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quinta-feira, 2 de junho de 2011

BATALHA ESPIRITUAL - Pr.Caio Fabio - 2ª Parte

 

ASPECTOS NEGATIVOS

  O primeiro aspecto negativo é a ênfase no macro, no grande, que tem roubado a percepção do micro, instância na qual as pessoas reais existem na espiritualidade. Ou seja, hoje em dia, vêem-se freqüentemente as pessoas "amarrando" demônios nos ares. Pessoas vão às praças públicas, fazendo o exercício de "amarrar" os principados e as potestades, dizendo:
"- Tá amarrado!"
  No entanto, os possessos continuam nas esquinas. O que é interessante no movimento de batalha espiritual é que cada vez mais ele está mais macro, porém cada vez mais menos encarnado; cada vez mais gigante, intentando "amarrar" os demônios que atuam na cidade, entretanto pessoas possessas continuam transitando pelas ruas.
  Outra nuance do macro, que vai vencendo o micro, é que se ora cada vez mais em grupo, todavia menos individualmente. Vê-se uma ênfase enorme nas atitudes públicas e coletivas como ir à praça "amarrar" demônio, orar em público, cantar em público... Mas, a pergunta que faço é a seguinte: como são tais pessoas em casa, sozinhas? Será que toda a exaltação e fervor demonstrados em público continuam? Parece que não.
  O segundo aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é que a ênfase no invisível tem roubado em muito a visão do visível. Todos estão "especialistas" em ver o invisível; porém, estão cegos para ver o visível. Por exemplo: batalhamos contra os exércitos nas regiões invisíveis, entretanto esquecemo-nos da prostituta, que é um ser visível e que carece da nossa ajuda. Mas, "amarram-se" principados e potestades nas regiões celestiais (eu não tenho nada contra isso! Acredito que se deve enfrentá-los com oração, em nome de Jesus), em detrimento da prostituta, do drogado, do menor de rua, dos seres visíveis e cotidianos - os quais não devem ser jamais esquecidos - com os quais nos deparamos na nossa cidade e no nosso país.
  Outro exemplo é que se enfrenta o espírito de corrupção do país, mas se vota num candidato evangélico corrupto. É um paradoxo: "amarram-se" principados e potestades nas regiões celestiais, mas se vota num candidato evangélico visivelmente corrupto. Se se quer "amarrar" o demônio da corrupção, deve-se começar por não votar em candidato evangélico corrupto, começando, com isso, a fazer um "exorcismo" no Congresso.
  Um outro exemplo ainda pode ser dado. "Amarra-se" o espírito de violência sobre o Rio de Janeiro, mas não se faz nada contra os agentes visíveis da violência que atuam entre nós, destruindo e deturpando a vida de crianças nas ruas, e corrompendo a vida de homens e de mulheres. Faz-se nada, ou quase nada contra isso.
  O terceiro aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é que a ênfase no discernimento dos espíritos tem causado muita neurose. Há tanta gente discernindo espíritos a toda hora e em todo lugar, que até mesmo já discerniu o seu próprio espírito como maligno. Pessoas têm adoecido em razão disso. De vez em quando, encontro com uma dessas irmãzinhas fervorosas, que fazem diariamente orações de batalha espiritual, que me dizem - recorrendo ao dito popular - o seguinte:
"- Pastor, por que quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece?"
  Eu lhe respondo:
"- Deixa o diabo em paz! A senhora não dá sossego a ele o dia inteiro!..."
  Certa vez me encontrei com uma irmã, num outro país, a qual me falou o seguinte:
"- Eu vim para Europa, mas estou aqui com uma lista de pedidos pelos quais devo orar. Eu entro no banheiro, oro. Ando na rua orando. Mas, conquanto ore, minha cabeça está um inferno!"
  Eu lhe respondi:
"- Sabe por quê? Mesmo que o diabo não existisse, alguém que pensa na vida apenas considerando as lutas, as opressões e as dificuldades, como a senhora pensa, está vivendo num inferno. Não precisa de diabo nem de demônio. A senhora já se basta, vivendo desse modo."
  Cuidado com esse tipo de gente que vê diabo em todas as coisas! Tenho, particularmente, muito medo de qualquer espiritualidade que vê o diabo mais ativo no mundo do que o Espírito de Deus. Qualquer espiritualidade que vê o diabo agindo mais intensamente no mundo do que o Espírito Santo de Deus está doente. Não se pode viver uma espiritualidade que faça do diabo o ser mais poderoso do mundo do que Deus; não se pode viver uma espiritualidade que faça de espíritos malignos os agentes mais atuantes do mundo do que o Espírito Santo de Deus. Afinal de contas, devemos acreditar no que nos diz o apóstolo João:
"(...) porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo." (I João 4:4b).
  O quarto aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é a ênfase maniqueísta da luta do bem contra o mal. Ou seja: parte do movimento de batalha espiritual vê o mundo assim: as forças da luz de um lado contra as forças das trevas de outro.
  É o bem contra o mal. Essa visão maniqueísta da luta do bem contra o mal cega a visão de que bem e mal se interpenetram na história humana desde a queda, no Éden. A primeira ocorrência de maniqueísmo se deu antes da queda do homem. Em Gênesis 1:4b isto pode ser verificado:
"(...) e fez separação entre a luz e as trevas."
  Hoje em dia, bem e mal se interpenetram. Basta ler o que Paulo escreveu aos romanos sobre o conflito que se operava em sua alma:
"Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum: pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e, sim, o peca- do que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. (...) Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7: 15-21,24).
  Jesus também Se posicionou contra o maniqueísmo na parábola do joio e do trigo (Mateus 13:24-30), que diz:
"Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, vem o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da cosa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado: mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro."
  O que Jesus estava querendo dizer com tal parábola? Possivelmente isso:
 "- É tarefa muito difícil separar a luz das trevas. Cuidado! Só Deus, no fim de tudo, discerne o que é o quê, e quem é quem."
  Cuidado, portanto! Porque o maniqueísmo pode cegar-nos a percepção de que em todo o bem há mal e de que em todo o mal há bem, desde a queda do homem. No homem mais malévolo encontra-se humanidade; no homem mais santo encontra-se perversão.
  O quinto aspecto negativo no movimento de batalha espiritual é a ênfase nos inimigos explícitos de Deus, que muitas vezes encobre a percepção e o discernimento espiritual daquelas que são as forças que agem contra Deus, ainda que usando o Seu nome. As pessoas estão tão preocupadas com os inimigos explícitos, que deixam de praticar discernimento com relação às forças (estas sim) antagônicas a Deus, mesmo se manifestando em nome dEle. O que há de gente, tanto em nome de Deus quanto no nome de Jesus, fazendo coisas que deixam Deus escandalizado é algo espantoso. Devemos ter cuidado, para que na luta contra potestades malignas que atuam na cidade em que moramos, não percamos o discernimento das potestades malignas que atuam na nossa denominação, na nossa igreja, que falam nos púlpitos das nossas conferências evangelísticas. Tal como Jesus diz em Mateus 7:21-24:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me.- Senhor, Senhor! porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: - Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha".
  Com isto, a Palavra de Deus nos está dizendo que há muita gente expulsando demônios, profetizando e realizando milagres, em nome de Jesus, porém vivendo, na prática, contra Ele.
  O sexto aspecto negativo no movimento de batalha espiritual é a ênfase no papel poderosamente malévolo do        diabo, que subtrai dos agentes humanos sua responsabilidade pelo mal moral e social que praticam. Há pessoas que fizeram do diabo um ser poderosamente malévolo, responsabilizando-o por todo mal que há no mundo, numa tentativa de isentarem-se da sua própria responsabilidade de evitarem o mal, praticando o bem. Tais pessoas, com essa postura, negam o que Tiago diz em sua carta:
"(...) mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tiago 4:7b)
  Em alguns lugares, vejo pessoas quase que pregando que o diabo é irresistível; quando ele faz o "strip-tease" da maldade, ninguém resiste. É o que andam pregando por aí. Cuidado! Tal maneira de pensar tira a capacidade de se viver com responsabilidade.
  O diabo, de repente, tornou-se um ser vicário no seio da igreja evangélica, levando todas as nossas culpas, apenas não nos perdoando, não nos redimindo e não nos salvando delas, mas explicando todas elas. O diabo transformou-se num "pobre diabo". Hoje em dia, o indivíduo adultera, e alega, pondo a culpa no diabo:
"- Foi o diabo que me induziu a isso."
  Tirou-se do homem a responsabilidade moral e individual do pecado, colocando-a toda sobre o diabo, atribuindo-lhe toda culpa pelos deslizes humanos.
  O sétimo aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é a ênfase no choque de poderes nas regiões celestiais, que muitas vezes tira a racionalidade na percepção dos fenômenos históricos. Ou seja: às vezes estamos com a mente tão concentrada no mundo abstrato, que nós nos esquecemos do que diz Apocalipse 12:10, que afirma que a grande luta espiritual não é no céu, mas na terra:
"(...) Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta."
  Portanto, o grande discernimento não é o baseado na busca da compreensão do que acontece nas regiões abstratas; mas, o grande discernimento é aquele que procura compreender o que acontece aqui, no mundo concreto, onde o diabo se manifesta diariamente, nas situações as mais variadas.
  O oitavo aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é a ênfase na luta espiritual de olhos fechados e dentro dos lugares de oração, que faz de muitas reuniões de batalha espiritual verdadeiras sessões de "videogames" para crentes.
Um pastor, certa vez, contou-me:
  "- Eu às vezes chego a algumas igrejas, e vejo alguns fliperamas, alguns jogos de salão acontecerem."
  E, pensando no que ele me disse, certa vez chegando em casa, vindo de uma viagem, encontrei meu filho Lukas, que é "viciado" em Nintendo, entretido num desses jogos, numa "luta" do bem contra o mal. Há uma guerreira que dá umas espadadas no rosto de um gigante monstruoso e demoniacamente feio. Eu me aproximo do meu filho e lhe digo:
"- Oi, Lukas!"
  E ele não dá a mínima:
"- Ih!... Vai!... Aí"... Caraaaaamba!..."– continua ele envolvido no jogo.
  Ele está "salvando" o mundo! Eu fico imaginando que a situação do Presidente dos Estados Unidos é mais confortável do que a desse meu filho, em relação à "salvação" do planeta.
  Tento outra vez:
"- Lukas, sou eu ... papai! Cheguei de viagem!...".
  E continua ele lá:
"- Vai, vai, vai!... Ih!...Eh!... Eeeeeehhhhh! Uaaaaaaaaaaau! É demaaaaaaaais!"
  Às vezes, encontro-me em certos lugares nos quais a atitude de batalha espiritual está presente com todos os seus elementos bonitos, valorosos e válidos, entretanto fico com a mesma sensação de que as pessoas envolvidas estão fazendo apenas uma "performance": "amarram" demônio aqui, "amarram" demônio ali; outros, mais ousados, jogam-no no abismo. Aí se ouvem expressões como:
 "- Temos que salvar a cidade! 'Amarramos' o país!... Tá 'amarrado' o demônio da corrupção do Brasil!"
  Ainda que tudo isso seja falado, embora se diga que o demônio da corrupção está "amarrado" os corruptos continuam soltos. A sensação que se tem, quando se sai de uma dessas reuniões de batalha espiritual, é que do lado de fora não há mais nenhuma criança abandonada na rua, que não há mais mendigo algum debaixo das marquises; que não há mais prostitutas nas esquinas, que os corruptos estão presos; que o Congresso Nacional é composto apenas de homens honestos e comprometidos com a causa pública; enfim, que não há mais problemas em nosso país.
  Entretanto, na vida real, do lado de fora, nada mudou.
  A pergunta que se faz é a seguinte: há valor no movimento de batalha espiritual? Há. No entanto, não há valor na atitude triunfalista e simplista que imagina que numa espécie de "jogo de salão espiritual" se resolvem os problemas do país.
  Só há valor na atitude de oração, de intercessão e de enfrentamento, quando ela é adulta e amadurecida, e que sabe que em si mesma não resolve todas as coisas, mas que tem consciência que é parte de um processo muito maior, o qual nos transporta da oração e da intercessão para o mundo real, em nome de Jesus, para enfrentarmos as potestades visíveis (corrupção, prostituição, imoralidade, crises, guerras, fome, desamor, etc.)            cujas correspondências invisíveis enfrentamos com nossa declaração de fé acerca do triunfo de Jesus na cruz.
  O nono aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é a ênfase exagerada na quebra de maldições, que reduz demais o discernimento dos males da alma, da mente, da família e da cultura, os quais geram hábitos adoecedores.
  Quando tudo é quebra de maldições, corre-se o risco de se cair num terreno perigosíssimo. Isto porque não se pode acreditar que maldições são quebradas apenas com oração e jejum. Como já se disse, elas fazem parte de um processo maior, o qual nos transporta de uma atitude intimista para uma atitude prática e real, a qual tem sua visibilidade concreta em ações para com o próximo, baseadas no caráter e na conduta de Jesus. Não adianta dizer-se cristão. É necessário, porém, viver a vida que Cristo viveu.
  A Bíblia não nos diz que Abraão fez um pacto com um espírito de mentira. Mas, a Palavra de Deus nos dá conta de que, toda vez em que se encontrava em apuros, ele mentia:
"Quando se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse a Sarai, sua mulher: - Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência; os egípcios, quando te virem, vão dizer: - É a mulher dele, e me matarão, deixando-te com vida. Dize, pois, que és minha irmã, para que me considerem por amor de ti e, por tua causa, me conservem a vida". (Gênesis 12:11-13).
"Partindo Abraão dali para a terra do Neguebe, habitou entre Gades e Sur, e morou em Gerar. Disse Abraão de Sara, sua mulher: Ela é minha irmã; assim, pois, Abimeleque, rei de Gerar, mandou buscá-la." (Gênesis 20:1-2).
  A Bíblia nos diz que Isaque - filho de Abraão - assistiu a isso tudo. Deste modo, quando também se encontrava em apuros, Isaque também mentia, tal como o pai:
"Isaque, pois, ficou em Gerar. Perguntando-lhe os homens daquele lugar a respeito de sua mulher, disse: É minha irmã; pois temia dizer: É minha mulher; para que, dizia ele consigo, os homens do lugar não me matem por amor de Rebeca, porque era formosa de aparência." (Gênesis 26:6-7).
  Jacó - filho de Isaque e, portanto, neto de Abraão - seguiu a mesma cultura de mentira, fazendo pior que seu pai e avô, mentindo e enganando:
"Jacó foi a seu pai, e disse: Meu pai! Ele respondeu: Fala. Quem és tu, meu filho? Respondeu Jacó a seu pai: Sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me ordenaste. Levante-te, pois, assenta-te, e come da minha caça, para que me abençoes." (Gênesis 27:18-19).
  Em razão dessa mentira, Jacó fez nascer ira no coração do irmão:
"Passou Esaú a odiar a Jacó por causa da bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e disse consigo: Vêm próximos os dias de luto por meu pai; então matarei a Jacó, meu irmão." (Gênesis 27:41).
  Jacó, também, preferiu um filho dentre os outros que teve, gerando inveja no coração destes:
"Ora Israel [Jacó] amava mais a José que a todos seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica talar de mangas compridas. Vendo, pois, seus irmãos, que o pai o amava mais que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente." (Gênesis 3:3-4).
  Quem quebrou toda essa cultura de mentira, de engano, de ódios e de inveja foi alguém que não quebrou tudo isso com uma oração de renúncia, mas com uma formação sólida de caráter, independentemente das circunstâncias externas. Seu nome: José.
"E disse José a seus irmãos: Eu sou José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam responder, porque ficaram atemorizados perante ele. Disse José a seus irmãos: Agora, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então disse: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. (...) Assim não fostes vós que me enviastes para cá e, sim, Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de todo a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito." (Gênesis 45:3-5, 8).
  O que se está querendo dizer com isso? Está-se querendo dizer que há forças malignas que passam de pai para filho, de geração a outra geração, destruindo vidas e relacionamentos. Mas isso está longe, muito longe de abranger e explicar todo o problema. Há problemas que têm a ver conosco mesmos, não com o diabo. O diabo é a cultura da nossa casa; o diabo é ter paparicado um filho, esquecendo-se dos outros; o diabo é ter sido filho de um pai tirano; o diabo é ter assistido às crises de família que muitas vezes redundaram em desavenças; o diabo é ter sido estigmatizado psicologicamente durante toda a infância.
  O que se está querendo dizer com isso? Está-se querendo dizer que o movimento de quebra de maldições, conquanto tenha a sua validade em áreas e em aspectos legítimos, defensáveis e bíblicos, está longe de explicar as ambigüidades da alma humana, da família, do casamento e do ser como um todo.
  De vez em quando encontro alguma senhora que me diz:
"- Pastor!... Eu não sei o que está havendo! Eu já 'quebrei' já renunciei, já 'amarrei' mas, mesmo assim, continua tudo igual como era antes."
"- Minha irmã - eu digo - a senhora só precisa rejeitar a única coisa que precisa ser rejeitada. O diabo não é o causador de todos os seus problemas. Seus problemas têm a ver com a senhora também."
  Interessante que um dos textos mais fortes de maldição na Bíblia é Malaquias 4:6:
"Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição."
  Esse texto diz, primeiramente, que quem fere a terra com maldição não é o diabo, porém o Senhor:
"... para que eu não venha e fira a terra com maldição."
  Esse "eu" que está falando neste texto não é o diabo, mas é o Senhor.
  A segunda coisa que esse texto diz é que essa maldição que desgraça a terra é quebrada com conversão, com perdão, com misericórdia, com quebra de padrões familiares, com mudança de mente, de comportamentos, de relações e de vínculos:
"Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais..."
  O décimo aspecto negativo do movimento de batalha espiritual é que a ênfase na vitória espiritual ignora o fato de que Jesus disse que as pessoas e as sociedades são livres para não encherem a casa, e, assim, serem tomadas pelas forças da maldade.
  Às vezes, ouvindo determinadas pessoas, tem-se a impressão de que basta falar, declarar, crer e dizer, para que as coisas sejam aquilo que se afirma que serão. Jesus não entendia assim. Ele diz em Lucas 11:21-26 que quando o mais valente chega em casa, amarra o valente bem armado, tirando-o dali. A casa, que era ocupada por este, tem que ser cheia, caso contrário, ficando fazia e arrumada, forças piores podem vir sobre ela, destruindo tudo de novo:
"Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens. Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele, vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos. Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha. Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentado. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro." (Lucas 11:21-26).
  Os indivíduos e as sociedades continuam livres para querer ou não querer. Essa é a história da cidade de Gadara.
"Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo? Ora, andava pastando, não longe deles, uma grande manada de porcos. Então os demônios lhe rogavam: Se nos expeles, manda-nos para a manada dos porcos. Pois ide, ordenou-lhes Jesus. E eles, saindo, passaram para os porcos; e eis que toda a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e nas águas pereceram. Fugiram os porqueiros, e, chegando à cidade, contaram todas estas coisas, e o que acontecera aos endemoninhados. Então a cidade todo saiu para encontrar-se com Jesus: e, vendo-o, lhe rogaram que se retirasse do terra deles." (Mateus 8:28-34).
  Jesus passa por tal cidade ("Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos"), expulsa demônios que atormentavam dois homens ("vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados (...) Então os demônios lhe rogavam: Se nos expeles, mando-nos para a manada dos porcos. Pois ido, ordenou-lhes Jesus"), e depois vai embora. Aqueles homens ficam livres, mas a cidade e os seus moradores continuam possessos ("Então a cidade toda saiu para encontrar-se com Jesus: e, vendo-o, lhe rogaram que se retirasse da terra deles").
  Deste modo, os indivíduos e as sociedades continuam livres para querer ou não querer.

  Continua....


  Fonte: Batalha Espiritual - Caio Fabio


  Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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