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quinta-feira, 2 de junho de 2011

IGREJA - COMO SOBREVIVER (1ª PARTE) EM TEMPO DE RUINA DA IGREJA ?




Qual é o Caminho da Fé em Tempos de Ruína?

Ainda que o estado da Igreja seja deplorável, como fica demonstrado, e a ruína e a confusão se façam sentir por todo o lado e se acentua em cada vez mais, não devemos fechar os olhos ao que Deus opera em Sua graça soberana, mesmo em tempos como este, que agora atravessamos. Além da Reforma, tem havido, em diferentes épocas — e também em nossos dias — avivamentos em que muitas almas têm encontrado a salvação. Atualmente mesmo está sendo desenvolvida uma grande atividade para evangelizar. Sem dúvida, seria desejável que esta obra prosseguisse, mas de maneira mais geral e mais de harmonia com a Palavra de Deus e os exemplos que ela apresenta, pois, freqüentemente, apela-se mais aos sentimentos do que à consciência. Por isso a pouca profundidade e realidade nos resultados. Muitas vezes ainda procuramos antes uma melhoria na conduta exterior, de modo que a evangelização acaba por se tornar filantropia. Todavia, e seja como for, há conversões — e Deus seja bendito por elas! — porque o Espírito Santo, descido à Terra no dia de Pentecostes (At 2), age soberanamente e, para a glória de Cristo, salva as almas, conduzindo-as a Ele, apesar das deficiências dos homens e da ruína da Igreja.

A Salvação, e depois?
Mas ser salvo já será tudo? Não! Quando uma alma é convertida ao Senhor, ainda fica por resolver a questão da sua conduta. A partir desse momento, a alma não pertence mais a si própria, mas sim Aquele que por ela morreu e ressuscitou. Já não deve, pois, viver para si própria, mas para Ele (2 Co 5:15). Todo o cristão honesto compreende que, nascido de Deus, tem de levar como indivíduo uma vida santa, consagrada ao seu Salvador, em obediência à Sua Palavra. Mas isto ainda não é tudo! A obediência não compreende a separação daquilo que não é segundo a vontade de Deus e o cumprimento daquilo que Lhe é agradável na vida individual. Há outra parte da conduta do cristão que não importa menos: Ele não é chamado para ficar só. Ele agora é filho de Deus, e, por esse motivo, faz parte de uma família; ele agora é membro do corpo de Cristo, foi constituído adorador de Deus, para Lhe render culto em Espírito e em verdade com os outros adoradores. Faz parte da casa espiritual, do sacerdócio santo, para oferecer a Deus sacrifícios espirituais (1 Jo 3:1; Rm 12:5; Jo 4:23-24; 1 Pe 2:5). Portanto, a questão que agora se põe, ou que deveria pôr-se, para todo novo convertido e para todo cristão é esta: "Com quem me reunirei para prestar culto a Deus? Onde se encontra atualmente a congregação segundo a vontade de Deus e o pensamento de Cristo?" E isto não é, estejamos certos disso, algo indiferente a Deus nem ao bem e ao progresso da alma.
No princípio da cristandade, esta questão nem sequer se punha. Não havia senão os judeus, os pagãos e a Assembléia de Deus (1 Co 10:32). Um convertido dentre os judeus ou dentre os pagãos encontrava-se, necessariamente, fazendo parte da Assembléia ou Igreja. Reunia-se, pois, com os cristãos da localidade onde se encontrava, rendia culto ao Senhor com eles, tomava lugar com eles à Mesa do Senhor, que era uma. Em nossos dias, na ruína e na confusão universais da cristandade, dá-se precisamente o contrário. Uma alma é convertida e deseja servir o Senhor. Aonde irá ela? Com quem vai reunir-se? Pergunto ainda: Será que isto é coisa de pouca importância aos olhos do Senhor? Estamos nós obrigados, para resolver uma tal questão, a examinar e a pesar os argumentos que cada igreja ou seita apresenta, não nos dando, afinal, por onde escolher, senão entre opiniões humanas? Ou então seria preciso ir com todos, indiferentemente, como se a verdade se encontrasse em toda parte — ou antes, em parte nenhuma?
Não, e bendito seja Deus por isso! Ele não nos deixou, nem para esta questão nem para a da salvação, entregues a nós próprios, isto é, dirigirmo-nos segundo as nossas próprias luzes. Importa à Sua glória, como convém à Sua sabedoria e ao Seu amor, que andemos, em relação a tudo, no caminho que Ele traçou para nós. Rogo, pois, encarecidamente a cada um dos meus leitores que procure dar-se bem conta do que tem de fazer para obedecer a Deus no que se refere a este importante assunto. O que temos dito acerca da confusão que reina na cristandade mostra bem a necessidade que temos de estar devidamente esclarecidos a tal respeito. O nascimento, as circunstâncias, o apego àquilo que foi o instrumento da nossa conversão ou aos cristãos que estimamos, ou ainda uma certa inclinação por estas ou aquelas formas podem ter contribuído para que nos congreguemos a uma denominação qualquer, mas a nossa responsabilidade perante Deus é de nos interrogarmos: "Estou eu onde Deus me quer? É esta uma congregação instituída segundo a Sua vontade? Juntando-me a ela ou nela permanecendo é a Palavra do Senhor que estou seguindo?"

A Autoridade da Palavra
Para responder a essas questões é necessário resolver primeiro estas: "Qual é a regra da verdade? Onde se encontra a pedra-de-toque divina? Como poderei conhecer com exatidão o pensamento de Deus?" Pois bem, caro leitor, dá-se precisamente o mesmo que se dá para a questão da sua salvação: é a Palavra de Deus que lhe faz conhecer o Seu pensamento e que é a regra da verdade. Ela é a suprema autoridade para nos conduzir; é o Espírito Santo que nos ajuda a compreendê-la e a aplicá-la à nossa alma e à nossa vida. A única pedra-de-toque para saber se a minha conduta é conforme a vontade de Deus é a Sua Palavra, são as Sagradas Escrituras.
As mesmas passagens das Escrituras que nos advertem do mal que tendia a introduzir-se ou se havia já introduzido na Igreja, nos dão a conhecer este recurso único e plenamente suficiente. Que diz Paulo aos anciãos de Efeso, depois de os ter advertido dos perigos que ameaçavam a Igreja? Para conjurar esses perigos remete-os a um Papa ou a um concilio "infalíveis"? Diz-lhes que façam uma constituição de fé, ou que elejam um sínodo ou um presbítero? Não! Eis o que ele lhes apresenta como único e infalível recurso e salvaguarda para todos os tempos e todas as circunstâncias: "Encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça, a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados" (At 20:32). Deus, agindo pelo Seu Espírito, e Sua Palavra como guia no meio das dificuldades (Hb 4:12) e como arma contra os artifícios do inimigo (Ef 6:17) não são suficientes?
Achamos a mesma situação na segunda epístola a Timóteo. A ruína da Igreja tinha já começado e ainda devia crescer muito. A que o abnegado servo do Senhor recomenda ou remete os fiéis a fim de se preservarem das seduções do mal? A autoridade suprema e à inteira suficiência da Palavra de Deus. Escutemos-lo: "Os homens maus e enganadores", diz, "irão de mal para pior, enganando e sendo enganados" e isto na cristandade, porque não se trata aqui dos judeus nem do mundo pagão. Que fazer então em tais circunstâncias? Eis a resposta: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que, desde a tua meninice sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus" (2 Tm 3:13-15). Ora, as coisas que Timóteo tinha aprendido, tinha-as recebido de Paulo, o apóstolo do Senhor. E nós temos os escritos inspirados de Paulo que agora fazem parte das santas epístolas, das Sagradas Escrituras de que ele fala a Timóteo (veja-se 2 Pe 3:15-16). A submissão às Escrituras é, pois, a salvaguarda contra o erro; e elas são a verdadeira e única regra para o cristão. A sua autoridade é suprema, porque são inspiradas por Deus, e próprias para ensinar e instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito.
O apóstolo Pedro, na sua segunda epístola, em que fala também dos falsos mestres e do mal que se introduzia no meio dos fiéis, dirige de igual modo os seus olhares para a palavra profética, e exorta-os a recordarem-se das palavras dos profetas e daquilo que o Senhor e Salvador disse pelos apóstolos (2 Pe 1:19; 3:1-2). Judas fala da mesma maneira (versículo 17). Ora, estas palavras dos apóstolos também nós as temos no Novo Testamento!
O nosso guia para nos fazer conhecer o caminho de Deus através do estado de coisas em que nos encontramos não são, portanto, as tradições, os mandamentos de homens, os arranjos humanos, por muito acertados que possam parecer, mas é a infalível Palavra de Deus.
Leitores amigos, vocês crêem que o Novo Testamento, do mesmo modo que o Antigo, é a palavra inspirada de Deus? Crêem que lhe devem inteira e implícita obediência? Então, em caso afirmativo, é somente a ela que vocês devem seguir neste importante assunto — e ela lhes dará, para tanto, todas as diretrizes necessárias. O fundamental é prestar a devida atenção ao que ela diz e obedecer-lhe com simplicidade, sem se deixar perturbar por suposições, por idéias preconcebidas, por hábitos e por laços formados talvez desde longa data. É preciso estar decidido, custe o que custar, a permanecer fiel a Deus e à Sua Palavra.

Seguir o Caminho traçado por Deus
Posto isto, qual é o caminho traçado para a fé pela Palavra de Deus? Para o conhecermos, retomemos a passagem de 2 Tm 2:17-22, de que falamos a propósito do mal que o apóstolo previa e que começava já a manifestar-se naquele tempo. Sejam quais forem a ruína e a confusão, "o fundamento de Deus" permanece inabalável. O seu selo tem duas faces e duas divisas. Por um lado "o Senhor conhece os que são seus". Ele os distingue, no meio da infidelidade geral. Este é o lado de Deus. Mas há outro: o da responsabilidade individual no meio do mal. E eis aqui, a tal respeito, o princípio da maior importância para todo cristão desejoso de obedecera Deus: "Qualquer que profere o nome de Cristo [ou: do Senhor] aparte-se da iniqüidade" (grifo do autor). Assim, todo aquele que se intitula do Senhor, por outras palavras, todo aquele que se diz cristão está no dever de se retirar de tudo o que não estiver de harmonia com a vontade de Deus, expressa por intermédio da Sua Palavra. Importa compreender bem o alcance desta ordem: "Aparte-se da iniqüidade".
Observemos desde já que a igreja exterior, isto é, o conjunto dos que se dizem cristãos, é considerada uma grande casa — uma habitação humana, onde se encontram misturados vasos para honra e vasos para desonra. Como já fizemos notar, esta casa, descrita em 1 Timóteo 3, na qual ainda reinava a ordem, não é já "a Casa de Deus", o templo onde não devem encontrar-se senão vasos santos. Ora o cristão — quero dizer, aquele que o é não somente de nome, mas de fato e de verdade — encontra-se, com efeito, nesta grande casa. Mas se ele é fiel, se quer ser, ele próprio, um vaso de honra, santificado, idôneo ao Senhor, então tem a responsabilidade de obedecer à Palavra, que lhe prescreve que se aparte da iniqüidade, que se purifique, separando-se dos vasos de desonra. Ainda aqui procuremos bem compreender: não é somente do mal moral que temos de nos separar e andar em pureza e santidade de vida, nem que devemos romper as relações com aqueles que levam uma conduta mundana ou escandalosa. O apóstolo tem em vista outro mal: é aquele que vem de homens que seguem os seus próprios pensamentos e se apartam da verdade. "A iniqüidade" é, com efeito, tudo o que decorre da vontade própria do homem, sem ter em conta a vontade de Deus. Apartar-se, pois, da iniqüidade é separar-se, é colocar à parte de tudo o que o homem estabeleceu por sua própria vontade na grande casa: sistemas e ordenanças.
No tempo dos reformadores, aqueles que estavam esclarecidos pela Palavra de Deus retiraram-se do vasto sistema de iniqüidade que tinha invadido a Igreja. Pelo menos neste aspecto eles obedeceram à ordem do apóstolo. Por que então restabelecer em seguida outros sistemas com o nome de igrejas reformadas, luteranas, nacionais, livres, independentes, etc? E verdade que estas não contêm em si as abominações de Roma, mas nem por isso deixam de ser o fruto da vontade do homem, e não fazem senão introduzir a confusão na Igreja.
Achamos, porventura, vestígio algum de uma tal ordem de coisas nas Escrituras? Em nossos dias, como já vimos, o que não abrigam essas diversas denominações de protestanismo? Racionalismo, incredulidade, negação das verdades capitais do cristianismo, falsos mestres, homens semelhantes a Himeneu e a Fileto, que transformaram a fé, sem contar toda uma série de aberrações com que topamos a cada passo. Não é isto a iniqüidade? E para honra do Senhor esta manifestação da vontade do homem, que pretende estabelecer regras e ordem aí, onde Deus nada estabeleceu; ou se constitui ele em juiz da Palavra de Deus para a interpretar e agir do modo que quer? Que devo, pois, fazer, senão purificar-me, apartando-me dessas coisas?   Esta é a minha responsabilidade perante Deus, se quero ser   1 obediente. Posso reconhecer os verdadeiros cristãos que se encontrem entre outros em todos esses sistemas e seitas, mas, por mais abnegados que sejam, não devo segui-los na sua posição anti-escriturística. Tenho de me separar de tudo o que não está estabelecido por Deus, de tudo o que a Sua Palavra não sancionou — e isto embora pareça ser algo positivo. É a iniqüidade, e eu não poderia juntar-me a ela sem dela participar. Possa todo cristão honesto que lê estas linhas, interrogando a sua própria consciência, exclamar: "Estarei eu bem certo de ter aprovação da Palavra de Deus, permanecendo ligado a este ou àquele sistema religioso?"



Pesquisa: Pr. Charles Maciel Vieira

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