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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
A expressão “ficha limpa” está na Bíblia e deveria ser a condição sine qua non para a ordenação de diáconos e presbíteros
Um milhão e trezentos mil brasileiros assinaram o projeto de lei idealizado pelo juiz Márlon Reis que se tornou a Lei Complementar nº 135/2010, mais conhecida pelo nome popular Ficha Limpa, sancionada pelo Presidente da República em 4 de junho de 2010, depois de aprovada tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal. A lei torna inelegível por oito anos o candidato que tiver mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado, mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos.
Curioso é que a ideia de ficha limpa é um capítulo de grande importância na Bíblia. O candidato aos cargos de diáconos, presbíteros, pastores e bispos deveriam ser pessoas “que ninguém possa culpar de nada” (1Tm 3.2; Tt 1.7). Paulo diz a Timóteo que ele deveria fugir das paixões da mocidade e procurar viver uma vida correta (2Tm 2.22). Mais ainda, cada novo convertido à fé cristã “torna-se uma pessoa totalmente nova por dentro”, não é mais a mesma pessoa de antes, deve ser um crente de ficha limpa (2Co 5.17).
Há mais de 3 mil anos, já se falava em ficha limpa no Antigo Testamento. A pessoa que era perdoada tinha o seu pecado apagado, coberto, enterrado, relevado ou perdoado. Em outras palavras, a sua ficha, antes manchada, ficava limpa -- o que não a isentava, contudo, de reconhecer o erro cometido diante de Deus (Sl 51) ou da pessoa defraudada (Lc 19.1-8). A versão da Bíblia em linguagem contemporânea A Mensagem, de Eugene H. Peterson, traduz assim o primeiro verso do Salmo 32: “Considere-se afortunado, feliz mesmo: você que ganhou um novo começo e cuja ficha está limpa”.
Já bem velho e de cabelos brancos, depois de ter liderado o povo de Israel por muitos anos, o profeta Samuel encerrou sua carreira como um religioso de ficha limpa:
“Eu fiz o que me pediram: dei a vocês um rei para governá-los. Agora vocês têm um rei que os guiará. Quanto a mim, já estou velho, de cabelos brancos, e os meus filhos estão com vocês. Fui o seu líder desde a minha mocidade, até hoje. Aqui estou eu. Se fiz alguma coisa errada, me acusem agora, na presença do Senhor Deus e do rei que ele escolheu. Por acaso, tomei o boi ou o jumento de alguém? Enganei ou persegui alguém? Recebi dinheiro de alguém para torcer a justiça? Se fiz alguma dessas coisas, eu devolverei o que tirei” (1Sm 12.1-3).
Quando o velhinho fechou a boca, o povo abriu a sua boca e afirmou: “O senhor não nos enganou, nem nos perseguiu e não tomou nada de ninguém” (1Sm 12.4)
Quantas autoridades religiosas hoje ouviram as mesmas palavras que Samuel ouviu?
Fonte: Revista Ultimato
Edição 343
Julho-Agosto 2013
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