Páginas

segunda-feira, 27 de junho de 2011

REI JOSIAS - REI DE JUDÁ (640-609 a.C.)


Josias – Época de otimismo

À precoce idade de 8 anos, Josias foi repentinamente coroado rei, sucedendo a seu pai, Amom. Após um reinado de trinta e oito anos (640-609 a.C.) foi morto na batalha de Megido. As atividades de Josias (resumidas em 2 Rs 22.1-23.30 e 2 Cr 34.1-35.27), estão principalmente limitadas a sua reforma religiosa.
A declinação da influência da Assíria nos últimos anos de Assurbanipal, quem morreu aproximadamente no 630 a.C., permitiu a Judá ter a oportunidade de estender sua influência sobre o território do norte. É verossímil que os líderes políticos antecipassem a possibilidade de incluir as tribos do norte e inclusive as fronteiras do reino salomônico no Reino do Sul. Com a queda de Nínive no 612 pelas forças aliadas da Média e a Babilônia, os projetos de Judá ficaram assim mais favoráveis. Durante este período, cheio de intranqüilidade política e de rebeliões no leste, Judá ganhou a completa liberdade da vassalagem assíria, o qual, naturalmente, causou o ressurgir do nacionalismo.
Com a idolatria infiltrada no reino, os projetos religiosos para o rei-menino não foram outra coisa que esperançosos. Não se sabe com certeza se a reforma de Manassés tinha penetrado na massa do povo, especialmente se seu cativeiro e penitente retorno aconteceu durante a última década de seu reinado. Amom foi decididamente malvado. Seu reinado de dois anos proporcionou o tempo suficiente para que o povo revertesse à idolatria na política e na administração do reino. É mais provável que continuassem quando seu filho de oito anos foi subitamente elevado ao trono. Neste discorrer de franca apostasia, Judá não podia esperar outra coisa que o juízo divino, de acordo com as advertências feitas por Isaias e outros profetas.
Conforme Josias crescia e se fazia homem, reagiu ante as pecadoras condições de seu tempo. À idade de dezesseis anos, se aferrou à idéia de Deus, levando-o em conta antes que se conformando com as práticas idolátricas. Em quatro anos, sua devoção a Deus cristalizou até o ponto em que começou uma reforma religiosa (628 a.C.). No ano décimo oitavo de seu reinado (622 a.C.), enquanto que o templo estava sendo reparado, foi recuperado o livro da lei. Impulsionado pela leitura deste "livro da lei do Senhor dado a Moisés" e advertido do juízo divino que pendia sobre ele, feito por Hulda, a profetisa, Josias e seu povo observaram a Páscoa de uma forma sem precedentes na história de Judá. Embora a Escritura guarda silêncio a respeito das atividades específicas durante o resto dos treze anos de seu reinado, Josias continuou sua piedosa regência com a certeza de que a paz prevaleceria durante o resto de sua vida (2 Cr 34.28).
A reforma começou no 628 e alcançou um clímax com a observância da Páscoa no 622 a.C. Devido a que nem o Livro dos Reis nem o das Crônicas proporcionam uma detalhada ordem cronológica dos acontecimentos, muito bem pode ser que os sucessos sumarizados nesses livros sagrados contem e possam ser aplicados para a totalidade deste período [1]. Por essa época, era politicamente seguro para Josias o suprimir qualquer prática religiosa que estiver associada com a vassalagem de Judá para a Assíria.
Foram necessárias drásticas medidas para suprimir a idolatria do país. Após uma estimação de doze anos das condições reinantes, Josias afirmou com valentia sua real autoridade e aboliu as práticas pagas por todo Judá, tanto como nas tribos do norte. Os altares de Baal foram derrubados, os aserins destruídos e os vasos sagrados aplicados ao culto do ídolo, retirados.
No templo, onde as mulheres teciam véus para Asera, se eliminaram também os lugares de culto à prostituição. Os cavalos, que tinham sido dedicados ao Sol, foram tirados da entrada do templo e 108 carros foram destruídos pelo fogo. A horrível prática do sacrifício de crianças foi bruscamente abolida de raiz. Os altares erigidos por Manassés no átrio do templo foram esmagados e os restos, espalhados pelo vale do Cedrom. Inclusive alguns dos "lugares altos" erigidos por Salomão e que tiveram um uso corrente, foram desmanchados por Josias e tirados de seu emprazamento.
Os sacerdotes dedicados ao culto do ídolo foram suprimidos em seu ofício por real decreto, já que tinham atuado somente por nomeação dos anteriores reis. Ao depô-los, a queima de incenso a Baal, ao sol, à lua e às estrelas cessou por completo.
Josias aproveitou o valor de todo aquilo em benefício dos ingressos do templo.
Em Betel, o altar que tinha sido erigido por Jeroboão I, também foi desmanchado por Josias.
Durante quase 300 anos, este tinha sido o "lugar alto" público para as práticas idolátricas introduzidas pelo primeiro governante do Reino do Norte. Este altar foi pulverizado e a imagem de Asera, que provavelmente tinha substituído o bezerro de ouro, foi queimada [2]. Quando os ossos do adjunto cemitério foram recolhidos para a pública purificação daquele "lugar alto", Josias comprou a existência do monumento ao profeta de Judá que tão valentemente tinha denunciado a João Batista (1 Reis 13). Sendo informado que o homem de Deus estava sepultado ali, Josias ordenou que aquele túmulo não fosse aberto.
Por todas as cidades de Samaria (no Reino do Norte) a reforma esteve à ordem do dia. Os "lugares altos" foram suprimidos e sem sacerdotes foram arrestados por seu idolátrico ministério.
O construtivo aspecto desta reforma chegou a seu topo na reparação do templo de Jerusalém. Com as contribuições de Judá e das tribos do norte, os levitas foram encarregados da supervisão de tal projeto. Desde os tempos de Joás —dois séculos atrás—, o templo tinha estado sujeito a longos períodos de descuido, especialmente durante o reinado de Manassés.
Quando Hilquias, o sumo sacerdote, começou a arrecadar fundos para a distribuição aos trabalhadores, achou o livro da lei. Hilquias o entregou a Safã, secretário do rei. O examinou e logo o leu a Josias. O rei ficou terrivelmente turbado quando comprovou que o povo de Judá não tinha observado a lei. Imediatamente, Hilquias e os oficiais do governo receberam ordens de comunicá-lo a todos. Hulda, a profetisa residente em Jerusalém, teve uma oportuna mensagem, clara e simples para todos eles: os castigos e juízos pela idolatria são inevitáveis. Jerusalém não escaparia à ira de Deus. Josias, porém, seria absolvido da angústia da destruição de Jerusalém, já que tinha respondido com arrependimento ao livro da lei.
Sob a liderança do rei, os anciãos de Judá, sacerdotes, levitas e o povo de Jerusalém, se reuniram para a pública leitura do livro novamente achado. Num solene pacto, o rei Josias, apoiado pelo povo, prometeu que se dedicaria por completo à total obediência da lei.
De imediato se realizaram planos para a fiel observância da Páscoa. Foram nomeados sacerdotes para o serviço do templo, que foi restabelecido a seguir. Foi dada uma cuidadosa atenção à pauta de organização para os levitas, como estava ordenado por Davi e Salomão.
O ritual da Páscoa se realizou com grande cuidado, para conformá-lo todo com o que estava "escrito no livro de Moisés" (2 Cr 35.12). Em sua conformidade com a lei e a extensa participação da Páscoa, sua observância ultrapassou todas as festividades similares desde os dias de Samuel (2 Cr 35.18) [3]. O conteúdo do livro da lei achado no templo não está especificamente indicado. Numerosas referências no relato bíblico associam sua origem com o próprio Moisés.
Sobre a base de tão simples fato, o livro da lei pode ter incluído todo o Pentateuco ou conter somente uma cópia do Deuteronômio [4]. Aqueles que consideram o Pentateuco como uma produção literária composta que alcança sua forma final no século V a.C., limitam o livro da lei ao que contém o Deuteronômio, ou menos [5]. Devido a que a reforma já tinha acontecido em seu processo seis anos antes, quando o livro fora achado, Josias tinha previamente o conhecimento da verdadeira religião. Quando o livro foi lido ante ele, ficou aterrorizado a causa da falha de Judá em obedecer a lei. Nada nos registros bíblicos indica que este livro fosse publicado naquele tempo ou ratificado pelo povo. Foi considerado como possuidor de autoridade e Josias temeu as conseqüências da desobediência. Tendo sido entregue a Moisés, o livro da lei tinha sido o leme das práticas religiosas desde então. Josué, os juízes e os reis, junto com a totalidade da nação, tinham estado obrigados a conformar sua conduta com seus requerimentos para a obediência. O que alarmou a Josias, quando perguntou e solicitou conselho profético, foi o fato de que "nossos pais não guardaram a palavra do SENHOR" (2 Cr 34.21). A ignorância da lei não era escusa inclusive ainda quando o livro da lei tivesse permanecido perdido por algum tempo.
Uma grande idolatria tinha prevalecido por meio século antes que Josias começasse a governar. De fato, Manassés e Amom tinham perseguido àqueles que advogavam pela conformidade com a verdadeira religião. Já que Manassés tinha derramado sangue inocente, era razoável carregá-lo com a destruição de todas as cópias da lei em circulação em Judá. Em ausência das cópias escritas, Josias muito verossimilmente se associou com os anciãos e os sacerdotes, os que tinham suficiente conhecimento da lei para proporcioná-lhe uma instrução oral. Daqui proveio a firme convicção durante os primeiros doze anos de seu reinado, de que era necessária uma reforma a escala nacional. Quando o livro da lei foi lido ante ele, comprovou vividamente que os castigos e juízos eram devidos ao povo idólatra. Conhecendo demasiado bem as práticas malvadas comuns a seus pais, ainda estava surpreendido de que a destruição pudesse chegar em seus dias.
Teria sido perdido realmente o livro da lei? É muito provável que durante o reinado de Manassés houvesse os que tivessem o suficiente interesse em guardar algumas cópias do mesmo. já que as cópias estavam escritas à mão, havia relativamente muito poucas em circulação. Depois que as vozes de Isaias e outros tinham sido silenciadas, o número de pessoas justas decresceu rapidamente sob a perseguição. Se Joás, o herdeiro real, pôde permanecer escondido da malvada Atalia durante seis anos, é razoável chegar à conclusão de que um livro da lei pôde ter sido escondido do odioso e malvado Manassés durante meio século.
Outra possibilidade concernente à preservação deste livro da lei, é a sugestão aportada pela arqueologia [6]. Já que informes valiosos e documentos têm sido escondidos sempre nas pedras angulares dos edifícios, tanto em tempos antigos como nos modernos, este livro da lei pôde muito bem ter sido preservado na pedra angular do templo [7]. Ali foi onde os homens dedicados à reparação devem tê-lo achado. Antes da morte de Davi, encarregou a Salomão, como rei de Israel, o confirmar todo o que "está escrito na lei de Moisés" (1 Rs 2.3). Na edificação do templo, teria sido apropriado colocar todo o Pentateuco, ou pelo menos as leis de Moisés, na pedra angular. Talvez esta foi a providencial provisão para a segura custodia do Pentateuco durante três séculos, quando Judá, às vezes, esteve sujeita a governantes que desafiavam a aliança feita com Israel pelo Senhor. Tirado do templo nos dias da reforma de Josias, se converteu na "palavra viva" uma vez mais numa geração que levou o livro da lei com ela ao cativeiro da Babilônia.
Se a reforma executada por Josias representou um genuíno avivamento entre o povo comum, resulta difícil de se saber. Já que foi iniciada e executada por ordens reais, a oposição ficou refreada enquanto viveu Josias [8]. Imediatamente após sua morte, o povo voltou à idolatria sob Jeoiaquim.
Jeremias foi chamado ao ministério no décimo terceiro ano de Josias, no 672 a.C. Devido a que Josias já havia começado a reforma, é razoável deduzir que o profeta e o rei trabalhassem em estreita colaboração [9]. As predicações de Jeremias (capítulos 2-4) refletem a forcada relação entre Deus e Israel. Como uma esposa infiel que quebra os votos do matrimônio, Israel se havia separado de Deus. Jeremias, de forma realista, os advertiu que Jerusalém podia esperar a mesma sorte que havia destruído a Samaria um século antes. Quanto Jeremias  (1-20) se relaciona com os tempos de Josias, é difícil de assegurar. Embora possa parecer estranho que a palavra profética proceda de Hulda em vez de Jeremias, quando foi lido o livro da lei  a urgência para uma imediata solução ao problema do rei pôde ter implicado a Hulda, que residia em Jerusalém. Jeremias vivia em Anatote, ao nordeste da cidade e a 5 km de distância.
Quando circularam por Jerusalém as notícias da queda de Assur (614 a.C.) e da destruição de Nínive (612 a.C.), sem dúvida Josias voltou sua atenção aos assuntos internacionais. Num estado de falta de preparação militar, cometeu um erro fatal. No 609 os assírios estavam lutando uma batalha perdida com seu governo no exílio em Harã. Neco, rei do Egito, fez marchar seus exércitos através da Palestina para ajudar os assírios. Já que Josias tinha pouco interesse pelos assírios, levou seus exércitos até Megido, num esforço por deter os egípcios [10]. Josias foi mortalmente ferido quando seus exércitos ficaram dispersos. As esperanças nacionais e religiosas de Judá se desvaneceram quando o rei de 39 anos foi sepultado na cidade de Davi. Após dezoito anos de íntima associação com Josias, o grande profeta é lembrado no parágrafo que diz: "E Jeremias fez uma lamentação sobre Josias" (2 Cr 35.25).


[1] Ver C. F. Keil, em seu comentário sobre 2 Cr 34.
[2] Note-se o cumprimento da predição feita pelo profeta sem nome de Judá, em 1 Rs 13.1-3.
[3] Ver Keil, em seu Comentário a 2 Reis 23.20, e Edersheim, "The Bible History", Volumen VI, p. 190.
[4] Ver John Davis, "A Dictionary of the Bible", 4a ed. rev., 1954, em seu artigo "Josias".
[5] Para uma elaborada discussão do tema, ver G. E. Wright, "Interpreters Bible", Vol. 1. pp. 311-330. Também B. W. Anderson, "Understanding the Olíd Testament", pp. 288-324.
[6] Ver Dr. J. P. Free, "Archaeology and Bible History", pp. 215-216.
[7] Ver Dt 31.25-26. Moisés fez a provisão de guardá-lo em seguridade na Arca. Num edifício permanente como o Templo, as pedras angulares teriam sido o lugar mais lógico.
[8] Ver Edersheim, op. cit., p. 181.
[9] O ministério de Jeremias durante o reinado de Josias não está registrado em Reis nem em Crônicas. Suas experiências durante o reinado de Joaquim sugerem que o despertamento não foi genuíno.
[10] Note-se a tradução de 2 Rs 23039, que à luz da arqueologia deveria dizer: "o rei do Egito foi em direção ao rei da Assíria", em vez de "contra". Ver C J Gadd, "The fall of Niniveth" (Londres, 1923), p. 41. Também Merril F. Unger, "Archaeology and the Old Testament", p 282.

Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT


Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

Nenhum comentário:

Postar um comentário