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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

QUANDO VOCÊ SE PERGUNTA POR QUE DEUS CRIOU A DOR - Philip Yancey


Philip Yancey

QUANDO VOCÊ SE PERGUNTA POR QUE DEUS CRIOU A DOR

Passeie por um jardim durante a primavera ou observe a neve cair sobre uma paisagem montanhosa, e, por um instante, você terá a impressão de que tudo parece justo no mundo. A criação reflete a generosidade de Deus assim como uma pintura reflete a generosidade do artista.
O mundo está repleto de belezas, convenhamos.

Mas, observando mais detidamente este adorável mundo, você começa a ver dor e sofrimento por toda parte. Os animais devoram uns aos outros em um cruel ciclo de sobrevivência, onde prevalece a lei do comer ou ser comido. Todo ser humano passa por profundos sofrimentos pessoais. Alguns se destroem mutuamente. Tudo o que tem vida enfrenta frustrações, acidentes ou doenças - e, por fim, a morte.

A "pintura" de Deus lhe parece falha; às vezes, até arruinada.
Confesso que cheguei a ver a dor como um grande erro divino, num mundo que, por outro lado, se mostra impressionante. Por quê teria Deus permitido que sua criação ficasse desordenada e a dor passasse a existir no mundo? Se não houvesse injustiças e sofrimentos, seria muito mais fácil para nós respeitarmos a Deus e acreditar nele. Por quê não poderia ter Ele criado todas as belezas deste mundo deixando de fora a dor?

Descobri a resposta para essas perguntas em um lugar inusitado. Para minha surpresa, descobri que, na verdade, existe um mundo onde não há dor - entre as paredes de um leprosário. Os leprosos, hoje chamados de hansenianos, não sentem dor física. Porém, é justamente aí que está a tragédia de sua condição. A medida que a doença se alastra, as terminações nervosas que emitem os sinais de dor silenciam. Praticamente toda a deformidade física ocorre porque a vítima da lepra não consegue sentir dor.

Certa vez, conheci um portador de lepra que havia perdido todos os dedos do pé direito por insistir em usar sapatos apertados, menores do que os que ele precisava usar. Conheço outro que chegou quase a perder o polegar por causa de uma ferida que se desenvolveu em decorrência da força com que ele segurava o cabo de um esfregão. Muitos pacientes naquele hospital ficaram cegos em virtude de a lepra ter silenciado as células da dor, cuja função era alertá-los no momento em que piscassem.
Meus encontros com vítimas da lepra serviram para me mostrar que, em mil e um aspectos, grandes e pequenos, a dor nos é útil a cada dia. 
Enquanto formos saudáveis, as células da dor nos alertarão sobre quando devemos trocar de sapatos, sobre quando devemos segurar com menos força o cabo de um esfregão ou de um ancinho, ou quando precisamos piscar. Enfim, a dor nos permite levar uma vida livre e ativa. Em um livro escrito anteriormente, Where Is God When It Hurts, descrevo algumas das notáveis características da corrente da dor no corpo humano. Não posso reproduzi-las todas aqui, mas vale a pena mencionar algumas:

- Sem os sinais da dor, a maioria dos esportes seria demasiadamente arriscada.
-  Sem a dor, não haveria sexo, uma vez que o prazer sexual é transmitido principalmente pelas células da dor.
-  Sem a dor, a arte e a cultura seriam muito limitadas. Musicistas, dançarinos, pintores e escultores, todos dependem da sensibilidade do corpo à dor e à pressão. Um guitarrista, por exemplo, precisa sentir exatamente a posição de seus dedos nas cordas e a pressão exercida sobre elas.
-  Sem a dor, nossas vidas estariam correndo constantes perigos fatais. Não receberíamos, por exemplo, o aviso da ocorrência de um apêndice supurado, de um enfarto ou de um tumor cerebral.
- Em suma, a dor é essencial à preservação da vida normal neste planeta. Não se trata de uma inovação inventada por Deus no último instante da criação só para tornar infeliz a vida das pessoas. Nem se constitui ela num grande erro do Criador. Hoje vejo no incrível rede de milhões de sensores da dor existentes por todo o corpo humano, precisamente adaptados à nossa necessidade de proteção, um exemplo da competência de Deus, e não de sua incompetência.

Deus meu,
clamo de dia,
e não me respondes.
Salmo 22.2

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