Jesus - com relação a este último - "escandaliza" a todos, quando diz que vai à sua casa:
"Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua cosa. (...) Todos os que viram isto murmuravam dizendo que ele se hospedara com homem pecador." (Lucas 19:5 e 7).
Jesus escandaliza a todos aqueles que acham que tudo está certo como está, julgando-se eleitos de Deus por vocação e méritos próprios, de modo que, os que não o são, devem ser tratados como pecadores e, como tais, sujeitos à condenação. Esquecem-se das palavras de Paulo:
"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós é dom de Deus; e não de obras, para que ninguém se glorie." (Efésios 2:8-9).
Jesus subverte a normalidade farisaica, não se encaixando em padrão algum. Diante disso, dizem que Ele é louco e endemoninhado:
 "Ele tem demônio e enlouqueceu." (João 10:20a).
Em uma outra situação semelhante, também O chamam de possesso:
"(...) Tens demônio." (João 7:20).
3.º . Jesus não aceita a "filosofia do Gabrie1à" praticada pelos fariseus. A "filosofia da Gabriela" é aquela que preconiza: "eu nasci assim, vou viver assim, vou morrer assim: Gabriela, sempre Gabriela." Jesus não crê nisso. Isto porque quando a mulher pecadora unge os Seus pés com ungüento e os beija, e os enxuga com os seus cabelos (Lucas 7:37-38) e Jesus lhe diz que os seus pecados estavam perdoados (Lucas 7:48), o fariseu, em cuja casa Ele estava, Lhe diz, julgando definitivamente a mulher:
"(...) Se este [Jesus] fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora." (Lucas 7:39b)
Em outras palavras, o fariseu estava pregando a "filosofia da Gabriela" a Jesus:
"- Tu não sabes que ela é pecadora, e que nasceu assim, e que vive como tal e que vai morrer no pecado? Ela é uma prostituta! Tu não sabias? Não tem jeito, não!"
Quando observamos mais atentamente os Evangelhos, verificamos que a "filosofia da Gabriela", embora afirmada e reafirmada diariamente pelos fariseus, é contrariada na mesma proporção por Jesus. E porque Ele age assim, é chamado de blasfemo:
"Por que fala ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus?" (Marcos 2:7).
Porque Jesus diz que as pessoas podem mudar, que não há ninguém que esteja debaixo de opressão que não possa ser liberto, Ele é acusado de blasfemo. Freqüentemente, ouço pessoas, em muitas igrejas evangélicas, dizerem:
"- Não sei por que se gasta tanto dinheiro com esse tipo de gente irrecuperável! Uma vez drogado, sempre drogado. Uma vez prostituta, sempre prostituta."
Há muitas igrejas que pensam assim, infelizmente. Acreditam que "pau que nasce torto morre todo".
4.º . Jesus não aceita que ninguém passe fome ou necessidade em dia santo. Por causa disso, Jesus foi acusado de transgredir a Lei, juntamente com os Seus discípulos:
"Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome entraram a colher espigas e a comer. Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado." (Mateus 12:1-2)
Quando a Igreja se torna realista demais, é um perigo. Nós somos chamados à inconformação radical. Paulo diz:
"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12:1-2).
Segundo o apóstolo Paulo, tudo é mutável, se a graça de Deus está operando. É imprescindível haver utopia, sonho, projeto, esperança e paixão. É imprescindível, sobretudo, ter a certeza de que Deus no mundo é sempre um Deus agindo e mudando os estados de coisas e as pessoas.
Quando a Igreja aceita o mundo como ele e, alguma coisa a está pervertendo demoniacamente.
A segunda pista é quando a religião tem mais prazer em punir do que em perdoar. Quando isto estiver ocorrendo na nossa igreja, ou na nossa denominação, é porque ela já "se demonizou".
Quando os crentes começam a sentir prazer nas sessões extraordinárias, para as quais toda a igreja é convocada para punir e disciplinar irmãos em pecado, cuidado! Tal igreja pode estar em processo de "demonização". Eu, particularmente, conheço crentes que não perdem a uma sessão de disciplina de sua igreja. Eles faltam à celebração da Ceia, às reuniões de oração, ao culto evangelístico ao ar livre, mas, em dia de sessão disciplinar, lá estão eles, nos primeiros bancos, eufóricos. Cuidado! Há algo demoníaco operando nesse tipo de comportamento. Tais pessoas assemelham-se aos "atiradores de pedra" descritos em João 8. São os especialistas em atirarem pedra, em disciplinar:
"Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanha da em flagrante de adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?" (João 8:3-5).
Pessoas que agem como escribas e fariseus estão fazendo parte de um projeto de religião "demonizada".
O projeto de religião de Jesus não tem prazer em punir, mas em perdoar. O projeto de religião de Jesus tem prazer em dizer:
"(...) Mulher, onde estio aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? (...) Nem eu tampouco te condeno; vai, e não peques mais." (João 8:10b e 11b).
Algum tempo atrás, um amigo contou-me uma história que me deixou profundamente entristecido. Ele contou-me um episódio que se deu numa sessão de disciplina ocorrida numa igreja da qual ele era pastor auxiliar. Disse-me ele que uma determinada moça da igreja aproximou-se do pai, muito envergonhada, e confessou:
"- Papai, eu quero que o senhor me ajude. Porque hoje à noite, voltando da escola, cinco homens me agarraram, levaram-me para um terreno baldio... e me estupraram..."
Essa moça era uma menina de quinze anos de idade. Choraram juntos, pai e filha. A notícia chegou ao pastor da igreja, um homem insensível. Ele mandou chamar o pai da menina e lhe disse:
"- Ouvi dizer que a sua filha foi agarrada atrás de um muro, num terreno baldio... É verdade?"
O pai falou:
"- Não, pastor. Ela foi violentada ..."
O pastor retrucou:
"- Olha, essa história de mulher dizer que foi agarrada e violentada... Eu? Eu não acredito, não! Uma mulher quando quer fechar a perna, não há homem que abra." – e depois arrematou: " - Traga a menina para a sessão da igreja."
Esse meu amigo que me contou essa história me disse que presenciou a tudo isso, como pastor auxiliar, sem voz e sem poder de decisão, vendo 20 homens de cabeça branca, líderes daquela igreja, quase que numa atitude de "masturbação psicológica" perguntarem à menina:
"- Diga-nos aqui, menina. Como foi? Tiraram-lhe a roupa como? Conte-nos como tudo aconteceu."
E as perguntas mais aviltantes possíveis foram feitas à menina. Ela se desfazia em pranto:
"- Não, não foi isso, não! Eu não os vi!... Me agarraram... me bateram... quase arrancaram meu cabelo..."
Sadicamente, aqueles líderes insistiam:
"- Que é isso, menina! Conte-nos como foi de verdade! Pode abrir o coração!"
Meu amigo me disse que num determinado momento, não agüentando mais, ele começou a vomitar, saindo correndo para o banheiro, onde vomitou quase que interminavelmente. Saindo do banheiro, às pressas, foi embora para casa, disse para a mulher e para os filhos que iriam sair daquela cidade. Vendeu tudo o que tinha, comprou passagens para ele e para sua família, mudou-se para um outro país, no qual reside até hoje.
Ele me disse que não suportou mais aquela situação, porque era, pelo menos, a quarta vez que ele presenciava coisas como aquela acontecerem.
Uma igreja assim está tão "demonizada" quanto um terreiro de macumba. Há algo de maligno agindo naquela igreja. Não é o Espírito de Jesus, nem o Espírito da graça.
A terceira pista é quando aqueles que mostram virtudes divinas são vistos como maus, e aqueles que mostram características satânicas são tidos como bons, pela Igreja.
O indivíduo que está cheio de amor, de misericórdia, de compaixão, de bondade, de piedade e de mansidão é escorraçado. Mas, aquele que faz politicagem, que é impiedoso, malicioso, vai obtendo sucesso: diácono, presbítero, presidente de organizações dentro da igreja, etc. Foi o que aconteceu com Jesus. Ele era bondoso, piedoso, misericordioso, amoroso, compassivo, generoso, mas, mesmo assim, O mataram.
"Que mal fez ele? Perguntou Pilatos." (Mateus 27:23a).
Jesus não roubou, não matou, não mentiu, mas viveu a justiça, a verdade, o amor, e o perdão. Mas, por que O mataram? Por inveja, segundo a Bíblia:
"(...) por inveja o tinham entregado." (Mateus 27:18b).
É preciso que olhemos para nossa igreja, para nossa denominação, procurando ver se aqueles que mostram virtudes divinas, portanto sendo piedosos, simples, amorosos e misericordiosos, estão sendo reconhecidos como servos de Deus, ou se estão sendo julgados, enquanto que os que são "mafiosos", espertalhões e oportunistas estão ascendendo aos mais altos escalões do poder eclesiástico. Quando isso ocorre na Igreja, algo diabólico está operando nela.
A quarta pista é quando a continuidade do poder da Igreja se torna mais importante do que a sua abertura para a novidade de Deus. Em João 11:47b-48, é possível verificar os líderes religiosos de Israel verem Jesus ressuscitar a Lázaro e dizerem:
"(...) Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? Se o deixarmos assim todos crerão nele; depois virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação."
Torna-se evidente que os principais dos sacerdotes e os fariseus - os líderes da religião, portanto - não queriam nem saber que um milagre extraordinário havia sido operado da parte de Deus. O que importa a eles é a continuidade do poder da igreja que, segundo pensavam, estava ameaçada, uma vez que Jesus estava operando milagres dentre as pessoas, as quais criam nEle. Os líderes religiosos da época temiam perder o poder, tendo em vista o crescimento da popularidade de Jesus. Acreditavam que, se O deixassem continuar a fazer milagres, perderiam o seu posto, o seu "status" de líderes.
Vejo isso ocorrer em muitos grupos evangélicos, infelizmente. Ouço pastores que me dizem o seguinte:
"- Olha, pastor Caio, estou preocupadíssimo com essa onda teológica que está vindo por aí! Sabe por quê? Porque ela vai tirar o meu lugar."
Eu respondo da seguinte maneira, quando ouço tais palavras:
"- Meu irmão, quem tem mensagem não precisa ter medo de nova onda alguma. Se você tem mensagem, a sua igreja nunca vai acabar. E se acabar, é porque ela não tem mensagem. E se não tem mensagem, é bom que ela acabe mesmo."
Nós aprendemos nas relações de Jesus com as instituições religiosas nos Evangelhos quando elas se "demonizam", mas também aprendemos com as relações de Paulo com a religião, em que momento a Igreja "se demoniza".
Paulo diz que há dois critérios básicos por intermédio dos quais se deve julgar uma igreja que começa a "se demonizar".
Em primeiro lugar, Paulo nos diz que a Igreja está sendo penetrada, de alguma forma, por algo maligno, quando a consciência pagã determina a compreensão da fé cristã. Quando numa igreja as pessoas são batizadas, participam da Ceia, podendo ter dons espirituais, mas se a visão com a qual estão interpretando o mundo ainda é pagã, correm o risco de se associarem a demônios. Vejamos o que o apóstolo Paulo diz à igreja de Corinto, acerca disso:
"(...) e eu não quero que vos torneis associados aos demônios." (I Coríntios 10:20b).
Paulo está falando a uma igreja. Ele está dizendo em outras palavras:
"- Cuidado, porque pode ser que alguma coisa faça vocês se associarem aos demônios."
O interessante é que no contexto imediatamente anterior Paulo está falando de alimentos sacrificados a ídolos (I Coríntios 10:17-19). Ele fala do perigo de que a igreja não tivesse se libertado da mentalidade pagã do panteão greco-romano, olhando ainda para o ídolo como se em si mesmo ele tivesse algum poder:
"No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo de si mesmo nada é no mundo, e que não há senão um só Deus." (I Coríntios 8:4).
Com isso, Paulo está dizendo que o perigo não está no ídolo em si mesmo - porque ele não é nada -, mas o que está por trás dele. Paulo está dizendo, em outras palavras:
"- Quando vocês, que ainda não se viram livres da mentalidade pagã, comem alimentos sacrificados aos ídolos, com a idéia de que o alimento em si está impregnado de algo demoníaco, o qual, de fato, está, estão-se associando a demônios. Não porque há demônio na comida, mas porque vocês pensam que há, e a comem assim mesmo. Eu como, e não acontece nada, porque como dando graças a Deus, e também porque comida não é nada.
Eu como porque creio que não há demônio na comida, porque se cresse que houvesse demônio no, feijão e no arroz e os comesse assim mesmo, eu estaria estabelecendo uma relação demoníaca com tal alimento."
Paulo alerta para o cuidado que se deve ter quanto a olhar para vida com uma mentalidade pagã. Há pessoas que se convertem, mas que mantêm alguns resquícios pagãos em sua maneira de conceber a espiritualidade. A essas pessoas Paulo diz que tenham cuidado:
"(...) e eu não quero que vos torneis associados aos demônios."
Às vezes vou a algumas igrejas, nas quais algumas pessoas me dizem o seguinte:
"- Pastor Caio, por que o senhor não dá uma 'soprada' hoje, aqui, para que todos caiam?"
Então eu pergunto:
"- Mas... porque, irmão?"
Respondem-me:
"- É porque ontem pregou aqui o pastor 'Fulano de Tal' que não pregou com toda a unção com que o senhor pregou esta noite, mas que soprou e caiu muita ,gente. Se o senhor soprar então, aí é que vai cair um monte de gente mesmo. Ainda mais que o povo está com uma vontade enorme de cair."
Eu respondi:
"- Se Deus quiser derrubar qualquer um enquanto eu estiver pregando, Ele pode fazê-lo, pois Ele é livre. Mas, eu?!... dar tapinha na testa das pessoas para que elas caiam?!... Nunca!"
Creio que Deus pode derrubar pessoas diante do Seu poder, mas me preocupo muito quando vejo tais coisas acontecerem na igreja com muita freqüência ultimamente. Porque, num país como o nosso, no qual as pessoas estão acostumadas a levar passe, preocupa-me que muitas delas - que estão entrando numa fila para receberem tapinha na cabeça, e caírem - estejam substituindo o passe espírita pelo passe evangélico. Amedronta-me que a visão pagã do espiritismo não tenha sido eliminada, e que alguém, oriundo da macumba e do espiritismo, ainda sem muita consciência do que ocorre na igreja, ao ver tal coisa acontecer, interprete-a como o passe evangélico. Paulo nos diz para termos cuidado:
"Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha de algum modo a ser tropeço para os fracos." (1 Coríntios 8:9).
Depreende-se, então, que tal coisa está sendo vista com uma mentalidade pagã. E se é pagã, caiu-se no mesmo espírito sobre o qual Paulo fala em 1 Coríntios 10:19-20:
"Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam, e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios."
É pela mesma razão que me preocupo muito com uma tal visão mágica que algumas pessoas têm de objetos, tais como do lenço, do sal, da água fluidificada, porque, será que no nosso contexto, eles não funcionam apenas como uma cristianização de uma mentalidade pagã, a qual continua estabelecendo os mesmos vínculos idolátricos do passado?
Em segundo lugar, Paulo nos diz que a Igreja está sendo penetrada, de alguma forma, por algo maligno, quando o exagero dita as regras da vida. A luta indômita e freqüente de Paulo durante todo o seu ministério é a do equilíbrio, não deixando nunca que a espiritualidade descambasse para o lado do exagero. Há três batalhas que ele enfrenta para manter o equilíbrio.
A primeira é a batalha do legalismo x liberarismo. Escrevendo a epístola de Gálatas, nós o vermos lidar com irmãos que defendem o legalismo. Já escrevendo à igreja de Corinto - cidade portuária, com prostituição, turismo, beleza - ele alerta quanto à tendência dos seus membros de afrouxarem a vida religiosa, quanto ao cuidado com o "vale tudo" da espiritualidade, quanto a fugir da imoralidade, do adultério, da idolatria.
A segunda é a batalha do racionalismo x misticismo. Paulo diz, escrevendo aos coríntios, que decidira nada mais saber a não ser de Jesus Cristo crucificado, com medo de que a fé cristã se tornasse em algo inteiramente racionalista:
"Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração de Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus." (I Coríntios 2:2-5).
Em Colossenses 2:18, Paulo nos alerta quanto ao culto aos anjos, diz-nos para termos cuidado com as mentes que se dizem invadidas de visões sobrenaturais:
"Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal."
A terceira é a batalha da pobreza x prosperidade. Em II Coríntios 9:10-11a, Paulo primeiramente fala da igreja da Macedônia que, inicialmente, havia sido pobre, passado por tribulações, dificuldades. Mas, Paulo diz a ela que Deus é Deus de graça, O qual supre abundantemente todas as coisas, interessando-Se em que haja prosperidade, para que, prosperando, ela possa continuar a ser uma igreja generosa, abençoando a vida de outras pessoas:
"Ora, aquele que dá semente ao que semeia, e pão para alimento, também suprirá e aumentará a vossa sementeira, e multiplicará os frutos da vossa justiça. Enriquecendo-vos em tudo para toda a generosidade."
Porém, escrevendo I Timóteo 6:9-10; 17-19, Paulo fala da tendência de os irmãos ricos da igreja de Timóteo estarem pensando apenas em prosperidade:
"Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. (...) Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus que tudo proporciona ricamente para nosso aprazimento, que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir, que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro a fim de se apoderarem da verdadeira vida."
Cuidado com o dinheiro e com a ansiedade pela prosperidade material, porque trazem em si mesmos o germe da destruição. Observemos como tais coisas parecem contraditórias: primeiramente ele fala para um grupo que se deve ter confiança em Deus, crendo que Ele é abençoador e, por isso, supre as necessidades de cada um, mesmo na precariedade e escassez de recursos; depois, para um outro grupo, Paulo diz que se deve ter cuidado com a prosperidade, porque ela pode matar.
Heresias são sempre verdades exageradas. Heresias só são perigosas porque partem de pressupostos verdadeiros, mas que foram exacerbados, deturpados, absolutizados e agigantados, obcecando a alma e a mente humana, tirando-lhe o equilíbrio e, por fim, "demonizando-a".

Fonte: Batalha Espiritual - Caio Fabio


Pesquisa: Pr. Charles Maciel Vieira

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