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sábado, 16 de setembro de 2017

CRER É TER CONFIANÇA – KARL BARTH

  


  A Confissão começa por essas duas palavras carregadas de significação: "eu creio": Tudo o que nós teríamos a dizer para justificar a tarefa que nos aguarda é comandado por esse preâmbulo. Começaremos por três teses, que se aplicam à essência da fé.

  A fé cristã é o dom do encontro que torna os homens livres para escutar a Palavra da graça, pronunciada por Deus em Jesus Cristo, de maneira tal que eles se atêm às promessas e aos mandamentos dessa Palavra, apesar de tudo, de uma vez por todas, exclusiva e totalmente.

  Vimos que a fé cristã, a mensagem da Igreja, constitui o fundamento e o objeto da dogmática. Mas de que se trata? Daquilo em que crêem os cristãos e da maneira como eles crêem. Na prática, não se pode separar a forma subjetiva da fé, fides qua creditur, da pregação, pois essa pregação implica necessariamente na presença de homens que escutaram e receberam o Evangelho; homens que, juntos, foram evangelizados. Mas o fato de acreditarmos pode ser desde logo considerado como secundário em relação ao que existe de maior e de autêntico na pregação, ao que crê o cristão, isto é, o conteúdo de sua fé; e ao que devemos anunciar, isto é, o objeto da Confissão de Fé: creio em Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

  A linguagem popular denomina a Confissão de Fé de "Credo" e essa expressão deve ao menos nos fazer compreender o que nós acreditamos. Dentro da fé cristã trata-se, de uma maneira decisiva, de um encontro.

  Creio "em ..." diz a Confissão. Tudo depende desse "em ...", desse objeto de fé onde vive nossa fé subjetiva. É notável que, à parte desta introdução "creio ...", o Credo não diz nada do aspecto subjetivo da fé. Não foi bom quando os cristãos inverteram esta relação, falando muito sobre suas ações e sobre a emoção de experimentar aquilo que ocorre no interior do homem, enquanto permaneciam mudos sobre o que devemos crer.

  Ao silenciar sobre o lado subjetivo da fé para falar de seu aspecto objetivo, o Credo se concentra naquilo que para nós é essencial, no que devemos ser, fazer e viver. Aqui igualmente é válida a palavra: "aquele que quiser salvar sua vida, perdê-Ia-á, mas aquele que tiver perdido a sua vida por minha causa, salva-la-á" (Mt 16.25). Aquele que quiser salvar e conservar a subjetividade perdê-la-á, mas aquele que a abandonar pela preocupação com a objetividade, reencontra-la-á. Eu creio: efetivamente é minha experiência, uma experiência humana e um fato, uma forma de nossa existência de homens.


Karl Barth


Fonte: Esboço de uma Dogmática - Karl Barth

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