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sexta-feira, 17 de junho de 2011

EZEQUIEL PROFETA - 5ª PARTE



NAÇÕES ESTRANGEIRAS

ESPERANÇAS PARA A RESTAURAÇÃO

O ESTADO RESTAURADO

VII. Nações estrangeiras                                                             Ez 1-32.32
   Amom, Moabe, Edom e Filistéia                                        Ez 25.1-17
   Fenícia                                                                         Ez 26.1-28.26
   Egito                                                                            Ez 29.1-32.32

As profecias datadas nestes capítulos, com a exceção do 29.17-21, ocorrem durante o décimo ou décimo segundo ano do cativeiro de Ezequiel. Isto aproxima o período do assédio e cerco de Nabucodonosor em Jerusalém, no 588-86. Com a capitulação de Jerusalém pendente, surge sem dúvida a questão de a que nação, entre as outras, terá Deus planejado levar a Judá. Deverão eles que ir lá para juízo?
No capítulo que abre esta passagem, os amonitas, moabitas, edomitas e filisteus são denunciados pelo orgulho e gozosa atitude ante a sina de Judá. Embora aliados a Judá para conjurar-se numa rebelião contra Babilônia (Jr 27.3), eles a abandonaram ao ouvir o fragor do combate da invasão de Nabucodonosor. Por sua arrogância e seu ódio para com a religião de Israel, serão castigados. A execução contra eles começa no seguinte período; mas o completo cumprimento desta predição espera o último estabelecimento da supremacia de Israel em sua própria terra. Através de Israel, Deus levará sua vingança contra Edom (25.14).
As mais longas passagens estão dirigidas contra os fenícios e suas cidades de Tiro e Sidom, e contra Egito. Com os exércitos de Babilônia concentrados sobre Jerusalém, os exilados podem ter imaginado por que Fenícia e Egito escaparam ao vingativo assalto de Nabucodonosor.
Numa analise de maior extensão, Ezequiel trata o destino de Tiro e seu príncipe com uma adequada lamentação para cada um deles (26.1-28.19). Sidom, que era de menor importância, recebe somente uma breve consideração (28.20-23). Em contraste, Israel será restaurada (28.24-26). A condenação de Tiro é certa, já que Deus está levando a Nabucodonosor contra ela [1]. A lamentação de Tiro descreve a perda da glória e a supremacia que tinha gozado em sua estratégica situação, em sua beleza arquitetônica, sua força militar e, sobre tudo, em sua fabulosa riqueza comercial [2]. Tampouco Sidom escapará da destruição (28.24-26).
Para traçar um paralelo da queda de Tiro, Ezequiel fala do destino do príncipe que governa a cidade e o reino de Tiro (28.1-10). Ainda que bom aos próprios olhos, o rei de Tiro é somente um homem no que a Deus se refere. Por suas vãs aspirações, será castigado.
Egito, que usualmente joga uma parte vital nas relações internacionais de Judá, recebe uma extensa consideração nestas profecias (29-32). Em sua associação com Israel, a nação de Egito tem sido como uma cana, que se abandona ao inimigo quando chega a conquista.
Egito e seus governantes também estão inculpados de orgulho —o Faraó se vangloria de que o Nilo, do qual depende a existência do Egito, tinha sido feito por ele.
A conquista e a rapina aguardam o Egito. Embora seja restaurada num período de quarenta anos de desolação, Egito nunca chegará a adquirir sua antiga posição. Nunca proporcionará de novo uma falsa segurança para Israel. Deus enviará a Nabucodonosor ao Egito para que o despoje de sua riqueza, já que os homens maus possuem a terra. Os divinos atos do juízo serão evidentes na destruição dos ídolos em Mênfis e na derrota das multidões em Tebas.
Em forma de advertência, Egito é comparada com a Assíria, que sobressaia como um cedro do Líbano por acima de todas as outras árvores (31.1-18) [3]. Como o poderoso reino da Assíria, Egito cairá. Ezequiel compara a destruição com sua descida ao Hades. Um ano e dois meses mais tarde, após ter sabido da queda de Jerusalém, se lamenta mais uma vez da humilhação que pende sobre o Egito (32.1-16). O canto fúnebre do funeral (32.17-32), tal vez datado no mesmo mês [4], expande a lamentação situando já na lista seis nações para ir ao Hades.
Egito, em seu destino, se unirá a poderes tão grandes como Assíria, Elão, Meseque e Tubal, e as nações vizinhas tais como Edom os sidônios e os príncipes do norte —sem dúvida, uma referência aos governantes sírios. Todos eles darão as boas-vindas ao Egito no Hades, no dia da calamidade.

VIII. Esperanças para a restauração                                        Ez 33.1-39.29
   A atalaia com uma nova comissão                                     Ez 33.1-33
   Os pastores de israelitas                                                  Ez 34.1-31
   Contraste entre Edom e Israel                                          Ez 35.1-36.38
   Promessa de restauração e triunfo                                    Ez 37.1-39.29

A mensagem de Ezequiel está ligada aos tempos em que ele vive. Desde a época de seu chamamento, no 593 a.C., tem conduzido, pela palavra e pela ação simbólica, o destino de Jerusalém. Durante o cerco de Jerusalém foi-lhe dada uma mensagem concernente ao lugar das nações estrangeiras na economia do Deus de Israel. Com a destruição de Jerusalém cumprida, Ezequiel, uma vez mais, dirige sua atenção às esperanças nacionais de Israel.
Um fugitivo procedente de Jerusalém informa a Ezequiel e aos exilados, em janeiro de 585 a.C., que a cidade capitulou verdadeiramente diante do exército da Babilônia. sem dúvida, os informes oficiais na Babilônia tinham anunciado previamente a conquista de Judá.
Provavelmente, a data marcada (33.21-22) esteja intimamente relacionada com a totalidade do conteúdo deste capítulo [5]. Deus, que tinha previamente revelado a Ezequiel o fato da queda de Jerusalém na véspera da chegada deste mensageiro, o convida então a falar de novo. esta terminação de seu período de surdez é um sinal da divina confirmação (24.27). Deus já havia condicionado a Ezequiel ao lembrá-lo de que ele era uma atalaia da casa de Israel (33.1-20). Dirigindo-se de novo a ele como "filho do homem", ele é o responsável de advertir seu próprio povo.
Após a chegada do fugitivo, Ezequiel é preparado para a mensagem de transição (33.24- 33). O restante não arrependido que está na Palestina, transfere então sua confiança desde o templo destruído ao fato de que eles são a semente de Abraão [6]. Com Jerusalém em ruínas, seguramente nenhum dos que se encontram entre o auditório de Ezequiel é o bastante estúpido para pensar que pode tentar uma rebelião com êxito frente a Nabucodonosor. Ezequiel é advertido que o povo será o bastante curioso para escutar sua mensagem; porém não o obedecerá.
O tema da esperança começa com uma discussão dos pastores de Israel (34-1.31).
Em contraste com os falsos pastores, que estão condenados por seu egoísmo, Deus aparece descrito como o verdadeiro Pastor de Israel [7]. Olhando no futuro distante dos israelitas, é-lhe assegurado sua restauração nacional. Fazendo uma aliança de paz com eles, Deus os restabelecerá em sua própria terra para gozar das bênçãos sem limites sob o mando do pastor identificado como "meu servo Davi" [8]. Já que a história não tem dados do cumprimento desta promessa para Israel, parece razoável antecipar esta realização no futuro.
A tese da restauração de Israel está desenvolvida em 35.1-36.38, em contraste com a antítese da destruição de Edom. Edom ou monte Seir está carregado com os delitos de inimizade, ódio sangrento, avidez e cobiça da terra de Israel, e incluso de blasfêmia contra Deus [9]. Edom, incluindo todas as nações (36.5), está já marcada para sua devastação. Em contraste, os israelitas serão reunidos desde todas as nações e mais uma vez gozarão do favor de Deus em sua própria terra. Israel tem profanado o nome de Deus entre as nações; porém Ele agirá trazendo-os de novo em graça a Seu nome. Por uma transformação, Deus lhes transmitirá um novo coração e um novo espírito, purificando-os na preparação para que sejam Seu povo.
Sem dúvida, tanto Ezequiel como seu auditório devem ter-se perguntado como aconteceria tal coisa. Com Jerusalém em ruínas e o povo no exílio, as perspectivas não podiam ser mais escuras e sombrias. Em 37.1-39.29, a restauração de Israel em triunfo sobre todas as nações, é desenvolvida e desenhada. Por divina revelação, Ezequiel chega à certeza de que tudo isso terá seu cumprimento.
O Espírito do Elohim conduz a Ezequiel ao meio de um vale cheio de ossos secos.
Deus convida o profeta a falar àqueles ossos. Ante seu total assombro, Ezequiel vê como os ossos se animam com a vida. Esta ressurreição dos ossos mortos significa o reavivamento e a restauração da totalidade da casa de Israel, incluindo tanto o Reino do Norte como o do Sul. Serão reunidos como os israelitas serão reagrupados, procedentes de entre as nações, com a específica promessa de que um rei governará sobre eles. O governante ou "pastor", de novo identificado como "meu servo Davi", deverá ser o príncipe para sempre, em tanto o povo se conforma aos estatutos e ordenanças de Deus. na terra de Israel, Deus estabelecerá uma vez mais seu santuário de forma tal que todas as nações conhecerão que Ele tem santificado e purificado sua nação de Israel.
O estabelecimento de Israel não permanecerá oculto nem sem desafio. Nações procedentes das partes do norte, especialmente Gogue e Magogue, reunirão em massa seus exércitos para lutar contra Israel nos últimos dias. Vivendo em cidades sem cercar e gozando de uma propriedade sem precedentes, Israel se converterá no objeto cobiçado dos inimigos invasores procedentes do norte. Isto, porém, será um dia de divina vindicação. As forças da natureza, em forma de terremotos, chuva, saraiva, fogo e enxofre serão deixados livres contra o feroz invasor. A confusão, o derramamento de sangue e a pestilência prevalecerão enquanto lutam um contra o outro. Aves de rapina e bestas selvagens devorarão os exércitos de Gogue e Magogue e o inimigo ficará sem ajuda, permitindo assim que Israel tome todos seus despojos de guerra. Durante sete meses, sepultarão os mortos e purificarão a terra.
 Com todas as nações cientes dos juízos de Deus, se assegura a restauração da boa fortuna de Israel. Eles viveram com segurança na terra onde ninguém terá medo. Não ficará ninguém entre as nações, quando o Senhor verter seu Espírito sobre elas.

IX. O estado restaurado                                                               Ez 40.1-48.35
   O novo templo                                                               Ez 40.1-43.12
   Normativas para o culto                                                  Ez 43.13-46.24
   A terra das bênçãos                                                       Ez 47.1-48.35

O tempo da Páscoa, durante o mês de Nisã (573), sem dúvida lembra aos exilados o maior milagre que Deus tenha praticado em nome de Israel, a qual liberou do cativeiro do Egito. Durante os catorze anos que tinham se passado desde a destruição de Jerusalém, os exilados, provavelmente adaptados a seu novo entorno, não tiveram nenhuma esperança de um imediato retorno. Quanto muito, se acreditassem na predição de Jeremias referente a um período de exílio de setenta anos, somente uns poucos dos que tinham sido tomados em Jerusalém poderiam ter retornado. Indubitavelmente, a promessa de Ezequiel da definitiva restauração lhes assegurou do amor de Deus e de Seu cuidado pela nação de Israel.
Ezequiel teve outra visão. Similar à revelação dos capítulos anteriores, o profeta vê a realidade da restauração. De novo, o ponto focal é o templo de Jerusalém, que simboliza a presença real de Deus com seu povo. Um homem sem nome, o mais provável um anjo do Senhor, toma a Ezequiel para realizar uma visita do templo, suas redondezas e a terra da Palestina.
A glória de Deus, que primeiramente abandonou o templo a sua condenação, então retorna a seu sagrado santuário. Mais uma vez, Deus habita ali entre seu povo. Ezequiel é instruído para observar bem aquela viagem da restaurada Israel. Tudo o que vê e ouve, o partilha com seus companheiros do exílio (40.4).
Desde o vantajoso ponto do topo de uma montanha, Ezequiel vê uma estrutura parecida a uma cidade, representando o templo e seu entorno [10]. O guia, com uma vara de medir na mão, inspeciona cuidadosamente as muralhas da área do templo e a de vários edifícios, ao tempo que conduz a Ezequiel naquela espetacular viagem. O mais extraordinário da viagem pelo templo é a reparação da glória de Deus, que Ezequiel identifica com a revelação que teve no canal de Quebar (ver 1 e 8-11). A Ezequiel é-lhe assegurado então que aquele é o novo templo que Deus estabelecerá para sua eterna morada com seu povo. nunca mais se desprezará o nome de Deus com a idolatria. Aos penitentes e contritos, que estão entre o auditório de Ezequiel, esta mensagem do templo restaurado oferece-lhes a esperança. E são alentados a conformarem suas vidas em obediência aos requerimentos de Deus (43.10-13).
As novas normativas para um culto aceitável estão cuidadosamente prescritas (43.13- 46.24). Ezequiel vê o altar e toma nota das ofertas e sacrifícios que proporcionam ao povo uma base aceitável para sua aproximação a Deus. ao entrar no templo, se prostra em reconhecimento da glória de Deus que enche todo o santuário. Uma vez mais, recebe instruções para marcar bem as ordenanças e detalhes para aqueles aos que se permitirá oficiar no novo templo. Por romper a aliança e profanar o templo com a idolatria, o sacerdote está sujeito a grave castigo. Deus abençoará Israel com uma classe sacerdotal restaurada e um príncipe que ensinará ao povo, estabelecerá a justiça e observará as festas e as estações.
A visão culmina nas viagens de Ezequiel pela terra de Israel (47.1-48.35).
Começando nas portas do templo, o profeta vê um rio que sai para o sul de embaixo do umbral até a Arábia, fornecendo água fresca para a abundante vida do mar e para a irrigação da terra, na produção de frutos. A totalidade da zona ressurge com uma nova vida e a indústria da pesca floresce, abundando a vida nas aldeias em toda a terra. A terra de Canaã está cuidadosamente dividida em parcelas para cada tribo, desde a entrada de Hamate no norte até o rio do Egito no sul. O príncipe e os levitas receberão uma parcela próxima à cidade onde o templo está situado [11]. Esta cidade, na qual se manifesta a divina presença de Deus, é identificada como "O SENHOR ESTÁ ALI".
Israel restaurado à terra prometida —esta é a esperança que Ezequiel tem para sua geração na terra do exílio. Deus reagrupará seu povo em triunfo e o abençoará mais uma vez.


[1] O cerco de Tiro, 586-573 a. C., finalizou quando Etbaal, rei de Tiro, reconheceu a supremacia de Babilônia. a cidade-ilha não foi conquistada até que Alexandre Magno, construindo uma plataforma ou cais no 322 a.C., para forçar sua completa submissão.
[2] Para um breve tratamento desta profecia, ver Ellison, op. cit., pp. 99-116.
[3] Esta mensagem está datada em maio-junho do 587 a.C. Os exilados estavam esperando que Egito tivesse salvado Jerusalém da destruição dos babilônicos, os que tinham começado o assédio em janeiro do 588. Sobre o uso do termo "Assíria", como acontece no texto hebraico em Ezequiel 31.3, comparar as versões King James, American Standard e a Revised Standard. (N. da T.: nas versões portuguesas a minha disposição, na NVI e na ACF figura o termo "Assíria", enquanto na PJFA se utiliza o termo "o assírio").
[4] Keil, op. cít., como referência, sugere que isto foi composto 14 dias depois,. No mês décimo segundo (32.1). devido a um erro do copista, o mês foi aqui omitido. A Bíblia de Jerusalém segue à grega e inserta "o primeiro mês". Já que 32.1 está datado no décimo segundo mês, parece razoável datar isto no mesmo mês, permitindo a seqüência cronológica.
[5] Ellison, op. cít., p. 118, escreve "décimo primeiro" em 33.21, sobre a base de Hebreus 8ss., alguns manuscritos da LXX e a siríaca, identificando esta data com agosto do 586 a.C. Ver também Doederlein e Hitzig em seus comentários à referência. G. A. Cuuke en ICC op. cit. assume um duplo sistema de datas. De acordo com Thiele em seu completo estudo da cronologia, The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings, p. 161-166, e a carta da página 74-75, Zedequias fugiu de Jerusalém no 19 de julho do 586, e a destruição final de Jerusalém começou o 15 de agosto do 586. embora normalmente era uma jornada de três meses de duração, este fugitivo particular chegou ao exílio em janeiro do 585 a.C.
[6] Ver Jr 40-43 sobre a atitude do resto em não querer seguir a advertência de Jeremias.
[7] "Pastor", aqui é utilizado metaforicamente com o significado de "rei", de acordo com Ellison op. cit., p. 121. Ver Salmo 23, para o perfeito pastor. Também João 10.
[8] Ver Ellison op. cit., pp. 119-122, para um sumário dos governantes de Israel pertencentes à linhagem de Davi que jamais foram reconhecidos como reis.
[9] Esaú e seus descendentes, conhecidos como edomitas, se estabeleceram no Monte Seir, ao sul do Mar Morto (Gn 36). Note-se a contínua animosidade no Antigo Testamento entre Israel e Edom (ver Nm 21, etc.).
[10] Para um diagrama do templo e seus edifícios como estão descritos aqui, ver F. Davidson, The New Bible Commentaty, sob o artigo intitulado "Ezequiel", pp. 664-665.
[11] O tema básico de Ezequiel 33-48, que Israel será restaurado a sua própria terra como fato supremo, sob o mandado de um príncipe, concorda com o tema de Isaias, que assegura que Israel gozará de um período absoluto de paz universal, quando Sião seja o ponto focal de todas as nações sob o controle de seu governante ideal, que deverá executar a perfeita justiça. Ver Is 2, 4, 11, 35 e 65-66.

Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT


Pesquisa: Pr. Charlesa Maciel Vieira

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