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quinta-feira, 16 de junho de 2011

JOSÉ (Gn 37.1-50.26)



José (Gn 37.1-50.26)

I. José, o filho favorito                                                              37.1-36
    Odiado por seus irmãos                                               37.1-24
    Vinda ao Egito                                                            37.25-36

II. Judá e Tamar                                                                         38.1-30

III. José: escravo e governante                                              39.1-41.57
    José em prisão                                                           39.1-20
    Interpretação dos sonhos                                             39.21-41.36
    Governante perto do Faraó                                          41.37-57

IV. José e seus irmãos                                                              42-.1-45.28
    A primeira viagem – Simeão tomado como refém            42.1-38
    Segunda viagem com Benjamim –José se identifica
       a si mesmo                                                            43.1-45.28

V. A família de José se estabelece no Egito                          46.1-50.26
    Gósen distribuído aos israelitas                                      46.1-47.28
    As bênçãos patriarcais                                                 47.29-49.27
    O sepultamento de Jacó em Canaã                                49.28-50-14
    A esperança de José para Israel                                    50.15-26


    Numa das mais dramáticas narrações da literatura mundial, as experiências de José entretecem a vida patriarcal no Egito. Enquanto os contatos anteriores tinham sido primariamente com o ambiente da Mesopotâmia, a transição ao Egito resultou numa mistura de costumes, conseqüência daquelas duas formas tão adiantadas de civilização. Nesta narrativa, percebemos a continuidade da antiga influência, a adaptação ao ambiente egípcio e, acima de tudo, toda a guia protetora e o controle de Deus nas fascinantes fortunas de José e seu povo.
José, o filho de Raquel, foi o orgulho e a alegria de Jacó. Para mostrar seu favoritismo, Jacó o engalanou com uma túnica, aparentemente a marca externa de um chefe de tribo [1]. Seus irmãos, que já estavam ressentidos contra José pelos maus informes que lhes concerniam, foram incitados por este fato a um ódio extremo. A questão chegou a um ponto álgido quando José lhes relatou dois sonhos prognosticando sua exaltação [2]. Os irmãos mais velhos deram liberdade a seu rancor jurando tirar-se de cima a José na primeira ocasião.
    Enviado por seu pai a Siquem, José não pôde achar a seus irmãos até que entrou em Dotã, aproximadamente a 130 quilômetros ao norte do Hebrom [3]. Após submetê-lo ao ridículo e ao abuso, os irmãos o venderam aos mercadores midianitas e ismaelitas, em quem conseqüência, dispuseram dele como de um escravo para Potifar no Egito. Ao mostrar-lhe a capa que vestia José, suja de sangue, Jacó chorou e se enlutou pela perda de seu filho favorito na crença de que tinha sido morto pelas bestas selvagens.
O leitor fica em suspense pelo bem-estar de José com o episódio de Judá e Tamar (38.1-30). Este relato tem significação histórica, já que subministra o passado genealógico da linha davídica (Gn 38.29; Rt 4.18-22; Mt 1.1). Além disso, a despeito da conduta pouco exemplar de Judá, a prática do levirato [4] é mantida no matrimônio. A demanda de Judá de que Tamar fosse queimada pelo delito de prostituição, pode refletir um costume levado a Canaã pelos indo-europeus, tais como os hititas e os filisteus. As fontes ugaríticas e mesopotâmicas testemunham o uso de três artigos para significar a identificação pessoal. Tamar estabeleceu a culpabilidade de Judá por sua impregnação ao utilizar seu selo, seu cordão e seu cajado como prova. Já que a lei hitita permitia a um pai fazer cumprir as obrigações do levirato ao casar uma nora viúva, Tamar não foi submetida ao castigo sob a lei local por seu estratagema em enrolar o plano de Judá ao ignorar seus direitos de matrimônio.
Na legislação mosaica, a estipulação foi feita para o matrimônio do levirato (Dt 25) [5]. As experiências de José na terra do Nilo foram demonstradas como autênticas em muitos detalhes (39-50). Os nomes egípcios e títulos aconteceram, como podia esperar-se. Potifar é designado como "capitão da guarda" ou "chefe dos executores", que era usado como o título que se dava à guarda pessoal do rei. Azenate (nome egípcio), a filha de um sacerdote de Om (Heliópolis), se converteu na esposa de José.
Oficiais importantes da corte egípcia estão apropriadamente identificados como "chefe de mordomos" e "chefe dos padeiros". Os costumes egípcios estão igualmente refletidos.
Sendo José um semita, levava barba; porém para sua presença ante o Faraó, teve de ser raspado de conformidade com as formas egípcias. A fina roupa de linho, o colar de ouro e o anel com o selo enfeitaram a José na típica forma egípcia quando assumiu o mando administrativo sob a divina autoridade do Faraó. "Abrek", provavelmente uma palavra egípcia que significa "tomar nota", é a ordem para todos os egípcios ao produzir-se a designação de José (Gn 41.43) [6]. O embalsamamento de Jacó e a mumificação de José também seguiam as normas egípcias do cuidado próprio dos falecidos.
São também de grande valor os paralelos na vida de José e na literatura egípcia. A transição de José desde ser um escravo a converter-se num governante, tem um grande parecido com o clássico egípcio, "O camponês eloqüente". Os sete anos de abundância, nos sonhos do Faraó, comportam igualmente uma grande similitude com uma velha tradição egípcia [7]. A todo o longo desses anos de adversidade, sofrimentos e êxito, a relação humano-divina é claramente aparente. Tentado pela esposa de Potifar, José não cedeu. Não queria pecar contra Deus (Gn 39.9). Em prisão, José confessou abertamente que a interpretação dos sonhos somente correspondia a Deus (40.8). quando apareceu frente ao Faraó, José reconheceu que Deus se valia dos sonhos para revelar o futuro (41.25-36). Inclusive no fato de dar nome a seu filho, Manassés, José reconheceu a Deus como a fonte de sua promoção e o alívio de suas dores (41.51). Também tomou a Deus em consideração em sua interpretação da história: ao revelar sua identidade a seus irmãos, humildemente deu crédito a Deus por levá-lo a ele ao Egito. Não disse em nenhum momento que eles o haviam vendido como escravo (41.4-15). Depois da morte de Jacó, José voltou, mais uma vez, a dá-lhes a segurança de que não buscaria vingança. Deus tinha ordenado os eventos da história para o bem de todos (50.15-21).
O engrandecimento feito de Deus  por José através de muitas vicissitudes, foi recompensado por sua própria elevação. Na casa de Potifar, foi tão fiel e tão notável e eficiente que foi elevado à categoria de superintendente. Lançado na prisão por falsas acusações, José logo foi considerado com responsabilidades de supervisão que utilizou sabiamente para ajudar a seus companheiros de encarceramento. Através do mordomo, quem por dois anos falhou em lembrar sua ajuda, José foi levado subitamente na presença do Faraó para interpretar os sonhos do rei. Foi certamente um momento oportuno: o governante do Egito tinha a necessidade de contar com um homem como José, que provou sua valia. Como chefe administrador, não somente guiou o Egito através dos anos cruciais da abundância e da fome, senão que foi o instrumento adequado para salvar a sua própria família. A posição de José e seu prestígio fizeram possível o distribuir a terra do Gósen aos israelitas quando emigraram ao Egito.
Aquilo foi uma enorme vantagem para eles, a causa de seus interesses como pastores.
As bênçãos de Jacó formam uma conclusão que encaixa na idade patriarcal do relato do Gênesis. Em seu leito de morte, pronunciou sua última vontade e seu testamento. Ainda se achasse no Egito, suas bênçãos refletem o costume da Mesopotâmia, o lar original, onde os pronunciamentos orais eram reconhecidos como fiel testemunho de fé ante um tribunal.
Mantendo as promessas divinas feitas aos patriarcas, as bênçãos de Jacó, dadas em forma poética, tiveram uma significação profética.






[1] "Manto de muitas cores", de acordo com a Septuaginta e Targum Jonathan, ou uma túnica que lhe chegava aos tornozelos. Das pinturas do túmulo de Bcne Ilassam, mostrando os líderes das tribos semitas que aparecem no Egito em 1500 a.C., com mantos de diversas cores, ver J. B. Pritchard, "Ancient New Eastern Texts in Pictures" (Princeton University Press, 1954), fig. 3.
[2] Embora a duplicidade de sonhos era típica da literatura do Próximo Oriente, estes tiveram e agregaram uma importância divina na vida de José.
[3] Inclusive hoje, os pastores levam seus rebanhos desde o sul da Palestina ao poço de Jotão, de acordo com J. P. Free, que esteve escavando Dotã desde 1953. sobre a ladeira superior do outeiro, os níveis 3 e 4 representam cidades da época do Bronze Médio (1000-1600 a.C.). Ver "Bulletin of the American Schools of Oriental Research", nº 135 e 139. Durante a temporada de 1959, o nível superior, somente 15 cm por debaixo da superfície, mostrava indícios de uma reconstrução, após a destruição executada pelos assírios em 722 (ver 2 Rs 17.5-6). Um segundo nivel pode ser a restauração feita após a invasão assíria do 733, enquanto que um terceiro nível sugere uma devastação anterior, provavelmente pelos assírios. Ver BASOR, dezembro, 1959.
[4] Levirato (lat. levir, cunhado): preceito da lei mosaica, que obriga o irmão do que morreu sem filhos a casar com a viúva (N. da T.).
[5] Para mais detalhes, ver Cirus H. Gordon, op. di., 136-137. Também seu artigo "Épica indoeuropea y hebraica". Erelz-lsrael, V. (1958), 10-15.
[6] Nas versões portuguesas, esta palavra é traduzida como "Ajoelhai-vos". Isto concordaria com o que J. Vergote sugere: éø.brk, ‘¡rendei homenagem!’, ‘¡ajoelhai-vos!’, imperativo egípcio de um termo emprestado semítico, ("Joseph in  Egypte", 1959, pp. 135–141, 151). (N. da T. – Fonte: Nuevo Diccionario Bíblico Certeza – e-Sword).
[7] Para tradução feita por John A. Wilson, ver. J. B. Pritchard, "Ancíent Near Eastern Texts", pp. 31-32.


Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT



Pesquisa: Pr. Charles Maciel Vieira

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