Páginas

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

QUANDO DEUS PARECE INJUSTO - Philip Yancey


QUANDO DEUS PARECE INJUSTO 
 Philip Yancey

"Por quê eu?", perguntamos quase instintivamente ao enfrentar uma grande tragédia.
Veja com atenção as seguintes perguntas, e você poderá detectar um traço comum entre elas.

Havia dois mil carros trafegado abaixo de chuva na estrada. Por quê justamente o meu foi derrapar e se chocar contra uma ponte?

Entre todas as crianças que freqüentam a escola, por quê justamente o meu filho foi baleado por um louco?

Um tipo raro de câncer ataca apenas uma em cada cem pessoas. Por quê justamente o meu pai tem de estar entre as vítimas?

Cada questionador pressupõe que, de alguma forma, Deus seja o responsável, o causador direto da dor. Se, de fato, Ele é todo-competente e todo-poderoso, isso não significa que Ele controla cada aspecto da vida? Teria Deus escolhido, pessoalmente, o carro que deveria derrapar na auto-estrada? Teria Ele direcionado o pistoleiro para a sua vítima? Teria Ele escolhido, de maneira aleatória, uma vítima do câncer, a partir, por exemplo, de uma lista telefônica?

Poucas pessoas conseguem evitar esse tipo de pensamento, quando a dor as atinge. Imediatamente, começamos a fazer um exame de consciência, na tentativa de encontrar algum pecado pelo qual Deus possa nos estar punindo. O quê Deus está me dize por meio da dor? E, se nada encontramos de definido, começamos a questionar a justiça de Deus. Por quê estou sofrendo mais do que o meu vizinho que é um ímpio?

Ao entrevistar pessoas que se encontram em meio a sofrimentos, constatei que elas se atormentam a si mesmas com perguntas como essas. Enquanto se contorcem na cama, se questionam sobre Deus. Embora bem-intencionados, geralmente os cristãos fazem com que as vítimas da dor se sintam ainda em pior estado. Eles chegam aos leitos hospitalares levando presentes de culpa - "Você deve ter feito algo para merecer isso" - e frustração - "Você não deve estar orando o suficiente."

"Ser absolutamente obrigado a amar a Deus,
no meio do deserto, é como ser obrigado
a estar bem quando se está doente, a cantar
de alegria quando se está morrendo de sede,
a correr quando se tem as pernas quebradas.
Todavia, esse é o primeiro e grande
mandamento. Mesmo no meio do deserto -
e especialmente no meio do deserto -
devemos amá-lo."
Frederick Buechner


Mais uma vez, a única maneira de colocar à prova as suas dúvidas em relação a Deus é procurar solvê-las à luz da Bíblia. O que encontramos lá? Será que Deus, em algum momento, usa a dor como punição? Sim, usa. A Bíblia registra muitos exemplos, especialmente de castigos impostos à nação de Israel do Antigo Testamento. Mas note bem: em todos os casos, a punição seguiu-se a repetidas advertências contra o comportamento que levou alguém a merecê-la. Os livros proféticos do Antigo Testamento, com centenas de páginas, fazem uma enérgica e eloqüente advertência ao povo de Israel para que se afastasse do pecado antes do juízo final. Pense no pai ou na mãe que castiga seu filho pequeno. De pouco valeria a correção feita intempestivamente por esse pai ou por essa mãe, se não houvesse, de sua parte, qualquer explicação diante daquele filho. Essa tática produziria uma criança neurótica, desobediente. Para ser eficaz, o castigo deve ter clara relação com o comportamento.

A nação de Israel sabia por que estava sendo punida; os profetas haviam advertido o povo judeu de forma pungente e detalhada. O faraó do Egito sabia exatamente por que as dez pragas se desencadearam contra a sua terra: Deus as havia predito, mostrando-lhe a razão por que elas ocorreriam e como uma mudança nos sentimentos e atitude daquele governante poderia evitá-las.

Os exemplos bíblicos do sofrimento como forma de punição, portanto, tendem a seguir um padrão. A dor vem depois de muita advertência. Depois de advertido, ninguém fique por aí se perguntando: "Por quê?" As pessoas sabem muito bem por que estão sofrendo.

Mas será que esse padrão nos faz lembrar aquilo que acontece à maioria de nós hoje? Recebemos alguma revelação direta de Deus nos advertindo sobre alguma catástrofe iminente? O sofrimento pessoal vem acompanhado de clara explicação da parte do Senhor? Se não conhecemos a razão do sofrimento, devemos questionar se as dores por que passa a maior das pessoas - um acidente aéreo, um caso de câncer na família, uma fatalidade no trânsito - são realmente castigos de Deus?

Francamente, creio que, a menos que Deus se revele especialmente de outra forma, seria melhor recorrermos a outros exemplos bíblicos de pessoas que enfrentaram o sofrimento. A Bíblia contém algumas histórias de pessoas que sofreram, mas para quem o sofrimento não era, absolutamente, punição divina.

"Não acredito que o sofrimento, puro e
simples, ensine.
Se o sofrimento por si só ensinasse, o
mundo inteiro seria sábio, uma vez que todos
sofrem. Ao sofrimento devem-se
acrescentar o profundo pesar, a compreensão,
a paciência, o amor, a receptividade e
a disposição para permanecer vulnerável
ao próprio sofrimento."
Anne Morrow Lindberg


Jesus ressaltou essa questão em duas passagens diferentes do Novo Testamento. Certa vez, seus discípulos apontaram para um cego e perguntaram quem havia pecado a ponto de produzir tamanho sofrimento - o cego ou seus pais. Jesus respondeu que nem o cego nem seus pais havia pecado (João 9.1-5).

Em outra ocasião, Jesus comentou sobre dois acontecimentos recentes de sua época: a queda de uma torre, provocando a morte de 18 pessoas, e a matança de alguns fiéis no interior do templo, determinada pelo governo. Aqueles que morreram com a queda da torre, disse Ele, não eram mais culpados do que qualquer outra pessoa (Lucas 13.1-5). Eles nada haviam feito para merecer aquela dor.

Existem exceções, é claro. Em alguns casos, a dor esta nitidamente relacionada aos erros de comportamento: as vítimas de doenças sexualmente transmissíveis e as pessoas atingidas por enfermidades relacionadas ao fumo e ao álcool não precisam perder seu tempo tentando descobrir a "mensagem" de sua dor. Entretanto, a maior parte de nós, na maioria das vez, não está sendo punida por Deus. Ao contrário, o nosso sofrimento segue um padrão de dores inesperadas e inexplicáveis, como aquelas vivenciadas por Jó e pelas vítimas das catástrofes descritas por Jesus.

Justo é o SENHOR em todos
os seus caminhos, benigno
em todas as suas obras.
Salmo 145.17


Contaste os meus passos
quando sofri perseguições;
recolheste as minhas lágrimas
no teu odre; não estão elas
inscritas no teu livro?
Salmo 56.8



Nenhum comentário:

Postar um comentário