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sexta-feira, 17 de junho de 2011

JONAS PROFETA - A MISSÃO DE NINIVE



Jonas – A missão de Nínive [1]

Jn 1.1-4.11

Jonas teve uma mensagem popular para predicar em Israel. Em épocas de opressão, a promessa de dias prósperos foi muito bem acolhida. Sem dúvida, o cumprimento de única predição, na extensão do território de Israel sob Jeroboão, aumentou sua popularidade em seu lar pátrio.
Não há indicação de que tivesse uma mensagem de advertência ou de juízo para liberar seu próprio povo (2 Rs 14.25).
O sermão de Jonas aos ninivitas não foi senão adulação. O juízo e a condenação para esta cidade estrangeira está resumido no tema: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída". Quando finalmente ele completou esta afirmação, registrou suas experiências no livro que leva seu nome. Observe-se a seguinte breve analise:

I. A viagem de Jonas para o oeste, num itinerário
   de ida e volta                                                                 Jn 1.1-2.10
II. Uma missão de predicação com êxito                                 Jn 3.1-10
III. A lição para Jonas                                                          Jn 4.1-11

Jonas foi divinamente comissionado para ir a Nínive, uma desagradável missão para um israelita. Durante os tempos de Jeú, Israel tinha pagado tributo ao rei assírio Salmaneser III. Jonas conhecia o sofrimento a qual a Síria estava sujeita, repelindo os ataques recentes dos assírios. Por que deveria expor-se a tão perigosa missão? As atrocidades dos assírios, que mais tarde aterrorizaram as nações em sua missão a Tiglate-Pileser III, podem ter sido praticadas naquele tempo. desde o ponto de vista humano, Assíria era o último lugar que um israelita teria escolhido para uma aventura missionária.
Jonas começou sua viagem numa direção oposta. Em Jope, abordou um barco que se dirigia ao Mediterrâneo ocidental, ao porto de Târsis. Em rota para seu destino, uma tormenta de grande magnitude encheu de alarme os corações da tripulação, ainda que o mal tempo não fosse coisa desconhecida para eles. Enquanto Jonas dormia, os marinheiros atacados de pânico esvaziaram o barco e apelaram a seus deuses. Jonas foi convidado a levantar-se e a unir-se a suas orações pagãs. Os passageiros restantes decidiram que Jonas era o responsável de sua desgraça. Temerosos da ira divina, o lançaram pela borda. Imediatamente cessou a tormenta e prevaleceu uma grande calma no mar. No que diz respeito aos marinheiros, a questão estava resolvida. Não assim para Jonas. Seus problemas apenas tinham começado.
Tinha sido engolido por um grande pez [2]. Três dias e três noites Jonas deveu permanecer no ventre do monstro marinho.
Apelando a Deus, reconheceu francamente que estava perdido, a não ser por uma divina intervenção. Fez a simples promessa de que cumpriria seus votos uma vez que fosse liberado. E assim, sob o poder divino, o pez levou a Jonas até depositá-lo em terreno seco.
Mais uma vez Jonas é convidado a ir a Nínive. Desta vez se dirigiu rumo ao leste, à distante terra da Assíria, aproximadamente a 1287 km de Israel. Localizada na margem oriental do Tigre, Nínive era uma grande cidade, com numerosos subúrbios além de suas muralhas [3]. Ali Jonas começou sua missão de predicar. Sofisticado e pecador como era aquele povo, as gentes o escutaram e ouviram sua advertência: "em quarenta dias Nínive será destruída". Apenas tinha começado Jonas seu itinerário, quando o povo respondeu. Arrependendo-se, vestiram de saco e jejuaram, voltando-se a Deus com fé [4]. Assim que sua mensagem se deixou ouvir no palácio, o rei entrou em ação [5]. Mudaram suas vestes reais por sacos, se cobriram com cinzas. Para os cidadãos de Nínive, emitiu um decreto real, admoestando-os a que voltassem a Deus seus caminhos pecadores e se arrependessem [6]. Jonas se desconcertou ao ver tão amplos sinais de arrependimento. Para sua grande surpresa, sua missão tivera um êxito impressionante. E para sua decepção, a cidade não foi destruída; foi salva, ao responder Deus com sua misericórdia ao arrependimento do povo [7]. Talvez Jonas experimentasse uma reação nervosa. É difícil avaliar seu estado mental e físico, não só por sua azarada viagem, senão ao ter de predicar uma mensagem de juízo divino a um povo estranho. De qualquer forma, Jonas ficou terrivelmente confuso [8]. Não satisfeito com a resposta que Deus lhe dera como aviso, Jonas se retirou a uma colina próxima, desde a qual podia ver a cidade que tinha sido indicada para sua destruição.
Parece que o período de quarenta dias não tinha acabado ainda, e assim ele antecipou a possibilidade da condenação que se aproximava sobre Nínive.
Refugiado à sombra de uma aboboreira, Jonas recebeu alento quando Deus fez com que a planta crescesse rapidamente, brindando-lhe uma abobada de sombra para protegê-lo do calor do dia.
Porém Jonas tinha uma outra lição que aprender. Em lugar de ser testemunha da ruína da cidade, um verme destruiu a planta que tanto o havia deliciado. Deus ressaltou com isso que o profeta estava muito mais preocupado com seu próprio conforto que a respeito do bem-estar das 120.000 crianças inocentes que ainda não tinham chegado à idade do discernimento [9]. Para Deus, a conversão dos assírios era muito mais importante que a preservação da planta que servia para o desfrute de uma única pessoa.
O que aconteceu afinal não está relatado no livro que leva seu nome. Aparentemente, Jonas voltou ao seu lar pátrio, para registrar e deixar constância de sua missão em Nínive [10].


[1] Correntemente, um tratamento popular do livro de Jonas é para compreendê-lo como um conto curto para propaganda religiosa, talvez no século IV a.C. Ver B. W. Anderson, Understanding the Old Testament (Englewoods Cliffs, 1957), pp. 503-504. Para um tratamento mais elaborado, ver R. H. Pfeiffer, Introduction to the Old Testament, p. 587ss. Aage Bentzen, Introduction to the Old Testament, Vol. II (2.a ed., 1952), pp. 144-147 e ss. o consideram, com Bewer, como una parábola. Para uma defesa do livro de Jonas como registro histórico, ver A. Ch. Aalders, The problem of the Book of Jonah (Londres: Tyndale Press, 1948) e E. J. Young, An Introduction to the Old Testament, pp. 254-258. Para uma representativa interpretação histórica, ver Frank E. Gaebelein, The Servant and the Dove (Nova York: Our Hope Press, 1946), pp. 143. Keil e Delitzsch, Commentary on the Minar Prophets, Vol. I., pp. 379-417. The Minar Prophets, Vol. I, (Nova York: Funk and Wagnalls, 1885), pp. 371-427.
[2] Não tem por quê tratar-se de uma baleia, senão de um "grande pez". Jn 1.17, Mt 12.40. para uma moderna analogia com a experiência de Jonas, veja-se o relato de John Ambrose Wilson, em que uma baleia perto das Ilhas Falkland (Malvinas argentinas) engoliu um membro da tripulação de um barco, que foi resgatado três dias mais tarde, revivido de sua inconsciência, e que depois disso continuou vivendo normalmente. Ver Princeton Theological Review, "The Sign of the Prophet Jonah", XXV (1927), 636. Para a possibilidade de uma baleia engolir um homem, ver o artigo "How to Test the Story of Jonah". por G. Macloskie en Bibliotheca Sacra, LXXII, 336 e ss
[3] "Nínive, a grande cidade"; isto inclui a própria cidade e seus subúrbios. Desde 1100 a.C., Nínive foi utilizada como uma das residências reais. Depois do 722, Sargão II fez dela sua capital, e continuou sendo a primeira cidade da Assíria até sua queda no 612 a.C.
[4] Para uma discussão da "fé" dos ninivitas, ver Pusey, op. cit., p. 415.
[5] Gaebelein aventura a opinião de que o rei assírio em questão é ou bem Hadade-Nirari III (aprox. 811-782 a.C.) ou Salmaneser IV (aprox. 782-772 a.C.). Ver op. cit., p. 119.
[6] Para uma discussão sobre a reforma —ainda que não seja mencionada na fusão secular—, ver Aalders, op. cit., pp. 6-7.
[7] Ver os tratamentos de Deus no passado. Deus assegurou a Abraão que Sodoma e Gomorra seriam salvas em graça de dez justos (Gn 18). Ver também Êx 32 e 1 Rs 21.29, onde Deus demora seu juízo por misericórdia.
[8] Ver Gaebelein, op. cit., p. 129. Ver também 1 Rs 19.4, Jr 20, Jó 3.
[9] Pusey, op. cit., p. 246, estima a população de Nínive em 6000.000 habitantes.
[10] A tradição de que Jonas foi sepultado no outeiro de Nebi Junus, marcado por uma mesquita, no lugar onde estivera Nínive, carece de suporte histórico. Ver W. B. Robinson, em seu artigo sobre Jonas.


Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT


Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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