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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Os Evangelhos - A teoria das duas fontes


Essa proposta se baseia em duas colunas: Marcos é a base para Mateus e Lucas (Marcos foi o primeiro) e Mateus e Lucas fizeram uso do documento dos discursos (Q) e o incorporaram nos seus evangelhos. Além disso, os sinópticos ainda usaram outras fontes para o material exclusivo que apresentam.

Em favor de Marcos como o texto primitivo existem os seguintes argumentos:

1) Marcos é o mais curto dos primeiros três evangelhos. Por causa do enorme respeito que existia na igreja primitiva pelo santo texto dos evangelhos, é mais provável que tenha havido uma expansão do que um resumo do texto. Por isso o texto mais curto é o mais antigo.
2) Mateus e Lucas só se assemelham na estrutura, no conteúdo, na seqüência e na formulação do texto naquelas passagens básicas em que são paralelos a Marcos. Como exemplo disso servem os capítulos 4 e 5 de Marcos com os seus paralelos com os outros dois evangelhos.
3) Marcos apresenta pouco material que aparece somente no seu evangelho. O texto exclusivo de Mateus e Lucas se extende por vários capítulos.
4) Parece que, em comparação com Marcos, partes de Mateus e Lucas apresentam correções lingüísticas e de conteúdo. Às vezes Mateus e Lucas concordam nessas correções, às vezes não.

Alguns exemplos de correções lingüísticas: Marcos 2.4ss; 2.7 e paralelos. Exemplos de correção do conteúdo: Marcos 6.14 e Mateus 14.1; Marcos 2.15 e Lucas 5.29.

As conclusões dessas observações são: Mateus e Lucas conheciam o evangelho de Marcos e se basearam nele. Portanto, Marcos deve ser o evangelho mais antigo. Talvez tenha havido um “Marcos-primitivo”, no qual Lucas se baseou. Isso explicaria algumas diferenças entre Mateus e Lucas.

A favor do documento Q existem os seguintes argumentos:

1) Mateus e Lucas concordam — em parte literalmente — até nos textos que os dois têm a mais do que Marcos. Isso nos leva à conclusão de uma dependência literária na formulação do texto grego. Como exemplo compare Mateus 3.7-10 e Lucas 3.7-9.

2) Nos textos que Mateus e Lucas têm a mais do que Marcos não há só discursos de Jesus. Há também relatos dos atos de Jesus. Nesse aspecto, a designação “fonte dos discursos” é enganosa.

Exemplos: Mateus 4 comparado com Lucas 4; Mateus 8.5-13 e paralelos, 18-22 e paralelos; Mateus 11.1-19 e paralelos.

3) Nos relatos do sofrimento não é possível descobrir esses trechos. Aqui cada evangelista segue a sua própria linha.

4) Mateus e Lucas organizam o material de formas diferentes: Mateus apresenta os discursos em vários agrupamentos (Mt 5—7; 10; 13; 18; 24-25) e Lucas em dois blocos (6.20—8.3; 9.51—18.14). Isso mostra que os dois evangelhos não são completamente dependentes entre si, mas que se basearam em uma fonte textual comum.

Vamos resumir as conclusões sobre o documento dos discursos:
Provavelmente existiu uma versão dos discursos e dos atos de Jesus na língua grega, que Mateus e Lucas conheceram e usaram. Essa fonte se perdeu. Ela se tornou conhecida como o documento dos discursos. Como ele era em detalhes não sabemos. Conclui-se disso que os trechos de Mateus e Lucas em que eles se assemelham fortemente pertenciam a esse documento, enquanto Marcos não incorporou no seu evangelho essa tradição.

O documento dos discursos é, portanto, uma reconstrução literária baseada nos evangelhos que conhecemos. Não está comprovado como fonte documental.

Para complementar a teoria das duas fontes ainda é necessário um comentário sobre o material exclusivo que pode ser achado somente em Mateus ou somente em Lucas. Já não é possível saber se os autores dispunham de uma transmissão oral ou escrita desse material exclusivo. Mais frutífera é a reflexão sobre as ênfases teológicas dos textos exclusivos de cada um, pois esses textos nos dão indicações da mensagem que cada evangelista queria transmitir.



Fonte:  Introducao e Sintese do Novo Testamento - Gerhard Horster

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