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sábado, 10 de maio de 2014

Psicopatas: Como conhecê-los?


Psicopatas: Como conhecê-los?

Total ausência de sentimento de culpa, arrependimento ou remorso pelo que faz de errado, falta de empatia com o outro e de emoções como o amor, a tristeza, o medo e a compaixão. Essas são as principais características de um psicopata, indivíduo transgressor de regras sociais que apresenta transtornos de personalidade e só visa o interesse próprio.

Encantadores à primeira vista, causam boa impressão para quem os conhece superficialmente. Mas, um convívio mais intenso pode revelar uma pessoa fria e calculista, egocêntrica, megalomaníaca, manipuladora, impulsiva, inescrupulosa, irresponsável, mentirosa e às vezes violenta. Após todos os adjetivos citados, pode parecer fácil reconhecer um psicopata, mas não é. Até mesmo os profissionais da área médica e psicológica são enganados por eles, uma vez que sabem representar muitíssimo bem.

Eles estão infiltrados em todas as esferas da vida social e são capazes de passar por cima de qualquer pessoa só para satisfazer seus sórdidos interesses. “Pode-se dizer que são verdadeiros ‘predadores sociais’, almejam somente poder, status e diversão. Para isso, usam as pessoas apenas como troféus ou peças do seu jogo cruel.”, explica a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro “Mentes Perigosas”.

É muito comum as pessoas associarem psicopatia com loucura, o que é um grande equívoco. A especialista esclarece que loucura é o que a medicina denomina de surto psicótico, em que a pessoa tem alucinações ou delírios, como os portadores de esquizofrenia por exemplo. Os esquizofrênicos vivem uma realidade paralela e por isso, não têm noção de suas ações. Já os psicopatas, sabem exatamente o que estão fazendo e o sofrimento que causam aos outros. “Eles não apresentam problema algum de ordem cognitiva ou deficiência de raciocínio. O problema deles está apenas no campo das emoções.”, explica.

A médica os define como verdadeiros atores da vida real e alerta que é preciso ficar atento quando não se conhece alguém ainda muito bem. “É sempre bom checar os hábitos e saber um pouco do seu passado da pessoa. Os psicopatas são muito habilidosos em usar da nossa boa fé. Sem querer ser pessimista, somente realista, antes de reconhecer um indivíduo desta natureza, precisamos entender que a maldade existe verdadeiramente. A nossa tendência é sempre achar que ninguém é tão ruim assim e que um dia vai mudar.”, comenta.

Na verdade, essas pessoas raramente aprendem com os erros e não conseguem frear impulsos. Portanto, ao identificar um deles é essencial tomar distância e jamais compactuar com ele. De qualquer forma, é importante esclarecer que somente uma pequena parcela dos psicopatas é assassino ou serial killer. Isso porque existem níveis variados de psicopatia: leve, moderada e severa.

A grande maioria dos psicopatas se enquadra no grau mais leve. Estão disfarçados de líderes religiosos, executivos bem sucedidos, bons políticos, bons amigos e bons amantes. Vivem de golpes, roubos, fraudes e estelionatos. Podem arruinar empresas, destruir lares, passar para trás colegas de trabalho, se promover à custa dos outros, mas tudo sem sujar as mãos de sangue. “Geralmente são charmosos, sedutores, inteligentes, aparentam serem pessoas do bem e possuem grande poder de persuasão e habilidade para enganar quem quer que seja. Estão do lado de fora das grades, convivendo com todos nós, sem levantar suspeitas de quem realmente são. Outros, de fato, são assassinos ou até serial killers e matam tal qual feras predadoras.”, afirma a doutora.

O que os motiva a cometer um crime é possivelmente a ausência total de remorso associada a uma ânsia de domínio e poder sádico sobre as pessoas. Mas, qualquer que seja o nível de gravidade, as atitudes maquiavélicas, imorais e antiéticas, sempre deixam marcas de destruição por onde passam.

Para o neurocientista Renato Sabbatini, a psicopatia não parece ser genética, nem hereditária. “Existem prejuízos cerebrais funcionais característicos, que podem ter sido adquiridos na gravidez, parto ou infância, por exemplo, que podem acarretar neste distúrbio. Além de alguns casos raros de lesão cerebral por trauma ou tumores. Mas, pode-se dizer que existem sim alguns fatores que são observados em recorrência nos psicopatas como: sexo masculino, histórico de abuso durante a infância e abuso de drogas e de álcool.”, explica.

Estatísticas mostram que a proporção de psicopatas é de três homens para cada mulher. Não se sabe bem qual a razão, mas pode ter relação com o hormônio sexual masculino, a testosterona. “No entanto, não sabemos se as mulheres não estão sendo subdiagnosticas. Isso porque os homens são naturalmente mais impulsivos e agressivos e podem revelar a psicopatia com mais facilidade. Já as mulheres apresentam uma perversidade mais sutil, camuflada, no campo das intrigas.”, acrescenta a psiquiatra.

O diagnóstico é basicamente clínico, através da observação do comportamento e do levantamento do histórico de vida do indivíduo. O instrumento mais usado entre os especialistas é o teste Psychopathy checklist-revised (PCL-R), desenvolvido pelo psicólogo canadense Robert D. Hare, da Universidade da Colúmbia Britânica. O método utiliza uma entrevista padronizada com os pacientes que revela três grandes grupos de características que geralmente aparecem sobrepostas: deficiências de caráter, ausência de culpa e comportamentos impulsivos ou criminosos.

A psicopatia só pode ser diagnosticada pelos médicos a partir dos 18 anos, mas na realidade, ninguém vira psicopata de um dia para o outro. Mesmo crianças e adolescentes apresentam condutas maldosas ou perversas. “Isso se percebe nos maus tratos com os irmãos, coleguinhas e animais. Nas mentiras recorrentes, roubos de pertences dos outros, transgressões de regras sociais e especialmente na falta de afeto. Porém, por uma questão de nomenclatura, antes da maioridade o problema é denominado Transtorno da Conduta.”, diz Ana Beatriz Silva.

Os jovens normalmente são levados pelos pais ao consultório. O motivo é sempre o comportamento desafiador do filho. Já os adultos, dificilmente procuram por ajuda psiquiátrica ou psicológica. No que diz respeito à saúde mental, só há tratamento para quem apresenta desconforto emocional que impeça uma boa qualidade de vida. Por mais estranho que pareça, os psicopatas são muito satisfeitos consigo mesmos e não apresentam constrangimentos morais ou sofrimentos emocionais como depressão e baixa auto-estima.

Sendo assim, não é possível tratar uma dor inexistente. Em relação aos remédios, também não há, até o momento, nenhum medicamento comprovadamente eficaz para este distúrbio. “Cuidar de um psicopata é uma luta inglória, pois não há como mudar sua maneira de ver e sentir o mundo. Psicopatia é um modo de ser. O que o médico ou terapeuta podem fazer é dar suporte e oferecer tratamento às vítimas deles, uma vez que são elas que verdadeiramente sofrem.”, conta a médica.

No Brasil, criminosos psicopatas e doentes mentais são tratados da mesma forma, não existe uma legislação específica. Isso é um grande problema, pois a psicopatia não se enquadra no padrão das doenças mentais, eles não são débeis e muito menos apresentam sofrimento emocional. Caso não seja diagnosticada a psicopatia, a pessoa fica presa com presidiários comuns. Mas, o psicopata não é um criminoso recuperável, e quando sair da cadeia, a sociedade correrá os mesmos riscos de antes.

Se ele for diagnosticado como um psicopata, será punido como se fosse um doente mental, com um tratamento psiquiátrico em um manicômio judiciário. “Como não há cura, teoricamente ele deveria ficar lá pelo resto da vida, mas sabemos que enganos acontecem e ele pode receber alta de uma hora para outra.”, comenta a psiquiatra. Em países como o Canadá, a Inglaterra, a Austrália e em alguns estados dos EUA, o psicopata cumpre penas bem mais rigorosas, com prisão perpétua em celas isoladas.

A boa notícia é que apesar de os crimes cometidos por psicopatas estarem sendo cada vez mais divulgados, segundo o neurocinetista Renato Sabbatini, os casos parecem na verdade estar diminuindo. “Cerca de 1% da população masculina tem distúrbio de personalidade anti-social. Sociopatas violentos têm uma proporção relativa muito menor. Essa estatística não está crescendo, o que acontece é uma maior publicidade a respeito, dada por criminosos famosos enfocados pelas mídias de massa.”, afirma.

O neurocientista ainda observa que o termo psicopata é controvertido, pois significa doente da alma (psique), e desta forma, qualquer pessoa com doença mental, como depressão ou ansiedade, poderia se enquadrar nesta denominação. “O termo sociopata é usado para qualquer pessoa que tem distúrbios anti-sociais, como os indivíduo que chamamos de psicopatas. Mas, a nomenclatura, de psicopata, ficou comumente associada ao sociopata violento, assassino em massa.”, conclui.

Por Thais Pádua, Rio de Janeiro.


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