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segunda-feira, 8 de maio de 2017

EXPRESSÕES DE ADORAÇÃO - RUSSEL P. SHEDD


Definir um termo como "cultuar" ou "adorar" não deixa de ser um desafio a todos que se preocupam com uma verdadeira adoração. Por um lado, num sentido mais restrito, significa uma atribuição de honra e glória a quem ou ao que o adorador considera de valor supremo. Seria veneração ou devoção expressa a Deus em público ou pessoalmente.  Por outro lado, pensa-se, popularmente, que adoração requer uma expressão visível, a prática de ritos religiosos que identificam a sua forma Vejamos algumas formas variadas.

1. O culto carismático caracteriza-se por manifestações emocionais, sonoras, visíveis, mostrando a atitude dos adoradores em relação a Deus. A forma do culto se distingue pelo levantamento dos braços, exuberantes gritos de "aleluia", movimentos corporais e "cânticos espirituais", manifestando entusiasmo na maneira de glorificar a Deus. A comunicação cognitiva tem menos importância em comparação com a livre participação daqueles que cultuam.

2. O culto didático e pedagógico concentra a atenção dos participantes na centralidade da Palavra de Deus. Pela pregação, ensino e exortação, espera-se que os assistentes ouçam a voz de Deus pelo recado recebido e sejam convencidos de que devem oferecer a Deus, como Senhor, tudo que Ele exige e merece. As igrejas batistas e presbiterianas exemplificam principalmente a adoração didática

3. O culto eucarístico valoriza o culto por meio da Ceia do Senhor. A Eucaristia representa o cerne da aproximação entre Deus e o cultuante. Por meio da participação nesse "sacramento" memorial, a mística do material unido ao espiritual toma a sua forma concreta para quem celebra a dramatização da morte sacrificial de Jesus Cristo. Espera-se a criação dum espírito de gratidão e devoção nos participantes. As igrejas luteranas, anglicanas, e católicas apresentam um só quadro na importância que atribuem ao culto eucarístico.

4. O culto kerugmático (vem do vocábulo grego kerugma, que significa "proclamação") focaliza a atenção sobre a evangelização dos não-convertidos. As diversas partes do culto são escolhidas e preparadas para levar os espiritualmente perdidos a se entregarem a Jesus Cristo. Cultos evangelísticos são valorizados pelos evangélicos que concebem como a principal responsabilidade da igreja cumprir a missão que Jesus deu aos Seus discípulos (Mt 28.19), uma missão que deve ser levada a efeito dentro e fora do recinto de culto.

5. Outros cristãos modernos concentram a sua comunhão uns com os outros. Torna-se popular a descrição deste culto como "corpo vivo" (body-life), porque procura-se a partipação mútua de todos. A. Neely, professor de missões no Seminário de Wake Forest, E.U.A., sugere o termo koinoniático (do grego koinonia, "comunhão", "participação") para indicar essa qualidade central no culto. Como o corpo humano necessita dar e receber a contribuição de suas diversas partes constituintes, assim muitas igrejas estão recuperando a ênfase primitiva apresentada no Novo Testamento sobre a mutualidade.

6. O culto diakonal. Segundo este conceito, Deus é visto somente no irmão necessitado, sem nos preocuparmos se ele é realmente membro da família do Senhor. Baseia-se nas palavras de Jesus: "... vinde, benditos do meu Pai!... Porque tive fome e me destes de comer... Então perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." {Mt 25.24-40). Assim, boas obras, caridade, atos de compaixão em favor dos que sofrem e dos oprimidos, passam a ser expressão de culto ao Senhor. Outros, que seguem uma linha mais radical, como os adeptos da Teologia da Libertação", vão mais longe. Apóiam movimentos anti-imperialistas e identificam as estruturas direitistas como inimigas. Cultuar, para eles, pode até envolver a luta política contra a injustiça de uma sociedade denominada "reacionária" e "decadente".

Todos estes modelos característicos de culto, formados por séculos de tradição, ou então por modernas reações contra um formalismo herdado do passado ou importado de terras alheias, têm um fator comum. Expressões de adoração como as aqui mencionadas caracterizam as formas de cultuar, e não medem a realidade ou grau de espiritualidade do adorador. Qualquer que seja a expressão do culto ou rito como veículo de adoração, a sua forma é externa, mas a atitude do coração é interna, muitas vezes oculta da própria percepção do adorador.

Deus preocupa-se mais com o coração do que com a forma, ainda que as Escrituras não admitam uma dicotomia entre corpo e espírito. É o próprio Deus quem toma a iniciativa   na busca de verdadeiros adoradores. Ele deu Seu Filho para revelá-lO (Jo 1.18), para sacrificar-se em oferta expiatória, assim rasgando o véu que separava o Lugar Santo do Santo dos Santos (Mt 27.51; Mc 15.38 e Lc 23.45). Jesus deixou o caminho livre para os pecadores se aproximarem do Pai santíssimo (Jo 14.6). Deus cumpriu a promessa proclamada pelos profetas, de derramar Seu Espírito sobre Seus filhos (Ez 36.27). Somente por meio do Espírito é possível oferecer culto verdadeiro a Deus (Jo 4.24; Fp 3.3). Este fator central da adoração é invisível. A forma correta de adorar não garante que estejamos adorando "pelo Espírito" (o termo pneumati [Fp 3.3], em grego, está no dativo instrumental, "por meio do Espírito"). Assim, Deus tem de revelar-se no Filho, perdoar os pecados que nos separam dEle e dar-nos o Espírito para que pela Sua assistência possamos responder-Lhe.  Deus se aproxima de nós no Filho, e nós nos aproximamos dEle no Espírito. Nenhuma dessas realidades pode ser demonstrada por uma expressão externa de culto. Atos religiosos, tais como falar "as línguas dos homens e dos anjos", ou "distribuir todos os bens entre os pobres", ou ainda entregar "o próprio corpo para ser queimado" (1 Co 13.1-3), não expressam necessariamente um amor real. O mesmo acontece com a adoração; os atos externos mais notáveis podem facilmente enganar.

Desde seu começo, o culto cristão tem sido ameaçado por dois perigos: 1) Um formalismo que sacramenta o modo de adorar a Deus, enquanto anula o poder de um contato vital com Deus (cf.2 Tm 3.5) e 2) Uma espontaneidade que encoraja desprendimento e liberdade, desprezando toda e qualquer forma, mas que cria confusão e desordem. Ambas as formas de culto são condenadas pela falta de amor. O formalismo busca o amor pelo Pai celeste enquanto o informalismo desordeiro desvaloriza os filhos da Sua "família". A igreja de Éfeso, possivelmente, ilustra o primeiro perigo, tendo abandonado seu primeiro amor (Ap 2.2-5). Preocupava-se com a forma e em manter boas aparências, mas esquecia-se do principal - o amor. Pode-se verificar o segundo perigo na vida espiritual da igreja de Corinto. A liberdade teve ascendência, reinando com supremacia, enquanto a verdadeira adoração sofreu um eclipse por causa das divisões. A desordem caracterizou a Ceia do Senhor. Nas reuniões da igreja, um irmão qualquer tomava a palavra sem se dar conta de que outros profetas também tinham mensagens para comunicar (1 Co 14.29-30).


FONTE: Adoração Bíblica - Dr. Russel P. Shedd


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