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quarta-feira, 25 de maio de 2011

ESCATOLOGIA - AS ULTIMAS COISAS - 2ª Parte

III. A ressurreição.

1. Importância da ressurreição.

  Os coríntios, como os demais gregos, eram um povo de grande capacidade intelectual, e amantes de especulações filosóficas. Ao ler-se os primeiros dois capítulos da primeira Epístola aos Coríntios, nos quais Paulo declara a imensurável superioridade da revelação sobre a especulação humana, observamos que alguns dos membros da igreja de Corinto também eram partidários dessas especulações. Dotado de penetração incomum, ele previu que, sob a influência do espírito grego, o Evangelho poderia dissipar-se em lindo, porém impotente sistema de filosofia e ética. De fato, já se havia manifestado essa tendência. Alguns dos membros da igreja em Corinto estavam influenciados por uma antiga doutrina grega de imortalidade, a qual ensinava que ao morrer o corpo pereceria para sempre, mas que a alma continuaria a existir. Em verdade, dizia esse ensino, era bom que o corpo perecesse pois só servia como estorvo e impedimento à alma. Ensinava-se na igreja de Corinto que, apesar de a alma ou o espírito viver depois da morte, o corpo era destruído para sempre e não seria ressuscitado; que a única ressurreição que o homem experimentaria seria a ressurreição espiritual da alma, ressurreição de sua morte nos delitos e pecados. (Vide Efés. 2:1, compare 2Tim. 2:17,18.) O apóstolo desafiou a veracidade desse ensino, dizendo: "Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?" (1Cor. 15:12). Tomando esse erro como ponto de partida, Paulo expôs a doutrina verdadeira, entregando ao mundo o grande capítulo da ressurreição (1Coríntios 15). Como base do seu argumento a doutrina bíblica sobre o homem, a qual, em contradição à doutrina pagã, declara que o corpo humano é suscetível de santificação (1Cor. 6:13-20), redenção e está incluído na salvação do homem. No princípio Deus criou tanto o espírito como o corpo, e quando o espírito e o corpo se uniram como unidade vivente, o homem tomou-se em "alma vivente". O homem foi criado imortal no sentido de que ele não precisava morrer, mas mortal no sentido de que poderia morrer se desobedecesse a Deus. Se o homem tivesse permanecido fiel, ele se teria desenvolvido ao máximo sobre a terra e, então, possivelmente teria sido trasladado, pois a trasladação parece ser o meio perfeito que Deus usa para remover da terra os seres humanos. Mas o homem pecou, perdeu o direito à árvore da vida, e em resultado disso começou a morrer, processo que culminou na separação do espírito do corpo.
  E a morte física foi a expressão externa da morte espiritual, a qual é a conseqüência do pecado. Visto que o homem se compõe tanto de alma como de corpo, a sua redenção deve incluir a vivificação de ambos, da alma e do corpo. Embora o homem se torne justo perante Deus e vivo espiritualmente (Efés. 2:1), seu corpo morrerá como resultado da sua herança racial de Adão. Mas desde que o corpo é parte integrante de sua personalidade, sua salvação e sua imortalidade não se completam enquanto seu corpo não for ressuscitado e glorificado. Assim ensina o Novo Testamento. (Vide Rom. 13:11; 1Cor. 15:53,54; Fil. 3:20,21.) O argumento de Paulo nos versos 13 a 19 é o seguinte: Ensinar que não há ressurreição é ferir a realidade da salvação e a esperança da imortalidade. Ele desenvolve o argumento da seguinte maneira: se não há ressurreição do corpo, então Cristo, que tomou para si um corpo humano, não ressurgiu dentre os mortos. Se Cristo não ressurgiu dentre os mortos, então a pregação de Paulo é vã; pior ainda, é falsa e enganosa. Se a pregação é vã, então também são vãs a fé e a esperança daqueles que a aceitam. Se Cristo de fato não ressuscitou dentre os mortos, então não há salvação do pecado; pois de que maneira poderíamos saber que sua morte foi realmente expiatória diferente de qualquer outra morte a não ser que ele ressuscitasse? E se o corpo do Mestre não ressuscitou, que esperança haverá para aqueles que nele confiam? E se todas essas suposições fossem verdadeiras, então o sacrifício, a autonegação, e o sofrimento por causa de Cristo teriam sido em vão (Vs. 19, 30-32.)

2. Natureza da ressurreição.

  É relativamente fácil declarar a fato da ressurreição, mas ao tentarmos explicar como Cristo foi ressuscitado encontramos grande dificuldade, pois se trata de leis misteriosas, sobrenaturais, além da compreensão das nossas mentes. Entretanto, sabemos que a ressurreição do corpo será caracterizada pelos seguintes aspectos:

(a) Relação. Haverá alguma relação com o velho corpo, fato que Paulo ilustra pela comparação do grão de trigo, (1Cor. 15:36, 37.) O grão é lançado na terra, morre, e o ato de dissolução fertiliza o germe da vida no grão, de maneira que se transforma em linda e viçosa planta. "Somente pela dissolução das partículas da matéria na semente torna-se produtivo o germe de vida (o que jamais se observou pelo microscópio)." Qual o poder que vitaliza o corpo humano, tornando-o capaz da gloriosa transformação do corpo ressurreto? O Espírito Santo! (Vide 1Cor. 6:19.) Falando de ressurreição, Paulo expressa as palavras de 2Cor. 5:5, que um erudito na língua grega assim traduziu: " Para essa mudança fui preparado por Deus, que me deu Seu Espírito como sinal e primeira porção."

(b) Realidade. Certas pessoas não se interessam em ir para o céu, pensando que a vida ali será uma existência insubstancial e vaga. Ao contrário, a existência no céu será tão real quanto a presente, de fato, ainda mais real. Os corpos glorificados serão reais e tangíveis e havemos de conhecer-nos e conversar uns com os outros, e estaremos plenamente ocupados em atividades celestiais. Jesus no seu corpo ressuscitado era muito real para seus discípulos; embora glorificado, era ele o mesmo Jesus.

(c) Incorrupção. "Levantado em incorrupção e em poder", o corpo ressuscitado será livre de enfermidade, dor, debilidade, e da morte. (Apo. 21:4.)

(d) Glória. Nossos velhos corpos são perecíveis, sujeitos à corrupção e ao cansaço, porque são corpos "naturais", próprios para uma existência imperfeita num mundo imperfeito; mas o corpo de ressurreição será próprio para a gloriosa imortalidade no céu. Quando Pedro o Grande, da Rússia, trabalhava como mecânico na Holanda, a fim de aprender a arte da construção naval, ele usava a roupa humilde de mecânico; mas, ao voltar ao seu palácio, ele vestia-se com os trajes reais ornados de jóias. Assim o espírito do homem, originalmente inspirado por Deus, agora passa uma existência dentro dum corpo perecível (Fil. 3:21); mas na ressurreição será revestido de um corpo glorioso, próprio para ver a Deus face a face.

(e) ?. Poderá atravessar o espaço com a rapidez de relâmpago, em razão da enorme energia com que estará dotado.

(f) Sutileza, isto é, o poder de penetrar as substâncias sólidas. Ao andarmos pela terra em um corpo glorificado, não seremos impedidos por coisas mínimas como sejam um muro ou uma montanha, simplesmente os atravessaremos! (Vide João 20:26.)

  Existem muitas coisas que não entendemos e não podemos entendê-las ainda, acerca da vida futura; "ainda não é manifesto o que havemos de ser". Entretanto, isto sabemos: "agora somos filhos de Deus", e... "quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos" (1João 3:1,2).

IV. A vida futura.

1. Ensino do Antigo Testamento.

  Ao estudar-se o ensino do Antigo Testamento concernente à vida futura, deve-se ter em mente que a obra redentora de Cristo tem exercido grande efeito sobre a nossa relação com a morte e a vida.
Cristo "aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo Evangelho" (2Tim. 1:10). Cristo trouxe plenitude de luz e absoluta confiança quanto à vida vindoura. Ele também efetuou uma grande libertação dos santos do tempo do Antigo Testamento, que estavam guardados no estado intermediário, libertação que lhes proporcionou muito mais felicidade. Muito embora a revelação vétero-testamentária não seja tão ampla quanto a do Novo Testamento, concernente à vida apos a morte, encontramos ali a referida doutrina. A doutrina do Antigo Testamento sobre a imortalidade baseia-se na relação entre o homem e Deus. O homem, criado à imagem de Deus, é dotado de capacidade para conhecer a Deus e com ele ter comunhão. Isso significa que o homem é mais do que animal, e que sua existência ultrapassa os limites do tempo. Foi criado para viver e não para morrer. Mas o pecado trouxe a morte ao mundo e, assim, ao homem. A morte, no seu aspecto físico, é a separação do corpo da alma. A morte, entretanto, não implica extinção da alma. O Antigo Testamento consistentemente ensina que a personalidade do homem sobrevive a morte. O corpo do homem era depositado na sepultura enquanto a alma ia para o lugar denominado "Seol" (traduzido "inferno", "o poço", e "a sepultura") a morada dos espíritos dos finados. Prova-se que o "Seol" não era o céu pelo fato de ser descrito como estando "em baixo" (Prov. 15:24), terra mais baixa (Ezeq. 32:18), e o meio do inferno (desceram) (Ezeq. 32:21). Que não era um lugar de felicidade suprema, prova-se pelas seguintes descrições: um lugar sem lembrança de Deus (Sal. 6:5), de crueldade (Cant. de Salomão 8:6, Versão Brasileira), lugar de dor (Jo 24:19 Versão Brasileira), lugar de tristeza (Sal. 18:5 Versão Brasileira), e era um lugar do qual aparentemente ninguém voltava. Jo 7:9 (Versão Brasileira).* O Seol, não desfrutando do brilho da pessoa de Cristo ressuscitado, é um lugar sombrio que inspira receio, e, por conseguinte, alguns dos santos do Antigo Testamento receavam ir para esse lugar como a criança receia entrar num quarto escuro. (Vide o Sal. 88 e Isa. 38.) Seol era habitado tanto pelos justos (Jo 14:13; Sal. 88:3; Gên. 37:34,35) como pelos ímpios (Prov. 5:3-5; 7:27; Jo 24:19; Sal. 31:17). Do caso do rico e Lázaro concluímos que havia duas seções no Seol um lugar de sofrimento para os ímpios (Luc. 16:23,24) e outro para os justos, um lugar de descanso e conforto (Luc. 16:25). Contudo, os santos do Antigo Testamento não estavam sem esperança. O Santo de Deus, o Messias, desceria ao Seol; o povo de Deus seria redimido do Seol. (Sal. 16:10; 49:15; Versão Brasileira.)
  Essa profecia cumpriu-se quando Cristo, após sua morte, desceu ao mundo inferior dos espíritos dos finados (Mat 12:40; Luc. 23:42,43), e libertou do Seol os santos do Antigo Testamento, levando-os consigo para o Paraíso celestial. (Efés. 4:8-10.) Essa passagem parece indicar que houve uma mudança nesse mundo dos espíritos, e que o lugar ocupado pelos justos que aguardam a ressurreição foi trasladado para as regiões celestiais. (Efés. 4:8; 2Cor. 12:2.) Desde então, os espíritos dos justos sobem para o céu e os espíritos dos ímpios descem para a condenação. (Apo. 20:13,14.) Outras evidências do ensino do Antigo Testamento sobre a vida futura são as seguintes:
1) A frase "congregado ao seu povo" (Gên. 25:8) ou "aos pais", usada por Abraão, Moisés, Arão e Davi, deve referir-se à existência consciente após a morte e ao sepultamento, pois esses homens não foram enterrados nos túmulos ancestrais.
2) As trasladações de Enoque e Elias provam com certeza a existência duma vida futura de felicidade na presença de Deus.
3) As palavras de Cristo em Mat. 22:32 representam meramente uma forte expressão da própria crença dos judeus. De outra forma nenhuma influência teriam sobre os ouvintes.
4) A doutrina da ressurreição dentre os mortos é claramente exposta no Antigo Testamento. (Jo 19:26; Dan. 12:1,2.) 5) Quando Jacó disse: "Com choro hei de descer ao meu filho até a sepultura" (literalmente "Seol", e assim traduzida na Versão Brasileira) (Gên. 37:35), de maneira nenhuma ele se referia à sepultura literal, pois ele supunha que o corpo de José fora devorado por uma fera.

2. Ensino do Novo Testamento.

  O Novo Testamento reconhece a existência no além túmulo, na qual a vida espiritual continua sob novas e melhores condições. Entrar nessa vida é o supremo alvo do homem. (Mar. 9:43.) Aceitando o próprio Cristo, o crente já na vida presente passou da morte para a vida. (João 3;36.) Isso, entretanto, é somente o princípio; sua plenitude pertence à existência que começa com a "ressurreição da vida". (João 5:29.) Existe uma vida vindoura (1Tim. 4:8); agora está oculta, mas se manifestará quando Cristo, que é nossa vida, aparecer (Col. 3:4). Cristo dará a coroa da vida prometida àqueles que o amam (Tia. 1:12). Mesmo o estado dos que faleceram em Cristo é algo melhor do que a presente vida nele (Fil. 1:21). Mas a plenitude de vida, qual terra da Promissão, e o seu direito de primogenitura como filhos de Deus, serão revelados na vinda de Cristo. (Rom. 8:17; Gál. 4:7.) A morte física não pode interromper a comunhão entre o cristão e seu Senhor. "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá (João 11:25,26). Com essas palavras Jesus assegurou a Marta e Maria que seu irmão não havia perecido, mas estava seguro. Com efeito, Jesus dizia o seguinte: "Eu amava vosso irmão e com ele tive doce comunhão. Compreendendo quem eu sou, lembrando o meu poder, pensais que eu permitiria à morte interromper essa comunhão, que para nós ambos era uma grande delicia?" Existem muitos argumentos formais a favor da imortalidade. Mais do que a lógica fria o que mais satisfaz é justamente saber que estamos em comunhão com Deus e com o seu Cristo.
  Vamos imaginar o caso dum crente fiel que durante muitos anos gozou de preciosa comunhão com o Filho de Deus, ouviu sua voz e sentiu sua presença. Agora que ele está prostrado no leito de morte ouviremos então o Filho de Deus dizer-lhe: "Andamos juntos, gozamos de doce comunhão, mas chegou a hora do eterno adeus"? Não, assim não aconteceria! Aqueles que estão "em Cristo" (1Tess. 4:14-17) não podem ser separados dele nem pela vida e nem pela morte (Rom. 8:38). Para aquele que viveu conscientemente na presença de Cristo, ser separado de Cristo pela morte é coisa impossível. Para aqueles que estão unidos ao amor de Deus, é inconcebível separar-se desse amor para entrar num estado do nada e desolação. Cristo diz a todos os crentes: "Está Lázaro, está alguém, unido a mim? Ele confia em minha pessoa? Tudo que sou e todo o poder que em mim reside operarão em sua vida. Teu irmão está unido a mim pelos laços da confiança e do amor, e visto que eu sou a Ressurreição e a Vida, esse poder operará nele."

V. O destino dos justos.

1. Natureza do céu.

  Os justos são destinados à vida eterna na presença de Deus. Deus criou o homem para ser ele conhecido pelo homem, amado e servido por ele no presente mundo, como também gozar eternamente de sua presença no mundo vindouro.
  O cristão durante a sua vida terrestre experimenta pela fé a presença do Deus invisível, mas na vida vindoura essa experiência da fé tornar-se-á um fato consumado. Ele verá a Deus face a face, terá a experiência que alguns teólogos chamam a "Visão Beatifica".
O céu descreve-se por vários títulos:
1) Paraíso (literalmente, jardim), lembrando-nos a felicidade e o contentamento dos nossos primeiros pais ao participarem de comunhão e conversação com o Senhor Deus. (Apo. 2:7; 2Cor. 12:4)
2) "Casa de meu Pai", com suas muitas mansões (João 14:2) expondo o conforto, descanso e comunhão do lar.
3) O país celestial, a caminho do qual estamos viajando, como Israel naquele tempo se destinava a Canaã, a Terra da Promissão. (Heb. 11:13-16.)
4) Uma cidade, sugerindo a idéia duma sociedade organizada. (Heb. 11:10; Apo. 21:2.) Devemos distinguir as seguintes três fases na condição dos cristãos que partiram desta vida: primeira, existe um estado intermediário de descanso enquanto aguardam a ressurreição; segunda, depois da ressurreição segue-se o juízo sobre as obras (2Cor. 5:10; 1Cor. 3:10-15); terceira, ao fim do Milênio descerá do céu a Nova Jerusalém, o lar final dos remidos (Apoc. 21). A Nova Jerusalém descerá do céu, faz parte do céu, e, portanto, é o céu no pleno sentido da palavra. Sempre que Deus se revela pela sua presença pessoal e glória celeste, ai é céu, e dessa maneira podemos descrever a Nova Jerusalém. (Apo. 22:3,4.) Por que desce essa cidade do céu? O propósito final de Deus é trazer o céu à terra. (Vide Deut. 11:21.) Ele tornará "a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" (Efés. 1:10); então Deus será "tudo em todos" (1Cor. 15:28).
Embora a Nova Jerusalém não chegue até a terra, ela será visível aos moradores terrestres, pois "as nações andarão à sua luz" (Apo. 21:24).

2. Necessidade do céu.

  O estudo das religiões revela o fato de que a alma humana instintivamente crê que existe céu. Esse instinto foi implantado no coração do homem pelo próprio Deus, o Criador dos instintos humanos. Os argumentos que provam a existência da vida futura não são formulados principalmente para que os homens acreditem nessa vida, mas porque os homens já acreditam, e desejam trazer a inteligência sujeita às mais profundas instituições do coração.
  Também o céu é essencial às exigências da justiça. Os sofrimentos dos justos sobre a terra e a prosperidade dos ímpios exigem um estado futuro no qual se faça plena justiça. A Bíblia ensina que tal lugar existe. Platão, o mais sábio dos gregos, opinou que a vida futura era uma probabilidade, e aconselhou os homens a colherem as melhores opiniões a respeito, e a embarcar nelas como que numa balsa, e navegar perigosamente os mares da vida, "a não ser que com mais segurança pudesse achar um navio melhor, ou uma palavra divina". Essa palavra divina que os sábios desejaram são as Escrituras Sagradas, nas quais se ensina a existência da vida futura, não como opinião ou teoria, mas como fato absoluto.

3. As bênçãos do céu.

(a) Luz e beleza. (Apo. 21:23; 2:5.) A melhor linguagem humana é inadequada para descrever as gloriosas realidades da vida futura. Nos caps. 21 e 22 do Apocalipse o Espírito emprega linguagem que nos ajuda a compreender algo das belezas do outro mundo. A toupeira que vive no buraco na terra não pode compreender como é a vida da águia que se eleva acima das altas montanhas. Vamos imaginar um mineiro que nascesse em uma mina 500 metros abaixo da superfície e que ai passasse todos os seus dias, sem nunca ter visto a superfície da terra. Como seria difícil tentar descrever-lhe as delicias visuais de verdes árvores, campos floridos, rios, pomares, picos de montanhas, e o céu estrelado. Ele nada disso apreciaria, pois seus olhos não viram, seus ouvidos não ouviram e não entrou em seu coração o conhecimento dessas coisas.

(b) Plenitude de conhecimento, (1Cor. 13:12.) O sentimento expresso pelo sábio Sócrates ao dizer: "Uma coisa sei, é que nada sei", tem sido repetido pelos sábios daquele tempo. O homem está rodeado dos mistérios e anseia pela sabedoria. No céu esse anseio será satisfeito absolutamente; os mistérios do universo serão desvendados; problemas teológicos difíceis desvanecerão. Então gozaremos de melhor qualidade de conhecimento, o conhecimento de Deus.

(c) Descanso. (Apo. 14:13; 21:4.) Pode-se formar certa concepção do céu contrastando-o com as desvantagens da vida presente. Pense em tudo que neste mundo provoca: fadiga, dor, luta e tristeza, e considere que no céu essas coisas não nos perturbarão.

(d) Servir. Existem pessoas acostumadas a uma vida muito ativa que não se interessam pelo céu, pensando que o céu seja lugar de inatividade, onde seres etéreos passem o tempo tocando harpa. Essa, porém, não é uma concepção exata. É verdade que os redimidos tocarão harpas, pois o céu é lugar de música. "Haverá trabalho a fazer também. "... Estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo." "(Apo. 7:15); "... e os seus servos o servirão"... (Apo. 22:3). Aquele que colocou o homem no primeiro paraíso, com instruções sobre como cuidar dele, certamente não deixará o homem sem ter o que fazer no segundo paraíso.

(e) Gozo. (Apo. 21:4.) O maior prazer experimentado neste mundo, mesmo que ampliado um milhão de vezes, ainda não expressaria o gozo que espera os filhos de Deus nesse reino. Se um poderoso rei, possuidor de ilimitadas riquezas, quisesse construir um palácio para sua noiva, esse palácio seria tudo quanto a arte e os recursos pudessem prover. Deus ama seus filhos infinitamente mais que qualquer ser humano. Possuindo recursos inexauríveis, ele pode fazer um lar cuja beleza ultrapasse tudo quanto a arte e imaginação humanas poderiam conceber. "Vou preparar-vos lugar."

(f) Estabilidade. O gozo do céu será eterno. De fato, a permanência é uma das necessidades para que a felicidade seja perfeita. Por muito gloriosas que sejam a beleza e a felicidade celestiais, saber que essas coisas acabariam já é suficiente para que o gozo perca sua perfeição. Lembrar-se de que inevitavelmente tudo findará , seria um empecilho ao gozo perfeito. Todos desejam o estado permanente: saúde permanente, paz permanente e prosperidade permanente. A instabilidade e insegurança são temidas por todos. Mas a felicidade no céu é justamente a divina promessa de que o seu gozo nunca há de terminar nem diminuir de intensidade.

(g) Gozos Sociais. (Heb. 12:22, 23; 1Tess. 4:13-18) Por natureza, o homem é um ser social. O homem solitário é anormal. Se na vida presente os gozos sociais proporcionam tanta felicidade, como não será muito mais gloriosa a amável comunhão social no céu. Nas relações humanas, mesmo as pessoas mais chegadas a nós têm suas faltas e características que destroem a sua personalidade. No céu os amigos e parentes não terão faltas. Os gozos sociais nesta vida fazem-se acompanhar de desapontamento. Muitas vezes os próprios familiares nos causam grandes tristezas; as amizades acabam e o amor desvanece. Mas no céu não haverá os mal-entendidos e nenhuma rixa; tudo será bom e belo, sem sombra e sem defeito, cheio de sabedoria celestial e resplandecente com a glória de Deus.

(h) Comunhão com Cristo. (João 14:3; 2Cor. 5:8; Fil. 1:23.) "Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso" (1Ped. 1:8). Naquele dia seremos como ele é; os nossos corpos serão como o seu glorioso corpo; nós o veremos face a face; aquele que pastoreou o seu povo no vale das lágrimas, no céu conduzirá esse povo de gozo em gozo, de glória em glória, e de revelação em revelação.
 
 

Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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