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quarta-feira, 18 de maio de 2011

PSICOLOGIA PASTORAL - 3ºPARTE-Prof. Pr. VICENTE LEITE - IBETEL

Continuação............


3.2 Os Temperamentos

  Merece particular relevo, para a compreensão da personalidade do indivíduo o conhecimento de seu temperamento. Por temperamento entende-se a disposição fundamental da alma que caracteriza a sensibilidade receptiva quanto à índole, força, profundidade e duração.

  As paixões dominantes estão em correlação estreita com os temperamentos, uma vez que a índole psíquica consiste na harmonia entre as tendências superiores e inferiores e a sede das paixões está na parte inferior. Assim: o desejo de impor-se está ligado ao temperamento colérico, o desejo de dedicação ao sanguíneo ou ao
melancólico, enquanto o fleumático é representado pelo apático.

  A velha teoria dos temperamentos, cuja terminologia teve origem com o médico grego Hipócrates (377 a.C.), foi muito combatida nos últimos tempos. É certo que a classificação dos temperamentos em colérico, sanguíneo, melancólico e fleumático, que deriva do médico Galeno (séc. II d.C.) não é exata. É justa enquanto mostra ter reconhecido a influência de certas qualidades físicas, sobretudo das funções de
órgãos internos, sobre o temperamento. O linguajar comum fala de sangue quente, sangue frio etc. Com isso se obtém uma expressão justa do contraste entre os diversos temperamentos: coléricofleumático e sanguíneo-melancólico. Há muito tempo também o próprio povo percebeu que o temperamento depende do sistema sanguíneo, e hoje a ciência médica o confirma quando procura explicar a relação
entre constituição física e índole psíquica pelas correlações hemoquímicas entre as glândulas internas e o cérebro.

  Todavia, não podemos negar que a velha doutrina dos temperamentos, sob o ponto de vista prático, até hoje não foi ainda substituída nem tornada supérflua por qualquer outra concepção equivalente. Não só do ponto de vista prático, no campo da psicologia e da caracteriologia, é de grande valor a classificação tradicional dos temperamentos, mas é plenamente justificada também teoricamente, quando classificamos os graus da emotividade no aspecto duplo de sensibilidade receptiva e
capacidade de reação. As diversas combinações da sensibilidade receptiva forte ou fraca, com a capacidade de reação, dão origem a quatro temperamentos:

1) O colérico, com forte sensibilidade receptiva e forte reação;
2) O sanguíneo, com forte sensibilidade receptiva e reação fraca;
3) O melancólico, com sensibilidade receptiva fraca e reação forte;
4) O fleumático, sensibilidade receptiva fraca e reação fraca.

  Os temperamentos apresentam o mesmo quadro das paixões dominantes. Ninguém possui temperamento no estado puro, mas combinado mais ou menos com os outros, embora apresentando, em  geral, predominância bem reconhecível.

  O conhecimento das características e dos sinais positivos e negativos dos temperamentos é de grande importância, especialmente para o diretor espiritual da juventude. Muitas vezes temos de lamentar a pouca confiança do jovem no pastor. É próprio do jovem encontrar dificuldade em abrir-se ao pastor, especialmente nos casos da solidão espiritual e da falta de ajuda. Algumas vezes é o orgulho que o impede, outras a impossibilidade inculpável de descrever certo estado de ânimo.

  Nenhum esforço para obter-lhes a confiança leva ao escopo desejado, mesmo se feito com a maior gentileza e com todo o respeito. A melhor estrada é o conhecimento da psique por meio da identificação do temperamento. Só quando o jovem se sente penetrado e compreendido na sua solidão e angústia, é que se exprime o impedimento da reserva natural e a alma se enche de confiança.

 3.2.1 O temperamento colérico

  O colérico tem a característica da forte sensibilidade receptiva e reação forte. É o tipo da personalidade marcante, do homem vigoroso, conhecedor do mundo, da índole enérgica do líder e do combatente.

  Reconhece-se a disposição do temperamento colérico muitas vezes até pelo aspecto exterior. O colérico tem físico vigoroso, maciço, de ombros largos, músculos fortes e nervos duros. A expressão do rosto é séria, o olhar cortante e penetrante, às vezes apaixonado. A boca de lábios finos fica rigorosamente cerrada. O passo é firme e seguro, a voz forte e harmoniosa.

  O colérico, se de talento superior à média, possui intelecto claro. Capta logo a essência de um fato. Não fica na superfície, mas atira-se com ardor para o fundo. Isso não o impede de passar por cima do secundário, não ligar para os sentimentos pessoais alheios e não demonstrar a mínima compreensão pelos estados de ânimo e
sentimentos deles; é por isso que se torna com facilidade bruto e ofensivo. A vontade é forte e resoluta. Procura colocar em prática o  que se propõe e atingi-lo a todo o custo. Na atuação de um ideal escolhido, custa a satisfazer-se até com o máximo. É capaz de entusiasmar-se ardentemente por tudo o que é belo e sublime. O grande e o heróico o incitam. Está pronto a empenhar-se com esforço heróico e combatividade por uma causa elevada e ideal. Sua virtude eminente é a magnanimidade. A natureza o leva à luta. A ação e o sucesso são a sua meta. Além disso, está cheio de acentuada ambição, que o leva com facilidade a arrivismo sem medidas. A força
cresce com a grandeza da tarefa. Não conhece complexos de inferioridade.

  É otimista impertérrito, mesmo quando a reflexão e a calma deveriam convencê-lo que, em determinado caso, a meta escolhida é inatingível.
  Confia sempre e em toda a parte na força e na capacidade do eu. Tem por lema: ou dobrar ou quebrar. Por ter muito sucesso, reforçam-se ainda mais as aspirações, e por isso aventura-se também ao que é impossível. Odeia a mediocridade, o meio-termo. Tudo o que faz, faz completamente. Move-se entre os extremos e quer ou tudo ou nada.

  Traz em si o germe do santo ou do delinqüente. Para atingir o seu escopo serve-se de todos os meios. Pode ser duro e insensível, cruel e brutal. Pode mentir e fingir, adular e tiranizar. Para o alto é capaz de reverências, para o baixo é capaz de pisar.   Tudo existe para o seu bem-amado eu. Custa-lhe reconhecer as obras e os sucessos dos outros, que olha com inveja, como atos que prejudicam a própria capacidade, dignidade e proeminência. Ai de quem se lhe opõe! É ele que deve dominar, comandar, organizar, pois só ele possui a habilidade necessária. Sempre tem razão, mesmo quando no íntimo, já há muito tempo, reconheceu ter disparado com audácia imprudente contra o objetivo. Não reconhece que a razão possa encontrar-se, pelo
menos uma vez, também do lado do adversário. Impedem-no o orgulho, a ambição e presumida infalibilidade.

  Esse orgulho indomável é o maior obstáculo à sua santificação. Gera nele confiança exagerada em si mesmo e obstinação infantil pluriforme, que raramente respeita a opinião dos outros; antes, fala mesmo com desprezo, do juízo e dos pareceres alheios e ofende muita vez os adversários com o sarcasmo e a zombaria. A soberba lhe impede amor para com Deus, o próximo, e toda a criação. Tem em si a fonte da própria hipersensibilidade, prepotência, do espírito de contradição, dureza, incompatibilidade de caráter e cólera, às vezes tão forte, que lhe faz perder completamente o domínio de si, levando-o a erros gravíssimos com um sorriso frio nos lábios, a desprezar sem consideração os laços de velhas amizades e arriscar, com leviandade, a saúde e a vida. O orgulho lhe tira a faculdade de inclinar-se, de
adaptar-se e submeter-se, obedecer, estender a mão ao adversário em sinal de reconciliação. A vaidade egoísta torna-o inapto para a compreensão cordial e para comungar com o estado de ânimo de outro ser humano, a compaixão amorosa diante da dor alheia e a bondade de coração no contato com os pobres e necessitados.   Quantas vezes por dia peca contra a caridade com o pensamento e com as obras,
sem nem sequer percebê-lo! Quando, porém, com o auxílio da graça divina, o colérico resolve corrigir-se, aperfeiçoar-se, santificar-se, quando aprende a conhecer e reconhecer os próprios limites e a própria dependência, a inclinar-se humildemente diante de Deus; quando chega ao ponto de se alegrar logo que Deus o subjuga e
aniquila nele todo o egocentrismo, então o temperamento torna-se ponto de apoio na subida para a santidade; então a ambição e anseio de sobressair empenham-se por tornarem-se agradáveis aos olhos de Deus, em produzir algo imponente para o reino de Jesus Cristo. O colérico zeloso, que se autocastiga e autodisciplina, é líder nato.
Empenha-se por um ideal com calor e força de persuasão. É herói por nascimento. É homem do dever, que não concede escapatórias a si mesmo, que não se deixa desviar das decisões tomadas, que não descansa antes de atingir o alvo predeterminado. Assim, este temperamento oferece muitas vantagens e auxílios ao homem lutador, que se dirige para o alto ao atingir a própria santidade, como também, por outro lado, se erra a estrada, pode torná-lo propugnador fanático
do mal, sujeito a vaidade satânica, ódio indomável e fúria bestial. A vida de oração do colérico não apresenta dificuldades especiais. As forças espirituais tornam-no apto ao recolhimento e à concentração interior. O desejo constante de expansão ilimitada é satisfeito pelo empenho ininterrupto e total por Deus e por sua causa. O colérico que
tem em vista a perfeição fica agradecido quando lhe apontam os defeitos. Procura emendar-se. Nas relações com o próximo luta para fundir a veracidade com a delicadeza. Coloca toda a honra na conduta de vida ilibada. O colérico engenhoso tem atuação notável no trabalho profissional. A disposição natural incita-o à atividade incessante. Não pode viver no ócio. Deve trabalhar sempre e ocupar-se sempre. Não é capaz de deixar um trabalho pela metade. Deve terminá-lo completamente. Não suporta a desordem. Gosta da limpeza, da consciência escrupulosa, da pontualidade. Tem sempre o que fazer.

  Nunca tem tempo para o inútil, mas sempre o tem para o necessário.
  Descobre trabalho onde outros não o vêem. Não pode descansar, enquanto há trabalho por fazer. Olha sempre para a frente, reflete, calcula. Por isso consegue sempre acrescentar às tarefas, já numerosas, novo trabalho, graças à capacidade organizadora, à rapidez da ação, à circunspeção e habilidade. É claro, breve e decidido no falar. O que diz deve estar simplesmente certo (mesmo que não o
esteja). Na conduta e no modo de proceder é independente, ousado, sem sombra de temor. Tem a faculdade de persuadir os outros, de convencer, de influenciar e de guiar, de tornar-se sustentáculo e apoio, de deixar a própria marca no ambiente inteiro. Além disso parece tão certo e inequivocável que ninguém pode resistir-lhe, salvo o que for da sua mesma têmpera. É o tipo do chefe, do educador, da pessoa de
autoridade.

  O importante é que o colérico procure desenvolver seus lados bons e atenuar os piores. Precisa de um ideal claro: serviço de Deus por amor a Deus, amor ao próximo por amor a Deus. É preciso apresentar-lhe ideais altos para poder empenhar as próprias forças. Deve aprender a mendigar com humildade o auxílio de Deus e lutar com toda a energia contra a cólera, o orgulho e outras expressões do temperamento.  Deve educar-se espontaneamente ao serviço do próximo. Se for capaz, será
também capaz de executar grandes obras para o, reino de Deus. Será o apóstolo nascido para o reino de Cristo. Se o colérico educa a si mesmo sob a influência de personalidade forte que consegue o reconhecimento e a estima dele, ajudado pela graça divina, implorada com a oração humilde, pode chegar a idealismo nobre que lhe dá impulso a tender sempre mais para o alto, otimismo invencível que não
o deixa desesperar nunca, mas sempre esperar, radicalismo inflexível que o leva a gastar todas as energias a fim de atingir o alvo predeterminado.

  O obreiro do Senhor de temperamento colérico obterá com facilidade a estima dos fiéis, com mais dificuldade o amor. Suas ações terão sucesso. Todavia deverá abster-se de disciplina rígida para não ser arrastado pela dureza inata de trato. Deve vigiar a si mesmo e tender com o máximo empenho ao amor verdadeiro, pois, de outra forma, será levado pelo temperamento a cometer atos de dureza. Muitos
desses atos nem sequer perceberá, por causa falta inata de ternura e delicadeza. Deve também tender incessantemente à verdadeira humildade de coração e reconhecer que também é servo inútil diante de Deus, apesar do engenho e dos dotes. Malgrado todo o esforço, o obreiro do Senhor colérico será mais estimado que amado pelos fiéis.

  Serve-lhe de admoestação permanente para tender ao amor, e também de contínua escola de humildade.

Continua............


Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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