quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Hermenêutica - A importância do leitor comprometido


De uns tempos para cá, em teoria da literatura, passou-se a falar do leitor ideal ou leitor modelo. Este leitor encontra-se, por assim dizer, dentro do texto. Umberto Eco define o leitor modelo como "um conjunto de condições de êxito, textualmente estabelecidas, que devem ser satisfeitas para que um texto seja plenamente atualizado no seu conteúdo potencial" (ECO, 1986, p.45). Em outras palavras, o autor determina, no ato de escrever, quem estará em condições de ler o seu texto(3).

Quem é o leitor modelo, no caso da Bíblia? Quem consegue satisfazer as condições de êxito que o autor, Deus, espera? No caso do AT, pessoas que conhecem a língua (originalmente o hebraico e o aramaico), que estão familiarizadas com a cultura e, acima de tudo, que são membros do povo de Deus. No caso do NT, pessoas que conhecem a língua (originalmente o idioma grego), a cultura judaica e greco-romana, a Escritura como um todo, e que abraçam a fé. Escritores bíblicos como Paulo, em Rm 1.7, e também Lucas, em Lc 1.4, para citar apenas dois exemplos, esperam um leitor cristão (2Co 3.15-16).

Isto significa que o leitor cristão não precisa pedir desculpas por ler a Bíblia sob uma perspectiva cristã. Por ser quem ele é, o cristão é a pessoa mais bem preparada para entender a mensagem da Bíblia. Afinal, a Bíblia foi escrita para ele.

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(3) Ao leitor implícito ou modelo corresponde o autor implícito ou autor modelo, que é o retrato do autor real que emerge do texto. É o autor que o leitor reconstrói a partir do texto. Tal noção permite afirmar, por exemplo, que os livros dos profetas menores, embora escritos por autores reais diferentes, revelam um autor implícito semelhante. Isto porque o ponto de vista e o autor implícito que emergem são praticamente os mesmos em todos eles. Por outro lado, um mesmo autor real pode escrever obras diferentes, cada uma delas com um autor implícito diferente. Há quem argumente que isto explica as diferenças entre, digamos, 1Timóteo e Romanos. Ambos foram escritos pelo mesmo autor real, Paulo, mas o autor implícito que emerge de ambas é diferente. Obras formalmente anônimas, como a carta aos Hebreus, têm um autor implícito.
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Fonte: Princípios de Interpretação Bíblica - Vilson Scholz - Editora ULBRA

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