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sábado, 12 de janeiro de 2013

Estreia: Filme 'Além das montanhas' evoca persistência de fanatismo religioso


Drama do diretor romeno Cristian Mungiu se passa em mosteiro ortodoxo.
Filme rendeu prêmios pelo roteiro e atuações no Festival de Cannes.

Vencedor de uma Palma de Ouro em Cannes em 2007 pelo drama "Quatro semanas, três meses e dois dias", o diretor romeno Cristian Mungiu saiu novamente premiado no festival francês de 2012 pelo drama "Além das montanhas", que conseguiu troféus para suas duas protagonistas, Cosmina Stratan e Cristina Flutur, e também o de melhor roteiro.


O filme figurou na pré-lista de nove candidatos às cinco vagas do Oscar de filme estrangeiro, mas ficou de fora.

O drama romeno mergulha no universo fechado de um mosteiro ortodoxo no interior da Romênia atual. Pelo modo de vida das freiras e do padre que o habitam, pode-se pensar que o tempo da história é a Idade Média. Em termos de isolamento, atitudes e valores, esta é a sensação.

Ali vive uma jovem freira, Voichita (a estreante Cosmina Stratan). Órfã, ela cresceu num orfanato, onde se tornou a melhor amiga de Alina (Cristina Flutur). Entre as duas, floresceu a única forma de amor que ambas conheceram. Depois, Alina emigrou para a Alemanha. Voichita entrou para o mosteiro.

Alina volta, disposta a levar Voichita consigo. Mas a religião entranhou-se completamente em sua psique, de uma forma que a amiga não consegue romper. Uma série de conflitos explode, rompendo a letargia do convento e levando o padre e interpretar o comportamento de Alina como resultado de uma possessão pelo demônio. Segue-se uma espiral de loucura, a partir de um ritual de exorcismo.

Sempre muito rigoroso na elaboração de suas histórias e na composição de seus planos, Mungiu construiu um relato consistente e assustador. O retrato que ele pinta é de um mosteiro onde não só Freud e Jung jamais passaram, como nem mesmo Deus parece habitar mais.

O convento constitui um núcleo claustrofóbico, dominado pelo fanatismo e que está cercado por uma sociedade pós-comunista em que, apesar da localização temporal no século 21, parece presa numa armadilha de apatia diante de instituições completamente incompetentes para acudir seus cidadãos, sejam os hospitais, a polícia ou a própria família.

Apesar das inegáveis qualidades de sua obra, Mungiu parece às vezes ter-se apegado ao próprio formalismo, aos seus planos austeros e belos, e não ter sentido que uma duração menor evitaria algumas redundâncias que enfraquecem, em alguns momentos, a própria dramaticidade da situação -que, inacreditavelmente, baseia-se em fatos reais ocorridos na Romênia em 2005, descritos em livros da jornalista Tatiana Niculescu Bran.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)


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