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quarta-feira, 18 de maio de 2011

PSICOLOGIA PASTORAL - 2ºPARTE-Prof. Pr. VICENTE LEITE - IBETEL

Continuação.................


Diferenciação segundo a índole pessoal


  As atividades espirituais do homem, embora intrinsecamente independentes dos processos físicos, estão ligadas ao desenvolvimento do organismo. As funções psicofísicas são o pressuposto da vida espiritual e só o transcorrer sem perturbações é o que garante a engrenagem ordenada e a coordenação de todas as capacidades e atividades envolvidas na unidade do ser humano. Como nenhum ser vivo se assemelha perfeitamente a outro, assim o indivíduo humano se distingue ainda mais de todos os outros, embora o corpo e a alma tenham forma típica idêntica. Cada homem, em última análise é um mundo a se, unidade que apresenta grande número de variações individuais; por isso também são diferentes individualmente os processos psíquicos relativos. Com isso assumem aspecto particular os procedimentos morais relacionados à compreensão dos valores, à experiência do dever etc. A individualidade de um ser humano exprime-se antes de tudo na paixão dominante, no temperamento e no caráter.

3.1 As Paixões Dominantes

  Queremos expor aqui especialmente o caráter típico das paixões. As paixões podem dividir-se em dois grupos principais. Tomás de Aquino distingue o apetite concupiscível e o irascível. Também a ciência psicológica mais moderna distingue duas paixões dominantes: a sensibilidade e o orgulho. Ambos os termos têm sabor negativo. Mas a ambos podemos atribuir, e com razão, valor positivo e ver impulso de
dedicação (impulso de amor) e impulso de domínio (impulso de honra).

  Devemos notar que em cada homem encontram-se, em grau diverso, elementos de ambas as paixões principais, desde a supremacia fortíssima de uma sobre a outra até a igualdade aproximada. Em linhas gerais, porém, uma das duas predomina e, em caso de conflito, o sensível será mais inclinado a renunciar à honra, o orgulhoso ao amor.

  A sensibilidade é a paixão dominante do homem sentimental, o orgulho a do homem volitivo.

3.1.1 Paixão dominante “sensibilidade”

  Para compreender a natureza dessa paixão é necessário conhecer as variedades e as graduações do amor. O grau mais baixo do amor manifesta-se só no ardor de sentimento espontâneo e não é senão processo vital instintivo, de ordem física. Vem depois o grau do amor natural. Dirige e plasma o instinto obscuro à luz do discernimento e com vontade forte. Seu componente principal é a espiritualidade,
própria ao homem. O grau mais alto do amor, atingível nesta vida, é o amor sobrenatural. Deixa-se conduzir pela fé e pela graça e abraça toda a criação, de modo especial a humanidade, por amor a Deus.

  A pessoa dominada pela sensibilidade, sente propensão natural forte para tornar felizes as outras pessoas. Seu ideal se baseia num primeiro tempo nos dois primeiros graus do amor. Deseja ardentemente difundir ao redor luz, alegria, amor. Mas, para a
expansão completa de sua paixão, esse tipo de pessoas tem necessidade de móvel eficaz, representado pela visão ou pela recordação da miséria alheia e das suas necessidades. Não são os seres física e psiquicamente fortes que provocam a expansão máxima do impulso de dedicação, mas sim a pobreza, a fraqueza, o luto e a angústia que suscitam a compaixão e o amor operoso. A miséria alheia não provoca semente a ativação do amor: garante a meta por ele visada: assegurar-se de modo estável o apego e a gratidão do próximo. Este desejo forte de apego agradecido por parte dos assistidos é, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza da sensibilidade.

  Quer tornar os outros felizes, nenhum sacrifício e nenhuma renúncia são demasiados para o amor cheio de dedicação; mas, em troca, quer a gratidão. Não pode e não quer renunciar a ela, justamente porque aí está a força secreta e a mola que a impele com alegria para o sacrifício.

  Também o homem sensível, de igual maneira ao orgulhoso, deseja dominar, não porém, pela força ou violência, mas - o que parece contradição - pela força do amor serviçal. À disposição de amar corresponde, como é mui natural, o desejo de ser amado. Quanto maior e mais pronto ao sacrifício for o amor que um indivíduo dedicar
aos outros, tanto maior será também o desejo de receber amor. Esse gênero de amor (natural) atinge a perfeição e o valor supremo apenas se unido ao sobrenatural. Só quando a chama do amor passional (natural) é revestida e purificada pelo amor desinteressado, exercido por amor a Deus (isto é, pelo amor sobrenatural), é que o instinto de doação, por natureza egoísta, recebe a força de enfrentar até o
sacrifício supremo, ignorado e recusado pela natureza, de dar-se sem reservas, mesmo no caso de não encontrar correspondência, mas até indiferença, ingratidão, talvez aversão e ódio. O amor sobrenatural, fruto da graça, desenvolve-se com maior força onde encontra o bom fundamento de paixão ordenada (sensibilidade, instinto de dedicação).

  Por outro lado o amor sensível, isto é, natural, não pode despojar-se do egoísmo inato senão pelo amor sobrenatural e sublimado por este como altruísmo nobre e por isso levado à perfeição. Sendo o amor o mandamento principal da vida religiosa, é evidente que as almas providas de espírito forte de abnegação podem vangloriar-se de ter obtido um talento precioso para as obras e para o caminho da vida. As
vantagens e os frutos dessa paixão, se bem cultivada, são: força de sacrifício, paciência, longanimidade, cuidado, humildade, tato, compreensão, interesse, capacidade de compartilhar das alegrias e dos sofrimentos alheios. Da estirpe dos homens dotados de grande força de abnegação é que Deus chama o maior número dos missionários, pastores, médicos, enfermeiros, educadores, professores etc. São os homens que constroem a sociedade.

  Naturalmente, às vantagens de grande capacidade de abnegação correspondem também muitas desvantagens e perigos, cada um dos quais, em caso de vigilância descuidada, pode levar ao afastamento extremo em relação a Deus. São especialmente: a falta de iniciativa e de independência, sugestionabilidade, fraqueza, o gosto pelos elogios, facilidade pela simpatia e antipatia, tendência à afetação,
suscetibilidade, parcialidade, inclinação para o fantástico, comodidade e tendência para os prazeres sensuais. Para evitar todos esses perigos é preciso vigilância severa, abnegação, exercício de vontade, docilidade à graça divina. Para a vida religioso-moral é decisivo o uso que o homem faz do forte impulso de dedicação: ou dirige-se para Deus e para os homens, para prestar-lhes honra e demonstrar amor
verdadeiro, ou volta-se para si mesmo, para procurar a finalidade própria e última no amor terrestre.

3.1.2 A paixão dominante “orgulho”

  A atitude psíquica do “orgulhoso” é essencialmente diferente da do “sensível”. Neste caso o valor máximo não consiste no amor, mas na honra. A força fundamental do seu espírito não é o desejo de dedicação, mas a tendência para impor-se e agir. O gerador que o move não é a indigência alheia, mas as dificuldades e os obstáculos
que devem ser superados pela luta. Característica do homem dominado pelo “orgulho” é a vontade de lutar, despertada diante de uma resistência oposta, incitando-o a superar dificuldades notáveis.
  Quanto maiores forem os obstáculos, tanto mais inflexível se tornará a vontade de lutar e de vencer. Não conhece compromissos nem capitulações. Alegria e a glória consistem em ser inflexível e lutar até a vitória ou até a morte.

  As vantagens dessa disposição natural são a capacidade de dirigir, o espírito de iniciativa, coragem, energia, diligência e visão clara da meta. Dessa têmpera são os comandantes, políticos, exploradores, naturalistas, inventores, cientistas, organizadores, fundadores de ordens, chefes de Igreja e do Estado.

  Aos consideráveis aspectos luminosos dessa paixão correspondem os relativos aspectos sombrios. São: tendência ao egoísmo, capricho, obstinação, mania de domínio levado até a tirania, dureza de coração raiando a crueldade, cólera, indelicadeza, brutalidade, vaidade, ambição desmedida, altivez, desobediência, megalomania, autocomplacência, presunção.

  Também essa paixão dominante deve disciplinar-se constantemente pela graça. A vida religiosa de um indivíduo possuído por essa paixão dominante depende do uso que pode fazer dela: ou a coloca a serviço de ideal grande e sagrado, por exemplo, de Deus ou de seu reino, para a salvação das almas, ou a torna instrumento da glorificação egoísta e soberba da própria pessoa.


Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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