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quarta-feira, 27 de julho de 2016

OS TRÊS AMIGOS DE JÓ - DESTRUINDO A "TEOLOGIA" DOS FALSOS


FACULDADE DE TEOLOGIA, FILOSOFIA E PEDAGOGIA MACAENSE
Prof. Pr. Charles Maciel Vieira, D.Th.

EXEGESE DO ANTIGO TESTAMENTO

Exegese nos livros poéticos

Livro de Jó
Os Três amigos de Jó
Destruindo a “teologia” dos falsos

   Vamos conhecer um pouco melhor os três amigos de Jó. Os três homens eram idosos (Jó 32:6) e mais velhos que Jó (15:10), mas supomos que o mais velho de todos era Elifaz. Seu nome aparece primeiro (2:11), foi ele quem falou primeiro, e, ao que parece, o Senhor o considerava o membro mais velho do trio (42:7). E associado a Temã, um lugar conhecido por sua sabedoria (Jr 49:7). Elifaz baseou seus discursos em duas coisas: nas próprias observações acerca da vida ("Segundo eu tenho visto", "Bem vi eu", "Eis que isto já o havemos inquerido"; Jó 4:8; 5:3, 27, respectivamente) e numa experiência assustadora que teve certa noite (4:12-21). Elifaz confiava muito na tradição (15:18, 1 9), e o Deus que ele adorava era um Legislador rígido. "Acaso, já pereceu algum inocente?" (4:7), perguntou ele, e incontáveis mártires poderiam responder: "Nós!" (Que dizer do Senhor Jesus Cristo?) Elifaz possuía uma teologia inflexível que não deixava muito espaço para a graça de Deus.
   E bem possível que Bildade fosse o segundo mais velho, uma vez que seu nome aparece em segundo lugar e ele fala depois de Elifaz. Pode-se descrever Bildade com uma só palavra: legalista. Seu lema era: "Eis que Deus não rejeita ao íntegro, nem toma pela mão os malfeitores" (8:20). Era capaz de citar provérbios antigos e, assim como Elifaz, tinha profundo respeito pela tradição. Bildade estava certo de que os filhos de Jó haviam morrido porque também eram pecadores (v. 4). Não demonstra sensibilidade alguma pelo amigo sofredor.
   Zofar era o mais jovem dos três e, sem dúvida, o mais dogmático. Fala como um diretor de escola dirigindo-se a uma turma de calouros ignorantes. Sua abordagem insensível é: "Sabe, portanto!" (11:6; 20:4). Não se mostra, de modo algum, um homem misericordioso e diz a Jó que, tendo em vista seus pecados, Deus o estava fazendo sofrer muito menos do que merecia! (11:6). Seu lema era: "Porventura, não sabes tu que desde todos os tempos [...] o júbilo dos perversos é breve, e a alegria dos ímpios, momentânea?" (Jó 20:4, 5). É interessante observar que Zofar só se dirige a Jó em duas ocasiões. Ou ele decidiu que não era capaz de refutar a argumentação de Jó, ou considerou uma perda de tempo tentar ajudar o amigo.

   Algumas das palavras desses três homens são boas e verdadeiras, enquanto outras são insensatas. De qualquer modo, por terem uma visão muito restrita, não puderam ajudar o amigo. Sua teologia não era vital nem vibrante, mas sim morta e rígida, e o Deus que tentaram defender era pequeno o suficiente para ser compreendido e explicado. Esses homens são uma ilustração perfeita da declaração de Dorothy Sayers: "Nada é impossível de ser provado caso seu ponto de vista seja suficientemente limitado".
   Por que alguém falaria a um amigo do modo como esses três homens falaram a Jó? Por que estavam tão zangados? Encontramos uma pista nas palavras de Jó: "Assim também vós outros sois nada para mim; vedes os meus males e vos espantais" (6:21). Esses três homens estavam com medo de que as mesmas calamidades acontecessem com eles! Portanto, precisavam defender sua premissa de que Deus recompensa os justos e castiga os perversos. Enquanto fossem "justos", nada de mal lhes aconteceria nesta vida.
   O medo e a raiva muitas vezes andam juntos. Ao afirmar sua integridade e se recusar a dizer que havia pecado, Jó abalou a teologia de seus amigos e tirou deles sua paz e confiança, o que, por sua vez, os deixou zangados. Deus usou Jó para destruir a teologia superficial desses homens e desafiá-los a aprofundar-se no coração e na mente do Senhor. Infelizmente, preferiram o superficial e seguro ao invés do profundo e misterioso.
   Elifaz, Bildade e Zofar têm vários discípulos hoje. Sempre que encontramos uma pessoa que se sente obrigada a explicar tudo, que tem uma resposta pronta para todas as perguntas e uma fórmula fixa para resolver todos os problemas, voltamos ao monturo com Jó e seus três amigos. Quando isso acontecer, devemos nos lembrar das palavras do psicólogo suíço, Paul Tournier:
   Ansiamos quase sempre por uma religião fácil, simples de compreender e simples de seguir; uma religião sem mistérios, sem problemas insolúveis, sem dificuldades inesperadas; uma religião que nos permita escapar de nossa condição humana miserável; uma religião na qual o contato com Deus nos poupe de todo conflito, toda incerteza, todo sofrimento e toda dúvida; em resumo, uma religião sem a cruz.

   Imagino como os três amigos de Jó explicariam a cruz para os dois discípulos de Emaús! (Lc 24:1 3ss).


Bibliografia
Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento Volume III - Warren W. Wiersbe

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