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sexta-feira, 20 de maio de 2011

TORTURADO POR AMOR A CRISTO - 3ªParte-RICHARD WURMBRAND


Pregando em Acampamento Russo

Trabalhamos com os russos não somente através do testemunho pessoal. Foi-nos possível, também, tra­balhar em pequenas reuniões.
Os russos eram maníacos por relógios. Roubavam-nos, de todo o mundo. Paravam os homens nas ruas, os quais tinham de lhes entregar seus relógios. Podiam se ver russos com vários relógios em cada braço.    Era possível ver uma oficial russa com um despertador pen­durado ao pescoço. Nunca tinham tido relógios ante­riormente e não podiam contentar-se com poucos. Os romenos que desejassem um relógio tinham que ir ao acampamento soviético para comprar um roubado, al­gumas vezes comprando o seu próprio relógio. Desta maneira era comum romenos entrarem no acampa­mento russo. Nós da Igreja Subterrânea tínhamos um bom pretexto — o de comprar relógios — para também podermos entrar.
Escolhi como minha primeira tentativa para entrar e pregar no acampamento russo um dia festivo para a Igreja Ortodoxa: o dia de São Pedro e São Paulo. Entrei na base militar como que pretendendo comprar um relógio. Disse que um estava caro, outro muito pe­queno, outro grande demais. Muitos soldados me ro­dearam tentando vender-me algo; então, em tom de brincadeira, perguntei-lhes: "Alguém aqui se chama Pedro ou Paulo?" Alguns tinham estes nomes. Então lhes disse: "Vocês sabem que hoje é o dia em que a sua Igreja Ortodoxa homenageia São Paulo e São Pe­dro?" (Alguns dos mais idosos sabiam disto.) E conti­nuei: "Vocês sabem quem eram Pedro e Paulo?" Nin­guém sabia. Comecei a contar acerca desses apóstolos. Um dos soldados mais velhos me interrompeu e observou: "Você não veio comprar relógios. Você veio nos falar sobre a fé. Sente-se aqui conosco e nos fale! Mas seja muito cauteloso! Sabemos de quem nos precaver. Estes ao meu redor são todos de confiança. Quando eu colocar a mão no seu joelho, deve falar unicamente sobre re­lógios. Quando removê-la, pode recomeçar sua mensa­gem". Uma turma grande estava ao meu redor e lhes contei a respeito de Paulo e de Pedro, a respeito de Cristo, por quem esses apóstolos morreram. De vez em quando entrava uma pessoa em quem não tínhamos confiança. O soldado colocava a mão no meu joelho e imediatamente começávamos a falar sobre relógios. Quando aquela pessoa saía, continuava pregando a res­peito de Cristo. Esta visita foi repetida muitas e muitas vezes com o auxílio dos soldados russos crentes.   Muitos dos seus camaradas encontraram a Cristo como Sal­vador pessoal. Milhares de Evangelhos foram distribuí­dos secretamente.
Muitos de nossos irmãos e irmãs da Igreja Subter­rânea foram presos e açoitados rigorosamente por isto, mas apesar de tudo nunca traíram a nossa organização.
Durante este trabalho tivemos o prazer de nos en­contrar com irmãos da Igreja Subterrânea russa e ouvir suas experiências. Acima de tudo víamos nelas os fei­tos de grandes santos. Tinham eles passado através de tantos anos de doutrinação comunista! Alguns ha­viam passado pelas universidades comunistas, mas como o peixe vive em água salgada e apesar disso não se torna também salgado, assim eles passaram pelas es­colas comunistas, conservando suas almas limpas e pu­ras em Cristo.
Estes crentes russos tinham almas tão belas! Eles diziam: "Sabemos que a estrela com o martelo e a foice que usamos em nossos gorros é a estrela do anticristo". Diziam isto com grande tristeza. Muitos nos ajudaram a divulgar o Evangelho entre os outros sol­dados russos.
Podíamos dizer que eles tinham todas as virtudes cristãs, menos a da alegria. Esta eles tiveram apenas na conversão. Depois desapareceu. Preocupava-me muito a este respeito. Até que perguntei a um batista: "Como é que você não demonstra alegria?" Respon­deu: "Como posso ser alegre quando tenho de esconder do pastor da minha igreja que sou um verdadeiro crente, que vivo de oração e tento ganhar almas para Cristo? O pastor da Igreja é um informante da polícia secreta. Somos espionados uns pelos outros, e os pastores traem o rebanho. Existe bem profunda em nossos corações a alegria da salvação, mas esta alegria externa, que você tem, não mais podemos tê-la".
"O Cristianismo tornou-se dramático entre nós. Quando vocês do mundo livre conquistam uma alma para Cristo, ganham um membro para uma igreja que vive tranqüila. Nós, quando vemos um aceitar a Cristo, sabemos que ele pode muito bem ser preso e que seus filhos podem tornar-se órfãos". A alegria de trazer alguém a Cristo sempre se mescla com a preocupação de que um preço há de ser pago.
Encontramos nos crentes da Igreja Subterrânea um tipo de todo diferente.      
Aqui tivemos muita surpresa.
Como existem muitos que pensam ser crentes, quan­do na realidade,não o são, assim encontramos entre os russos muitos que pensam ser ateus, quando realmente não o são.
Encontrei-me com um casal de escultores russos e quando lhes falei a respeito de Cristo, responderam-me: “Não, Deus não existe”. Nós somos 'Bezboshniki' — ateus. Entretanto vamos contar-lhe uma coisa interessante que nos aconteceu.
Estávamos trabalhando em uma estátua de Stalin. Durante o trabalho minha esposa perguntou: "Marido e que dizer do polegar? Se não pudéssemos colocar o polegar de encontro aos outros dedos — se os dedos da mão fossem como os dos pés — não poderíamos segu­rar um martelo, um macête, ferramenta alguma, um livro ou um pedaço de pão. A vida humana seria im­possível sem este pequeno polegar. Agora, quem foi que fez este polegar? Ambos aprendemos Marxismo na es­cola e sabemos que o céu e a terra existem por si mes­mos. Não foram criados por Deus; desta forma aprendi e assim creio. Mas se Deus não criou o céu e a terra, bastaria que tivesse criado só o polegar, para ser digno de louvor por esta coisinha diminuta".
"Louvamos Edison, Bell e Stephenson, que inven­taram a lâmpada elétrica, o telefone, o trem e outras coisas, mas por que não devíamos louvar aquele que inventou o polegar? Se Edison não tivesse polegares, nunca teria inventado nada. Logo, só pode ser justo adorar a Deus que fez os polegares".
O marido zangou-se, como os outros muitas vezes ficam quando as esposas são mais espertas que eles. "Não diga asneira! Você aprendeu que não existe Deus. Você nunca poderá saber se nosso lar está sendo in­vadido e se cairemos ou não em dificuldades. Ponha em sua cabeça uma vez por todas que não existe Deus. No céu o que há é ninguém!"
Ela respondeu: "Isto é mais interessante ainda, Se no céu existisse o Deus onipotente no qual, pela sua estupidez, nossos antepassados creram, seria natural que tivéssemos polegares. Um Deus todo-poderoso pode fazer todas as coisas, logo Ele pode fazer polegares também. Mas se há ninguém no céu, de minha parte estou deci­dida a adorar de todo o meu coração esse "Ninguém" que fez os polegares".
Desta forma tornaram-se adoradores desse "Nin­guém". Sua fé nEle aumentou com o tempo, crendo que Ele era o criador não somente dos polegares, como tam­bém das estrelas, flores, crianças e tudo quanto é belo na vida.
Exatamente o que acontecia com atenienses do tempo de Paulo, que adoravam o "Deus desconhecido".
Esse casal ficou muito contente ao ouvir de mim que sua fé era correta, que no céu não existe mesmo uma pessoa, em carne, e sim Deus, que é Espírito: Espírito de Amor, Sabedoria, Verdade e Poder, que os amou de tal maneira que mandou Seu único Filho para Se sacrificar por eles na cruz do Calvário.
Eles sem o saber eram crentes em Deus. Apenas tive o grande privilégio de conduzi-los a um degrau mais elevado — a experiência da Salvação e Redenção.
Certa ocasião ao encontrar uma oficial russa na rua aproximei-me dela e pedi desculpa: "Eu sei que é falta de educação alguém aproximar-se de uma senhora desconhecida na rua e lhe falar, entretanto, sou um pastor e minhas intenções são sinceras. Desejo falar-lhe acerca de Cristo". Ela me perguntou: "Você ama a Cristo?" Eu disse: "Sim! De todo o coração!" Então ela me abraçou e me beijou muitas vezes. Como pastor foi para mim uma situação desagradável. Beijei-a tam­bém esperando que as pessoas que estavam vendo esta cena pensassem que éramos parentes. Ela exclamou: "Eu também amo a Cristo!" Levei-a para nossa casa. Lá descobri com surpresa que ela nada sabia acerca de Cristo. Absolutamente nada, com exceção do nome. As­sim mesmo ela O amava. Não sabia que Ele era o Sal­vador, nem o que significava a salvação. Não sabia onde e quando Ele viveu e morreu. Não conhecia Seus ensinamentos, Sua vida e Seu ministério. Ela era para mim uma curiosidade psicológica. Como se pode amar alguém quando apenas o nome é conhecido?
Quando lhe perguntei, ela respondeu-me: "Quando criança fui ensinada a ler por figuras. Para a letra "A" havia um abacate, para o "B", uma beterraba, para o "C", um cachorro, e assim por diante. Quando en­trei no Ginásio, foi-me ensinado o dever santo de de­fender minha pátria comunista. Ensinaram a respeito da moral comunista. Porém não sabia o que fosse um "santo dever", ou "moral". Necessitava de uma figura para expressá-los. Eu sabia que nossos antepassados tinham tido uma figura para cada coisa bela, adorável e verdadeira na vida. Minha avó sempre se prostrava diante de uma figura, dizendo que ela era a de alguém chamado "Cristo". Então aprendi a amar este nome só por si. Este nome tornou-se tão real para mim! Só pronunciá-lo dava-me muita alegria".
Ouvindo-a falar lembrei-me do que está escrito em Filipenses, que a "Seu nome todo joelho se dobrará". Talvez por algum tempo o anticristo possa tirar do mundo o conhecimento de Deus. Mas há poder no sim­ples nome de Cristo e Este levará homens à luz.
Ela alegremente encontrou a Cristo em minha casa, e agora aquele nome que amava, vive em seu coração.
Toda cena que vivi com os russos foi cheia de poesia e de profunda significação.
Uma irmã que divulgava o Evangelho em estações ferroviárias deu meu endereço a um oficial russo.
Certa noite ele entrou em minha casa. Era um te­nente, alto e simpático.
Perguntei-lhe: "Em que lhe posso ser útil?”.
Respondeu-me: "Vim à procura de luz!”.
Comecei a ler-lhe as partes mais essenciais das Escrituras. Ele, colocando a mão sobre a minha, disse: "Peço-lhe de todo o meu coração, não me leve pelo ca­minho errado. Pertenço a um povo que se tem conser­vado na escuridão. Diga-me, por favor, é esta a verda­deira palavra de Deus?" Assegurei-lhe que era. Ouviu com atenção durante horas...  e aceitou a Cristo.
Os russos não são superficiais em assuntos religiosos. Se combatem a religião, ou se são a favor e procuram Cristo, nisso colocam toda a alma.
Por conseguinte, todo crente na Rússia é um Mis­sionário conquistador de almas para Cristo. Desta ma­neira posso afirmar que nenhum outro país do mundo está mais preparado e mais promete para o trabalho evangélico. Os russos contam-se entre os povos da terra mais religiosos por natureza. O curso do mundo pode ser modificado se agressivamente lhes dermos o Evan­gelho.
É uma tragédia que a Rússia e os países satélites, tendo assim ardente sede da Palavra de Deus, pareçam ter sido esquecidos por quase todos os outros povos.
Um oficial russo sentou-se num trem defronte de mim e depois de lhe haver falado de Cristo por alguns minutos, veio-me com uma onda de argumentos ateísticos. Citações de Marx, Stalin, Voltaire, Darwin e ou­tros contra a Bíblia foram apresentadas. Não me dava oportunidade de contradizê-las. Falou por quase uma hora para convencer-me de que não existia Deus. Quan­do acabou, perguntei-lhe: "Se não há Deus, por que é que o senhor ora quando está em dificuldades?" Como um ladrão surpreendido a roubar, respondeu-me: "Como sabe que oro?" Não lhe permiti escapar. "Fiz minha pergunta primeiro. Perguntei por que o senhor ora. Por favor, responda-me". Baixou a cabeça e admitiu: 'Na linha de frente, quando estávamos cercados pelos ale­mães, todos orávamos!' Não sabíamos como fazê-lo. En­tão dizíamos: 'Deus é espírito de mãe'. Oração com certeza muito boa à vista dAquele que vê o coração!"
Nosso ministério entre os russos tem dado muitos frutos.
Lembro-me de Piotr (Pedro). Ninguém sabe em que prisão russa veio a falecer. Era tão jovem! Talvez com vinte anos. Tinha vindo à Romênia com o exército russo. Converteu-se em uma reunião subterrânea e me pediu que o batizasse.
Depois do batismo, perguntei-lhe qual havia sido o verso bíblico que o impressionara mais e o havia levado a aceitar a Cristo.
Disse-me que tinha ouvido muito atentamente, em uma das nossas reuniões secretas, quando li em Lucas 24 a história de Jesus encontrando os discípulos que iam para Emaús. Quando se aproximaram, Ele fez como se fosse mais adiante". Piotr afirmou: "Piquei a pensar por que Jesus fez isso. Certamente queria perma­necer com Seus discípulos. Por que então deu a enten­der que desejava ir adiante?
Minha explicação foi que Jesus é delicado. Queria saber com toda a certeza se era desejado. Quando viu que era bem-vindo, alegremente entrou na casa deles. Os comunistas são indelicados. Entram com violência em nossos corações e nossas mentes. Obrigam-nos a dar-lhes ouvido desde o amanhecer até tarde da noite. Fa­zem isto através de escolas, rádios, jornais, cartazes, cinema, reuniões ateísticas e por toda parte para onde o senhor se voltar. O senhor tem de ouvir continuada-mente a propaganda ateística quer queira, quer não. Jesus respeita nossa liberdade. Gentilmente bate à por­ta. Ele me conquistou por Sua delicadeza. Esta dife­rença brusca, entre o Comunismo e Cristo, convenceu-o.
Não foi esse o único russo que se impressionou com esse aspecto do caráter de Jesus. (Como pastor eu nunca havia pensado dessa maneira).
Depois de sua conversão, Piotr arriscou sua liberdade e sua vida muitas vezes contrabandeando literatura cristã e auxílio que a Igreja Subterrânea da Romênia mandava para a da Rússia. Finalmente foi apanhado. Sei que em 1959 ainda estava preso. Terá morrido? Será que já se encontra no céu, ou está continuando o bom combate na terra? Não sei. Somente Deus sabe onde ele hoje está.
Como ele, muitos outros não acenas se converteram. Nunca devemos parar ao conquistarmos uma alma para Cristo. Por esse meio a gente fez apenas metade do trabalho. Cada alma conquistada para Cristo deve ser transformada em uma conquistadora de outras. Os russos não apenas se convertiam como se tornavam "missionários" da Igreja Subterrânea. Eram arrojados e afoitos por Cristo. Sempre diziam que era muito pouco o que podiam fazer por Cristo, que por eles morrera.
Nosso Ministério Subterrâneo em uma Nação Escravizada
O segundo aspecto do nosso ministério era o tra­balho missionário subterrâneo entre os próprios romenos.
Cedo os comunistas desafivelaram a máscara. A princípio utilizavam-se da sedução para conquistar os líderes religiosos para o seu lado, mas logo começou o terror. Milhares foram presos. Levar uma alma ao co­nhecimento de Cristo tornou-se para nós também uma coisa dramática, como de há muito fora para os russos.
Mais tarde eu próprio estive na prisão com pessoas que Deus me havia ajudado a conquistar para Cristo. Estive na mesma cela com um que havia deixado seis crianças em casa e estava preso por causa de sua fé em Cristo. Sua esposa e filhos estavam passando fome. Podia ser que nunca mais os visse. Perguntei-lhe: "Você tem qualquer ressentimento contra mim por havê-lo trazido a Cristo e por esta razão sua família estar em tal apertura?" Respondeu: "Não tenho palavras com que possa expressar minha gratidão pelo fato de você ter-me trazido ao Maravilhoso Salvador. Nunca Isso aconteceria de outro modo".
A pregação de Cristo sob essas novas condições não era fácil. Conseguimos imprimir vários panfletos evan­gélicos, passando-os através da severa censura dos co­munistas.
Apresentamos ao censor comunista um livreto que na primeira página trazia um retrato de Karl Marx, o fundador do Comunismo. Os livros tinham por título "Religião, ópio do povo", ou outros semelhantes. O censor pensou tratar-se de livros comunistas e neles colocou o selo de sua aprovação. Nesses livros, depois de umas poucas páginas cheias de citações de Marx, Lenine e Stalin, as quais agradavam ao censor, dáva­mos nossa mensagem a respeito de Cristo.
A Igreja Subterrânea é apenas parcialmente oculta. Como um "iceberg", pequena parte de seu trabalho se faz publicamente. Fomos às passeatas comunistas e dis­tribuímos esses livretos "comunistas". Vendo o retrato de Marx, disputavam entre si a compra deles. Quando chegavam à página 10 e descobriam que era tudo a respeito de Deus e Jesus, nós já estávamos bem longe.
Pregar sob essas novas condições não era fácil. Nos­so povo estava muito oprimido. Os comunistas apreen­diam tudo de todos. Ao fazendeiro tomavam seus cam­pos e ovelhas. Ao barbeiro e alfaiate tiravam suas pe­quenas lojas. Não apenas os capitalistas foram desapropriados. Os pobres também sofreram muito. Quase toda família tinha alguém na prisão e a pobreza era extrema. Os homens perguntavam: "Como é que um Deus de amor permite o triunfo do mal?”.
Os primeiros apóstolos também não encontraram facilidade para pregar a Cristo na sexta-feira da Pai­xão, quando Ele havia morrido na cruz proferindo as palavras: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Mas o fato de o trabalho ter sido feito prova que isso veio de Deus e não de nós. A fé cristã tem uma resposta a tal pergunta. Jesus conta-nos a respeito do pobre Lázaro, oprimido naquela hora — como éramos oprimidos — moribundo, faminto, suas feridas sendo lambidas pelos cães — mas no final os anjos o levaram para o seio de Abraão.

Como o trabalho da Igreja Subterrânea era parcialmente feito às claras

A Igreja Subterrânea reunia-se em casas particu­lares, nas matas, em porões, em qualquer lugar onde se pudesse reunir. Aí, secretamente, muitas vezes plane­java o trabalho a ser feito à vista de todos. Sob os comunistas descobrimos um plano de fazer Cultos ao ar livre, o que com o decorrer do tempo tornou-se muito arriscado. Mas por este meio conseguimos conquistar muitas almas que, de outro modo, jamais poderíamos alcançar. Minha esposa era muito ativa neste trabalho. Alguns crentes se reuniam em uma esquina sem serem percebidos e começavam a entoar hinos. O povo os rodeava para ouvir os belos hinos e minha esposa fa­lava.    Saíamos do local antes que o polícia chegasse.
Certa tarde, enquanto eu trabalhava em outro local, minha esposa falou, ante milhares de trabalhadores na entrada da grande fábrica MALAXA, na cidade de Bucareste, acerca de Deus e da Salvação. No dia seguinte muitos daqueles operários foram executados por se re­belarem contra as injustiças do Comunismo. A mensa­gem do Evangelho eles a ouviram no tempo exato!
Na realidade éramos uma Igreja Subterrânea, mas, como João Batista, falávamos abertamente ao povo e às autoridades acerca de Cristo.
Certa vez nas escadarias de um edifício do Governo, dois irmãos conseguiram chegar ao nosso primeiro mi­nistro Gheorghiu Dej. Nos poucos momentos de que dispuseram, deram-lhe o testemunho de Cristo, admoestando-o a deixar seus pecados e perseguições. Ele os mandou prender por aquele ousado testemunho.   Anos depois, quando o mesmo primeiro ministro estava mui­to doente, a semente do Evangelho que eles haviam plantado e pela qual sofreram bastante, frutificou. Na hora propícia lembrou-se das palavras que lhe haviam sido ministradas, as quais, como a Bíblia afirma, foram "vivas e eficazes, mais penetrantes do que espada de dois gumes". Entraram naquele coração endurecido, que entregou sua vida a Cristo. Confessou seus peca­dos, aceitou o Salvador e começou a servi-lo em sua doença. Pouco depois veio a falecer, mas foi para o seu Salvador recém-encontrado; tudo por causa daque­les dois crentes que se dispuseram a pagar o preço. Esses dois crentes são exemplos dos crentes corajosos das terras comunistas de hoje.
Como foi dito; a Igreja Subterrânea não trabalha apenas em reuniões secretas e atividades clandestinas, mas corajosa e livremente proclamando o Evangelho nas ruas e a líderes comunistas. Houve um preço a ser pago. Estávamos preparados para pagá-lo. E a Igreja Subter­rânea ainda hoje está preparada para tal.
A polícia Secreta perseguia muito a Igreja Subter­rânea, porque reconhecia nela a única resistência efe­tiva ainda existente, de fato, a resistência espiritual, a qual se fosse deixada livre, sem impedimento, mi­naria suas idéias ateísticas. Reconhecia nela, como uni­camente o diabo faz, um perigo imediato para si própria. Sabia que um homem, por crer em Cristo, jamais abdica de sua inteligência, nem se submete prazerosamente. Sa­bia que poderia prender homens, porém não prender a Fé em Deus. Por essa razão a Polícia Secreta perseguia a Igreja Subterrânea com todo o rigor.
A Igreja Subterrânea, porém, tem seus admiradores ou membros até no Governo Comunista e na Polícia Se­creta.
Aconselhávamos aos crentes a entrar nela vestindo o mais odiado dos uniformes em nosso País, para que pudessem relatar as atividades da mesma para a Igreja. Vários irmãos da Igreja Subterrânea o fizeram, con­servando sua fé escondida. Não é fácil alguém ser des­prezado por sua própria família e amigos, pelo motivo de estar usando o uniforme comunista e não lhes de­clarar sua verdadeira missão. Apesar disso eles assim fizeram.   Tão grande era seu amor por Cristo.
Quando fui raptado na rua e conservado durante anos o mais escondido possível, para me encontrarem, um médico crente tornou-se membro da Polícia Secreta! Como médico, tinha acesso a todas as celas e esperava descobrir-me. Todos os seus amigos afastaram-se dele pensando ter-se tornado comunista. Para sair em uni­forme de torturador é um sacrifício que se faz pelo amor de Cristo, maior do que vestir um uniforme de prisioneiro.
O médico encontrou-me em uma cela funda e es­cura, e avisou aos amigos que eu ainda estava vivo. Foi o primeiro amigo que me descobriu durante esses oito e meio anos de prisão! Por sua causa a notícia espalhou-se que eu ainda vivia, e quando prisioneiros foram soltos em 1956, durante as conversações Eisenho-wer-Kruschev, os crentes clamaram por minha soltura, pelo que fiquei em liberdade por pouco tempo.
Se não fora o médico crente, que entrou na Polícia Secreta especialmente para me encontrar, nunca teria sido solto. Ainda hoje estaria recluso, ou mesmo en­terrado.
Utilizando-se de sua posição na Polícia Secreta, esses membros da Igreja Subterrânea muitas vezes nos fi­zeram advertências que foram de grande proveito. Essa Igreja ainda tem gente na dita Polícia, que protege e avisa os crentes de perigos iminentes. Alguns estão nos altos círculos comunistas, mantendo sua fé em Cristo secretamente e nos ajudando muito. Algum dia nos céus eles poderão proclamar a Cristo abertamente, a Quem presentemente servem em segredo.
Apesar dessa ajuda, muitos membros da Igreja Sub­terrânea eram descobertos e encarcerados. Tínhamos nossos "Judas" também, que nos delatavam à Polícia. Por meio de surras, entorpecentes, ameaças e chanta­gens, os comunistas buscavam encontrar pastores e lei­gos que delatassem as atividades de suas ovelhas.

CAPÍTULO II

Na época em que fui raptado, dia 29 de fevereiro de 1948, trabalhava de duas maneiras, oficialmente e se­cretamente. Era domingo — um belo domingo. Nesse dia, a caminho da Igreja, fui seqüestrado pela Polícia Secreta.
Muitas vezes havia excogitado o que significava "roubo de homens", várias vezes referido na Bíblia. Isto o Comunismo nos ensinou.
Muitos outros foram seqüestrados de igual modo. Um carro da Polícia Secreta parou à minha frente, qua­tro homens desceram e jogaram-me dentro dele. Deram-me sumiço por muitos anos. Por mais de oito anos nin­guém sabia se eu estava vivo ou morto. Minha esposa foi visitada pelos homens da Polícia Secreta, que se fin­giram ex-companheiros meus de cela. Disseram-lhe que assistiram ao meu funeral. Ela ficou consternada. Mi­lhares de membros de Igrejas, de todas as denominações, foram encarcerados naquela época, não apenas clérigos, mas homens do povo, rapazes e moças que davam teste­munho de sua fé. As prisões ficaram repletas e, na Ro­mênia como em todos os países comunistas, estar na prisão significa ser torturado.
As torturas eram muitas vezes horríveis? Prefiro não falar muito a respeito daquelas por que passei. Quando o faço, não consigo dormir à noite. É muito doloroso.
Em outro livro, "No Subterrâneo de Deus" (In God's Underground), relato com abundantes detalhes todas as nossas experiências com Deus no cárcere.
Torturas Indescritíveis
Um pastor, chamado Florescu, foi torturado com atiçadores de ferro em brasa, e com facas. Foi açoitado horrivelmente. Ratos famintos eram introduzidos em sua cela através de um cano grosso. Ele não podia dor­mir, pois tinha de se defender o tempo todo. Se descan­sasse um só momento, os ratos o atacariam.
Foi forçado a ficar de pé por duas semanas, dia e noite. Os comunistas queriam forçá-lo a trair seus ir­mãos, porém não o conseguiram. Por fim trouxeram seu filho de 14 anos e começaram a açoitá-lo na presença do pai, dizendo que continuariam a bater até que o pastor dissesse o que eles queriam. O homem, coitado, Já estava quase louco. Suportou até onde pôde. Por fim, gritou para o filho: "Alexandre, tenho de dizer o que eles querem! Não posso mais suportar o que lhe es­tão fazendo!" O filho respondeu: "Papai, não me faça a injustiça de ter um traidor por pai! Resista! Se me matarem, morrerei com as palavras “Jesus é minha ter­ra natal!”A fúria dos comunistas caiu sobre o menino, em quem bateram até matá-lo, vendo-se manchas do seu sangue pelas paredes da cela”. Morreu louvando a Deus. Nosso querido irmão Florescu nunca mais foi o mesmo, depois do que presenciou.
Eram colocadas algemas em nossos pulsos as quais tinham lâminas afiadas na parte interna. Se ficássemos totalmente parados, elas não nos cortavam. Mas nas celas muito frias, quando tremíamos, nossos pulsos eram cortados pelas lâminas.
Crentes eram pendurados em cordas, de cabeça para baixo, e açoitados tão severamente que seus corpos ba­lançavam de um lado para o outro sob a força das pancadas. Eram colocados em refrigeradores, "celas re­frigerantes", tão frias que se formava uma camada de gelo na parte interna. Eu próprio fui jogado em uma dessas celas, com bem pouca roupa. Médicos da prisão observavam-nos através de uma abertura, até verem sintomas de morte por congelamento. Nesse ponto da­vam sinal e os guardas nos tiravam e então éramos aquecidos. Quando já estávamos adquirindo calor, éra­mos imediatamente colocados de novo nas celas congeladoras, e isto repetidamente! Descongelar depois congelar até um ou dois minutos antes da morte, e en­tão descongelar novamente. Isso continuava indefinida­mente. Até hoje algumas vezes não suporto abrir um refrigerador.

Na prisão chamada "DE BONIFÁCIO", os comunistas fraturaram a cabeça de prisioneiros cris­tãos com macetes e espancaram outros com barras de ferro. O resultado: 70 feridos gravemente e 2 mortos. Um dos mortos foi o pregador GERALDO ALVAREZ. Suas últimas palavras foram: "Pai, perdoe-lhes, porque não sabem o que fazem". Um de seus companheiros, HENRIQUE CORRÊA tentou ajudá-lo, mas foi atingido por uma rajada de metra­lhadora, morrendo também no local! (Comitê de Informação sobre Cuba — 1976).
Todo o mundo livre está sob a ameaça eminente da ocupação pelos comunistas. Angola, antiga colô­nia portuguesa e um dos mais ricos países africanos que nos últimos 8 anos triplicou suas exportações, e Moçambique, além de uma dezena de outras nações africanas caíram nas mãos dos guerrilheiros comu­nistas financiados e ajudados por modernas armas russas. Em Angola, 12 a 15 mil soldados cubanos assassinaram 20 mil negros em apenas 5 dias.
Nunca os estados colonialistas cometeram tal morticínio em massa. (Ação Cristã de Fev. 1976).
Até quando os povos chamados "livres" assisti­rão impassíveis este avanço do comunismo?

Nós, crentes, éramos colocados em caixões apenas um pouco maiores do que nós. Não havia lugar para qualquer movimento. Muitas dúzias de pregos com suas pontas afiadas como giletes eram colocadas por todos os lados. Enquanto estávamos perfeitamente quietos, tudo ia bem. Éramos forçados a permanecer nessas caixas horas a fio. Quando, porém, nos fatigávamos e tombá­vamos de cansaço, os pregos entravam em nosso corpo. Se nos movêssemos, ou estremecêssemos um músculo — ali estariam os horríveis pregos.
O que os comunistas têm feito aos crentes ultrapassa qualquer possibilidade de entendimento da mente hu­mana!
Já vi comunistas torturando crentes. Os torturadores demonstravam pelo rosto uma alegria imensa. En­quanto torturavam, bradavam: "Nós somos o diabo".
Lutamos não contra a carne e o sangue, mas contra os principados e potestades do mal. Vimos que o Co­munismo não provém dos homens, mas do diabo. É uma força espiritual — uma força do mal — e só pode ser enfrentada por uma força espiritual mais poderosa — o Espírito de Deus.
Muitas vezes perguntei aos torturadores: "Vocês não têm piedade no coração?" Comumente respondiam com uma citação de Lenine, de que "não se pode fazer ome­lete sem primeiro quebrar os ovos, e não se corta ma­deira sem fazer os pedaços dela voarem". Eu replicava: "Eu também conheço tal citação de Lenine. Há, porém, uma diferença. Quando se corta um pedaço de madeira, ela não sente nada. Mas vocês estão lidando com seres humanos. Cada açoite produz dor e há mães que cho­ram". Era em vão. Eles são materialistas. Para eles nada existe além da matéria, e o homem é para eles como madeira ou casca de ovo. Com tal crença eles se enterram na incrível profundeza de sua crueldade.
A crueldade do ateísmo é difícil de se acreditar. Quando o homem não crê na recompensa do bem ou no castigo do mal, não vê razão para ser humano. Não há como reprimir a ação do mal profundamente enraizada no homem. Os torturadores comunistas muitas vezes afir­mavam: "Não há Deus nem vida futura, nem castigo pelo mal. Podemos fazer o que queremos". Já ouvi um até dizer: "Dou graças a Deus, em quem não creio, que vivi até hoje para manifestar toda a maldade do meu coração". Ele a manifestava com incrível bruta­lidade e torturas infligidas aos prisioneiros.
Sinto muito se um crocodilo devora uma pessoa, porém não posso repreendê-lo. É um crocodilo. Não é um ser moral. De igual modo nenhuma repreensão pode produzir efeito nos comunistas, visto que o Comunismo destruiu neles todo e qualquer senso moral. Por isso se gloriavam abertamente por não terem piedade.
Aprendi uma lição com eles. Assim como não dei­xavam lugar algum para Cristo em seus corações, tam­bém decidi não deixar nenhum lugar no meu para Satanás.
Dei meu testemunho perante o Sub-Comitê de Se­gurança Interna do Senado norte-americano. Ali des­crevi coisas horríveis, tais como crentes amarrados em cruzes por quatro dias e quatro noites. A seguir eram as cruzes colocadas no chão e centenas de prisioneiros tinham de atender suas necessidades fisiológicas em cima dos rostos e dos corpos dos que estavam crucificados. Depois as cruzes eram de novo levantadas e os comu­nistas escarneciam: "Olhem para o Cristo de vocês! Que bonito ele é! E que fragrância traz dos céus!" Des­crevi como, depois de ficar quase louco pelas torturas, um padre ortodoxo foi obrigado a consagrar fezes e urina humana para dar em comunhão aos cristãos. Isso acon­teceu na prisão de Pitesti, na Romênia. Depois pergun­tei ao padre porque ele não preferiu morrer a partici­par dessa zombaria. Respondeu-me: "Não me julgue, por favor! Sofri mais que Cristo!" Todas as descrições bíblicas do inferno e as dores referidas no Inferno de Dante, não são comparáveis às torturas em prisões co­munistas.
Isto é apenas uma pequena amostra do que acon­teceu em um e mais domingos, na prisão de Pitesti.
Outras coisas não podem ser ditas aqui. Meu coração não suportaria repeti-las. Tão horripilantes e obscenas para serem escritas. É isso, leitor, o que os seus irmãos em Cristo passaram e estão passando hoje!
O pastor Milan Haimovici, foi realmente um grande herói da fé.
As prisões estavam superlotadas e os guardas não nos conheciam pelo nome. Chamavam por aqueles que haviam sido sentenciados a levar 25 chicotadas por ha­verem quebrado algum regulamento da prisão. Inúme­ras vezes o pastor Milan Haimovici foi no lugar de outro receber o castigo. Com isso conquistou o respeito dos outros prisioneiros não apenas para si, mas também para Cristo, a quem representava.
Se eu continuasse a contar todos os horrores dos comunistas e sacrifícios pessoais dos crentes, nunca acabaria. Não apenas as torturas eram conhecidas. Os feitos heróicos também o eram. Os exemplos de heroís­mo daqueles presos inspiraram grandemente os irmãos que ainda estavam livres.
Uma de nossas obreiras era uma jovem da igreja Subterrânea. A polícia comunista descobriu que ela dis­tribuía literatura cristã e ensinava as crianças acerca de Cristo. Resolveram prendê-la. Mas para tornar essa prisão a mais agonizante e a mais dolorosa possível, resolveram adiá-la por mais algumas semanas, até o dia do casamento da jovem. Nesse dia lá estava ela vestida de noiva. O dia mais maravilhoso na vida de uma moça! De repente a porta foi empurrada e a Po­lícia Secreta invadiu.
Quando a noiva os viu, estendeu-lhes os braços para serem algemados. Mal haviam colocado as algemas nos pulsos, ela voltou os olhos para seu amado, depois bei­jou os grilhões e disse: "Agradeço ao meu Noivo Celes­tial estas jóias com que me presenteou no dia do meu casamento. Agradeço-lhe por ser digna de sofrer por Ele". Foi arrastada deixando para trás os crentes e seu noivo a chorar.   Estes sabiam o que acontece a moças crentes nas mãos dos guardas comunistas. Depois de 5 anos foi libertada — uma mulher alquebrada e destruí­da, aparentando ter uns trinta anos. Seu noivo ainda a esperava. Ela afirmou que era o mínimo que poderia fazer por seu Cristo. Tão belos crentes se encontram na Igreja Subterrânea.
O que é Lavagem Cerebral
Ocidentais provavelmente já ouviram falar de la­vagem cerebral na guerra da Coréia e agora no Vietnam. Eu próprio já passei por esse processo. É a mais horrível das torturas.
Por anos a fio tínhamos de nos sentar durante 17 horas, diariamente, escutando:
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
Durante 17 horas diariamente — por dias, semanas e meses a fio.



Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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